domingo, 24 de dezembro de 2023

Feliz Natal !!!

Qualificados...

Estoril 3 - 3 Benfica
Veloso, Melro, Mustmaa


Foi à rasquinha, mas conseguimos a qualificação para a Fase de Campeão, da Liga Revelação, garantido este empate na última jornada, contra o 1.º classificado da nossa zona, terminamos assim em igualdade pontual com o Farense(que hoje venceu o Portimonense), no 4.º lugar, mas com vantagem no desempate!

A correr sempre atrás do prejuízo, tivemos 3 vezes em desvantagem, por 3 vezes igualámos, e até jogámos os últimos minutos em superioridade numérica, mas o empate chegava!!!

A equipa nos últimos jogos pareceu mais equilibrada, com o Melro a ponta de lança, com o regresso do Gonçalo Moreira e sem a distração da UEFA Youth League, mas temos que melhorar bastante, principalmente na defesa, se quisermos lutar pelo título!

O Nuno Farinha é que tinha razão:


"Schmidt de novo de fato de treino, num jogo...
Perdeu de vez o balneário!

P.S: imagem meramente ilustrativa 😏

#obenficaestáemcrise"

Factos, números e semântica


"A influência portista no apuramento do Benfica para o Mundial de Clubes

«Aceito que o calendário está ocupado, mas é uma prova que vai jogar-se de quatro em quatro anos._E é importante tornarmos o futebol realmente global» - Arsène Wenger, diretor de desenvolvimento global da FIFA, sobre o Mundial de Clubes

A FIFA oficializou domingo o que A BOLA tinha noticiado na quarta-feira anterior: FC Porto e Benfica estão apurados para a primeira edição do novo Mundial de Clubes, com 32 equipas, a realizar em 2025, nos Estados Unidos da América.
Com limite de dois clubes por país (exceto se houver três ou quatro campeões continentais da mesma nacionalidade, esses têm sempre acesso), para além dos portugueses também já estão apurados, pelo ranking, Bayern, PSG e Inter.
Facto: o Benfica viu o seu lugar garantido na quarta-feira da semana passada, quando o Shakhtar, que poderia teoricamente ultrapassá-lo, foi eliminado na fase de grupos. Ao perder com o FC Porto. Consequência: vários títulos a ligarem os dois clubes portugueses. De Benfica no Mundial de Clubes após vitória do FC Porto — factual, correto — a FC Porto apura Benfica para o Mundial de Clubes — que já me parece algo exagerado.
Mesmo assim, melhor que Benfica no Mundial de Clubes graças ao FC Porto. O Benfica tem 52 pontos no ranking. O Shakhtar, caso tivesse vencido no Dragão, ficaria com 42. Teria pelo menos de chegar às meias-finais da Champions para ultrapassar o Benfica. E mesmo que o fizesse, os lisboetas só ficariam fora do Mundial se um de Arsenal, PSV ou Copenhaga fosse campeão europeu.
É um facto que o Benfica se apurou após o FC Porto vencer o Shakhtar; mas os números mostram que daí até dizer que o Benfica se apurou porque o FC Porto venceu o Shakhtar é um salto semântico bastante grande."

E vão 11 seguidas para a Europa


"O futebol internacional de clubes passou a ser uma coutada onde só alguns podem caçar

