quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

A grande ilusão


"Como poderia o plantel portista ficar imune a casos de polícia, violência e guerras pelo poder?

Acredito que, salvo raríssimas exceções, a conversa sobre balneários blindados e imunes às polémicas que correm nos corredores adjacentes aos mesmos foi sempre uma valente treta. Ou, enfim, uma ilusão. Já o era em tempos mais antigos; e é inevitavelmente mais notória em plena era de informação ao segundo, na palma da mão, fruto da revolução tecnológica que a todos nos envolve e absorve desde os primórdios do século XXI.
Exemplo claro desta realidade é o que está a passar-se nos últimos meses no coração do FC Porto: casos de polícia, atos de violência, detenções e uma guerra fratricida pelo poder. Como poderia o plantel portista (e a equipa técnica e todo o staff ligado ao futebol) estar livre de sair ferido de tamanha e, por vezes, inaceitável confusão nos edifícios, pavilhões ou ruas que o rodeiam? Parece-me, sinceramente, impossível.
De tal modo que torna inevitável ligar a bota com a perdigota. Porque a ansiedade, a preocupação e, até, tristeza evidentes nos rostos de alguns jogadores não tem como não resultar em jogos menos conseguidos, desconcentrações e falhas que, noutras circunstâncias, dificilmente ocorreriam. Não é, assim, à toa que os dragões estão a nove pontos da liderança da Liga (que até podem vir a ser 10 caso o Sporting vença o jogo em atraso com o Famalicão) e que são donos de um ataque medíocre (38 golos marcados, contra os 63 dos leões ou o 56 do Benfica).
No meio de crises, sejam elas de que tipo forem, não há balneários blindados. Não houve no Benfica, durante o conturbado período de transição na presidência do Benfica – com FC Porto, duas vezes, e Sporting, uma, a aproveitarem para conquistar títulos de campeão – como não houve no Sporting nos tempos mais controversos da liderança de Bruno de Carvalho…
E, no meio do ruidoso chinfrim que tem rodeado as mais mediáticas eleições de sempre do FC Porto, o incrível acontece quando o próprio Sérgio Conceição decide dar o seu contributo com mais lenha para a fogueira ao comparecer a 4 de fevereiro na apresentação da recandidatura de Pinto da Costa, presença à qual juntou um abraço e um beijo na testa do seu querido líder, numa clara contradição à garantia que deixara, dias antes, de que se manteria à margem do ato eleitoral e de que publicamente não assumiria apoio a nenhum dos candidatos. Ao não cumprir com essas garantias, levou ele próprio a luta eleitoral (e tudo o que a rodeia) para o coração do plantel: o balneário."

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