domingo, 26 de novembro de 2023

Vermelhão: Na corrida pelo Jamor...

Benfica 2 - 0 Famalicão

Trubin; Aursnes, Toni Silva, Otamendi, Morato(T. Araújo, 88'); Tino(Kokçu, 79'), Neves(Chiquinho, 84'); Di Maria, Rafa, Mário(Gouveia, 84'); Tengstest(Musa, 79')

Qualificação, numa partida entretida para os 'neutros', mas demasiado 'equilibrada' para os Benfiquistas! Jogámos melhor no 1.º tempo, o empate ao intervalo era muito injusto, um 3-1, seria mais representativo... mas só chegámos ao golo no 2.º tempo, num auto-golo, numa altura que o jogo estava 'partido', e nos 5 minutos seguintes, com uma expulsão do Fama, e o 2.º golo do Rafa, a partida ficou decidida!

Hoje, por toda a Europa, as equipas com muitos jogadores Internacionais 'sofreram' e algumas, mesmo sendo favoritas, não venceram. O Famalicão não é uma equipa do CNS (4.ª Divisão do Tugão!), aliás, o Famalicão tem sido uma das 'surpresas', que neste momento está a jogar melhor futebol entre as equipas do meio da tabela! E hoje, tiveram a versão inspirada do seu guarda-redes: a defesa ao remate do Di Maria, será provavelmente a melhor defesa do Tugão da época 2023/24, 'doutro mundo'!!!

Normalmente após as paragens para as Seleções as equipas perdem embalagem, intensidade, mas neste caso para o Benfica, este terá sido o adversário ideal, para 'preparar' o jogo de Quarta-feira para a Champions, com o Inter... Para os níveis habituais do Tugão, o jogo foi jogado a um ritmo bastante interessante!

O Tengstedt não marcou (desta vez...), mas voltou a confirmar que é o nosso avançado mais parecido com o Ramos, 'sem bola'! Nas movimentações, procura os 'espaços', 'ataca' a profundidade...

A questão da pressão alta mantém-se: com o Di Maria, a não respeitar a sua zona de pressão, constantemente, a 'saltar' o jogador a pressionar sem qualquer justificação, 'libertando' assim um adversário, é impossível ter consistência na pressão... Além disso, no final da 1.ª parte, e nos minutos antes do 1.º golo, voltámos a abrir muitas espaços no meio-campo, com muitos jogadores, a não recuperarem após a perda da bola, deixando muito metros quadrados para o Tino e o Neves cobrirem!!! E com o Aursnes constantemente subido, com o Tino a compensar, o centro do terreno fica 'vazio'!!!

Dito isto, já me tinha parecido no jogo com o Sporting, mas hoje confirmei: a equipa fisicamente está mais disponível! Pode ser uma questão psicológica... ou de confiança/motivação, mas estamos mais agressivos nos duelos, com os jogadores a 'reagirem' mais rápido...

Nos poucos minutos que o Kokçu jogou, a diferença foi gigante! Já defendi anteriormente, tendo em conta as debilidades da equipa, deveríamos 'encaixar' no meio-campo, o Tino, o Neves e o Kokçu em simultâneo!

Agora para Quarta, após estas duas vitórias 'moralizadoras', vamos ter esperança! Não acredito, num Inter com muitas poupanças, mas também não acredito num Inter a pressionar alto, portanto apesar das dificuldades, é possível... Agora, temos que perceber, as dinâmicas da possivel qualificação para a Liga Europa: com a previsível vitória da Real Sociedad sobre o Salzburgo, para o Benfica, empatar ou ganhar, é exatamente igual!!!

O 'encaixe' nas Laterais vai ser decisivo: Morato/Drumfies e Aursnes/Di Marco (a ano possível, correu muito mal!), com os já habituais 'ataques' cruzamentos para 'cima' do Lateral do lado contrário! Senão nos prepararmos para esta realidade, será impossível ganhar... Os adversários sabem que estamos a jogar com Laterais adaptados, hoje o treinador do Famalicão referiu isso no final da partida, e vão tentar aproveitar-se disso...

Vitória...

Benfica 4 - 1 Santa Clara


Bom jogo, dos melhores que vi esta época, mas mais mais uma vez, depois de muito caudal ofensivo, algum desperdicio, a vencer por 2-0, acabámos por sofrer o 2-1 em contra-ataque (auto-golo do Coser), e o jogo ganhou 'emoção' sem nenhuma necessidade!
Espero que finalmente tenham percebido que o Melro é ponta-de-lança e não extremo...

Empate...

Benfica 1 - 1 Oliveirense
Cauê(69')


Empate que sabe a pouco, num jogo onde tivemos muito tempo em desvantagem, a correr atrás do prejuízo, com mais um golo anulado para os 'apanhados', mas com o Luís Ferreira no VAR, não se pode esperar muita cosia!!!

Derrota no prolongamento...

Sporting 91 - 88 Benfica
14-16, 22-21, 30-17, 14-26, 11-8

Mais um derrota difícil de aceitar... Esta equipa tem a obrigação de vencer todos os jogos em Portugal, tal a diferença de qualidade, com os adversários! Mesmo com as arbitragens adversas!

Hoje, vários momentos, com a equipa totalmente a dormir... Como é que se pode perder um jogo, onde ganhámos 48 ressaltos, contra 26?!!!

Na Taça para ganhar


"O Benfica regressa à competição, hoje, às 20h45, na Luz, frente ao Famalicão, a contar para a Taça de Portugal. Este é o tema em destaque na BNews.

1. Focados em vencer
Roger Schmidt salienta a importância de só voltar a haver pausa para seleções daqui a vários meses e refere que a conquista da Taça de Portugal é um dos objetivos da temporada: "Estamos felizes por voltar a jogar, por podermos estar focados a 100 por cento no Benfica até março e por jogar em casa. Temos grandes objetivos na Taça, queremos vencê-la nesta época e estamos prontos para lutar pelo apuramento para a próxima fase."

2. Eixo estratégico
Pedro Mil-Homens, diretor-geral do Benfica Campus, faz um balanço positivo da temporada até ao momento e salienta a importância do reconhecimento, por Roger Schmidt, do excelente trabalho desenvolvido: "Gostamos de ver o nosso principal cliente, como gosto de dizer, que é o treinador da equipa principal, a olhar para o trabalho da Formação como ele olha, e a elogiar-nos publicamente."

3. Dérbi à vista
Benfica e Sporting encontram-se em futebol no feminino, amanhã, às 14h30, no Benfica Campus. Nos últimos dias, as Inspiradoras venceram na difícil deslocação a Braga e, no Seixal, frente ao Rosengard para a Liga dos Campeões, e querem agora somar mais uma vitória no dérbi.
Filipa Patão antevê "um jogo muito tático, mas também muito intenso" e só pensa na conquista dos três pontos: "Vamos encarar este jogo com máxima concentração, força e foco, porque queremos muito a vitória em nossa casa."
Entretanto, regista-se a presença de oito jogadoras do Benfica na mais recente convocatória para a seleção nacional portuguesa (mais 5 para as Sub-23 e 6 para as Sub-19).

4. Mais um dérbi
Também no basquetebol há encontro entre Benfica e Sporting. O jogo é no Pavilhão João Rocha, hoje, às 15h00. Norberto Alves define o objetivo: "Queremos ganhar."

5. Outros jogos
Há muitas partidas previstas para este sábado. Nesta manhã, os Sub-23 derrotaram, em casa, o Santa Clara, por 4-1. A equipa B recebe a Oliveirense, no Benfica Campus, às 18h00. Às 15h00, jogo na Luz de voleibol frente à AA São Mamede e visita ao Belenenses em andebol. No futsal feminino, receção, na Luz, ao Atlético (17h30).
Consulte a agenda para conhecer todos os jogos marcados para o fim de semana e respetivos horários.

6. Polo aquático
No primeiro jogo da fase final da Challenger Cup, Grupo A, o Benfica foi derrotado, por 13-10, pelo Estrela Vermelha. Nesta manhã, frente ao VK Jadran Split, o resultado foi 12-8 favorável às águias.

7. Protagonista
Rodrigo Lopes, judoca do Benfica, é o protagonista da semana. Uma entrevista para ver na íntegra na BTV ou ler no jornal O Benfica.

