"O futebol internacional de clubes passou a ser uma coutada onde só alguns podem caçar
Três internacionais portugueses, Bernardo Silva, Rúben Dias e Matheus Nunes, tornaram-se ontem campeões do Mundo de Clubes, depois da vitória folgada (4-0) do Manchester City sobre o Fluminense. Os dois primeiros venceram ainda, em 2023, a Premier League, a Taça de Inglaterra e a Liga dos Campeões, que juntaram ao auxílio precioso que deram à Seleção Nacional na caminhada cem por cento vitoriosa até ao Euro-24.
A forma fácil e descontraída como o City passou por cima do Flu, na final de Jeddah, traduz com fidelidade a atual diferença de andamento entre os clubes europeus e os sul-americanos. Aliás, desde 2005, ano em que a atribuição do título Mundial de clubes passou a ter sequência, apenas em 2005, 2006 e 2012 o triunfo sorriu a equipas não europeias, por sinal brasileiras (São Paulo, Internacional e Corinthians). Ou seja, há onze anos seguidos que o troféu fica na Europa, onde estão todos os melhores jogadores sul-americanos.
Mas deixemos os clubes e passemos às seleções. Neste século, de 2002 a 2022, tivemos duas vitórias sul-americanas, Brasil e Argentina, e quatro europeias (Itália, Espanha, Alemanha e França). Porém, os títulos dos canarinhos e dos albicelestes foram conseguidos com jogadores a atuar na Europa.
Faz bem ao futebol esta supremacia que parece estar para lavar e durar? Provavelmente não, mas é tudo uma questão de follow the money, e essa premissa torna inevitável que todos os melhores jogadores de fora da Europa acabem a ser seduzidos pelo Velho Continente, pela qualidade das competições, pela força dos clubes e por compensações salariais inimagináveis nos países de origem. Aliás, quando se fala deste fenómeno de atração pelas grandes Ligas, e de valores irrecusáveis, Portugal, país formador por excelência, sabe aquilo a que esteve, está e estará condenado: criar talento, mostrá-lo ao mundo, e fruir dele unicamente quando joga a Seleção Nacional.
O novo Mundial de Clubes de 2025 vai alterar este rumo das coisas? Não vejo como. E a prova, também recente, desta inevitabilidade europeia está na putativa Superliga, que também foi pensada de olhos postos no mercado da Europa. Em conclusão, é apenas na seleção pátria que cada país pode encontrar conforto, e sentir orgulho coletivo no seu futebol. O resto é coutada onde só alguns podem caçar."
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