terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

No dia em que Schmidt decidiu rodar, Rafa e Neres precisaram de uma parte para destruir o Vizela


"Fugindo ao habitual conservadorismo na escolha do onze, o alemão fez seis alterações e o Benfica teve uma primeira parte de luxo, com cinco golos. O 6-1 final deve-se a esse período de grande qualidade, com Neres e Rafa em grande

E ao quinto golo, descansaram. No meio do infernal calendário de fevereiro, com I Liga, Liga Europa e Taça de Portugal a sucederem-se como constantes matrioscas competitivas, o Benfica recebeu o último classificado do campeonato e aproveitou a ocasião para ganhar, divertir-se e gerir.
Os 6-1 do triunfo contra o Vizela foram uma história que andou, sempre, entre o desfrute e a poupança. Roger Schmidt, sempre tão cauteloso a escolher os titulares, o alemão criticado por pouco mexer, operou uma pequena revolução no onze, alterando seis futebolistas. Começava ali a gestão, arrancava ali a festa ofensiva do primeiro tempo.
Há muito ausente da titularidade, Neres foi lançado e da conjugação do brasileiro com Rafa Silva deram-se minutos de futebol rápido e audaz, direto e venenoso. Foram cinco golos em 30 minutos, poderiam ter sido mais.
David Neres é um canhoto de reconhecida agilidade, um driblador que finta a própria sombra, ora uma simulação para aqui, ora um truque para ali. De natureza altamente objetiva, maximiza o tempo na busca da baliza adversária e, dessa forma, fez dois golos e duas assistências.
Rafa Silva é Rafa Silva, um futebolista único na última década em Portugal, o sprinter imparável. Se estes forem os seus últimos meses na I Liga, então sentemo-nos e aproveitemos. Foi para o campo, arrasou o Vizela com as suas arrancadas, saiu ao intervalo. Quando deixou de se divertir, acabou o jogo para o Benfica, que fez uma segunda parte de deixar o relógio correr. Ao quinto golo, a gestão tornou-se descanso.
O espantou chegou uma hora antes do apito inicial: seis caras novas no onze do Benfica, uma raridade na era Schmidt. Saíram Aursnes (que não era suplente desde 5 de outubro de 2022), António Silva, Carreras, Kokcu, Di María e Arthur Cabral, entraram Bah, Tomás Araújo, Morato, Tiago Gouveia, David Neres e Tengstedt.
Os primeiros 15’ nem faziam antever a avalanche ofensiva que caíra sobre o Vizela até ao descanso. Sem remates de parte a parte, o desastre para os minhotos começaria através de um erro do 18.º classificado da tabela.
Aos 16’, Francesco Ruberto deixou que Rafa se aproximasse muito e, in extremis, ainda inventou um túnel sobre o craque do Benfica. Só que o vírus da intranquilidade contagia-se e afetou Jota Gonçalves, que foi desarmado à entrada da área. Tengstedt serviu David Neres que, à segunda, inaugurou o marcador.
O brasileiro, nem sempre titular na era Schmidt mas agitador fundamental, o homem das importantíssimas assistências para os golos contra Estoril e SC Braga na reta final do campeonato passado, não era titular desde outubro. Recuperado da lesão, aproveitou as incomuns mexidas do treinador para evidenciar o seu talento. Passados nove minutos do 1-0, assistiu Otamendi para o 2-0, num lance que se seguiu à saída, por lesão, do guardião Ruberto, entrando Buntic. O croata encaixou um golo antes de tocar na bola.
Entre a classe e requinte técnico de Neres e Rafa surgiu a constante atividade de Tengstedt. O dinamarquês não será o mais preciso dos atacantes, mas é evidente que o seu futebol agressivo e mexido, sempre em desmarcação e pressão, casa bem com as ideias de Schmidt. Faltou-lhe acerto para marcar, mas esteve em três golos.
Aos 30’, Rafa Silva levou o jogo para o planeta Rafa Silva. Para a dimensão supersónica, para a realidade paralela em que só a velocidade de Rafa acompanha a ação, em que as pernas pequeninas parecem mover-se à velocidade da luz, deixando todos para trás. A finalização de Tengstedt esbarrou no poste, mas Tiago Gouveia apontou o 3-0.
Nos minutos finais da etapa inicial, o desafio instalou-se totalmente na dimensão de Rafa Silva. Era ele que corria sem oposição, que ditava as regras da partida, que avançava pelo relvado destinado à glória.
Cavalgando o desnorte do Vizela, os dois melhores em campo juntaram-se para o 4-0. Assistência de Rafa Silva, golo de David Neres. Já no quarto minuto de compensação, chegaria ainda o 5-0, com o útil Tengstedt a servir Rafa, que percorreu metade do campo com um só destino traçado. 5-0.
Ao quinto golo, veio o descanso. A gestão de Schmidt antes do começo e a festa do primeiro tempo tornaram-se repouso, uma parte de pausa a meio do fevereiro louco.
Aproveitando o suavizar dos campeões nacionais, os visitantes reduziram. Após um erro de Trubin, Essende tornou-se no melhor marcador de sempre do Vizela na I Liga. O ucraniano viria a redimir-se mais tarde, travando um penálti do atacante dos minhotos, no terceiro castigo máximo que parou nesta edição do campeonato.
Perante o deixar correr de tempo das águias, chegaram a ouvir-se tímidos assobios na Luz. Ainda haveria tempo para o 6-1, com nova assistência de David Neres a encontrar a finalização certeira de Marcos Leonardo, que leva uns impressionantes quatro golos em 103 minutos na I Liga 2023/24.
Ter um plantel com esta acumulação de tempo e não explorar todo o seu potencial roça o criminoso. Entre a fantasia de David Neres e o planeta supersónico de Rafa Silva, essa também é uma nota relevante da goleada ao Vizela."

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