terça-feira, 31 de outubro de 2023

Adeus, Catedral! Olá, Nova Catedral!


"Lado a lado, dois estádios coexistiram: um em demolição e outro em construção, numa enorme mudança de casa para os benfiquistas

Era 28 de Setembro de 2001 e uma esmagadora maioria votou 'sim' para a construção de um novo estádio, em Assembleia Geral Extraordinária. O prazo era curto: o novo Estádio do Sport Lisboa e Benfica teria de ficar concluído até 30 de Setembro de 2003, para poder ser um dos recintos do Euro 2004, a grande motivação desta empreitada. Não havia tempo a perder e, a 1 de Outubro, iniciaram-se a obras de demolição do antigo estádio.
Numa primeira fase, o complexo desportivo em torno do Estádio foi desaparecendo, para permitir a construção do novo recinto em simultâneo. Em Dezembro, chegou a vez de o antigo estádio de futebol começar a desaparecer, com a demolição do topo sul. Sem esta fatia, a nova obra teve espaço para crescer, pois a área de um sobrepunha-se à do outro. O antigo Estádio da Luz não era um lugar deserto e, enquanto isto acontecia, os departamentos e secções que se localizavam na zona demolida foram realocados noutras áreas do edifício.
Os meses seguintes foram amplamente documentados pela imprensa, pois era do interesse de todos os benfiquistas o avançar das obras. O ano de 2002 voou e, no emotivo dia 22 de Março de 2003, chegou a altura de os adeptos e de Lisboa se despedirem definitivamente da antiga Catedral, que fez parte da cidade por quase 50 anos. Era hora de se focar no futuro, que estava a crescer a olhos vistos.
Os arcos que coroam o Estádio e que viriam tornar-se a sua imagem de marca foram concluídos em junho. Dois meses depois, a paisagem estava radicalmente mudada: o antigo Estádio estrava já totalmente demolido e na fachada do novo Estádio da Luz era colocada a Águia de Metal. Feitos os últimos preparativos, chegou o grande dia. Passados cerca de dois anos desde o início desta história, foi inaugurada a atual Catedral, a 25 de Outubro de 2003. Seria o começo de uma nova fase da vida do Clube!
Saiba mais sobre os momentos inesquecíveis que se viveram desde a inauguração do Estádio da Luz na exposição temporária Chão Sagrado - 20 anos da Catedral, no Museu Benfica - Cosme Damião."

Lídia Jorge, in O Benfica

Muito para ganhar


"O percurso na Liga dos Campeões da presente temporada é, até ao momento, desapontante, para mais na sequência de duas presenças consecutivas nos quartos de final e de uma época excecional ao nível, também, das exibições.
Claro que, agora, compete à equipa do Benfica tentar fazer o melhor possível, procurando, apesar da dependência de terceiros, o apuramento para as rondas a eliminar, até porque essa é, não o alcançando, a melhor forma de lograr a continuidade nas provas europeias, mesmo que seja na Liga Europa.
O que está feito, feito está. É imperativo que se melhore o que tiver de ser melhorado e sobretudo se tenha a capacidade para destrinçar as várias competições, impedindo que o desempenho europeu, para já, abaixo das expectativas, influencie o estado de espírito do plantel ao ponto de afectar a luta pelos restantes objetivos.
É necessária liderança e maturidade para que não se repitam 2017/18 e 2019/20, cujos plantéis do Benfica, nessas épocas, me pareceram permeáveis às críticas pelo desempenho europeu, soçobrando no Campeonato Nacional.
Neste momento é importante reter o seguinte: o Benfica, em 2023/24, já conquistou a Supertaça; leva, depois da derrota no jogo inaugural, sete triunfos consecutivos na Liga, incluindo o clássico com o FCPorto; e está em prova na Taça de Portugal e Taça da Liga, tendo tudo ainda para continuar nas competições europeias.
Olhemos para o passado e recordemos que houve várias grandes equipas do Benfica cujo desempenho na Europa foi aquém do expectável, porém mantendo-se firmes na busca de mais um título nacional, conseguindo-o diversas vezes. Continuar a apoiar a equipa é determinante, pois são os jogadores quem nos representa em campo. E temos muito para ganhar em 2023/24."

João Tomaz, in O Benfica

O elogio da ironia


"Nas generalizações que tantas vezes se fazem sobre os diversos povos do mundo, está quase sempre escondido um preconceito histórico. Dizer que os chineses comem carne de cão, que os cidadãos dos EUA não têm noções de geografia mundial ou que os espanhóis falam muito alto são afirmações perigosas. Apesar de isso ser verdade para uma determinada fatia dessas nacionalidades, o problema está na generalização e em como ela é apercebida. E, às vezes, ficamos tão toldados por essas imagens coletivas, que perdemos o essencial. Acredito que foi o que se passou nesta semana em relação a Roger Schmidt, treinador principal do SL Benfica.
Questionado, numa conferência de imprensa, sobre a importância do jogo com a Real Sociedad para a Liga dos Campeões (se seria o jogo mais importante da época), o cidadão alemão responder com uma fina ironia que escapou a muitas pessoas que o escutaram. Bem sei - e lá vem uma enorme generalização - que os alemães não são conhecidos pelo seu sentido de humor e ironia, mas Schmidt recorreu a estas ferramentas, e ninguém estava à espera. Justamente por ser alemão. Schmidt disse: 'Os jogos mais importantes são sempre contra o FC Porto' e, ato continuo, riu. Era uma piada, um exercício de ironia, acredito eu, depois de tanta campanha contra o Glorioso, desespero desse rival e jogadas de bastidores que continuam em tribunal. É que até um treinador tranquilo, metódico e equilibrado tem direito a, de vez em quando, soltar um pouco de pressão da panela onde se cozinha o futebol português. Não lhe deu para frisar que, nesta temporada, o saldo de jogos com o FC Porto vai em dois a zero e uma Supertaça no Museu, mas já criou discussão.
Quem, durante anos, andou e anda a bajular a alegada ironia do eterno presidente portista deve ter sofrido algum momento de amnésia quando criticou Schmidt pela divertida resposta. A uns perdoam o ódio, a outros nem a boa disposição."

