sábado, 18 de novembro de 2023

Vitória...

Leões Porto Salvo 2 - 3 Benfica

Mais uma vitória muito complicada, com um golo sofrido logo de entrada (auto-golo, com algumas culpas do Gugiel...), com um empate antes do intervalo (grande golo do Gugiel... que acabou por ser um dos melhores!), remontada na 2.ª parte, várias oportunidades para 'matar' o jogo... E com os minutos a passar, os apitadeiros deixaram de assinalar faltas aos Leões, o Mamadu acabou por bisar e reduzir para 2-3, e acabámos a 'sofrer' um 5x4, que não trouxe muitos sustos, mas...

Ausências do Arthur e do Carlinhos... Numa altura, onde os jogos vão ser muitos, antes da Ronda de Elite da Champions, onde mais uma vez, o sorteio foi do mais complicado possível!

Golo!

Símbolos!

Fim de semana preenchido


"O destaque desta edição da BNews é a agenda desportiva dos próximos dias.

1. Partidas do dia
O Benfica visita, em futsal, o Leões de Porto Salvo, atual 4.º classificado da Liga Placard. A partida tem início marcado para as 21h30. Jacaré dá uma pista sobre como vencer o jogo: "Sabemos das dificuldades que vamos ter lá. Vamos para impor o nosso ritmo."
Por sua vez, a equipa feminina de hóquei em patins recebe, na Luz, às 21h00, a APAC Tojal.

2. Dérbi no andebol
Benfica e Sporting encontram-se em andebol, na Luz, sábado, às 19h00. Para Jota González, tudo começa na defesa: "Temos de fazer as coisas muito bem. O mais importante é estar bem na defesa, ter uma defesa compacta que nos permita correr."

3. Outras partidas
Jogos de sábado na Luz: o Benfica é anfitrião do Vitória de Guimarães em voleibol (15h00); Benfica e Ovarense têm embate de basquetebol, às 17h00; às 21h00 é a vez da equipa de hóquei em patins medir forças com o SC Tomar.
Para ficar a saber os horários dos restantes jogos do fim de semana, consulte a agenda.

4. Atividade nas seleções
António Silva foi titular e assistiu para golo na vitória portuguesa ante o Liechtenstein, num jogo em que João Neves também foi utilizado. Aursnes foi titular da seleção norueguesa frente às Ilhas Faroé, assim como Otamendi pela Argentina ante o Uruguai, partida em que Di María também participou.

5. Benfica nas seleções jovens
São 27 os convocados da formação do Benfica para os vários escalões das suas respetivas seleções.

6. Regresso dos heróis
Não perca a conversa entre Simão e Jonas, duas glórias do Benfica.

7. Liga dos Campeões no feminino
Já estão disponíveis os bilhetes para o jogo da próxima jornada da Liga dos Campeões, frente ao Rosengard, da Suécia. O desafio é no Benfica Campus, na próxima quarta-feira, às 20h00.

8. Inauguração
A primeira Casa do Benfica 2.0, em Santarém, é inaugurada no domingo. A cerimónia contará com a presença do Presidente do Sport Lisboa e Benfica, Rui Costa, o qual será recebido na Câmara Municipal de Santarém às 11h30."

Realidade!


"Os especialistas em arbitragem foram peremptórios em afirmar que ficaram 2 penáltis por assinalar a favor do Benfica no dérbi, sobre Musa e Otamendi. Passados 5 dias, tinha de surgir a cartilha das Antas de que o Benfica foi beneficiado para abafar o descalabro da própria casa.
Não há palha que alimente tanto burro. E o pior é que isto é uma estratégia reiterada que sempre funciona: transformar mentiras em verdades absolutas através da doutrinação dos ignorantes e fanáticos que disseminam a cartilha.
O que vale é que já sabemos que a culpa é do Benfica. E a crise também."

