quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Amorim e Klopp: pontos em comum


"Anúncios marcantes a meio da época que também criam responsabilidade acrescida aos jogadores

Transparência também é isto: impedir que a especulação vença, ser dono da agenda e adiantar-se a uma eventual notícia que reduziria o impacto do anúncio. Jurgen Klopp afirmou, na semana passada, que vai abandonar o Liverpool no final da presente época, num timing pouco comum e que desafia a lógica vigente dos discursos redondos e que decisões como esta só podem ser tomadas e publicadas no final de uma temporada. É precisamente por ter sido a meio do trajeto, ainda com tudo para ganhar ou para perder, que o técnico germânico provocou um sentimento no plantel que muito dificilmente não se transformará em energia: não há maior motivação para os jogadores que tentar ganhar títulos para uma saída em ombros daquele que lhes proporcionou, provavelmente, os melhores anos das respetivas carreiras. No primeiro jogo dos reds após a bomba, a equipa goleou o Norwich por 5-2. Significativo.
Numa a realidade diferente, vimos também Rúben Amorim traçar o futuro com linhas grossas a meio da temporada em curso, reiterando que sairá do Sporting pelo próprio pé se chegar a maio sem qualquer título conquistado. Além de representar uma mudança estrutural na cultura do clube (assumir que dois anos sem nada ganhar é sinónimo de fracasso num emblema que andou décadas afastado das grandes festas) o treinador campeão pelos leões em 2021 colocou também a responsabilidade nos jogadores: se querem que o técnico que fez deles (e tem feito deles) melhores do que o eram antes de chegarem às suas mãos, é bom que deem aquele extra mile. No primeiro jogo dos leões após as palavras gravadas em pedra de Amorim, a equipa alcançou frente ao Casa Pia a maior goleada do campeonato dos últimos 50 anos. Sintomático.
Cada um no seu contexto social, desportivo e cultural, Jurgen Klopp e Rúben Amorim representam uma forma diferente (para melhor) de comunicar, tratando todos os que estão do outro lado como pessoas dotadas de inteligência e não apenas recetores de mensagens sectárias no alvo e simplistas no argumento. Saindo o alemão do Liverpool, sabemos o vazio que ele irá deixar no histórico emblema da cidade portuária, por ter marcado uma era, independentemente do número de troféus conquistados (tanto ou mais quanto o que venceu, foi como o venceu); abandonando o jovem técnico português o comando do Sporting é garantido que quem vier terá vida difícil, mesmo que as últimas páginas da história dele venham a estar em branco no que respeita a títulos. Porque há treinadores cuja obra é muito mais do que a soma do metal depositado nas prateleiras dos museus."

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