Ricardo Santos, in O Benfica

Sempre ao teu lado, Benfica


"O mundo desenvolveu-se imenso ao longo das últimas décadas. A qualidade de vida da população atual é incomparavelmente maior em relação a toda a história da humanidade. Esta realidade deve-se ao trabalho do ser humano e às suas invenções. Agora, imaginemos por um segundo que cada pessoa no seu emprego poderia ser tão competente e eficaz no exercício das suas funções como é exigido aos treinadores e jogadores de futebol. Sempre com um nível de rendimento de topo e com margem de erro nula. Produtividade máxima. Ninguém dá uma escapadela às redes sociais durante o horário de trabalho. Confraternizar com os colegas e deixar aquela tarefa mais chata para amanhã? Nem pensar! Qualquer mecânico deixa um carro pronto em meia hora, qualquer empreiteiro deixa um prédio pronto em três meses. Estimado leitor, ainda o Eusébio não estava na América e já teríamos carros a circular sozinhos na estrada. A inteligência artificial já teria aparecido e, provavelmente, os influencers também. O planeta estaria hoje num ponto de evolução que nem me atrevo a imaginar.
Haverá algum adepto tão intolerante com as suas falhas como é intolerante com as falhas do seu clube? Quem escreve estas palavras não é diferente dos demais: eu próprio exijo 34 vitórias para as 34 jornadas da Liga todas as temporadas. Não me proponho a executar as minhas funções profissionais com uma performance de excelência de segunda a sexta, no entanto, não espero menos do que excelência do Benfica ao sábado, ao domingo, e à semana, quando é caso disso. Ainda assim, continuo e continuarei a pertencer ao grupo de adeptos que se mantêm ao lado da equipa nos momentos menos bons. Porque sou do Benfica quando o Benfica ganha, mas sou ainda mais do Benfica quando o Benfica perde."

Pedro Soares, in O Benfica

O filme de sempre


"Depois de uma paragem de três longas semanas, eis o regresso da prova maior do futebol nacional.
O compromisso do Benfica é amanhã (sábado, 28) na Luz, diante do Casa Pia, equipa do meio da tabela, mas que certamente nos irá (tentar) criar dificuldades.
Já se sabe como é o futebol português, e qual é a estratégia deste tipo de equipas para este tipo de jogos: colocar o autocarro em frente da baliza, tentar bloquear os pontos fortes do adversário (neste caso, o Benfica), esperar pela desinspiração dos principais artistas, e fazer com que o tempo passe tão depressa quanto possível, reduzindo ao mínimo os minutos jogáveis - contando para isso com a complacência dos árbitros.
A fórmula para ultrapassar estes problemas também é clara: marcar cedo, obrigando-os assim a abrir as cancelas e a fazer fluir o jogo. Quando isso acontece, as coisas tornam-se bem mais fáceis. Quando facilitamos no início e deixamos o tempo passar, o nervosismo adensa-se no campo e nas bancadas, o relógio começa a bater mais rapidamente, do lado de lá a confiança cresce, e o risco de alguma coisa correr mal acentua-se.
É uma tipologia de jogo que não vejo em mais nenhuma das principais ligas europeias. Mas em Portugal, à custa de jogadores medíocres, treinadores espertalhões e árbitros complacentes, tem feito o seu caminho, muitas vezes com sucesso. E a verdade é que três quartos dos clubes da primeira divisão que nos visitam fazem pouco mais do que isso.
Com mais de um ano de futebol português, Roger Schmidt já sabe onde está e o que o espera neste tipo de partidas. E tem encontrado antídotos que nos fizeram chegar ao título, na época passada, e ganhar 7 jogos em 8, já na corrente temporada.
Amanhã, também encontraremos, com certeza, o caminho da vitória. Sobretudo se entramos fortes desde o primeiro instante."

Luís Fialho, in O Benfica

Uma vitória de todos


"Está na ordem do dia que o futebol deve obrigatoriamente ser uma modalidade inclusiva. À primeira vista, isto parece resultar de uma opinião pública mais informada, o que é verdade, e de uma atitude humanista e solidária que cada vez mais se valoriza mais nas sociedades ditas evoluídas. Se formos um pouco mais fundo, facilmente concluímos que a humanidade é feita de diferenças e que essas diferenças são a sua maior riqueza, aquilo a que hoje em dia chamamos diversidade.
Perante esta nova realidade social e esta mentalidade mais inclusiva que quer ser a marca do século XXI, toda as atividades humanas têm de se adaptar o mais possível a cada indivíduo. Isso significa encontrar em cada sociedade e denominador comum e formatar a atividade desportiva e o futebol ao encontro da média comum até aqui, mas também das minorias e até de algumas necessidades individuais como os défices de mobilidade ou cognitivos, por exemplo.
Nada se perde com isso, e tudo se ganha: o futebol adaptado é mais um ativo social e desportivo que enriquece a sociedade portuguesa, que engrandece quem o promove e reforça a sua dignidade e a autoestima de quem o pratica, a mostrar a todos que uma deficiência não define uma pessoa.
E sempre que se promove a dignidade humana alcança-se uma vitória de todos!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Núm3r0s d4 S3m4n4


"1
O Benfica participa, pela 1ª vez, numa competição europeia de polo aquático no feminino e conseguiu o apuramento para a fase final da Challenger Cup;

2
Na visita ao Lusitânia, 2 jogadores (Arthur Cabral e Tiago Gouveia) estrearam-se na autoria de golos pela equipa A do Benfica;

20
O estádio da Luz foi inaugurado há 20 anos. Nos 583 jogos disputados na Luz, estiveram presentes 22080492 espectadores, dos quais 20732638 em partidas da equipa de honra do Benfica. O Benfica ganhou 373 dos 503 jogos oficiais realizados na Catedral (74,16% de aproveitamento – no anterior estádio da Luz, ganhou em 79,96% das 988 partidas);

37
Rafa passou a ser o 37º com mais jogos oficiais de águia ao peito. Soma 287 e está a somente 6 de alcançar o 33º, Cardozo. Contando com particulares, é o 46º (319 jogos). E passou a ser o 6º com mais jogos oficiais neste estádio da Luz (143);

40
Com o golo marcado ao Lusitânia, Rafa ocupa agora a 40ª posição no ranking dos goleadores do Benfica com 80 golos (incluindo jogos particulares). Leva 76 em jogos oficiais e é o 31º mais goleador de sempre do Benfica em competições oficiais;

59:40
Samuel Barata estabeleceu o novo recorde nacional da meia-maratona e tornou-se no primeiro português a percorrer a distância em menos de uma hora;

60
Rafa juntou-se a Bento, José Augusto, Coluna e Salvio no, agora, quinteto de jogadores com 60 jogos pelo Benfica nas competições europeias. Só 14 jogadores representaram mais vezes o Benfica na Europa."