FC Porto: Assembleia Geral vergonhosa


"Um clube não é um feudo de alguns, por muito que tenham feito por esse clube. Qualquer instituição que recebe dinheiro público ou apoios estatais deveria ter limitação de mandatos na sua presidência.
Um clube não é uma monarquia em que a sucessão só existe à morte do Rei e conhece-se o sucessor.
As pessoas não têm todas que pensar da mesma maneira. Há quem pense que Pinto da Costa deve continuar, mas também, há quem pense que está na altura de dar lugar a outras pessoas, mais jovens com outras ideias.
Nisso não vem mal nenhum ao Mundo.
A democracia é, na sua definição mais minimalista, um sistema que permite, neste caso, a mudança na direcção do clube e seja substituído por outra sem crispação ou desacatos.
Ou de outra forma menos dramática: a democracia baseia-se na ideia de que os perdedores de eleições consentem livremente em ser substituídos pelos vencedores. Nesta perspectiva, qualquer candidato a presidente do FC Porto derivado das urnas deve ser considerado legítimo por todos os sócios, incluindo aqueles que ficam altamente descontentes com o resultado eleitoral.
Porém, quem está no poder não aceita perder o poder e não consente que pode haver uma mudança. É impossível, deste modo, a democracia sobreviver com este tipo de pensamento. É preocupante ver que alguns sócios têm cada vez mais dificuldade em aceitar que Pinto da Costa pode deixar de ser presidente do FC Porto em próximas eleições.
Pairou nesta AG (Assembleia Geral) a presença de André Villas-Boas. O que aconteceu na Assembleia Geral Extraordinária do FC Porto é lamentável! Desde a escolha do local, somente para 400 pessoas no auditório do Dragão, tendo em conta o interesse manifestado dos sócios pela alteração dos estatutos.
Deveria estar previsto o plano B, em caso, de uma grande afluência de sócios. A passagem para o pavilhão Dragão Arena com capacidade para 4.000 pessoas deveria ter sido a escolha inicial. Por este andar, a próxima AG deve ser feita no estádio do Dragão, para todos os sócios que pretendam estar presentes, o façam ordeiramente e sossegadamente.
O arremesso de garrafas, insultos e pancadaria levaram a que muitos sócios abandonassem o local da AG. Esta polarização levou à deterioração do ambiente.
Nesta atmosfera tensa alguns sócios deixaram de tolerar aqueles que pensam de forma diferente, são vistos como uma ameaça para o establishment do FC Porto.
Silenciar, impedir, intimidar, escorraçar sócios do FC Porto só porque têm opiniões diferentes é muito grave. O FC Porto é um clube com pergaminhos e internacionalmente relevante.
O que está em causa é o resultado final desta AG que não acabou. Este tipo de situações para anular o adversário, passa a ideia, que no FC Porto não há democracia nem tolerância, onde cabem apenas alguns sócios.
O FC Porto não está a seguir o melhor rumo. Estamos no séc. XXI e o clube é dos sócios todos, e não de alguns. Todos têm direito a opinar e votar.
Estes incidentes e o descontentamento só vêm beneficiar quem pugna pelo pluralismo, debate de ideias e respeito pelos sócios.
O desprezo pelo pluralismo no FC Porto é lamentável! É urgente que os sócios todos possam debater em total liberdade e sem coacção a vida do FC Porto e o seu futuro.
Com estes censuráveis acontecimentos, o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro. O candidato André Villas-Boas passa a ter mais chances."

Religiosamente, João Neves!


"Não tem o talento de Félix ou a explosão de Renato Sanches.Tem mais do que isso!