8. Museu mais rico
Leonor Coelho, jovem cavaleira do Benfica que se tem destacado no dressage, doou, ao Museu Benfica – Cosme Damião, vários itens do seu equipamento e o troféu e a faixa relativos ao triunfo no Campeonato de Portugal de Juvenis.

9. Casa Benfica Portalegre está de parabéns
Esta embaixada do benfiquismo completou 30 anos e a BTV esteve presente nas celebrações."

Tudo menos futebol!!!

Cartilha...


"Aqui têm a prova clara de que existe uma campanha em curso contra Roger Schmidt e Benfica. Toda esta crónica é uma ode ao anti-benfiquismo primário. O Benfica e Roger Schmidt é que estão mal e são vilões. Sobre o FC Porto e os maus comportamentos de Conceição, nem uma palavra."

Camelo...


"- “Benfica que se desenrasque”
- “Acham que em Espanha vão estar a traduzir as perguntas?”
Estas frases foram proferidas pelo Camelo Vilar, mostrando, também ele, que o cerrado ataque a Roger Schimdt é totalmente concertado entre toda a comunicação social portuguesa.
O que continua a ser estranho é que, nem ERC, nem o Sindicato dos treinadores venha fazer a defesa do alemão, como já o haviam feito noutras ocasiões.
O incomodo provocado pelo Benfica e o seu treinador, é cada vez mais evidente e, a mando daqueles que todos sabemos, estes "vendidos" vão continuar nesta senda persecutória.
Até quando!? Vale tudo!?"

Extremamente actual...

Desfazendo mitos...


"📊 Desfazendo Mitos: A Verdadeira Contribuição dos Clubes Portugueses para o Ranking da UEFA.
Ontem fui alvo de mais um ataque insultuoso e pouco urbano por parte da estrutura do Porto através do seu diretor de comunicação.
Por isso, lanço um desafio: Francisco J. Marques, está convidado a identificar qualquer erro nos pontos que atribuí ao ranking da UEFA.
Há quem tente perpetuar o mito de que o FC Porto é o clube que mais contribui para o ranking da UEFA em Portugal. Mas o que nos dizem os dados?
Importante esclarecer: o Ranking de Países e o Ranking de Clubes da UEFA são diferentes. ⚽
No Ranking de Países, somam-se todos os pontos dos clubes aos quais se somam pontos bónus adicionais que são ganhos à medida que se progride para as fases posteriores das competições.
Na dúvida o @JornalPoligrafo pode ajudar. Mas os números não mentem. A análise está aberta a todos. 🕵️‍♂️
Em conclusão, o Benfica é o clube que mais contribuí nos últimos 20 anos para o ranking de países da UEFA. O debate pode ser feito sem insultos e de forma clara."

Recordar é viver!!!


"Recordar é viver: "Quem com ferros mata, com ferros morre." A violência nunca deve ser a resposta, nem mesmo quando se trata de rivalidades intensas no futebol.
A agressão sofrida por Roberto com bolas de golfe no estádio do Dragão foi um episódio lamentável, e mesmo que anos mais tarde houvesse quem justificasse como parte de um plano, a violência não tem justificação.
«Recordo que o Roberto era na altura o guarda-redes do Benfica e que não estava a passar um momento muito bom. E nós soltamos algumas mensagens para o Roberto em placards que espalhamos pelo estádio», contou o treinador à SIC.
«Isso são truques que se fazem para intimidar psicologicamente os adversários. Eu, o Antero [Henrique] e o presidente [Pinto da Costa] dedicámos um pouco da semana a preparar esse jogo e a criar ambientes emocionais que nos poderiam trazer vantagens.»
André Villas Boas e Pinto da Costa podem até considerar o Benfica como inimigo, mas o verdadeiro espírito desportivo reside no respeito mútuo."

Evolução lenta, mas evolução...


"A queda do Governo ‘atrasou’ um ano uma nova entidade para dirigir a arbitragem

A pouco e pouco as coisas vão ao sítio, as peças encaixam-se, e a arbitragem do futebol, que durante décadas viveu na época das cavernas, alheando-se de que havia mais mundo lá fora, vai aderindo, finalmente, a conceitos a que outros chegaram muito mais cedo e que contribuem, acima de tudo, para a transparência, aquele patamar onde se mata a suspeição e se dá luz à credibilidade. José Fontelas Gomes, presidente do Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), no contexto de uma ação de sensibilização de novos árbitros, assumiu que em breve será possível ter acesso, em tempo real, às comunicações entre o árbitro de campo e o VAR.
E fê-lo antecipando-se, até, às diretivas conservadoras que continuam a chegar dos organismos internacionais, que parecem empenhados em manter a arbitragem na idade das trevas, quer impedindo os árbitros de se explicarem, e até de reconhecerem erros ou mostrarem apenas a sua condição humana, quer diabolizando as consequências finais da tecnologia, que inevitavelmente redundarão em opacidade zero.
Em Portugal, onde o processo de criação de uma nova entidade, independente, que dirija os árbitros de futebol das competições profissionais, ficou em stand by devido à queda, em slow motion, do Governo (era preciso mudar a Lei de Bases do Sistema Desportivo e isso não acontecerá, pelo menos na presente legislatura), esta é uma ideia que não pode morrer, porque já provou, noutras latitudes, tratar-se da via certa.
Provavelmente, se não houver nenhuma marcha atrás (que não seria tolerável), será o CA saído das eleições de finais de 2024 (e esta questão será tema da campanha) para os órgãos da FPF, a ter a missão de levar por diante esta tarefa histórica. Sem independência não haverá progresso na arbitragem, assim como sem responsabilização pública (a perceção não é tudo, mas nestes casos anda lá perto) dos árbitros pelos erros cometidos, será impossível acreditar no sistema.
Esta é a guerra que se segue em território nacional, enquanto lá fora, depois de resolvida a filosofia do offside (a lei Wenger parece a mais apropriada), as atenções irão virar-se para outra inevitabilidade que o futebol tem tentado escamotear: o tempo cronometrado de jogo. Tudo isto demora, mas há de ir ao sítio..."

Mãe, eu quero ser árbitro de futebol!


"Para o adepto comum, o árbitro continua ser o elemento menor no jogo, mas nunca poderá haver grandes espetáculos com pequenos árbitros», escreve Vítor Serpa no espaço de opinião 'Porque hoje é sábado'.

Façam um esforço e suponham que um belo dia, chegados do trabalho cansativo e rotineiro, passado um tempo infindo nas filas de saída da cidade, ou no desconforto dos transportes públicos à hora de ponta, encontram o vosso filho em casa e ouvem esta simples, mas determinada afirmação: «Estive a pensar no meu futuro e decidi ser árbitro de futebol!»
Tocam a rebate os sinos de alerta, começam por levar a coisa para a brincadeira, sustentam a piada o mais que podem, mas, lentamente, começam a pensar que o assunto pode, mesmo, ser sério. «Árbitro de futebol? mas tu estás doido varrido, ou quê?» Para os pais, um filho querer ser árbitro de futebol é, mais do que uma desilusão, uma angústia e uma fatalidade. O árbitro de futebol é aquele que vai para o emprego ouvir nomes feios sobre a mãe, aquele que escolhe uma vida feita de masoquismo, aquele que troca o título, agora mais do que nunca generalizado, de doutor, por um estatuto de insegurança e de instabilidade profissional. Daí que, mesmo entre os jovens, a ideia de ser árbitro tenha, apenas, uma conotação de experiência radical. Mas não mais do que isso. Alguns poderão acabar por se sentirem seduzidos e seguem em frente, apesar de tudo e todos nesta vida os aconselharem a abandonar tanta teimosia.
Fontela Gomes, presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol está preocupado. A fonte é escassa e, segundo ele, faltam mil árbitros no futebol português. O problema maior é que não faltam mil árbitros para arbitrar o FC Porto-Sporting ou o SC Braga-Benfica. Faltam mil árbitros para arbitrar nas vilas e nas aldeias de Portugal, em jogos quase confidenciais e que, repentinamente, se podem transformar numa espécie de faixa de Gaza. É sinuoso, com tudo o que a palavra possa implicar, e íngreme o caminho para a arbitragem de futebol, em Portugal. Daí a escassez de candidatos e a legítima e louvável preocupação dos responsáveis. Foi boa a ideia de convidar estudantes universitários da área do desporto e do futebol (hoje em dia, os departamentos de futebol das faculdades de desporto são, de longe, os mais preenchidos) para uma experiência prática de arbitragem na Cidade do Futebol, com acesso a lances reais no relvado e à tecnologia do VAR.
Todos os incentivos são bons e elogiável a ideia de incluir a arbitragem num mercado de trabalho que tem ainda muito caminho para percorrer. Outra ideia que nos parece plausível seria a de aproveitar a dimensão mediática dos principais clubes portugueses, todos eles com estruturas de apoio de alta qualidade, e incitá-los a desenvolverem ações de mobilização e de deteção de talentos para a arbitragem. Várias seriam as conveniências que daqui poderiam decorrer, a menor das quais não seria a da formação de caráter e o crescimento da cultura desportiva de futebolistas, treinadores e dirigentes. Porém, importa valorizar todas as ações que colocam o crescimento e a melhoria global da arbitragem numa área de prioridade do futebol.
É preciso que o adepto entenda que não pode haver grandes espetáculos dirigidos por pequenos árbitros. É uma impossibilidade óbvia. Daí que o futebol português precise, e muito, de bons árbitros para ter melhor futebol. Tal como precisa de os valorizar, de os proteger, de os integrar na família do jogo universal. Para o adepto comum, o árbitro continua, ainda, a ser o elemento menor do jogo. Não o vê como par do ídolo da sua preferência. Pelo contrário, vê-o muitas vezes como inimigo dos seus deuses do relvado. Será na área da comunicação que o problema se deve resolver. Mas com um rigor profissional.