João Tomaz, in O Benfica

Fito na vitória


"O Benfica entra hoje em campo, às 20h15, em Arouca, para iniciar a sua participação na Taça da Liga, uma competição que quer ganhar. Este é o tema em destaque na BNews.

1. Vencer em Arouca
Recordista de triunfos na Taça da Liga, com o nome inscrito sete vezes no palmarés da competição, o Benfica procura voltar a ganhar a prova na presente temporada. O primeiro embate é no reduto do Arouca, o qual venceu, na jornada anterior, no campo do AVS, por 1-2.

2. António Silva em destaque
O jovem defesa-central formado no Benfica foi o 8.º mais votado no Prémio Kopa 2022/23, que distingue o melhor jogador Sub-21 do mundo.

3. Chamadas internacionais
Trubin, Otamendi e Di María estão convocados para os próximos compromissos das suas seleções.

4. Iniciativa da Fundação Benfica e do Futebol Profissional
O João teve um dia inesquecível.

5. Nova subida no ranking
Ao conseguir a terceira presença consecutiva na fase de grupos da Liga dos Campeões no feminino, o Benfica volta a ganhar posições no ranking europeu de clubes. É agora o 15.º, oito lugares acima em relação a igual período da época passada (era o 94.º após a eliminação do PAOK em 2020/21). Fruto do desempenho benfiquista, Portugal terá direito à participação de dois clubes na prova em 2024/25.

6. Basquetebol de alto nível na Luz
Aproxima-se o primeiro jogo da fase de grupos da Basketball Champions League. É amanhã, na Luz, às 19h30, frente ao PAOK.
Norberto Alves considera que o Benfica integra um grupo "fortíssimo" e revela a receita para a vitória: "Temos de encarar estes jogos como finais e fazer tudo para vencer. Temos de entrar no nosso máximo desde o primeiro minuto. Temos de ser ambiciosos e, independentemente do valor destes adversários, que é enorme, temos de jogar para vencer."

7. Agenda do dia
Além do desafio em Arouca, hoje há dérbi com o Sporting em Sub-23 (Estádio Aurélio Pereira, 13h00) e uma partida de hóquei em patins no feminino (visita ao GC Odivelas, às 21h45). Consulte a agenda para ficar a par de todos os jogos até 5 de novembro.

8. Qualificação histórica
Na estreia nas competições europeias de polo aquático no feminino, o Benfica alcançou o apuramento para a fase final da Challenger Cup. António Machado faz o balanço."

A segunda crise Rogeriana


"Ter um período menos positivo é algo completamente normal e recorrente no futebol. Mas, no caso do SL Benfica, se na temporada passada esse período se deu numa altura em que os encarnados seguiam isolados na frente do campeonato, e, nos quartos de final da liga dos campeões, este ano a crise encarnada veio mais cedo e com isso torna-se mais problemática.
Depois de uma derrota na abertura do campeonato, e de zero pontos e zero golos marcados em três partidas europeias, as águias voltaram a perder pontos em casa, desta vez frente ao Casa Pia AC, colocando assim o clube numa conjuntura menos positiva.
Tendo isso em conta, é preciso analisar que aspectos trouxeram o conjunto de Roger Schmidt até este momento.
Como um todo, uma das principais diferenças relativamente à temporada passada é a própria identidade da equipa do Benfica, o estilo de jogo que impunha, o famoso gegenpress. Os comandados de Roger Schmidt representavam sempre uma equipa muito pressionante que procurava dominar o adversário, mesmo quando não detinha a posse de bola. Para além da força de pressão, os encarnados procuravam constantes combinações que levavam muito facilmente o conjunto à baliza adversária.
Nesta temporada, essa identidade perdeu-se e com ela a fluidez com que a equipa jogava também.
O futebol apresentado esta época pelo clube da Luz é sem dúvida inferior àquele que o treinador alemão habituou os adeptos anteriormente, e é sobretudo por isso que se nota uma diferença tão assombrosa.
No entanto, as circunstâncias do ano passado também diferiam imenso para o panorama atual do clube.
Peguemos então, em dois aspetos negativos retirados da noite de ontem, o problema na concretização/eficácia e o mau funcionamento da lateral esquerda, por exemplo.
Pois bem, de acordo com a estatística e com aquilo que foi possível ver no decorrer do encontro, o Benfica acabou a partida com um total de sete remates à baliza e treze oportunidades de golo, tendo marcado apenas um.
Isto deve-se em muito àquele que ocupa a posição mais adiantada no terreno, Arthur Cabral, mas, também, àqueles que tanto criaram, mas pouco concretizaram, Rafa e David Neres nomeadamente.
Na temporada passada, a posição de número 9 era ocupada por Gonçalo Ramos, que, na sua terceira época ao serviço da equipa principal, foi o melhor marcador do clube e acabou por ser vendido. Para além de concretizar de forma muito mais regular, Gonçalo destacava-se também por ser sempre o primeiro elemento da equipa a defender. Para além de avançado goleador, o português trazia essa mais-valia diferenciadora ao jogo dos encarnados.
Olhando para essas questões, percebemos, em grande parte, aquilo que se tem vindo a passar com o ponta de lança encarnado de momento. Sendo estes os primeiros jogos de águia ao peito, nota-se claramente uma falta de noção de jogo e de adaptação ao mesmo por parte do brasileiro. Contudo, excluindo o reforço que custou cerca de vinte milhões aos cofres encarnados, Roger Schmidt tem ainda à sua disposição Musa, Tengsted e Gonçalo Guedes para ocupar aquela mesma posição.
Musa, apesar de tudo, sempre mostrou ter um maior rendimento vindo do banco do que a titular. Já Casper Tengsted, tem rendido muito pouco no tempo que lhe é concedido, por isso, é muito difícil olhar para o dinamarquês como a solução para o problema que se enfrenta de momento. Posto isto, fica a sobrar Gonçalo Guedes. Um jogador com mais experiência, com características fascinantes, e que, quando está saudável, é um jogador diferenciador. Não se percebe a falta de utilização de Guedes por parte do técnico alemão. Olhando para aquele que é o estilo de jogo encarnado e os jogadores que rodeiam aquela posição, Guedes é aquele que se enquadra melhor no contexto. Face à crise que os encarnados enfrentam atualmente, a utilização de Gonçalo Guedes poderia ser a solução para os problemas deste capítulo. Falta apenas a confiança do técnico alemão no jogador.
No que diz respeito à lateral esquerda, o problema mostra-se semelhante. Na temporada passada, o Benfica usufruía de um dos melhores alas do mundo na sua equipa. Grimaldo, apresentava o equilíbrio perfeito entre a manobra ofensiva e a recuperação defensiva. Isso fez com que muito do jogo vermelho e branco passasse pelo lateral espanhol, algo que agora não é possível. O seu substituto direto, Ristic, que se assemelhava bastante ao colega de posição, saiu também e com isto o Benfica perdeu os hábitos e as rotinas que havia conquistado até então naquele corredor.
No jogo de ontem, percebeu-se claramente a falta de confiança na lateral esquerda. Na primeira parte, apenas 14% dos ataques surgiram desse lado. Já no segundo tempo, o problema passou pela dificuldade defensiva no mesmo corredor. Jurasek, que entrou para o lugar de Bernat, perdeu a posse de bola várias vezes seguidas e permitiu que o ataque casapiano explorasse de forma regular as suas costas e a profundidade, tendo o golo do empate, surgido exatamente de uma situação desse tipo.
Agora, neste que é o segundo período de crise desde que Roger Schmidt está ao leme dos encarnados, resta saber como é que o técnico alemão e a equipa vão corresponder aos recentes resultados. É preciso ter em atenção que uma resposta imediata será sempre a mais ambicionada, mas nem sempre é a mais realista."