Numa observação rápida, o que distingue João Neves de todos os outros jogadores do Benfica? Claramente, a energia, a presença de espírito, como diria o meu querido pai, a alma contagiante, a resistência e disponibilidade física e a determinação com que compete. Tem ainda uma especial ligação ao clube que defende desde pequeno e reflete essa paixão numa plateia de adeptos que o segue religiosamente.
Em qualquer clube, é normal que os jogadores da casa sejam especialmente admirados pelos adeptos. Mas o que João Neves representa hoje para os adeptos do Benfica talvez seja apenas comparável, obviamente nos tempos mais recentes, com o que também viveram na Luz joias como João Félix ou Renato Sanches.
Em termos de estilo e do que dá ao jogo, no momento de se analisar o futebolista João Neves, há os que o comparam a João Moutinho e outros a Renato Sanches e à igualmente vibrante energia que o médio, hoje na Roma, começou logo por revelar assim que atingiu o onze principal dos encarnados.
Tal como Renato, e tal como também João Félix, ou mesmo António Silva, por exemplo, para citar casos recentes de grande impacto na equipa das águias, também João Neves teve, enfim, o privilégio de ser campeão nacional na primeira época em que vestiu a camisola da primeira equipa, e esse é um privilégio que qualquer miúdo de 19 anos não esperaria nem nos melhores sonhos.
Volto, porém, às nem sempre justas comparações (mas sempre com o bem intencionado propósito de dar mais cor ao debate sobre o excecional médio benfiquista), para acrescentar que, a mim, mais até do que João Moutinho, quem João Neves me faz lembrar é a pedalada, a rotação, o andamento, a generosidade, determinação e solidariedade de Maniche, médio igualmente formado no Benfica, que chegou a afirmar-se na equipa principal da Luz pela mão de José Mourinho e que pela mão de José Mourinho indiscutivelmente se tornou num dos grande médios do futebol europeu, primeiro num FC Porto que venceu tudo em Portugal e na Europa, depois na Seleção e no palco do futebol internacional, alinhando pelo Chelsea, Atl. Madrid ou Inter de Milão…
Não está João Neves ainda a esse nível, naturalmente, porque esse nível não se consegue num ou dois anos, mas em quatro ou cinco, mas mostra João Neves capacidade, expressão futebolística, sentido coletivo do jogo e inesgotável energia (como cansa vê-lo jogar!) para vir a tornar-se num dos maiores fenómenos entre as jovens revelações do futebol europeu, precisamente pela rara forma como assume o seu lugar numa equipa, pela impressionante condição física e capacidade atlética, pelo espírito com que ajuda todos os companheiros ou enfrenta qualquer adversário, lutando pela bola no chão ou no ar, tenha, ou não, o adversário mais 15 ou 20 centímetros de altura ou seja mais corpulento e mais forte do que ele.
O que mais distingue também João Neves logo às primeiras impressões? O modo de estar, o sorriso, a empatia que cria em quem o vê. Sublinho o que aqui já deixei escrito: não é só pelo que joga, pelo modo como luta, pelo notável e raro espírito com que se entrega ao jogo e à equipa que João Neves faz bem ao futebol; ele fez bem ao futebol muito pelo modo como está nesta sua vida desportiva e profissional, pelo sorriso, pela ética, pela correção em campo, pelo respeito ao jogo, aos companheiros e aos adversários, até pelo detalhe (simples e, porventura, sem