Dentro da área
Corpo que pensa e mente que age
A Universidade Técnica de Lisboa atribuiu o título de Doutor Honoris Causa ao presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino. A cerimónia, que decorreu na Faculdade de Motricidade Humana, presidida por Marcelo Rebelo de Sousa, teve invulgar qualidade cultural e acabou por se tornar num importante fórum de discussão do Desporto, em toda a sua diversidade e complexidade humana. Daí que Constantino tenha lembrado no seu discurso: «O corpo que pensa e a mente que age são unos e indivisíveis.»

Fora da área
Na política como no futebol
As mais recentes sondagens publicadas dão conta de um retrocesso nas intenções de voto no PSD, que voltaria a perder a liderança para o PS, e ganhos significativos do Bloco de Esquerda e do Chega. Como dizem os políticos, sondagens são apenas aquilo que são: sondagens. No entanto, hoje mesmo o PSD reúne-se em Congresso para alterar estatutos e, segundo o Expresso, a liderança de Montenegro não está em causa. A menos que prevaleça a cultura futebolística. Antes da chicotada psicológica há sempre um reafirmar da confiança."

As pistas que o dérbi nos deixou


"Benfica e Sporting já se defrontaram há quase duas semanas, mas a inconveniente pausa FIFA suspendeu o exercício entre clubes, logo após um dos dérbis mais extasiantes de sempre, se dessa apreciação subtrairmos o futebol praticado pelas duas equipas.
Os tépidos clássicos portugueses dos últimos anos levaram à sobrevalorização de um jogo que, mesmo até aos 51’ - altura em que Gonçalo Inácio foi expulso -, andou, durante a maior parte do tempo, longe dos bons lances colectivos. Muitas disputas de bola pelo ar e pelo solo, tímidos rasgos individuais, vários erros técnicos, inúmeras tomadas de decisão erradas e menos de cinco jogadas estruturadas, com princípio, meio e fim.
Ainda que o Sporting tenha completado o período em que se jogou 11x11 com um ligeiro ascendente, fazendo jus ao estatuto de equipa que chegava ao dérbi como a mais estável das ‘três grandes’, não entusiasmou. Esperava-se melhor de uma jornada referente a um campeonato cujos candidatos ao título têm nivelado por baixo em termos exibicionais?
No regresso das provas de clubes, somente quando a bola voltar a rolar é que poderemos tentar escrutinar o impacto emocional causado pelo dérbi. Contudo, olhar para a bola a rolar ao longo do dérbi permite-nos escrutinar pistas do que aí vem no regresso das provas de clubes. E do que Benfica e Sporting foram até à inconveniente pausa FIFA.

A pressão alta do Benfica
O melhor argumento colectivo do Benfica na época passada tem-se mostrado enfraquecido, confirmando os sintomas revelados nos jogos mais exigentes (para ele) de 2022/23 e nos jogos de pré-época deste ano, os quais, face à ausência de nuances trabalhadas por Roger Schmidt, tinham feito tocar os alarmes.
Era um argumento que não só permitia à equipa defender longe da sua baliza, uma vez que a bola era recuperada em zonas adiantadas, como começar a atacar com o adversário aberto/desposicionado, abrindo a hipótese de os jogadores do Benfica perscrutarem os espaços em velocidade - Rafa enquanto maior beneficiário desta intenção.
Apontar a saída de Gonçalo Ramos, a deslocação de Aursnes para a linha-defensiva - por culpa de um lamentável planeamento nas laterais - e a chegada de Di María ajuda a explicar a falência de características individuais que sustentem a eficácia desse argumento colectivo. No entanto, não justifica a apatia de Schmidt em ajustar o seu modelo a novas dinâmicas, no qual, agora, encaixam também jogadores de diferentes perfis.
Desde a temporada transacta que o Benfica é unidimensional na forma como pressiona, o que pressupõe que qualquer oponente capaz de contornar o plano A encarnado passa a deter o código que anula essa pressão. Pode ou não ter os recursos colectivos e individuais necessários para superar os desafios desse plano A - em Portugal, são raríssimos os opositores que se aproximam do Benfica no que à qualidade individual diz respeito -, mas, em 10 partidas contra o Benfica, esse código manter-se-á sempre válido, sendo que, actualmente, é um código com menos força.
No fundo, a pressão alta de Roger Schmidt é a mesma sem os mesmos protagonistas e sem o mesmo efeito surpresa para os treinadores que a analisam.

A construção pelo corredor central do Sporting
Uma das maiores críticas que se pode fazer ao modelo de Rúben Amorim está relacionada com o vício em atacar pelos corredores laterais e, por conseguinte, com a menor utilização do corredor central. Entende-se que o técnico do Sporting tem procurado alterar esse registo. Aliás, basta olhar para o perfil da habitual dupla de médios titulares, composta por Morita e Hjulmand, e compará-la, por exemplo, com a da temporada anterior, composta por Ugarte e Morita. Facilmente se identifica o intuito de juntar, naquela zona, jogadores mais equilibrados no que oferecem com e sem a bola, tal como Amorim vai clarificando em conferências de imprensa. Colocar Morita ou Hjulmand num lugar que foi de João Palhinha é uma variação significativa nos atributos que privilegia. Ainda assim, não chega mudar as características individuais.
Num momento de inspiração individual, claro que Morita ou Hjulmand serão capazes de meter passes verticais que deixem Pedro Gonçalves só com a linha defensiva contrária pela frente, mas é a recorrência com que o Sporting prepara/procura essa vantagem na construção que define se há uma pretensão colectiva de explorá-la - a isto, dá-se o nome de identidade - ou se aquele passe se esvazia num fogacho proveniente da qualidade de Morita ou Hjulmand. Vale a pena dizer que, quanto maior é a qualidade dos jogadores, mais vezes uma equipa pode criar jogadas colectivas espectaculares sem que elas façam parte da identidade colectiva.
No dérbi, exigia-se mais construção pelo corredor central ao Sporting, sobretudo pela facilidade em encontrar espaços dentro do bloco do Benfica.

Os laterais do Benfica
Não há prova maior do lamentável planeamento nas laterais do Benfica do que, à 11.ª jornada, o 11 titular apresentar-se com Aursnes a lateral-direito e Morato a lateral-esquerdo. No banco de suplentes, sentaram-se as alternativas: Jurásek, lateral-esquerdo contratado por 14 milhões de euros, e João Victor, central contratado por 9,50 milhões de euros. Estranho ninguém olhar para Diogo Spencer.
Aursnes deparou-se com um Pedro Gonçalves bem mais preocupado em surgir no corredor central e com um Matheus Reis que continua a castigar/desequilibrar pouco no papel de ala esquerdo (melhor enquanto central pela esquerda), portanto, teve problemas defensivos distintos dos do seu colega, não comprometendo. Projectou-se timidamente no ataque, dependendo das combinações com Di María para marcar diferenças, já que a sua abnegação na função não se transforma em auto-suficiência para desequilibrar à largura.
Do outro lado, Morato esteve praticamente irrepreensível na árdua tarefa de, durante o período em que se jogou 11x11, controlar Marcus Edwards, mas ofensivamente revelou-se naturalmente curto, mesmo depois da expulsão de Gonçalo Inácio. Longos foram os minutos em que, a atacar, o corredor esquerdo andou coxo, indiciando que será uma alternativa insuficiente em encontros em que o Benfica divida menos o protagonismo com bola.