Três internacionais portugueses, Bernardo Silva, Rúben Dias e Matheus Nunes, tornaram-se ontem campeões do Mundo de Clubes, depois da vitória folgada (4-0) do Manchester City sobre o Fluminense. Os dois primeiros venceram ainda, em 2023, a Premier League, a Taça de Inglaterra e a Liga dos Campeões, que juntaram ao auxílio precioso que deram à Seleção Nacional na caminhada cem por cento vitoriosa até ao Euro-24.
A forma fácil e descontraída como o City passou por cima do Flu, na final de Jeddah, traduz com fidelidade a atual diferença de andamento entre os clubes europeus e os sul-americanos. Aliás, desde 2005, ano em que a atribuição do título Mundial de clubes passou a ter sequência, apenas em 2005, 2006 e 2012 o triunfo sorriu a equipas não europeias, por sinal brasileiras (São Paulo, Internacional e Corinthians). Ou seja, há onze anos seguidos que o troféu fica na Europa, onde estão todos os melhores jogadores sul-americanos.
Mas deixemos os clubes e passemos às seleções. Neste século, de 2002 a 2022, tivemos duas vitórias sul-americanas, Brasil e Argentina, e quatro europeias (Itália, Espanha, Alemanha e França). Porém, os títulos dos canarinhos e dos albicelestes foram conseguidos com jogadores a atuar na Europa.
Faz bem ao futebol esta supremacia que parece estar para lavar e durar? Provavelmente não, mas é tudo uma questão de follow the money, e essa premissa torna inevitável que todos os melhores jogadores de fora da Europa acabem a ser seduzidos pelo Velho Continente, pela qualidade das competições, pela força dos clubes e por compensações salariais inimagináveis nos países de origem. Aliás, quando se fala deste fenómeno de atração pelas grandes Ligas, e de valores irrecusáveis, Portugal, país formador por excelência, sabe aquilo a que esteve, está e estará condenado: criar talento, mostrá-lo ao mundo, e fruir dele unicamente quando joga a Seleção Nacional.
O novo Mundial de Clubes de 2025 vai alterar este rumo das coisas? Não vejo como. E a prova, também recente, desta inevitabilidade europeia está na putativa Superliga, que também foi pensada de olhos postos no mercado da Europa. Em conclusão, é apenas na seleção pátria que cada país pode encontrar conforto, e sentir orgulho coletivo no seu futebol. O resto é coutada onde só alguns podem caçar."

O leão conta!