importância) com que veste o equipamento, sempre com a camisola por dentro dos calções, um bocadinho à moda antiga, como se, transportado por uma qualquer máquina do tempo, João Neves fosse um jovem trazido das distantes décadas de 40 ou 50, quando o benfiquista e notável Rogério Lantres de Carvalho (para dar exemplo de um dos grandes campeões pelas águias) parecia não entrar em campo sem estar devidamente penteado e aprumadamente equipado, ao ponto de os admiradores lhe acrescentarem precisamente o apropriado nome de… Pipi!
Honra seja feita ao treinador alemão Roger Schmidt, reconhecidamente o responsável pela ascensão de João Neves e, sobretudo, pela perceção ou intuição sobre a capacidade de um jovem jogador que, até merecer a oportunidade que amplamente mereceu de ser titular das águias, pela primeira vez, em abril do último campeonato, num jogo com o Estoril, ainda não tinha tido a oportunidade de mostrar verdadeiramente sinais de poder vir a tornar-se o fenómeno que hoje já ninguém se atreve a pôr em dúvida. Mas, pelos vistos, muito antes de chegar aquele primeiro jogo a titular, já Roger Schmidt parecia ter a convicta intuição de estar diante de um jovem verdadeiramente diferenciado. «É uma feliz mistura de alegria, confiança e qualidade», assim o definiu o treinador do Benfica.
Pessoas muito responsáveis nas águias desabafavam, aliás, ainda em dezembro de 2022 (já com o caso Enzo Fernández em efervescência…) que Roger Schmidt se apaixonara por um miúdo da formação das águias que mantinha, sem qualquer hesitação, a treinar-se com a equipa principal, impressionado, sobretudo, com o andamento e rotação do jovem jogador, que Schmidt costumava já definir, por curiosos gestos com as mãos, como um jogador que pisava todos os espaços do campo. E pisa, realmente!
João Neves impressiona ainda pela maturidade com que vive cada desafio, cada jogada, cada jogo por mais dimensionado e impactante que seja, sob o olhar e o entusiasmo por vezes frenético, para o bem e para o mal, de mais de 60 mil pessoas como as que testemunharam, na Luz, domingo passado, o último, escaldante, dramático e épico dérbi com o mais histórico dos rivais dos encarnados.
Não é, aliás, muito vulgar, devo lembrar, que o homem que hoje conduz a Seleção Nacional, o espanhol Roberto Martínez, não tenha sentido a mínima reserva em dirigir, numa entrevista recente a um meio de comunicação espanhol, surpreendentes elogios a João Neves, pelas observações feitas ao jogador, mas sobretudo após conviver com o jovem a meia dúzia de dias do primeiro estágio em que Roberto Martínez o integrou.
Se o selecionador o fez, o mais certo é João Neves ser, na verdade, o miúdo especial que a todos nos parece. Simpático e empático, simples, naturalmente cativante e amável, gentil e ao mesmo tempo arrebatador, predisposto a contribuir, acrescentar, ambientar e participar, e devemos-lhe, todos, o reconhecimento, obviamente não por ter sido a estrela desse último dérbi, mas pelo bem que faz, na realidade, ao futebol e pelo jogador apaixonante, vibrante, impressionante e admirável que é, no que de mais sério, íntegro e entusiasmante se exige, ao mais alto nível, de um jogador de futebol.
Pode não jogar sempre bem — e bem sabemos como nenhum jogador jogará, seguramente, sempre bem —, mas deve dar sempre tudo o que tem. Como João, o maravilhoso jovem das Neves!..."