Os laterais do Sporting
Para quem já pôde contar com Nuno Mendes à esquerda e Pedro Porro à direita, torna-se embaraçoso esperar melhor de Matheus Reis à esquerda e Ricardo Esgaio à direita. Rúben Amorim optou por lançar dois alas que, ofensivamente, tendem a desaproveitar e/ou a estragar lances de potencial perigo, preferindo encostar-se àquilo que ambos lhe oferecem em processo defensivo.
Há dias, o treinador do Sporting referiu-se a Esgaio como sendo um “relógio suíço”, adoptando, quem sabe, um novo conceito para a expressão, que, no futebol, é usualmente aplicada para descrever a regularidade positiva de um jogador. No caso de Esgaio, porém, descreve a sua regularidade negativa. Sem querer retirar mérito ao desempenho defensivo do ala direito do Sporting, que ‘secou’ João Mário, o médio atravessa uma fase em que fez Esgaio parecer a versão prime de Kyle Walker, tendo ficado sempre bastante desconfortável. Com bola, exibiu as dificuldades recorrentes.
Matheus Reis foi menos solicitado a atacar e cumpriu defensivamente, também por demérito do Benfica e de Di María.
O próprio perfil de ambos força, inclusive, Amorim a aumentar a variabilidade ofensiva do seu modelo, porque uma coisa era depender do talento de Nuno Mendes e Pedro Porro, outra é esperar que Esgaio ou Matheus Reis resolvam, sozinhos, carências colectivas. Às vezes, não servem, sequer, para dar continuidade ao que está a ser bem feito antes de a bola chegar aos seus pés.

João Neves
Aos 19 anos, João Neves é o maior pronto-socorro do modelo de Roger Schmidt. Essa condição indicia que o modelo de Roger Schmidt beneficia mais de João Neves do que João Neves beneficia do modelo de Roger Schmidt, atestando a ideia de que o médio tem andado a apagar fogos em todas as frentes.
Desde a formação que um dos traços mais vincados do seu perfil é a abnegação sem bola - em momento defensivo e ofensivo -, tendo o dérbi servido, novamente, para demonstrar que João Neves não desiste de nenhum lance, não tem medo de ir ao choque, não se esconde do jogo, não se encolhe em transição defensiva.
A sua energia permiti-lhe chegar a quase todo o lado, mas será que chega a todo o lado com a mesma energia?
João Neves não é um ‘trinco’, tão pouco um jogador cujo perfil não lhe permita ir além do elogio pelo que aporta nas recuperações, nos duelos, na antecipação defensiva. Não fosse o golo - de uma agilidade e execução sublinháveis - e João Neves teria sido, igualmente, o melhor do lado do Benfica, mas muito mais pelo que fez defensivamente do que pelo que a equipa o ajudou a produzir ofensivamente. Aliás, o papel de salvador, que também protagonizou em Chaves, coloca a nu a evidência de que tem carregado a equipa conforme vai conseguindo.
Tanto se cresce na adversidade como bem enquadrado. Na evolução, os estímulos contam na aquisição de virtudes e defeitos.

Viktor Gyökeres
Já mostrou ao que veio. O que pode acrescentar e o que pode melhorar.
O dérbi foi uma amostra fidedigna da auto-suficiência de Viktor Gyökeres. Mesmo abandonado em zonas adiantadas, depois da expulsão de Gonçalo Inácio, deu trabalho ao Benfica. Com a sua contratação, o Sporting ganhou uma ameaça constante no ataque à profundidade, um avançado inteligente a criar vantagens através do contacto físico, super vertical em campo aberto, sagaz na finalização, abrangente pela facilidade nas rupturas de dentro para fora, mas que necessita de evoluir na execução e na decisão quando busca combinações."

Portugal, um óbvio candidato a ganhar o Euro 2024


"A relação entre a seleção nacional e as grandes fases finais foi mudando ao longo da história. Nas primeiras décadas dos Europeus e Mundiais, estar nestes torneios era, para Portugal, todo um acontecimento, quase uma expedição a um planeta desconhecido, um feito geracional. O talento e a fortuna poderiam levar a epopeias improváveis (1966 e 1984), momentos de orgulho para um país ainda cheio de complexos de inferioridade, mas a desorganização estrutural poderia conduzir ao desastre e caos (1986).
O crescimento estrutural do futebol português, as melhores condições de trabalho, a consolidação internacional da “geração de ouro” e a expansão dos torneios provocaram uma primeira alteração de paradigma. Da era dos ousados exploradores, em que um Europeu ou um Mundial eram um fenómeno cósmico raro, passámos para um ciclo de regularidade, encadeando diversas fases finais consecutivas pela primeira vez na história.
A seleção ganhou prestígio internacional e normalizou a ida aos maiores palcos. Vista como equipa de grande talento, Portuga era uma espécie de outsider de luxo, que poderia discutir os títulos sem que isso fosse uma enorme surpresa (2000, 2004 ou 2006), realizar prestações normais, nem especialmente boas nem marcadamente más (1996 ou 2008) ou, claro, falhar com estrondo (2002).
Quando a equipa nacional já tornara o que eram expedições a um planeta desconhecido em idas constantes a cenários familiares, um rapaz partiu da Madeira para agarrar a seleção pelo pescoço e torná-la parte fundamental do seu projeto de ambição infinita. E eis que chegou uma terceira fase, os anos em que a seleção era Ronaldo e Ronaldo era a seleção, uma relação que não se entende sem uma das partes. Com menor abundância de talento do que noutras alturas, houve 2012, quando Cristiano atou Portugal ao seu foguete de exploração dos Everestes da bola e quase chegou a uma final, 2014, quando uma lesão do avançado foi o começo da debacle, e 2016, a eterna 2016, o tão desejado título.
E chegamos aos últimos anos. A era da coexistência. A época do Ronaldo pós-trintão, do Cristiano da Juventus, do United 2.0 e do Al-Nassr, unido à abundância de talento de elite que não existia no auge do madeirense. Estar em Europeus e Mundiais já nem é sinal de regularidade, é mera formalidade exigida, mas 2018, 2020 ou 2022 trouxeram dúvidas e incertezas. Sim, havia, talvez, mais qualidade que nunca, mas, pela prisão à fórmula conservadora de 2016, por incapacidade de potenciar o talento ou seja pela razão que for, nunca tivemos um Portugal a abraçar convictamente a essência desta nova fase da seleção: aqui está uma das equipas com mais condições do mundo para ganhar títulos.
Portugal tem uma formação de elite, uma produção de talento que causa inveja lá fora. Ainda anteontem nos supreendíamos com Leão e Félix e ontem já estavam a aparecer Nuno Mendes e Vitinha e hoje já estão aí João Neves e António Silva.
Portugal tem uma seleção consensual, sem as mil e uma guerras internas que parecem sempre à beira de acontecer, por exemplo, em França e Espanha. Portugal tem menos pressão asfixiante do que equipas que, historicamente, colocam o triunfo nas grandes competições como uma obrigação associada ao estatuto, como a Alemanha ou o Brasil. Portugal tem um grupo de jogadores com muitos quilómetros juntos, seja na seleção principal — entre as opções habituais de Martínez há nove futebolistas com mais de 50 internacionalizações —, seja nas equipas jovens, onde muitos foram campeões ou vice-campeões da Europa de sub-17, sub-19 ou sub-21.
Sendo coerentes com este processo, com esta passagem da seleção das explorações audazes para a equipa das presenças regulares que corria por fora, do conjunto onde havia Ronaldo e mais 10 para o coletivo cheio de gente que brilha no City, no United, no Liverpool, no PSG, no Bayern ou no Barça, só há uma meta a colocar para os próximos tempos da relação de Portugal com as grandes finais. O discurso do “fazer o melhor possível” ou do “chegar o mais longe possível” não cola nem adere à realidade. A seleção nacional é óbvia candidata a ganhar o Euro 2024.
Um apuramento histórico, com 10 vitórias em 10 partidas, tem de ser o ponto de partida para abordar os maiores torneios com ambição e audácia, conectando as expetativas com a exigência diária a que estes jogadores de elite estão sujeitos. Portugal tem mais abundância de talento do que a Itália ou os Países Baixos; tem uma seleção mais estável e com mais tempo de trabalho junta do que a Alemanha ou a Espanha; tem maior estabilidade interna que a França e menor pressão e exigência do que a Alemanha.
Não se pretende aqui dizer que podemos todos começar já a agendar festejos para a noite de 14 de julho de 2024, após a final de Berlim — e esta é a parte do texto em que recorremos ao óbvio para dizer que é um torneio curto, em que a sorte e o azar jogam papéis importantes e etc e tal. Mas colocar a seleção a olhar para o futuro — para este Euro e para as próximas grandes competições — com a ambição que as circunstâncias a obrigam a apresentar é uma necessária mudança de perspetiva que este ciclo obriga a fazer."