"Rúben Amorim sabe que no futebol o mais difícil é criar o hábito de ganhar

Quando, na tarde de 1 de julho de 2015, Jorge Jesus foi apresentado no Sporting, o discurso do treinador ficou marcado sobretudo pela frase: «A partir de hoje, não há só dois candidatos ao título; a partir de hoje, há três candidatos ao título!» Jorge Jesus vinha de seis anos consecutivos no Benfica e estava habituado a olhar para o Sporting como um rival, sim, mas não como um competidor direto, porque nesses seis anos o grande competidor com o Benfica foi sempre o FC Porto e por isso os dois clubes dividiram em partes iguais, nesse período, os títulos de campeão nacional.
Jesus esteve três anos como treinador do Sporting e é verdade que não chegou a ser campeão como tanto queria e tão perto chegou a estar (e merecia) na primeira época, 2015/16, quando viu a equipa leonina terminar o campeonato a dois escassos pontos do campeão Benfica. Apesar do insucesso na Liga, ninguém pode ignorar que o Sporting pareceu realmente ressuscitar com Jesus.
Já antes, o clube vivera alguns anos de bom futebol, com equipas magníficas, treinadores competentes e entusiastas e jogadores brilhantes, mas sobretudo pela instabilidade permanente — relações quase sempre muito conflituosas entre adeptos e dirigentes e quase sempre muito impacto negativo gerado pela existência de várias fações e sensibilidades no universo leonino —, raros objetivos foram alcançados.
O hábito pareceu criar então um monge destinado a perder o comboio de uma competição que foi sendo muito dominada pelo FC Porto, em primeiro lugar, e depois, já na última década, pelo Benfica.
A chegada de Jesus a Alvalade criou um terramoto no futebol nacional. Já outros acontecimentos tinham abalado a esfera dos dois grandes rivais de Lisboa (e nem vale a pena recordá-los e muito menos enumerá-los), mas creio que nenhum provocou sismo tão forte como o gerado pela passagem de Jorge Jesus, então o treinador bicampeão nacional, da Luz para Alvalade.
Em 2015, Jesus fechou assim um profundamente marcante ciclo de seis épocas no Benfica, onde na verdade, convenhamos, foi também decisivo para devolver à águia a aura de campeã e a capacidade de discutir os títulos (entre 1994 e 2010, os encarnados tinham sido apenas uma vez campeões, em 2004) e apostou em conseguir fazer o mesmo no Sporting.
Pouco lhe importava verdadeiramente a cor, porque Jesus é, como bem sabemos, o profissional de eleição que é, mas no Sporting todos sentiam que Jesus tinha finalmente chegado ao clube do coração e poderia, por fim, prestar homenagem ao grande sportinguista (e jogador leonino) que fora seu pai.
A frase «a partir de hoje há três candidatos ao título» ficou tão gravada na memória dos sportinguistas que naquela primeira época voltou a ver-se em Alvalade o entusiasmo e a paixão que há muito não se via. Não foi suficiente para ganhar o título. Mas deixou, creio, uma semente importante.
O que veio a suceder no Sporting até à eleição de Frederico Varandas e à chegada de Rúben Amorim é história. O mais importante, agora, é reter a dinâmica que o clube voltou a saber aproveitar. O título de campeão em 2021 veio apenas confirmar como o leão conta, de novo, nas discussões dos títulos, e de tal forma conta que hoje, praticamente a meio deste campeonato (e quando à partida para a Liga 2023/24 parecia visto como condenado a estar fora das principais batalhas), é o líder isolado e é reconhecido por muitos observadores e analistas como a equipa que melhor futebol tem jogado na época, a par, talvez, de um SC Braga que continua a crescer muito como equipa competitiva, à espera de conseguir crescer também como potencial candidato ao trono do futebol nacional.
O leão conta. E conta, como se tem visto, não apenas para incomodar a habitual luta entre Benfica e FC Porto, mas para se envolver nela, porque já bem lhe chega que nos últimos 15 campeonatos o FC Porto tenha ganho sete, o Benfica outros sete e o leão apenas um.
Saberá Rúben Amorim (em Alvalade, saberá provavelmente melhor do que ninguém) o quanto será difícil conseguir inverter uma tendência que se tornou histórica no futebol português. E sabe o jovem treinador leonino, desde logo, como seria fundamental não ficar excessivamente exultante por ter chegado, em 2021, ao primeiro título de campeão em 19 anos. O Sporting não pode só ganhar; o Sporting tem de se habituar a ganhar.
É um bocadinho como Rúben Amorim, sobre um dos seus jogadores (o jovem Eduardo Quaresma), afirmava no final do clássico da última segunda-feira com o FC Porto: «Um jogador de talento pode sempre fazer um grande jogo; o problema é depois, nos jogos seguintes.»
Ou seja, o que Amorim me pareceu ter querido dizer é que o melhor jogador não é o que faz um grande jogo; o melhor jogador é o que faz vários jogos bons. O que pode nunca ser brilhante, mas o que nunca deixa ficar mal a equipa.
Ora o Sporting candidato ao título tem de ser o Sporting que Rúben Amorim procura construir, em primeiro lugar, na mentalidade, no foco, no espírito, na resiliência. Prepará-lo não para ser bom um ano, mas para ser bom vários anos. Ser candidato ao título é um estatuto e não um acaso. E o que Rúben Amorim visivelmente procura em Alvalade é que o Sporting ganhe esse estatuto e não se satisfaça simplesmente com o acaso.
Ter sido campeão em 2021 foi, evidentemente, muito bom para o leão, mas creio que Amorim sabe como esse foi um título conquistado em condições muito especiais (criadas pela pandemia), ainda que com muito esforço, mérito e bom futebol.
Rúben Amorim é um jovem treinador e pode ter (e tem) naturalmente muito para aprender, mas ninguém o pode acusar de não ter ideias claras e aquela chama que fará certamente do jovem treinador um grande treinador. Não é fácil explicar, mas parece fácil de compreender. Como dizem os italianos, há os que têm e os que não têm. Por isso, e até por ter passado, como jogador, pelo Benfica (os sportinguistas que me perdoem, mas é a verdade), Amorim sabe o que é preciso não só para se ganhar, mas sobretudo para criar o hábito de se ganhar, que é a essência de qualquer grande equipa de futebol.
Sendo, pois, o hábito a fazer o monge, é do hábito que se criará em Alvalade o estatuto de verdadeiro candidato ao título para o qual Rúben Amorim tem vindo a trabalhar, mesmo com experiências menos bem sucedidas, alguns erros de avaliação, hesitante, e algo ilusória, aposta nos jovens, mas muito, e reconhecido, trabalho estrutural, sem improvisação e sem grandes riscos.
Se aparentemente era arriscado pagar tanto, por exemplo, por um ponta de lança vindo da segunda (mas muito forte) divisão inglesa (contratado ao Coventry, Gyokeres pode, segundo o próprio Sporting, vir a custar 26 milhões de euros), para Amorim e restantes responsáveis leoninos o risco, percebe-se agora, foi bem calculado e revela como está bem estudado e analisado o estado atual do futebol do Sporting, o que não significa estarem encontradas todas as mais indispensáveis soluções. Uma coisa é avaliar, outra encontrar solução. Mas se não avaliarmos bem, nem sabemos que solução encontrar. E hoje, o Sporting dá ideia de saber exatamente o que procura, como se conclui pela contratação exemplar de um internacional sueco que está a mostrar-se demolidor no ataque da equipa.
É nesse sentido que o futebol leonino, do presidente a Hugo Viana e de Hugo Viana ao treinador, parece agora uma estrutura coesa e objetiva. Percebe-se que não abana por um mau resultado. Pelo contrário. Dá ideia de mais se unir ainda. Lá dentro, mas também para fora, com permanentes posições críticas seja sobre arbitragens, seja sobre disciplina, seja sobre adversários ou as entidades que regulam o futebol. E é assim que qualquer estrutura se torna mais forte. O Sporting parece ter hoje muito claro qual é o objetivo, mas parece ter ainda mais claro qual é o caminho para o poder alcançar.
Goste-se ou não do estilo de comunicação ou até mesmo de um certo comportamento na competição, num ou noutro caso, até mais guerrilheiro (um bocadinho à imagem do que tem sido prática no FC Porto, por exemplo), o Sporting passou, com Varandas e seus pares, a querer fazer do ataque a melhor defesa. Parece, com isso, ter a convicção de ficar mais perto de ganhar.
E não apenas dentro de campo!"