Os homens medem-se às palmas


"No futebol, como na vida, a fronteira entre a vitória e a derrota é tão ténue que nada pode ser dado como adquirido. Três minutos são uma eternidade e podem mudar um destino. Uma viagem entre o inferno ao céu. E quatro centímetros a distância entre o purgatório e o paraíso. Como muito bem provou o Benfica e sentiu na pele o Sporting, num dérbi que nos disse mais da vida do que possamos imaginar.
No futebol, como na vida, os homens não se medem aos palmos. Palmas para João Neves, o menino com cara de menino, o sorriso permanente de quem está a brincar finalmente no parque de diversões favorito. João Neves não joga futebol, joga à bola. Não é um futebolista, é um miúdo encantado com tudo. E palmas para Gyokeres, que nos devolve ao desassossego, em permanente estado febril, destemido, a jogar tudo a cada lance. João Neves e Gyokeres, tão diferentes e tão iguais no esplendor da condição humana.
No futebol, como na vida, a sorte e o azar são as fronteiras que traçamos para demarcar a incapacidade de compreender ou, pior, de aceitar as razões do insucesso. O escritor norte americano Michel Levine retratou-o numa reflexão irónica: «Os vencedores são pessoas com muita sorte. Se não acredita, pergunte a um fracassado.». Usamos a sorte e o azar para preencher espaços vazios. A sorte e o azar são maus conselheiros: a sorte ofusca o mérito; o azar desresponsabiliza o erro.
No futebol, como na vida, três minutos e quatro centímetros chegam para se vencer ou perder. Mas um jogo dura mais do que 90 minutos. Ainda se joga na Luz e em Alvalade, na gestão emocional e na aprendizagem. Schmidt sabe que esteve melhor do que Amorim na gestão feita durante o jogo, mesmo que em vantagem numérica; cavalga no potencial anímico pela forma como a equipa venceu; comprovou que os jogadores têm alma; mas sabe também que apenas ganhou tempo e um estado de espírito mais favorável para o que tem ainda de fazer para o Benfica se parecer sequer com a última época. Já Amorim tem de garantir que os jogadores entendem que se é verdade que a qualidade do processo é importante para a vitória, nem sempre coincidem. Amorim sabe que, a jogar como jogou na Luz até à expulsão, estará mais perto do sucesso. E Amorim sabe o que correu mal, da escusada expulsão de Gonçalo Inácio às próprias substituições que fez, ao desequilíbrio emocional revelado nos minutos após a expulsão e após o golo de João Neves.
No futebol como na vida, o sucesso e o insucesso são impostores. Apenas indicam onde estamos. Nada dizem de quem somos, que caminho trilhámos e para onde queremos ir. Vitória ou derrota são uma fotografias ao momento, mas a vida não é um instantâneo capturado num frame, é um filme com argumento a ser escrito. É por isso que continuo a achar que tendo o Benfica vencido com mérito, o Sporting está num estádio de evolução e maturação superior, logo, mais perto, neste momento, de ser campeão. Repito: neste momento.
No futebol, como na vida, festejar antes de tempo não é aconselhável e pode ter um efeito boomerang. Os olés dos adeptos do Sporting ao minuto 90 foram devolvidos pelo Benfica com dois socos implacáveis. Os olés, confesso, é o que mais me incomoda num estádio. Mal por péssimo, prefiro o vernáculo. Porque os olés são vontade de humilhar. E no futebol, como na vida, humilhar é indigno e, às vezes, feitiço que se vira contra o feiticeiro.
No futebol como na vida, também é preciso saber ganhar. Schmidt estava a três minutos de entrar na sala de imprensa com ar constrangido, ensaiando as melhores justificações que conseguisse. Três minutos bastaram para que o sorriso se rasgasse, enchesse o peito e tivesse até atirado um olé, passe a expressão, a um jornalista. Fica mal a sobranceria dos vencedores. às vezes acho que a culpa é dos jornalistas: mimamos as pessoas, em especial quem chega de fora. Já assisti a conferências em muitas dezenas de países e os jornalistas portugueses, regra geral, são dos mais compreensivos do mundo. Basta atravessar a fronteira para se perceber a diferença. Se um dia Roger Schmidt treinar em Espanha, aprende logo duas coisas: que não tem mais do que um mês para falar espanhol nas conferências de imprensa e que vai sentir saudades dos jornalistas portugueses. No mais, remeto para o meu vizinho de página, Hugo Vasconcelos, assinando tudo o que escreve na coluna ao lado.
Finalmente, no futebol como na vida, «o que as vitórias têm de mau é que não são definitivas; e o que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas…». E quando Saramago fala eu não tenho mais nada a acrescentar.