Faça-nos sonhar novamente


"Este fim de semana ganhou visibilidade nas redes sociais o vídeo de uma adepta do Benfica a reagir furiosamente ao empate concedido em casa contra o Casa Pia. A senhora, apenas mais uma Benfiquista anónima entre os quase cinquenta e oito mil que se deslocaram à Luz no sábado, é abordada por um repórter e depressa se lança num monólogo em que manifesta o seu descontentamento com tudo o que acabou de ver. Já todos vimos isto muitas vezes, mas, se forem como eu, desejam que a ingenuidade recaia num adepto do Sporting ou do FC Porto furioso com um resultado menos bom. Aquele momento é um dos lugares comuns do futebol, uma armadilha bastante previsível.
O repórter está no meio dos adeptos, mas é como se fosse um tripé, ou um agente camuflado. Suspeito que naquele momento o adepto, inebriado com a má exibição da sua equipa, vê apenas um microfone, reconhece o logotipo de um canal de televisão, pensa para consigo mesmo que o país precisa de saber a verdade, toda a verdade e nada mais do que a verdade, pergunta a cerca de zero pessoas à sua volta se é mesmo boa ideia aproximar-se daquele microfone, e é então que assume, ali e naquele exato momento, que deve verbalizar tudo o que sente para o máximo número de pessoas. Neste caso, como quase sempre acontece, o resultado foi um comício ruidoso que evidenciou uma série de ideias pouco organizadas e alguns impropérios escusados, por entre vários sentimentos legítimos. Tudo somado, o órgão de comunicação social ganhou um conteúdo muito partilhável entre adeptos de todas as cores clubísticas, e especialmente popular entre os adeptos do Benfica.
Horas depois de este vídeo surgir nas redes e inundar o meu WhatsApp, comentava com um amigo que este espectáculo não é bom para o Benfica e apenas expõe o clube, exacerba as suas fragilidades. A resposta não é fácil de desarmar. À falta de melhor oralidade, explicava este meu amigo, aquela adepta manifestou o que muitos de nós estão a sentir, aquela sensação de algo atravessado na garganta: as coisas não estão bem. E talvez aquela manifestação menos polida, de alguém que não preparou tudo o que ia dizer mas sabia exatamente o que estava a sentir, contenha uma verdade inegável. Há uma impaciência no ar, e a proverbial espera pelo próximo jogo que deveria esclarecer este equívoco e iluminar o caminho tem saído frustrada.
A cada jogo menos bom, as certezas acumulam-se acerca do desempenho da equipa. Se há uma semana defendi que a necessária fase de adaptação tinha chegado ao fim, o que dizer então dos resultados e, ainda mais importante, das exibições que se sucederam?
Há muito tempo que o Benfica parece ser uma equipa que os adversários já toparam e conhecem a léguas. Lamentavelmente, a única pessoa para quem isso não parece ser cristalino é Roger Schmidt, que continua a fazer pouco para introduzir novidade ou surpresa na abordagem aos jogos. Sejamos claros: não obstante as lesões, inadaptações e alguns já óbvios erros de casting, o plantel do Benfica continua a ter ingredientes mais do que suficientes para que se possa criar outro equilíbrio coletivo, nomeadamente através de um sistema de jogo que proteja mais a equipa nas transições defensivas. Mas não é só isso: o plantel do Benfica tem também opções suficientes para que se possa criar alguma surpresa nas dinâmicas ofensivas — de preferência surpresas que não envolvam o Aursnes numa nova posição em campo. Dessa surpresa penso que já estamos todos algo cansados.
Não resolve tudo, mas é um começo. Quando tanta coisa parece falhar nesta equipa, as palavras ajudam. Permitem compreender o que alguém pensa, porque é que fez o que fez, o que se está a passar, para onde quer ir, e se a vontade continua lá. Se a isso juntarmos o contexto — no caso, uma capacidade previamente demonstrada para comunicar com os adeptos — é fácil compreender porque é que hoje as palavras de Roger Schmidt são mais sinónimo de preocupação do que de inspiração. Admito que parte desta leitura seja intuição minha, mas não vejo em Roger Schmidt um treinador com a fome da época passada, e também não vejo os jogadores com esse apetite. Partilho um exemplo que me parece paradigmático. Sempre que assisto a uma fase de maior permissividade ou entorpecimento da equipa, lembro-me do sexto golo em Israel na época passada. Foi um dos melhores momentos do Benfica nos últimos anos, e um dos raros momentos de um jogo do Benfica em que me lembro de observar uma equipa que parecia querer mais o golo seguinte do que os próprios adeptos. Foi uma sensação estranha e entusiasmante. Queremos sempre que os que vão a jogo sofram como nós, mas é difícil ver isso refletido em cada ação da equipa. Aquela equipa sabia que tinha o jogo mais do que ganho e nem por isso deixou de acelerar, como se todos estivessem sob o efeito do mesmo princípio ativo e inebriante. Sei que muita coisa mudou desde então, mas apetece-me perguntar: onde anda esse sentimento hoje? E até que ponto somos capazes de voltar a esse lugar mental, físico e tático em que muitos destes jogadores já estiveram?
Compreendo que Roger Schmidt seja alguém que prefere basear-se na realidade e nos factos, comunicando apenas aquilo que vê, por muito fria que seja a leitura (ou deselegante para alguns jogadores, já agora). Eu percebo e não peço necessariamente a Schmidt que me tente enganar quando vai à sala de imprensa. Ele é o que é. E talvez o tempo da conversa já tenha terminado. Não tendo nada de particularmente inspirador para dizer nesses momentos, então é absolutamente fundamental, e cada vez mais urgente, que o futebol da equipa volte a falar por ele e nos faça sonhar novamente.
Chegou a hora de Roger Schmidt mostrar que a nossa história em comum ainda vai a tempo de um final feliz."