Diego Armando Maradona morreu, mas ele viverá (há três anos partia El Pibe de Oro)


"Diego Armando Maradona foi dos melhores jogadores de futebol de sempre, possivelmente o melhor, com certeza o maior para muita gente. Ganhou o Mundial de 1986 e agigantou o Nápoles, de Itália, enquanto lá jogou. Tinha 60 anos e há pouco mais de duas semanas fora operado a um hematoma subdural na Argentina. Era atualmente treinador do Gimnasia de la Plata, clube dos arredores de Buenos Aires, e resumir-lhe a vida é apenas uma tentativa condenada ao falhanço.

Há as imagens de Diego Armando Maradona com o diabo furibundo no corpo, com mais cabelo do que tamanho, a correr desenfreadamente contra todos os jogadores do Athletic Bilbao que lhe aparecessem à frente, ele talvez o mais pequenote no relvado e ao mesmo tempo o maior distribuidor de pancada do lado do Barcelona na batalha campal que se instaurou em campo, naquele dia.
Há o vídeo de uma das versões mais despreocupadas de Diego Armando Maradona com a parte de cima de um fato de treino mal amanhado e as icónicas botas da Puma à balda, os atacadores desapertados por todo o lado, ele no meio de um aquecimento coletivo do Nápoles, antes do jogo, a ser o mais individualista que poderia ser ao som do "Live is Life" a ecoar no estádio. E o vídeo é o argentino a recriar-se, ponto, e não a divertir-se com uma bola, porque a bola fazia parte dele e ei-lo a fazer coisas que ninguém faz, quando ninguém ousaria fazê-las.
Ele a ser Maradona, simplesmente.
Há também o relato de Diego Armando Maradona como um barrilete cósmico porque assim o definiu o jornalista Victor Hugo Morales diante da grandeza em curso, de um mito a fazer-se e a acontecer relvado acima no México, quando o argentino com o 10 nas costas enganou, driblou, susteve tentativas de falta e ultrapassou e fugiu de qualquer existência inglesa nos quartos-de-final do Mundial de 1986 para marcar o golo do século, do anterior mas que também é deste, é de todos os séculos até aparecer alguém que se lembre de inventar alguma coisa remotamente semelhante a esta.
Ah, e depois de, no mesmo jogo, enganar o mundo ao erguer a mão e tornando-se o deus celebrado pelo engenho errante.
Morreu esta quarta-feira, aos 60 anos, Diego Armando Maradona, vítima de uma paragem cardio-respiratória, avançaram os diários argentinos "Clarín", o "Olé" e o "La Nación", primeiros portadores de uma notícia que há muito, muito tempo antes deixou de ser apenas deles e da Argentina, porque Maradona tornou-se do mundo, de todas as pessoas que um pouco por todo o lado o idolatrara e cultuaram por ter sido quem foi - e como o foi.
A sexagenária existência de Diego Armando Maradona começou em Lanús. Nasceu um de sete filhos, o primeiro dos rapazes, saltemos a parte redundante do jeito para a bola que podemos não voltar a ver nem que passem outras seis décadas e saltemos para o Argentinos Juniores, clube no qual se estreou, em 1976, a dez dias de cumprir 16 anos. O impacto gigantesco foi e em 1978 quase houve uma comoção no país por César Luis Menotti não o convocar para o Mundial que a Argentina recebeu e conquistou, em plena ditadura militar.
Diego Armando Maradona iria em 1981 para o Boca Juniores, vestiu-se com o azul da lista amarela de porto de Buenos Aires e perdurou um ano até o Barcelona o fazer atravessar o charco. Pesquisem por fotos do argentino e verão muitas em que no enquadramento há corpos adornados com outras cores a rasteirá-lo, agarrá-lo, pontapeá-lo ou a pelo menos tentarem-no, porque muitas vezes essas batotas agressivas eram a única forma possível de o travar. O período em Espanha começou a torná-lo visível.
O génio ziguezagueante do canhoto cabeludo parecia troçar dos seus semelhantes em profissão, mas nunca iguais em tudo o resto. Tão natural tudo lhe parecia sair do corpo que era impossível não captar essa aparente troça. Tenha ou não sido pela inconsciente noção de estar a ir contra alguém imparável, o guarda-redes Andoni Goykoetxea derrubou-o pelas costas em 1983, num Athletic Bilbao-Barcelona, fraturando-lhe o osso maléolo de um tornozelo e cortando o tempo de vida de Diego Armando Maradona no clube catalão. Transferir-se para lá foi "o maior erro da [sua] vida", assumiria um dia.
Um ano antes, tinha o argentino 21, deixara uma frouxa imagem no seu primeiro Campeonato do Mundo com a Argentina. Essa impressão, uma hepatite que teve na primeira época e a fratura sofrida na segunda, mais a tal pancadaria que o acendeu no Barcelona, delapidaram a imagem de um miúdo rebelde em quem o Nápoles se interessou.
Momentos há que mudam a história para sempre e a de Diego Armando Maradona alterou-se assim que pôs pé na cidade italiana onde o coração de cada pessoa que lá vive sai-lhe pela boca fora. "Quero ser o ídolo dos menino pobres de Nápoles porque eles são como eu era em Villa Fiorito", foram as palavras dele citadas por Fernando Signorini, o preparador físico que mais o tratou, à revista "Líbero", lembrando como no lugar do sul de Itália o jogador achou um sítio para ser - e querer ser - ídolo de um povo.
Nápoles era um clube mediano no desportivo embora gigante no apoio das gentes, faltava títulos para colar as duas comadres e a cola surgiu com Diego Armando Maradona e por causa dele: a chegada do argentino aumentou imensuravelmente a qualidade na bola, mas também motivou quem lá mandava a investir para atenuar a diferença que sempre existiria entre o argentino e quem o tentasse acompanhar.
Chegariam os brasileiros Careca e Alemão, personagens secundários como quaisquer outros, até o italiano Giuseppe Bruscolotti, que protegido estava pelo estatuto de ser capitão quando capitanear significava respeito e não um prémio, cederia ao evidente. "A decisão de deixar a braçadeira de capitão ao Diego foi espontânea. Sabia que era o líder da equipa e o gesto serviu para lhe outorgar ainda mais autoridade", contaria, sobre o que optou por fazer na temporada que houve entre as duas Séries A conquistadas pelo Nápoles.
Em 1987 e 1990, os arranha-céus de alegrias adiadas ruíram em Nápoles, o povo endoidecido pelo erguer do clube sem teto à vista com Diego Armando Maradona, com ele tudo parecia ser possível e também o foi uma Taça UEFA, em 1989, uma Taça, em 1987, e uma Super Taça, em 1990. Dentro e fora de uma Itália onde, por estas alturas, o francês Michel Platini erguia a Juventus, os holandeses Van Basten, Gullit e Rijkaard sustinham o AC Milan, havia Lottar Matthäus e Jürgen Klinsmann no Inter de Milão, e também Zico na Udinese ou Sócrates na Fiorentina.
Itália era a nação para os talentosos estarem e Diego Armando Maradona agigantou um clube no meio de todos, venham eles. E quase o engrandeceu ainda mais a seleção da Argentina quando o futebol centrou ainda mais o futebol no país em forma de bota ao centralizar lá o Mundial de 1990.
Os argentinos estavam longe de casa, eram os campeões a defender a honra em continente alheio, mas, nas meias-finais, quando defrontaram os italianos, os corações do pedaço peculiar de Itália onde se encontravam dividiram-se. O jogo foi em Nápoles e nas veias dos napolitanos corria sangue maradoniano antes de se lembrarem do órgão italiano que o bombeava. Os dias precedentes foram quentes e o estádio San Paolo fervilhou no dia da partida vencida pela Argentina, que reeditaria a final com a Alemanha, perdendo-a com a última versão aproximada do verdadeiro Diego Armando Maradona.
Ele apenas descalçou as botas da Puma que foram ícones nos seus pés em 1997, escondido no balneário do estádio do River Plate, o maior rival do Boca Juniores ao qual regressara, sem retornar do balneário e terminando assim, discreto, talvez a única discrição que teve na carreira, sendo substituído por um simbólico Juan Román Riquelme - seria o 10-tipo da Argentina e do clube de Buenos Aires na geração seguinte - para, uns dias depois, anunciar a retirada pelos jornais, devido a doença do pai.
Mas ele terminaria mais ou menos sete anos antes, nesse 1990. Há uma certa quantidade do que o corpo humano aguenta, a unidade de medida é incerta e cada qual suporta o que pode até um limite e o de Diego Armando Maradona com a cocaína, o álcool, as festas e vida diletante durou anos. Chegou a dizer, algures, que começou no Barcelona, outras vezes estimou que foi com 24 anos, logo quando já estaria no Nápoles.
É confuso e atabalhoado, maradoniano portanto. Traçar-lhe a origem é impossível. Certeiro é culpar as substâncias pela decadência do génio que vive diante do espelho imaginário, daqueles a que as crianças recorrem para retorquirem com a brincadeira ou piada de que são alvos. Diego Armando Maradona foi-se despedaçando enquanto se via a transbordar de feitos futebolísticos superiores a quem quer que o ousassem comparar.
O argentino drogou-se e jogou, bebeu e treinou, festejou e ia em estágio, abusou do que é trivial chamar prazer da vida quando, na verdade, é prazeroso às custas da vivência com que depois se fica e a de Diego Armando Maradona, mesmo que aos poucos e disfarçadamente, sentiu a erosão das suas escolhas.
A errância apanhá-lo-ia em março de 1991, com um teste no Nápoles-Bari em Itália que o baniu até junho do ano seguinte por detetar cocaína. O castigo não foi mais longo, justificou-se na época, porque não se provara que a substância o fazia ser melhor em campo. Com ironia, sarcasmo ou figura de estilo por inventar, como as palavras que não há em suficiência para lhe fazer justiça no bom e no mau, Diego Armando Maradona resumiria um dia o que fez: "Quando me drogava, fazia um favor aos adversários". Imaginem então se não o tivesse feito.
Um controlo anti-doping voltaria a arruiná-lo aos olhos de toda a gente em 1994, em pleno Campeonato do Mundo dos EUA onde deixou o grito-mestre colado a uma câmara de televisão, todo ele uma amostra esbugalhada, denegrida e louca do que fora, após marcar o último golo pela seleção e soltar a revolta contra o que fosse que estivesse aprisionado dentro dos 167 centímetros de corpo demasiado pequeno para aguentar tanta genialidade.
O corpo que se foi deteriorando nos joelhos, na coluna, nos tornozelos e na barriga que Diego Armando Maradona jamais deixou de sobrecarregar com excessos e todos nós a apanhar, aqui e ali, as migalhas da sua exorbitância que nunca coube nos padrões futebolísticos, sociais ou culturais - ele foi selecionador da Argentina e mandou os críticos "chupar, e continuarem a chupar" ao qualificar-se para o Mundial de 2010; aceitou ir treinar para Sinaloa, no México, terra posta no mapa pela droga e onde foi dar palestras documentadas sem sentido aparente; e uma versão ébria e descontrolada sua foi à Rússia assistir a um jogo da Argentina, no Campeonato do Mundo de 2018.
Resumir outros laivos da sua pessoa é desnecessário. Diego Armando Maradona é, porventura, o humano mais reconhecido a alguma vez ter nascido na Argentino e, mesmo que discutível, a ter feito carreira do futebol, quando os onze de cada lado e a bola tinha só adeptos, jornais e televisões a rodeá-los e não as internéticas redes que socializam as coisas sem estarmos próximos delas.
E o seu nome, segundo nome e apelido estão em todos os parágrafos gordos deste resumo possível, salvo um, porque repetir Diego Armando Maradona nunca será demais pelo quão imensamente grande logrou ser, mesmo sendo tão decadentemente sabotador dele próprio. Maradona morreu aos 60 anos, mas a sua imagem e tudo o que foi viverá muitos mais anos, talvez todos os que restem na memória coletiva que guarda o que é o futebol."