Violência não é força, é medo
As pessoas não se mobilizam em massa, na política como nas assembleias dos clubes, para dizer amém, do género «vim aqui só para dizer que concordo com tudo, está tudo bem, continuem assim». A mobilização em massa é indicador de desejos de mudança ou, numa versão mais conservadora, correções de rota. E a notável mobilização dos sócios portistas, que apanhou se surpresa os próprios órgãos sociais na lamentável Assembleia Geral de segunda-feira, prenunciam ventos de mudança. Mas não totalmente novos. Os surpreendentes 26 por cento de José Fernando Rio nas últimas eleições foram um aviso. Colocando o dedo no barro que pode fazer ruir a estátua. Os adeptos estão disponíveis para tudo, para comprar todas as guerras, mas não toleram que o FC Porto se torne num clube burguês a engordar uns quantos. Não entendem que se vendam pérolas por bom dinheiro, prejudicando o sucesso desportivo, e, ainda assim, se mantenham os prejuízos. Por isso, a gestão financeira e o combate à nova burguesia será tema central da oposição.
Será cedo para medir com exatidão os efeitos dessa Assembleia. Para já, Villas-Boas capitalizou. E foi incisivo ao denunciar a passividade dos dirigentes na AG. Naquele pavilhão estava quem, com um único gesto, conseguiria restabelecer a ordem. Sei que Pinto da Costa passará sempre incólume ao julgamento que os sócios fizerem. Mesmo os que não votarem nele, terão sempre uma palavra de gratidão. A culpa será sempre daqueles que o rodeiam. Mas pela primeira vez não dou como garantida a vitória tranquila de Pinto da Costa nas eleições. Não dou eu e não dá quem o apoia a avaliar pela forma como reprimiu outros sócios que se limitaram a não bater palmas… Porque a violência nunca foi um sinal de força, mas de medo."

O Porto e o exemplo Barcelona


"Não podemos confundir. Uma coisa é o Hamas, outra coisa são os palestinianos. Tal como uma coisa são os extremistas que integram o núcleo duro da claque dos Super Dragões e outra coisa são os portistas. E é verdade que os portistas do Porto e seus arredores têm uma identidade própria, que se reflete numa personalidade vincada, numa paixão sem brechas pelo seu clube, num raro sentido de comunidade, numa afirmação desse seu clube e da sua cidade contra o centralismo de Lisboa e, como muitas vezes dizia José Maria Pedroto, acima de tudo, contra os provincianos que vão trabalhar e viver para Lisboa e que são bem piores do que aqueles que por lá nasceram.
Porém, o FC Porto vive, desde há muitos anos, numa encruzilhada ainda por resolver. Como ganhar dimensão nacional, uma porta que se abriu de par em par, depois de ter conseguido muitas vitórias e títulos que despertaram atração, sobretudo nas gerações mais novas de todo o país, e, ao mesmo tempo, não perder uma identidade nortenha, uma relação íntima com a sua cidade e a sua região? Julgo que o exemplo mais aplicável, apesar das naturais diferenças sociológicas e políticas, é o Barcelona. Como diz o seu lema, mais do que um clube, porque representa, de facto, as aspirações de glória e de conquista de toda a Catalunha. Por isso, o Espanhol foi, muitos e muitos anos, na era franquista, o clube do regime, e o Barcelona o clube que se afirmou como uma bandeira autonómica em oposição a Madrid e ao poder centralista de Castela.
No entanto, ninguém terá dúvidas de que o Barcelona, apesar de algumas administrações erráticas, se tornou num dos maiores clubes do mundo e tem adeptos, não apenas espalhados por toda a Espanha, mas pelos cinco continentes.
Não seria, sequer, inteligente pensar que na viragem obrigatória da era de Pinto da Costa, o FC Porto tivesse de perder a sua identidade e o essencial da sua personalidade coletiva para dar o salto de um regionalismo que o limita e o oprime para uma versão moderna e internacional. Mas é inevitável que, sem perverter os seus valores e a sua alma, o F C Porto tenha, definitivamente, de se libertar da ideia de que só ganha em estado de guerra e que por isso não pode prescindir de uma guarda pretoriana que vive acima da lei, ameaça, agride e vive nas cavernas."