O problema é Schmidt


"Na mesma semana, sofrer a terceira derrota na Liga dos Campeões e empatar com o Casa Pia na Luz, depois de promessas de mudança por parte de Roger Schmidt, enervou associados e simples adeptos, suscitou reações de desagrado e convidou a balbúrdia a subir ao palco.
Na época de estreia do treinador alemão, o Benfica foi campeão nacional e chegou aos quartos de final da Liga dos Campeões. Na presente temporada, conquistou a Supertaça, depois de, a 31 de março último, ter sido anunciada a prorrogação do seu contrato, com validade até 2026. Na altura, nenhuma voz discordante se ouviu, pelo contrário, notícias avulsas que davam conta de vários interessados nos serviços de Schmidt, inclusive a Federação alemã, terão pressionado Rui Costa a estender a ligação contratual com substancial aumento salarial.
Provavelmente, muitos dos que se insinuam junto da área presidencial e aplaudiram a decisão tomada, estarão agora na primeira linha de contestação, porque é mesmo assim, pensam e agem somente em função dos resultados.
Rui Costa não vai cair nesse erro e foi com entusiasmo que a massa adepta, principalmente a mais antiga, testemunha dos tempo gloriosos, o ouviu afirmar que não alimentar o sonho da Champions, «num clube desta dimensão e grandeza», seria uma estupidez.
É este pensamento de infinda ambição que ele pretende ressuscitar. Podem troçar os adversários com os fracassos da águia, o que é normal em ambiente de tacanhas rivalidades, mas o desafio está lançado. O Benfica tem de recuperar o seu estatuto de grande europeu, de fortalecer a sua independência, de seguir pelo caminho por si definido e de não se deixar tolher por abalos circunstanciais, tão frequentes em futebol, como o que se lhe depara, em que Schmidt passou a ser o problema.
Não conheço o medicamento para tratar as debilidades da águia, mas sei que precisa de apoio urgente ao nível de mudanças estruturais, para que «o Benfica volte a ser uma equipa, o que na realidade não é», como escreveu Vítor Serpa, no seu editorial de ontem, em A BOLA. O treinador alemão está de acordo e reconhece que é preciso jogar com mais intensidade e com «uma grande ligação entre os jogadores». Então, por que misteriosa razão isso não acontece, quando foi com base nessa solidez coletiva que residiu o segredo do sucesso na última época?
Dizer que perdeu jogadores importantes e que os que chegaram, também importantes, segundo Schmidt, ainda não estão ao nível que podem ter, nem estão enquadrados do ponto de vista tático, é uma desculpa de mau pagador porque, que se saiba, foi ele quem os escolheu, e se não foi pelo menos deu a sua concordância.
O que se sabe é que o clube foi generoso a pagar para tão fraco retorno, até agora. Preencher a lateral esquerda com dois reforços, um muito verde e outro a cair de maduro será responsabilidade de quem? E a falta de um substituto para Bah? Aursnes resolve. E resolve bem? Saiu Gonçalo Ramos, um bom negócio, mas os que estavam, mais o que chegou, não dão garantias porquê? De repente, emergiu a ideia de o Benfica ter ficado sem equipa, quando não é verdade, pelo contrário.
Perdeu Enzo Fernández, o grande comandante, e, até ver, Kokçu não passa de uma imitação barata do argentino. Eis a causa do colapso, que é preciso resolver, com recurso a outro esquema tático, porque este que Schmidt desenhou está fora de prazo. No entanto, para não dar o braço a torcer, foi astuto em inventar um caso alternativo e desviar o foco do essencial. Sacrificou Florentino com o argumento de que esta época está a ser diferente porque tem «outras opções nesta posição», sem especificar se são melhores opções. Imagino a tensão do jovem quando entrou em campo para defrontar o Casa Pia depois do atestado de desconfiança que recebeu do treinador, injustamente.
Diogo Luís, no seu espaço de opinião deste domingo, também em A BOLA, aludiu a algumas declarações de Schmidt «no mínimo estranhas», e deu como exemplo aquela em que referiu ser difícil «fazer melhor do que no último ano».
Não estou de acordo. Quem disse o que disse quando chegou ao aeroporto de Lisboa, que quem ama o futebol, ama o Benfica, prova de que preza o valor da palavra. Faz declarações que podem parecer estranhas, mas não são. Schmidt domina a técnica de comunicação. Sempre no mesmo registo, sem se expor e confortável pelo facto de ter dificuldade em expressar-se em português. Ele avisou quando chegou, prometeu fazer um esforço e nós continuamos à espera, sentados…
Rui Costa quer o melhor para o clube a que preside e a nação benfiquista acredita nele. Está preocupado, mas não tem de desculpar-se por a equipa jogar mal, nem de dar conversa às minorias organizadas que vegetam nas redes sociais e se julgam com importância.
Roger Schmidt está a desenvolver o seu trabalho com pouco brilho, mas com saldo positivo. A Liga dos Campeões já se foi, mas há ainda o desvio pela Liga Europa. A nível interno, ganhou a Supertaça e mantém intactos os restantes objetivos desde que não insista em impor um desenho tático que é um tormento para os seus jogadores e um rebuçado para os opositores."