Os brasileiros têm o Rei e nós argentinos encontrámos Deus em Maradona. E o Papa? Sem dúvida, o segundo argentino mais celestial da história


"Pedimos a um argentino radicado em Portugal para nos explicar o que é, então, a Argentina e o que representou Maradona para os seus compatriotas. Um retrato de um país que é diferente de todos os outros da América Latina, que combina uma enorme classe média, bem rara no continente, com a insolência plebeia.

O seu velório foi como a sua vida: caótico, apaixonado, violento, brilhante. Diego Maradona encarnou a parábola argentina melhor do que um tratado académico: de origem humilde, atingiu reconhecimento mundial para depois se afundar, aos soluços, numa irremediável decadência. Porém, a decadência foi sensorial e não espiritual: o seu coração foi-se degradando até, um dia, parar. Mas, no coração dos seus seguidores, El Diego nunca deixou de bater.
A Argentina é um país diferente na América Latina, um facto reputado como positivo pelos argentinos – e, digamos, menos positivo pelos vizinhos. No resto do continente é válida a análise realizada pelo antropólogo brasileiro Roberto DaMatta, em 1978, no livro “Carnavais, Malandros e Heróis”.
DaMatta foca-se na expressão “Você sabe com que está falando?” para mostrar como um indivíduo de classe social privilegiada põe no seu lugar outro de classe desfavorecida. A locução é um exercício dissuasório tácito mas efetivo, porque na América Latina os setores subalternos tendem a aceitar a sua posição.
Na Argentina, não.
A sociedade rio-platense combina uma enorme classe média, bem rara no continente, com a insolência plebeia. O politólogo argentino Guillermo O’Donnell sintetizou a resposta que um argentino daria à pergunta de DaMatta no título de um texto brilhante: “¿Y a mí, qué me importa?”. A versão publicada em inglês pela Universidade de Notre Dame é ainda mais fiel ao conceito: “And why should I give a shit?”.
A atitude rebelde de Maradona perante a vida e o poder foi, sempre, a expressão combinada da sua nacionalidade com a sua origem de classe.
A sua carreira desportiva tocou o céu em 1986, quando levantou a Copa no mundial do México. Contudo, o jogo definitivo não foi a final, 3-2 contra a Alemanha, mas a vitória 2-1 nos quartos-de-final contra a Inglaterra. Apenas quatro anos antes, os dois países tinham-se enfrentado militarmente pelas Ilhas Malvinas.
O futebol oferecia agora a revanche, e Maradona liderou a carga. Honrando a bipolaridade argentina, Diego marcou o golo mais batoteiro e o mais bonito na história dos mundiais. O campeonato coroou a democracia recentemente conquistada pelos argentinos sob o presidente Raúl Alfonsín, tal como a vitória mundial dos Springboks coroaria em 1995 a democratização sul-africana sob Nelson Mandela. Maradona, como depois François Pienaar, transformou-se assim em símbolo de muito mais do que um desporto.
A sua vida pessoal tem menos para celebrar e mais para comiserar. Memento mori (“lembra-te que és mortal”), repetia um servo aos generais que marchavam vitoriosos pelas ruas de Roma para evitar que se cressem deuses omnipotentes. Maradona cresceu rodeado de pessoas que repetiam o contrário, sos D10s (“és Deus”, um acrónimo total que combina o número da sua camisola com a divindade).
O anonimato e a privacidade tornaram-se impossíveis numa escala global. Imaginem nunca mais poder sair tranquilamente à rua em nenhum lugar do mundo… desde os 25 anos! Quiçá apenas os The Beatles viveram algo parecido, e também eles acabaram na droga. Mas, pelo menos, tinham-se os uns aos outros.
Os argentinos, sempre humildes, estão habituados a produzir ícones mundiais. Desde Evita até Maradona, passando pelo Che Guevara e Mafalda, o problema não é atingir a glória mas administrá-la. Também aqui El Diego encarna a degradação do país dos excessos: o velório de Evita, em 1952, desenrolou-se em perfeita ordem durante 16 dias; setenta anos depois, o velório de Maradona na casa de governo foi encurtado depois de umas horas e acabou em escândalo e repressão.
O rival histórico da Argentina é o Brasil. Essa rivalidade tinge absolutamente tudo, até a eleição papal. Quem não acreditar pode ver La Cumbia Papal, um vídeo satírico lançado imediatamente a seguir à nomeação do Papa Francisco em março de 2013. Nele sobressaem duas constantes: o gozo contra os irmãos brasileiros e a recorrência a frases maradonianas, como “a bola não se mancha” e “fugiu-lhe a tartaruga” (uma acusação pouco velada de incompetência).
Porque os brasileiros tiveram, no grande Pelé, O Rei. Não se deixando intimidar, os argentinos encontraram no pequeno Maradona o mesmíssimo Deus. Então, perguntará o leitor, e o Papa? Sem dúvidas, responderemos, é o segundo argentino mais celestial da história."

