quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Burl G. Kreps, o primeiro americano no Benfica


"Vindo do país de origem do basquetebol, o jogador começou a colaboração no Clube em 1954

Burl Gene Kreps (1931-2021) nasceu na pequena localidade de Beatrice, no centro rural do Nebraska, filho de um padre metodista. Em 1952/53, foi campeão de basquetebol pela Wesleyan Nebraska University. Em 1954, como funcionário das missões americanas de África, foi deslocado para rumar a Angola.
Nesse ano, o jovem reverendo de 23 anos estabeleceu-se em Lisboa para aprender a língua portuguesa, acabando por integrar o plantel de basquetebol do Benfica, tornando-se o primeiro americano a fazê-lo.
O seu primeiro jogo foi em 5 de Outubro de 1954, como poste, num torneio da Associação de Basquetebol de Lisboa, frente ao Atlético CP, mexendo imediatamente com a estrutura e coordenação da equipa. Em alguma situações delicadas, como num jogo frente ao Boa-Hora para o Campeonato Regional, valeu ao Benfica 'a facilidade de encestamento de Burl Kreps e a sua boa actuação que permitiu passar este obstáculo'.
Apesar do ser autóctone do basquetebol, Kreps encontrou no Benfica grandes ases portugueses da modalidade que o superavam em campo, como Bernardo Leite e Sancho Freire. No entanto, a sua presença fazia-se sentir, tanto que, na primeira derrota que o Benfica conheceu na competição regional, 'Burl poucas vezes conseguiu fugir á marcação cerradíssima que lhe fizeram'.
Ainda assim, chegou a ser o melhor marcador em 5 dos 31 jogos de águia ao peito. Nesses 6 meses conheceu 27 vitórias, marcando 440 pontos dos 1898 pontos do Benfica, consagrando-se campeão regional, título que há meia década fugia aos encarnados.
O seu último jogo foi em 18 de abril de 1955, frente ao Belenenses (vitória por 84-60), com a braçadeira de capitão, cedida pelos colegas, enquanto os adversários 'aguardaram a entrada da nossa equipa em campo para cumprimentar Burl'. Este, emocionado, não controlou as lágrimas, que 'limpou à camisola que vestiu e honrou'.
Nessa noite, no restaurante da secretaria, a secção rendeu-lhe uma despedida. O vice-presidente Pinheiro Machado fez-lhe votos de felicidades para o futuro e 'colocou ao peito de Burl um emblema do Benfica, de ouro e pedras preciosas'. Agradecendo num português macarrónico, Kreps foi agraciado com uma caravela de filigrana pelo seu 'aprumo e suprema dedicação'. Três dias depois, embarcava para Angola, onde viria a ser grande promotor da modalidade.
Apesar da sua passagem efémera, marcou inevitavelmente o basquetebol encarnado, deixando saudades pela pessoa e atleta que fora e por se ter integrado 'perfeitamente na mística benfiquista'.
Conheça outros nomes da história do basquetebol do Benfica na área 3 - Orgulho Eclético, do Museu Benfica - Cosme Damião."

Pedro S. Amorim, in O Benfica

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