Fernando Guerra, in A Bola

VAR, um processo em movimento


"O protocolo do VAR vai sofrer alterações, necessárias, mas ainda assim insuficientes

A introdução da tecnologia na arbitragem do futebol é um processo recente, que continua a carecer de aperfeiçoamento, não só no que respeitas aos intérpretes diretos - quem se senta na cadeira do VAR - mas também às inovações técnicas que vão permitindo metas mais ambiciosas, e, sobretudo à definição clara daquilo que se quer para termos um jogo positivo, onde cada vez mais se erradiquem erros de arbitragem que podem comprometer a verdade desportiva.
Por estarmos perante um processo em constante movimento, o IFAB acabou de nomear uma Comissão que se debruçará sobre problemas concretos, sendo plausível que algumas inovações venham a ser aplicadas já no Campeonato da Europa de 2024. O IFAB (International Football Association Board), fundado em 1886 pelas Federações de futebol do Reino Unido, só permitiu a entrada da FIFA (fundada em 1904) a partir de 1913, e só em 1956 ficaram estabelecidas as regras, que ainda hoje vigoram, no que concerne às alterações das leis do jogo. Assim, Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte têm direito a um voto cada, cabendo à FIFA quatro votos; porém as propostas de mudanças nas regras do futebol só serão validadas se obtiverem um mínimo de seis dos oito votos existentes.
Ou seja, mesmo que a FIFA pretenda ir numa determinada direção, terá de contar sempre com o apoio de pelo menos duas federações britânicas. Foi neste contexto que foi dado o salto quântico (e para muitos surpreendente, atendendo ao conservadorismo histórico do IFAB) que foi a introdução do VAR, e é nestes mesmos termos que irão seguir-se, para já, ao que parece, alguns retoques. O que está em cima da mesa da Comissão agora formada passa pelas perdas de tempo dos guarda-redes - só podem ter a bola na mão durante seis segundos, mas os árbitros não têm sido rigorosos na aplicação dessa norma - e ainda pelo comportamento cívico dos intérpretes, dentro e fora do campo, que deverá ser escrutinado com maior severidade.
Nada a opor a estas alterações, que vão no bom sentido, mas que não deixam de saber a pouco. Outras questões, como a avaliação pelo VAR dos segundos cartões amarelos, ou acelerar-se o processo, inevitável, de criar um sistema de cronometragem eletrónica, seriam, creio, de maior utilidade para o que é pretendido para o tal futebol mais positivo e mais justo do futuro."

A (in)capacidade do futebol


"Ninguém terá dúvidas de que estes são tempos desafiantes para a maioria das pessoas. Essa verdade não termina nas fronteiras com Espanha: estende-se para lá delas, atingindo os quatro cantos do globo mas de forma nem sempre transversal. O surgimento da pandemia terá sido o momento que marcou o início visível dessas dificuldades, que o impacto de conflitos armados posteriores (primeiro na Ucrânia, depois no Médio Oriente) e algumas catástrofes naturais vieram apenas agravar.
A insegurança global cresceu e até o mercado imobiliário enlouqueceu, os ordenados não acompanham a insanidade dos preços e assim é difícil que muita gente de bem consiga manter vida digna. O futebol, atividade universal e escape perfeito para muitas dessas dores, não parece ter força para evitar as consequências desta fase tão conturbada.
Claro que the show must go on e o jogo, da formação aos profissionais, dos amadores aos veteranos, continua a ser um espetáculo fantástico, jogado e treinado por pessoas competentes e acompanhado, com entusiasmo e paixão, por muitos e bons seguidores. Mas é impossível que evite totalmente a influência perversa destes tempos.
Um dos maiores exemplos tem a ver com a forma como a indústria não consegue, como sempre tentou, vedar a influência da política ou religião nas suas fronteiras: são várias as equipas com conflitos históricos (como acontece com clubes deslocados das suas cidades ou com antagonismos ideológicos entre equipas do mesmo país) e muitos os jogadores de topo chamados à atenção ou até castigados por assumirem posição em relação a temas estruturantes. Neste caso, vale a pena perguntar: até que ponto pode o futebol impedir os seus principais ativos de exercerem o seu direito à opinião? Afastar, sancionar, punir alguém por defender algo em que acredita... será legítimo? Será justo?
Este futebol, o nosso, o do politicamente correto, o que caminha lado a lado com as tendências destes dias, é o mesmo que assiste impotente a sucessivas manifestações de racismo, xenofobia e extremismo, um pouco por todo o lado. É o mesmo que se mostra incapaz de combater eficazmente atos de violência em vários locais, inclusivamente em cidades onde se disputam grandes competições internacionais. É o mesmo que testemunha atos tresloucados que vitimam adeptos que queriam só apoiar a sua seleção num país estrangeiro. É também o mesmo que não consegue impedir meia dúzia de energúmenos de agredirem à pedrada equipa que estava junto ao estádio do adversário.
Não é tudo mau, pelo contrário, mas as conclusões parecem-me evidentes: por muita força, beleza e qualidade que tenha (e tem), a indústria do futebol jamais conseguirá afastar comportamentos, gestos e atitudes provocadas por fenómenos bem maiores do que ela. O futebol é mágico mas não faz milagres.
Eu que o diga, que há uns anos valentes arbitrei um jogo (que não chegou ao fim) entre Azerbaijão e Arménia (qualificação para o Europeu de sub-19). A partida foi interrompida devido à invasão de adeptos dos dois países, que trocaram graves agressões entre si. Agressões que se estenderam aos jogadores dos dois emblemas. Um jogo disputado em campo neutro (Chipre) e cujos efeitos prolongaram-se até ao hotel onde estávamos hospedados.
É certo que não há muito que se possa fazer para impedir algumas atrocidades e respetivas ações/reações, mas há sempre qualquer coisa para tentar. O melhor é continuarmos a insistir nas boas práticas, apelar à paz, ao desportivismo, e ensinar pelo exemplo: a conduta dos agentes desportivos tem que ser sempre um modelo de referência para o melhor que se pode esperar no desporto. Nunca o contrário.
Para bélico já chega o clima exterior."

João...

Objetivo...

Vale empurrar?!