Fundadores insolventes


"Só Real Madrid e Barcelona resistiram dos 12 clubes fundadores da Superliga. Mas convém olhar para os factos mais relevantes nos bastidores na insistência da criação de uma liga ultra milionária. O Real Madrid realizou recentemente uma Assembleia Geral de sócios que aprovou a ampliação do empréstimo para finalizar as obras do Santiago Bernabéu em mais €370 milhões. Ou seja, o clube (e não empresa) já se financiou em €893 milhões para reformar o seu próprio estádio, o que origina uma atualização do custo total com a obra a rondar os €1.200 milhões.
Já o Barcelona apresentava, em junho passado, uma dívida de €1.350 milhões que só foi posteriormente amenizada pela venda de 49,50% da Barça Studios por €200 milhões. Ainda assim, há uns meses, a consultora Ernst & Young (EY) colocou em causa a viabilidade do clube (e não empresa) com base num balanço consolidado a 30 de junho de 2020 e que revelava um fundo de manobra negativo na ordem dos €601 milhões. Ou seja, a EY apontou para uma economia interna à beira do colapso devido ao investimento no projeto imobiliário denominado Espai Barcelona (atualização do Camp Nou, estádio de futebol, Palau Blaugrana, pavilhão das modalidades, e Campus Barça, formação), na transferência de dívida a longo e curto prazo com entidades financeiras e nos investimentos nas contratações de jogadores.
Esta é a realidade da dupla de campeões crónicos da Liga espanhola. O fundo de maneio não é suficiente para as suas necessidades pelo que é óbvia a sede de dinheiro fresco. Dinheiro este que a JP Morgan Chase até esteve com vontade de investir na Superliga até ter percebido a amplitude de insatisfação dos adeptos a criar nas ruas uma convulsão social.
Podíamos juntar a estes casos de falência técnica o Atlético de Madrid (com €514 milhões de dívida líquida mesmo após reduzir em 19% a massa salarial), o Tottenham (com 853 milhões de libras em dívida bruta — a maior dos clubes ingleses — e relacionada com custos do seu estádio) e a Juventus (que perdeu mais de €600 milhões em cinco anos depois de ter resultados positivos líquidos em 2016-2017). A verdade é crua: estão falidos."

