quarta-feira, 20 de março de 2024

A oportunidade que tardava em surgir


"Após um período conturbado, Álvaro Magalhães demonstrou a sua qualidade

Um jogador de futebol tem de revelar atributos não só técnicos e físicos como também psicológicos. Quanto maior for o clube que representa, maior será a exigência. Quando ingressa no clube, sente pressão para demonstrar a sua qualidade o quanto antes, por forma a que a descrença dos adeptos não aumente de dia para dia. A palavra flop começa a ser pronunciada de forma quase automática sempre que o seu nome é referido. O próprio jogador poderá chegar a duvidar de si mesmo.
Álvaro Magalhães parecia ser um desses casos. Na temporada 1980/81, brilhou ao serviço da Académica de Coimbra, despertando o interesse de Benfica, FC Porto e Sporting. A concorrência era tão intensa, que os encarnados asseguram a sua contratação em Janeiro de 1981, ingressando no Clube na temporada seguinte. Bastante elogiado, a sua afirmação parecia ser uma questão de tempo. No entanto, 'quatro meses se passaram sem qualquer oportunidade'. O jogador passou a questionar o seu próprio valor: 'Passei maus momentos, horas de amargura. (...) Nos treinos sentia-me nervoso. Parecia que pisava um terreno de jogo pela primeira vez. Já não acreditava em mim mesmo'.
O apoio dos colegas de equipa foi fundamental para superar essa situação. 'O Humberto Coelho, quando me via em baixo, dizia-me: 'Calma, pá, que a tua hora há de chegar'. O defesa estava certo! Uma onda de lesões impulsionou a sua oportunidade, e logo num jogo de elevada dificuldade. Perante o Sporting, Álvaro Magalhães protagonizou uma excelente exibição: 'Uma estreia feliz. (...) Trouxe ao futebol do Benfica velocidade, temperamento, força, correndo para a frente e não para os lados e para trás. (...) Pelo que jogou ontem, tratou-se de uma excelente aquisição do Benfica'. O primeiro passo para a sua afirmação estava dado.
Poucas semanas depois, deu razão à frase de que 'os grandes jogadores aparecem nos grandes jogos'. Na 1.ª mão da final da Supertaça, frente ao FC Porto, atuou como defesa-central e rubricou nova exibição de elevada qualidade. Os encarnados ganharam por 2-0, e o jogador foi apontado como um dos principais elementos para que o Benfica não tivesse consentido qualquer golo: 'Coube ao novato a parte maior do duelo direto com Walsh, o mais avançado dos portistas - duelo ganho quase sempre, até mesmo nas bolas altas em que o irlandês é perito. Este ruço é mesmo capaz de ganhar o lugar'. Os adeptos também ficaram rendidos ao seu talento: 'Público já tem, e na Luz isso pode ser meio caminho andado, ainda há por ali muito adepto do jogar à Benfica, entendido como rima obrigatória da genica'.
Após um início doloroso, Álvaro Magalhães conquistou o coração dos adeptos benfiquistas e tornou-se numa das figuras dos encarnados durante a década de 1980. Extremamente empenhado, não dava uma bola como perdida, trilhando uma carreira de sucesso de águia ao peito. Em 9 épocas conquistou 4 Campeonatos Nacionais, 4 Taças de Portugal e 1 Supertaça.
Saiba mais sobre a carreira deste fantástico jogador na área 23 - Inesquecíveis, do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

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