Tudo normal!

Perspectivas... esverdeadas!

Mais uma vez... os beneficiados são sempre os mesmos!

Na última época, apanhou Amarelo de propósito para não jogar contra a sua equipa...

O costume...


"Até num jogo a feijões contra uma das filiais que lhes garante 6 pontos por época precisam de ser beneficiados. Um penálti por assinalar e um cartão vermelho por mostrar. E assim vão passeando, jogo após jogo, condicionando os árbitros a bel-prazer.
Hoje não há Dragão News. 🙃"

Benfica, urgência de ser equipa


"Alguns atacam, alguns defendem, mas nem todos jogam. É isso que Schmidt terá de resolver

Em nove jogos para o campeonato, o Benfica perdeu um, no Bessa, e empatou outro, em casa, com o Casa Pia. Marcou mais de dois golos por jogo e sofreu menos de um. Não é, propriamente, um desastre. Portanto, o que pode justificar o sentimento geral no povo benquista de que a equipa está em sério risco de não cumprir nenhum dos objectivos principais para esta época, apesar de já ter vencido o único título até agora disputado: a suportada?
Admito que para Roger Schmidt a questão seja despropositada e desproporcionada. É um treinador pragmático que tem dificuldades conhecidas na explicação filosófica e na contextualização dos problemas. Para ele, tudo é preto ou branco. O Benfica não marca golos que cheguem para ganhar os jogos porque ainda procura «o homem certo para o ataque» e porque a equipa tem de trabalhar melhor para finalizar com mais eficácia. Porém, não são essas as questões que os observadores mais atentos querem colocar.
Há um contexto global que indica este Benfica como uma equipa a anos luz de distância do Benfica da época passada. No nível exibicional, a diferença é da escuridão das noites de inverno para a luminosidade dos dias de verão. Ao nível dos resultados, a questão é ainda mais evidente se considerarmos - e não vejo como não considerar - o assinalável sucesso da época europeia do ano passado e o estrondoso fracasso que tem marcado esta época, de uma forma, aliás, traumatizante. Assim, quando os benfiquistas acenam com lenços brancos das bancadas preenchidas com quase sessenta mil adeptos em estado de apreensão coletiva, não significa que estejam a pedir a cabeça do treinador por ter uma derrota e um empate no campeonato, continuando, aliás, na linha da frente da classificação.
Os adeptos são algo irracionais, mas não tanto. Significa, sim, que na linha do que o Benfica tem produzido internacionalmente é óbvio entender-se que, sem mudanças significativas, não haverá Benfica que chegue para repetir o título da época passada. E de que mudanças falamos. De jogadores, como já justificou Schmidt? Não. As mudanças urgentes são estruturais e implicam, muito simplesmente, que o Benfica volte a ser uma equipa, o que na realidade não é. Há alguns que atacam, alguns que defendem, mas nem todos jogam."

Sobre o custo-benefício do ‘nosso’ Mundial-30 e a sensação de ingratidão


"Ana Catarina Mendes, ministra que tutela o Desporto, quando questionada no parlamento, na última semana, sobre as perspetivas custo/benefício da co-organização do campeonato do Mundo de 2030, manteve a sobriedade e o recato, e não quis alongar-se demasiado sobre a matéria, por prudência, atendendo a que faltam ainda seis anos e sete meses para o kick off, no estádio Centenário em Montevideu, palco de dez jogos, um século antes, do primeiro Mundial da história. Porém, a governante deixou duas certezas: a primeira de que não será preciso construir novos estádios; a segunda de que o evento será financeira e infraestruralmente benéfico para Portugal. Ao contrário do que sucede com Espanha, que não organiza um grande evento de futebol desde 1982, ou de Marrocos, que nunca albergou um competição planetária, o nosso País foi sede do Euro-2004 e, do ponto de vista da edificação de estádios, está bem servido.
E, por mais que se aceite que era possível ter feito o Europeu com menos estádios (se o tivéssemos sugerido, a organização teria sido entregue a Espanha, porque o maior trunfo argumentativo da candidatura portuguesa foi precisamente a renovação do parque desportivo), e ainda que em muitos casos houve uma megalomania que acabou em despesismo sem retorno (em vários estádios, nomeadamente Aveiro, Leiria, Coimbra e Algarve, era possível ter criado bancadas provisórias, como fez agora o Catar, evitando o sobredimensionamento que se tornou, ao longo das últimas duas décadas, evidente), a verdade é que organizar o Campeonato da Europa de 2004, seis anos depois da Expo-98, rasgou um País novo, mais aberto ao Mundo, e com resultados, intangíveis à altura mas que agora são mensuráveis, no boom turístico entretanto espoletado.

Custos razoáveis que são investimento
Co-organizar o Mundial de 2030, onde deveremos albergar entre 15 e 18 jogos nos estádios da Luz, Alvalade e Dragão, terá custos razoáveis, derivados, sobretudo, de novas infraestruturas para o País, exigidas pela FIFA, e constantes do caderno de encargos assumido pelo Governo, nomeadamente ao nível da ferrovia e demais transportes públicos, por estrada ou por ar, da capacidade hoteleira e da fiabilidade do sistema de saúde.
Ao contrário de Marrocos, que se prepara para gastar 500 milhões de euros num só estádio, em Casablanca e que irá desenvolver outros projetos, em várias cidades, ou de Espanha, que entretanto já viu Real Madrid, Atlético de Madrid, Athletic Bilbao e agora Barcelona com novos ou remodelados estádios, mas vai investir noutras localizações, Portugal deverá centrar esforços num tipo de modernização que aproveitará a todos, sendo o Mundial apenas um pretexto para as coisas serem feitas em tempo útil (e sabe-se como, sem prazos, Santa Engrácia continuará a andar por aí, como aconteceu durante décadas com o Alqueva, ou sucede, quase desde o tempo em que Gago Coutinho e Sacadura Cabral atravessaram o Atlântico Sul, com o novo aeroporto de Lisboa).
Mais uma nota, que é relevante: haverá uma obrigatoriedade de proporcionar condições de treino às seleções que por cá vão atuar. Que já estão feitas, e são de nível mundial, em Alcochete, Seixal, Olival ou Braga, além de estádios que podem ser incorporados neste esforço, e que acarretarão despesas irrelevantes. Aliás, optar por não rentabilizar, neste contexto, as infraestruturas desportivas existentes, seria um ato, no mínimo, de gestão danosa…
Mas, apesar da prudência de Ana Catarina Mendes perante o parlamento, será possível fazer, desde já, contas ao Mundial português de 2030? Tentemos, socorrendo-nos dos números que têm sido avançados em Espanha, e procurando adaptar a realidade deles à nossa, numa escala de um para quatro, ou seja, dividimos por quatro o que nuestros hermanos projetam para o seu próprio país.