Do estrelato mundial a sem abrigo em Lisboa


"O ressentimento é tomarmos veneno e ficarmos à esperar que seja o outro a morrer

Março de 2020.
Se eu tivesse a mania da perseguição diria que o Sem Nome estava a seguir-me. Mas não tenho. Mais do que por uma questão de princípio, por falta de disciplina e por preguiça mesmo. Na minha cabeça, a mania da perseguição, a teoria da conspiração e a mentira entram na mesma categoria: exigem uma grande disciplina mental, de memorização e preenchimento de espaços vazios, para não se abrirem brechas na coerência e não soçobrarem mais depressa do que se apanha um coxo. E isso dá muito trabalho. Um preguiçoso e um aluado sentem-se muito mais confortável com a verdade.
Por norma, a explicação mais simples é a que está mais perto da verdade. E a verdade é que eu e o Sem Nome tínhamos rotinas fixas. Eu apanhava sempre o mesmo comboio e, chegado à estação do Rossio, parava para olhar o Castelo de São Jorge e fumar um cigarro. E àquela hora o Sem Nome passava, de olhos fixos no chão, apanhando beatas de cigarros que guardava religiosamente no bolso. Aos poucos troquei o Castelo de São Jorge pela curiosidade de observar o Sem Nome, que passava por mim e nunca me pedira um cigarro, porfiando em garimpar beatas da calçada… E a curiosidade foi crescendo. Aprendi na vida e na profissão de jornalista que uma boa história de uma só pessoa tem mais interesse do que a história de um grupo, de um país, até da humanidade.
— Amigo, quer um cigarro?
O Sem Nome não me respondeu, mas percebi que me ouviu, porque parou um segundo a marcha antes de a retomar, calcando as mesmas pedras de todos os dias. Por isso, nos dias seguintes voltei à carga.
— Amigo, quer um cigarro?
À terceira tentativa, o Sem nome não só parou como me olhou nos olhos. Senti um calafrio. Um olhar translúcido, uma ausência de melanina, como se toda a pigmentação tivesse caído no chão por tanto olhar para a calçada… As rugas formavam vales em dias de sol e rios em dias de chuva. O cabelo e a barba deveriam ficar brancas depois de um bom banho e o que lhe cobria o corpo terá sido roupa um dia.
— Não preciso da ajuda de ninguém, está proibido de ter pena de mim…
A voz era grave, cavernosa, vinda das entranhas mais profundas e com um ligeiro torpor que poderia resultar da falta de treino na fala… O tom, esse, era autoritário e de censura. Apanhou-me de surpresa e só ao fim de uns segundos lhe respondi.
— Peço desculpa, não me expliquei bem. Não lhe estou a oferecer ajuda, estou a pedir-lhe ajuda. Estou a passar uma fase complicada, se aceitar este cigarro vou sentir-me melhor, que fiz algo de útil. Estou mesmo a precisar disso. Você pode ajudar-me, aceitando o cigarro?
O Sem Nome não me respondeu. Continuou a olhar-me nos olhos como se estivesse a avaliar-me. E acabou por estender a mão e agarrar no cigarro.
«O meu nome é Jorge e sou jornalista de A BOLA», disse-lhe. Dizer que sou jornalista de A BOLA já me livrou de algumas multas e já me abriu algumas portas, tinha a esperança que esse trunfo conseguisse manter ao menos entreaberta a porta que o Sem Nome aceitara abrir. E o certo é que pela primeira vez julguei ver algo de parecido com um esboço de brilho nos olhos.
— Eu joguei futebol. Era médio centro.
— Não me diga… Como é o seu nome?
— Não tenho. Tomei demasiadas más decisões na vida, provoquei demasiado sofrimento, perdi o direito a ter um nome. Abdiquei. Com o tempo esqueci até que nome me deram...
— Amigo, pelo que me está a contar, você está a carregar um fardo muito pesado nos ombros. Por muito graves que tenham sido os seus pecados, tenho a certeza de que já pagou o que tinha a pagar por eles. Acho que terá chegado a altura de se perdoar…
Foi aqui que o perdi… O Sem Nome fechou os olhos, voltou a baixar a cabeça e regressou ao transe de sempre, apanhando beatas pelo caminho. Ainda agradeci a ajuda, mas já não tive qualquer resposta.