Vítor Serpa, in A Bola

Portização


"A zona das Antas deu palco esta semana a uma mistura explosiva de choque entre mentalidades, coação e agressões. Escreve-se zona das Antas pois, logo no início daquela tentativa de Assembleia Geral (AG), ter-se mudado do local devidamente convocado para o efeito para outro sem qualquer votação prévia que validasse a deslocação. Existiu uma violação formal que nem merece ser impugnada tal foi a vergonha de atos que se sucederam.
Assistiu-se a um dos arguidos mais ativos do universo portista referir que o clube tinha três locais preparados para aquela AG. Não lhe explicaram que, estando marcada para aquele local específico, é ali que a mesma terá que ocorrer. Como se os associados se deslocassem a um local prontos para o debate e votação mas tendo que ter a mente aberta e disponível para a eventualidade de terem que passear pela zona das Antas até que alguma ilustre cabeça com poder decisório definisse o espaço mais adequado.
Só mesmo um beato devoto da atual igreja portista para classificar de «benfiquização» o sucedido nos dois locais distintos para uma AG cujo desfecho se adivinhava. Ao contrário da verborreia proferida pelo desconhecedor, o que existiu durante muito tempo foi uma portização do Sport Lisboa e Benfica, com um presidente que exerceu uma liderança não-benfiquista durante 18 anos por várias razões. Entre elas, à cabeça, por também ter sido sócio dos dois rivais diretos e tendo destruído a cultura democrática de um Clube que tinha como condão o pluralismo e a união. Basta ler a sua divisa plasmada no símbolo. Mas aceita-se que o beato daquela igreja (cujo sacerdócio caminha a passo rápido para o seu fim) não saiba ler latim.
Um outro indício claro de que a coação a que agora se assistiu in loco numa AG da zona das Antas tem origem na portização resulta, ainda, do facto do antigo presidente do SLB (e, já agora, dos dois rivais) ter chamado para junto de si, em determinados momentos passados, alguns membros da claque superior do FC_Porto e do Boavista. Para quê, pergunta o leitor? Para que a mente iluminada que declarou publicamente que «no Benfica há democracia a mais» pudesse ameaçar, em privado, algumas mentes que se insurgiam contra ele nas AG."

Um país indeciso e adiado


"O DCIAP decidiu arquivar o caso dos ‘vouchers’ do Benfica. Levou oito anos porquê?

A justiça portuguesa anda em maré azarada. Depois de ver quase totalmente esvaziado o balão de indícios de crimes graves que levaram à estrondosa queda do Governo e à decisão do Presidente da República em dissolver o Parlamento, convocando eleições para 10 de março, tem, agora, de se conformar com o arquivamento do processo dos vouchers do Benfica, que assentava numa denúncia, já com oito anos, do ex-presidente do Sporting, Bruno de Carvalho. O DCIAP (Departamento Central de Investigação e Ação Penal) entendeu não haver crimes de corrupção imputáveis a quem quer que fosse, porque era impossível determinar previamente os valores de cada refeição, desconhecida a identidade dos apenas dez por cento que terão usado os vouchers oferecidos, além de que o crime de recebimento de vantagem no desporto nem sequer estava ainda consagrado em lei. A argumentação parece sólida e aparentemente inatacável, mas, inevitavelmente, levanta uma questão: oito anos para se chegar a conclusões aparentemente óbvias, porquê? Que tipo de complexidade tinha este caso que levasse a um procedimento tão demorado? Que complexas diligências tiveram de ser feitas e que enigmático uso de meios humanos foi necessário para se chegar à conclusão de que o caso devia ser arquivado por não ser possível avançar nem com o crime, nem com os supostos criminosos?
Regressa, assim, à ordem do dia a necessidade urgente de haver um acordo de regime, pelo menos com o apoio dos principais partidos com assento parlamentar, no sentido de se reorganizar e reestruturar todo o sistema judiciário. Portugal não pode aspirar ao desenvolvimento e à modernidade com uma justiça entorpecida, demorada, errática. Não é um problema fácil de resolver? Em Portugal, quando se trata de resolver, nada é fácil e por isso tudo se adia. O exemplo mais evidente é o do escândalo de (in)decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa, que ainda estará longe de ser resolvido e onde é possível prever que se peçam mais estudos para comparar com dezenas de anos de estudos, todos eles generosamente pagos.
Desgraçadamente, continuamos a ser um país de indecisos e que entende que a melhor solução dos problemas é adiá-los. É sempre dramático, mas quando se trata de casos de justiça chega a ser trágico."