“Maradona, sueño bendito”: retratos da vida de um imortal


"A série original da Amazon, que estreia esta sexta-feira, leva-nos por uma viagem ao planeta de Diego, desde o começo em campos de terra em Villa Fiorito até ao sofrimento com as drogas, passando pela glória desportiva. Um ano após a morte de Maradona, continua bem presente o legado de alguém que, mais do que uma estrela do futebol, é um ícone cultural.

“O tempo é diferente com ele. 40 anos dele são não sei quantas vidas de uma pessoa comum. Ah, as voltas que deu ao mundo o meu pibe. E as voltas que deu dentro da cabeça dele…”.
Sentado ao lado da cama onde o seu filho está em coma em Punta del Este, Uruguai, o pai de Diego Armando Maradona vai fazendo gestos com a mão em direção àquele homem de 40 anos, ali algures entre a vida e a morte. Uma enfermeira interroga-se quanto àqueles gestos. E o progenitor explica-lhe a razão: “Estou a atirar-lhe a bola. O meu miúdo jamais deixaria que ela passasse sem se atirar para a cabecear”.
Nestas duas falas do pai de Maradona encontram-se dois eixos centrais da vida do diez: a ideia de que uma vida de Diego são, na verdade, várias vidas, cheias de glória e inferno, profecias cumpridas e tragédias, fama e pecado, contradições de um trajeto feito a velocidade supersónica; e o amor inegociável pela bola, que “no se mancha”, “não se suja”, como disse Maradona no seu discurso de despedida como jogador de futebol.
A série “Maradona, sueño bendito” é um original da Amazon, com o argentino Alejandro Aimetta como realizador e responsável pelo guião, no qual se ficciona a vida de uma das personagens culturais mais marcantes do seu tempo. Com estreia marcada para a altura em que se cumpre um ano da morte de alguém que, desde muito novo, pareceu tornar-se imortal, o visionamento dos três primeiros episódios - chamados “Promessa”, “Ditado” e “Máquina”, mostra-nos uma narrativa que vai alternando entre a ascensão meteórica do jovem Diego, de “menino-génio” do Argentinos Juniors a estrela do Boca Juniors e da seleção argentina, e a decadência do Maradona pós-retirada do futebol, com o seu coma em Punta del Este a evidenciar uma vida de excessos e, até, na fronteira da legalidade.
A primeira cena da série - a qual, no total, exigiu cinco anos de produção - sugere logo que a narrativa andará entre retratos de um Diego decadente e sem rumo e outro, mais novo, a saborear as glórias que aquele talento descomunal lhe proporcionava. No Uruguai, vemos um Maradona de 40 anos a cambalear, sofrendo para se manter de pé e com um pó branco em torno das narinas (a “blanca mujer/ De misterioso sabor y prohibido placer” que se canta em “La Mano de Dios” de Rodrigo).
Quando, finalmente, aquele homem com olhar perdido cai ao chão, inanimado, passa-lhe pela tudo o que viveu pela cabeça: a estreia no Argentinos Juniors, ainda adolescente, a fama em Nápoles e o Mundial 1986, mas também as tentações com as drogas, a relação conturbada com as mulheres e o sofrimento das lesões. Pela cabeça daquela Maradona que perdia a consciência passa, justamente, o filme que a série se dispõe a contar.

O DESENHO DA PERSONALIDADE
Procurando mostrar a intimidade de Diego, e não se cingindo só ao mero relato de acontecimentos por demais conhecidos, as cenas dos três primeiros episódios alternam entre os acontecimentos de Punta del Este, durante o coma, e a cronologia da vida do protagonista, abarcando os seus primeiros 22 anos de vida. E tendo, claramente, a intenção de sugerir traços de personalidade que, mais tarde, se tornarão, mais ou menos, do conhecimento público.
Toda a vida do diez tem algo de muito profético, de “sonho de menino” que se cumpriu. Na sua primeira entrevista, um imberbe Maradona fala dos seus “dois sonhos”: “jogar no Mundial” e “ser campeão” da “octava”, o escalão no qual competia. Desde aquele momento, aquelas promessas de glória - os “sueños de barrilete", como titulou Horacio Pagani, um dos clássicos do jornalismo argentino, numa das primeiras reportagens com Maradona - foram-se cumprindo e dando forma a uma vida em que o mítico se confunde com o real.
Das cenas do pelusa criança, adolescente e jovem adulto notam-se, na referida tentativa de desenhar a personalidade, o enorme apego pelos pais, manifestado num amor platónico pela mãe (“se o pai não tivesse chegado antes, eu teria casado contigo” diz a Doña Tota) e por, no momento em que é excluído do Mundial 1978, chorar por “ter falhado para com o pai”; uma relação de algum conflito com a imprensa, cuja primeira manifestação é o incómodo quando uma revista, não sendo, sequer, Diego um adolescente, se engana no seu apelido, escrevendo “Caradona”; e pela tendência para ser um líder, um capitão, na tradição do “Caudilhismo” latino-americano, com uma atitude de “vou até à morte com os meus contra os outros” que fica visível, por exemplo, quando se opõe aos adeptos radicais que irrompem pelo estágio do Boca Juniors para ameaçar e tentar extorquir alguns dos seus companheiros de equipa.
E, claro, a série mostra-nos o talento genial, o menino que dava toques em peças de fruta, o pré-adolescente que encantava multidões com os cebollitas, o nome da sua equipa na formação, o adolescente que brilhava com a camisola do Argentinos Juniors.
Esse período inicial da carreira profissional de Diego, sobre o qual há poucos registos de vídeo, é normalmente descrito por aqueles que o viram como “o melhor momento” do diez. Segundo Hugo Gatti, mítico guarda-redes do Boca que, um dia, chamou a Maradona “gordito” - respondendo o jovem craque marcando-lhe quatro golos na partida seguinte -, o Diego versão Argentinos Juniors “corria no ar”. Meio mito, meio realidade, como tudo na vida do pelusa.