A história de Perivaldo
Do Rossio à Travessa da Queimada, sede histórica de A BOLA, os 235 degraus das Escadinhas do Duque. O Sem Nome fez-me lembrar o Perivaldo. Baiano. Nascido em 1953. Um dos grandes laterais-direitos do futebol brasileiro. Craque no Bahia, Botafogo, Palmeiras e seleção brasileira. Polémica a decisão de ter ficado de fora do Mundial de 1982, naquela que, para mim, foi a melhor seleção que alguma vez vi jogar, com nomes como Cerezo, Júnior, Éder, Falcão, Zico, Sócrates ou Serginho Chalupa, este último até mais por achar graça ao nome… O conceituado jornalista brasileiro Edson Mauro batizou os cruzamentos de Perivaldo como «Menina Veneno»… No final da carreira, Perivaldo ainda tentou o Sporting de Marinho Peres. Sem sucesso. Por Portugal ficou e em Portugal pagou o preço de uma vida a acumular más decisões. O dinheiro esfumou-se ainda mais rápido do que a velocidade que tinha em campo. Passou a dormir nas ruas de Lisboa, ganhando trocados na Feira da Ladra a vender o que recolhia dos caixotes do lixo.
Foi o humorista Nilton, em 2012, quem o descobriu por mero acaso, contando a sua história. A TV Globo soube e mandou repórter a Lisboa. E o Brasil comoveu-se. Mais tarde, o presidente do Sindicato dos Jogadores do Estado do Rio de Janeiro foi a Lisboa com alguns dos 11 filhos de Perivaldo e convenceu-o a regressar ao Brasil, prometendo-lhe emprego. Passou a acompanhar e a ajudar jogadores desempregados e a dar a história de sua vida como exemplo.
Fala, Perivaldo. «Você está com bolso cheio de dinheiro. E como ele vai entrando sempre e em grande quantidade, tudo parece fácil. Se não tem cuidado, um dia você acorda e o bolso está vazio… Ninguém é culpado do que me aconteceu, eu é que fiz a vida correr mal. Estava montado num cavalo e fui montar num burro. Então, o burro sou seu…», contou à Globo.
Perivaldo morreu em 2017, com 64 anos, vítima de pneumonia. Cedo, mas a tempo de se reerguer.

Quando perdoar salva vidas
Ainda hoje penso no Sem Nome. Escassos minutos de algo parecido com uma conversa, mas duas lições que ficaram ainda mais claras.
— A caridade é, em primeiro lugar, uma ajuda a nós próprios e só depois aos outros. A ajuda é dar um sentido à nossa vida, ao outro é apenas resolver um problema. Quem fica a ganhar? Já há dois mil anos, Sêneca, advogado e escritor no Império Romano, o defendia: «Não existe ninguém que quando ajuda outra pessoa não se favoreça a si mesmo.» Se pensarmos um pouco, sabemos que estamos a amadurecer bem quando passamos a tirar mais gozo no dar do que no receber.
— Guardar ressentimento é tomar veneno e esperar que seja a outra pessoa a morrer. Perdoar é o maior bálsamo, o mais curativo dos sentimentos humanos. Perdoar é o exercício supremo de liberdade e de reassumir o controlo da nossa vida. Perdoar é dizer que quem nos magoou — ou o que nos magoou — deixou de ter poder sobre nós. Nada desarma mais do que o perdão. E não necessariamente porque os outros o mereçam, mas porque nós merecemos.
Março de 2020. Portugal regista oficialmente o primeiro caso confirmado de Covid-19. O País entra em confinamento. As rotinas quebraram-se e não mais me cruzei com o Sem Nome no Rossio. Só espero que tenha conseguido perdoar-se.
Um Santo Natal a todos."

Ténis: mais do que um desporto, uma escola de vida


"Lisboa poderia apostar num centro desportivo de ténis. É um desporto para futuros líderes: estimula a tomada de decisões rápidas, a responsabilidade individual, a ética e o respeito pelos adversários.

Arrisco-me a dizer que a prática regular de atividade física é a garantia mais eficaz de melhoria da qualidade das nossas vidas. A Organização Mundial da Saúde reconhece que a atividade física reduz sintomas de depressão e de ansiedade, contribui para a prevenção de doenças cardiorrespiratórias, cancros e diabetes, aumentando as capacidades de aprendizagem, de reflexão e de julgamento, entre tantos outros benefícios para saúde física e mental.
No desporto há uma modalidade pela qual sou apaixonada: o ténis. É a terceira modalidade singular mais praticada no mundo e estudos recentes demonstram que o ténis está entre os desportos que mais aumentam a longevidade e a qualidade das nossas vidas.
O ténis é um catalisador do crescimento pessoal: enfrentar um adversário num court de 23,77 metros de comprimento por 8,23 metros de largura desenvolve habilidades técnicas e a liderança – que neste desporto é silenciosa –, a tomada de decisões rápidas e a responsabilidade individual. Acresce que o ténis se joga num ambiente que promove a ética, o companheirismo e o respeito pelos adversários, os árbitros, os apanha-bolas, os treinadores e o público.
Dito de outro modo, o ténis ‘edifica’ valores essenciais à sã convivência na sociedade, no trabalho ou em casa.
Quanto teríamos a ganhar enquanto coletividade se a prática regular do ténis fosse fomentada enquanto política pública dirigida ao desenvolvimento dos nossos filhos e netos, proporcionando-lhes lições para a vida que transcendem o que se passa no campo?
Foi com a missão de desenvolver estas valências entre os mais jovens que a Vanguard Stars foi criada em 2018. Desde então, mais de 5 mil jovens atletas sub-10 e sub-11 competiram neste circuito internacional de ténis que já se jogou em Portugal, Espanha, França e Alemanha. Os números desta iniciativa demonstram que uma aposta estruturada que fomente a prática desportiva é apreciada pelas crianças e pré-adolescentes.
Portugal pode inspirar-se no exemplo espanhol, que fez esta aposta há mais de duas décadas. Precisamos de mais programas como o Vanguard Stars, em articulação com clubes desportivos e o poder local, para democratizarmos ainda mais o acesso ao ténis (e ao desporto), inspirando crianças de diversas origens e de níveis socioeconómicos. Fornecendo estas oportunidades e recursos, programas como este abrem caminho para uma nova geração de talentos desportivos, que serão os futuros líderes de amanhã. Porque o ténis é muito mais do que um desporto; é uma escola para a vida! Abraçando gradualmente este desporto, Portugal começa a colher os benefícios de uma juventude mais saudável, resiliente e preparada para liderar os (enormes) desafios do futuro – e, quem sabe, formar o próximo Carlos Moya, Juan Carlos Ferrero, Rafael Nadal ou Carlos Alcaraz português!
É, pois, necessário inverter a falta de instalações com qualidade, dimensão e serviços. Neste capítulo, a cidade de Lisboa poderia liderar pelo exemplo e apostar num verdadeiro centro desportivo da modalidade com o apoio de estruturas como a Vanguard Stars. Em Espanha há inúmeros exemplos de alianças desportivas entre o setor público e o setor privado que deram grandes resultados. Na Vanguard Stars, estamos preparados para dar todo o apoio necessário, assim exista um local para desenvolver um centro internacional de grande qualidade."