HERÓIS EM CONTEXTOS DE CARÊNCIA
Como canta Calamaro (e as muitas referências musicais deste texto mostram bem como a lenda de Diego penetrou na cultura popular), “Maradona não é uma pessoa qualquer”, é um “homem pegado a uma bola de coro” que tem “o dom celestial de tratar muito bem o esférico. E, nessas danças de “amor que tinham como orgasmo um golaço” (letra de “Qué es Dios”), Maradona foi, sempre, uma espécie de salvador divino ao resgate de um grupo necessitado. Como que um desejado, um enviado para resolver os problemas terrenos.
Esta figura de herói na necessidade é, também, ilustrada na série, nas suas diferentes dimensões. Diego nasceu em Villa Fiorito em 1960, um bairro onde, como se vê no começo da narrativa, reina a miséria, não havendo água canalizada nem esgotos, com casas altamente precárias. E, graças ao seu talento, Maradona começa por tornar-se herói daqueles que mais amava: a sua família.
Cumpre a promessa de conseguir que o seu pai “nunca mais trabalhe” e, quando negoceia o seu primeiro contrato profissional com o Argentinos Juniors, o clube compra-lhe uma casa com espaço para toda a família num bairro melhor. Quando o seu pai se apercebe que a casa tem água canalizada, as lágrimas que lhe escorrem da cara têm o sabor da felicidade que a toda a família é proporcionada por aquele adolescente de cabelo rebelde. Maradona deu uma vida impensável a todos os que o rodeavam.
Mas a ideia do Diego que vem em resgate dos necessitados alarga-se muito além da sua família. Aplica-se ao Argentinos Juniors, clube de bairro descrito na série como estando “falido” e que se podia orgulhar de ter o “melhor jogador do país”, à Argentina, que se alimentou da genialidade de Maradona em 1986 para tentar curar as feridas das mortes das Malvinas ou as misérias do país, e, claro, ao Nápoles, o emblema do humilhado e pobre Sul de Itália que, pelos pés daquele general vindo não se sabe bem de onde, recuperou o orgulho e ganhou ao Norte, sendo melhor que Turim ou Milão.

VIVER COM O PESO DO MUNDO
Mas tanto abraço à sua genialidade levou, regularmente, ao sufoco. Em nenhum local como em Nápoles, que não aparece nestes três episódios iniciais, terá Maradona sentido esse abraço estrangulador, mas esse peso em cima dos ombros vai sendo, na série, retratado.
Desde muito novo Diego vai recebendo cartas com pedidos de pessoas, as quais lhe chegavam a suplicar por dinheiro para uma casa. Na sua conferência de imprensa de apresentação no Boca, perguntam a um Maradona de 20 anos como se sente ao assinar um contrato milionário quando o país está em crise. Na intimidade, o jovem clama ser “somente um jogador de futebol”.
Mas esse jogador foi percorrendo os corredores do poder, ainda que o poder não fosse do seu agrado. A sua família era "Peronista" e os seus pais choraram a morte de Perón em 1974, mas Maradona foi utilizado pelos militares da ditadura argentina para a sua propaganda, sendo recebido após liderar a seleção sub-20 ao triunfo no Mundial 1979 como um “símbolo da disciplina” enquanto as mães da Plaza de Mayo clamavam por saber onde estavam os seus filhos.
E foi-lhe pedido que, em 1982, no Mundial de Espanha, guiasse a seleção, que deveria “mostrar ao mundo que a Argentina é uma potência em tudo”, já que o país “estava a ganhar nas Malvinas e também tinha de ganhar noutro campo de batalha”. À chegada a Espanha, as perguntas dos jornalistas indiciavam que as coisas na guerra das Malvinas não estariam a correr exactamente como o poder militar na Argentina estava a propagandear. Em 1986, no encontro do "golo do século" e da “mão de deus”, Diego, o homem que tatuaria Che Guevara no braço e se tornaria íntimo de Fidel e Hugo Chavez, teria a sua pequena grande vingança.
À medida que a fama ia subindo, o pibe teve de saber lidar com o estrelato. Dizia Maradona que lhe “deram um pontapé no traseiro que o levou de Villa Fiorito para o topo da Torre Eiffel”, demonstrando como um menino de um bairro de lata estava, subitamente, nas bocas do mundo. E na série é ilustrado o mítico encontro com Pelé, que o avisa para as “más companhias”, ou as primeiras experiências sexuais com algumas artistas famosas da Argentina.
Pouco a pouco, este novo mundo de celebridades e noite foi aproximando o craque de certas tentações. E, como Maradona ainda em vida admitiu, a cocaína foi experimentada, pela primeira vez, em Barcelona, onde jogou entre 1982 e 1984. Como escreveu o mestre Eduardo Galeano, Maradona consumia “nas festas tristes, para esquecer ou ser esquecido, quando já estava encurralado pela glória e não podia viver sem a fama que não o deixava viver”. Ao longo da carreira de jogador, o consumo foi tendo picos, mas, após a retirada, houve várias crises, sendo uma das mais conhecidas, justamente, a retratada na série.
Pouco depois da passagem de ano de 1999 para 2000, Diego teve a já referida overdose, que o levou ao coma. Após um médico ser chamado à casa onde também estava Claudia, reconhecida por Diego como o “grande amor” da sua vida e mãe de Dalma e Giannina, mas de quem o diez já se encontrava separado, é evidente a preocupação de um dos homens que está com Maradona para que não vá àquele local uma ambulância nem demasiadas atenções sejam atraídas.
Trata-se de Guillermo Coppola, um conhecido empresário e bon vivant argentino que foi o mais célebre representante de Maradona, tendo-o acompanhado desde os anos dourados em Nápoles até a alguns dos pontos mais baixos da vida do jogador, como a reabilitação em Cuba. Coppola preocupa-se por passar à imprensa uma mensagem de normalidade, mas acaba detido pelas ligações pouco claras a uma pessoa que também estava na casa e era procurada pela justiça. Um retrato da confusão que foram muitos dos anos do Maradona pós-retirada.
Na Argentina, já se escreviam obituários, os quais teriam de ir sendo adiados durante mais duas décadas. Na casa de Punta del Este, uma das filhas de Maradona tentava saber, pela televisão, novidades sobre o seu pai entre todo aquele caos. Advertida por um médico sobre as consequências negativas de ver aquela especulação, a menina responde com um “claro que sei que eles exageram, sou a filha de Maradona”, como que dizendo estar vacinada para a confusão desde nascença.

A PERFEIÇÃO COM BOLA, A IMPERFEIÇÃO SEM ELA
“As pessoas têm de saber que Maradona não é uma máquina de dar felicidade”. A frase é dita na série por Diego ao seu pai, pouco antes de se juntar à seleção argentina - onde somos apresentados a um Menotti caracterizado com toques altamente paternais e protetores - para o Mundial 1982, e poderia ser encarada como um pedido para que não se esperasse o mundo daquele jovem, por muito que este fosse capaz de o dar.
A personalidade de general que liderava as tropas e a canhota que iluminava os campos levaram a uma devoção que se transformou num peso incomportável para alguém que até podia ser doutro planeta, mas vivia neste. Alguém que até podia desejar aquele nível de seguimento, mas não o conseguia suportar. E, a partir do momento em que a bola deixou de estar em jogo, tudo piorou.
Jorge Valdano, companheiro de Maradona nas glórias de 1986, costuma dizer que Diego só foi verdadeiramente feliz dentro de campo. Sem a bola, os fantasmas vinham ao de cima, como se viu após pendurar as botas. E, mesmo quando deixou de jogar, os períodos em que aqueles que melhor o conheciam o notavam mais em paz decorreram quando Maradona se encontrava a treinar uma qualquer equipa, sentindo o cheiro diário da relva. Sem esse aroma que o mantivesse ocupado, outros poderiam tornar-se tentadores.
Na série, ao ver Maradona em coma, Doña Tota, sua mãe, recorda quando o filho “era criança e feliz com a bola nos pés e os pés na lama”. O que, basicamente, são memórias de um diez sem o peso do mundo às costas. Fernando Signorini, mítico preparador físico do astro, costumava dizer que Maradona era a personagem que Diego tinha criado para conseguir lidar com a fama e a pressão. E garantia que “com Diego ia até ao fim do mundo, mas que com Maradona não daria nem um passo”.
A vida de Maradona tem tantas contradições como caños ("túneis") terá feito aquele pé esquerdo durante a vida. Tem mais ziguezagues dos que os que foram feitos para deixar os ingleses pelo caminho. Também por isso se gerou tamanha idolatria, tanta adoração, porque, como escreveu Galeano, ali estava “o mais humano dos deuses, um deus sujo, parecido connosco: fanfarrão, irresponsável, mulherengo, bêbado, mentiroso”.
Um ano depois da morte de Maradona e quase 61 anos volvidos do nascimento de Diego, pensar numa vida tão cheia ou rever vídeos das proezas dentro do campo levam-nos a imitar o que o primeiro treinador do pibe faz na série: pedir-lhe o documento de identificação. “Para verificar a idade dele?”, pergunta um. “Não, para comprovar que nasceu neste planeta”, responde o técnico."