Prever Portugal através da Espanha
Esperam os espanhóis gastar (à data de hoje, e a verdade é que estas realizações acabam sempre inflacionadas, por cá e nos outros países…) 1430 milhões de euros com o Mundial. Digamos, então, que Portugal despenderá de 350 milhões para cumprir a sua parte (embora a ferrovia espanhola seja boa e a nossa não, o que nos acarretará maior investimento, e, por outro lado, que os nossos vizinhos tenham de gastar mais em estádios do que nós).
E que impacto positivo antecipa Espanha? Apenas dez mil milhões de euros, entre alojamento e gastos dos turistas do futebol. Seguindo a mesma lógica, podemos estar a falar de 2,5 mil milhões para Portugal que, segundo os números espanhóis, terá um acréscimo de 26 mil novos empregos e um aumento do PIB na ordem dos mil milhões.
Mas, e aqui voltamos à discussão de 1998 e de 2004, onde mentes de vistas curtas fizeram contas de merceeiro (com o devido respeito para a classe), não nos podemos esquecer de acrescentar os lucros intangíveis, provenientes da visibilidade acrescida de Portugal a nível planetário, e da importância que terá no futuro, em todas as áreas.
Não é por acaso que, quando há um grande evento, os candidatos se multiplicam. É que cada vez, especialmente a partir dos Jogos Olímpicos de Los Angeles-84 e, dez anos depois, do Mundial de futebol realizado nos Estados Unidos, estes eventos passaram a ser, em boa parte por causa dos direitos televisivos, que hoje em dia transcendem em muito as plataformas tradicionais, mas também devido a uma mobilidade turística cada vez maior, fruto de fenómenos como as companhias low cost ou os Airbnb, uma árvore das patacas que todos querem abanar.
Faltará falar da importância que Fernando Gomes e a sua equipa — e de Tiago Craveiro, que continua a ser inestimável mais-valia — tiveram na negociação política de um processo que chegou a ter a Ucrânia como partner, e acabou por dar xeque-mate à concorrência com a inclusão (justificada histórica e geograficamente) de Marrocos. Não é o futebol português, ou os adeptos de futebol, que lhes devem estar gratos, é o País no seu todo, que volta a ter oportunidade para dar um salto quântico no crescimento.

Será que o Estado podia fazer melhor?
E é aqui que fica na boca um travo amargo a ingratidão do Estado face ao futebol, que é traduzido numa carga fiscal redutora, que nos deixa em desvantagem concorrencial com os nossos pares externos. Devia ser mais do que tempo para o Governo (e já não será neste Orçamento de Estado para 2024) olhar menos para o politicamente correto, ou para o que poderá sair dos residentes nalgumas capelinhas, que vivem e falam em circuito fechado, sem o impacto nacional que muitas vezes lhes é indevidamente creditado, e fazer justiça fiscal ao futebol, que, apesar de culpas próprias e comportamentos censuráveis e lamentáveis (e o futebol, nesse particular, será pior que a banca, a política ou a construção civil, ou, ao invés, apresenta os mesmos defeitos e virtudes da restante sociedade?), serve para umas coisas e não serve para outras…

Direito a um pouco de especulação
Como estará o futebol português em 2030? Terá acontecido algum milagre suscetível de parar a queda dos clubes nacionais no ranking da UEFA? Uma coisa pode ser dada como garantida, atendendo à forma como a formação é cuidada no nosso País: nos próximos anos, até ao Mundial, vão emergir novos talentos, que irão disputar um lugar no onze luso. Porém, se nos quisermos manter no âmbito dos futebolistas que já conhecemos, seria possível antecipar uma equipa assim (entre parêntesis a idade em 2030), em 4x3x3: Diogo Costa (30); Dalot (31), António Silva (26), Gonçalo Inácio (28) e Nuno Mendes (28); Florentino Luís (30), Daniel Bragança (31) e João Neves (25); João Félix (30), Gonçalo Ramos (28) e Rafael Leão (30).
E aos novos, que não antecipamos quem possa entretanto dar o salto, embora seja certo e seguro que muitos o farão, ainda podemos acrescentar jogadores quem em 2030 serão mais veteranos, mas nada que se compare com Pepe ou CR7: Rúben Dias (33), Bruno Fernandes (36), Bernardo Silva (35), João Cancelo (36), Diogo Jota (33), Pedro Neto (30) ou José Sá (37).
O futuro é já ali, e 2030 é um bom ano para agarrá-lo…"

O que pode mudar nas leis de jogo do futebol em 2024/25


"O International Board (IFAB), conhecido como o guardião das leis de jogo no futebol mundial, voltou a reunir na passada quinta-feira.
Desta vez o seu painel de aconselhamento técnico (composto maioritariamente por individualidades com conhecimentos técnicos apurados, como ex-árbitros e ex-jogadores) debruçaram-se sobre possíveis melhorias em relação a vários questões sensíveis.
Três ou quatro temas deverão merecer atenção particular na reunião geral do próximo mês de março, altura em que geralmente são aprovadas as alterações às leis para a época seguinte.
A questão do tempo útil voltou a estar em cima da mesa. As perdas de tempo deliberadas e as táticas antidesportivas geralmente utilizadas para quebrar o ritmo de jogo foram discutidas ao pormenor, por continuarem a ser um problema visível para todos.
É entendimento daquele grupo que devem ser encontradas soluções mais eficazes para tentar erradicar com esses expedientes de vez. Entre as medidas que podem ser equacionadas, estão a aplicação mais rigorosa da regra dos "seis segundos" (relativa à posse de bola dos guarda-redes), as ações a tomar em relação a atrasos ostensivos nos reinícios de jogo e ainda a gestão mais eficaz das lesões (nomeadamente na sua avaliação, entrada das equipas médicas/macas e transporte de jogadores lesionados para o exterior do terreno).
É provável que existam novidades nessa matéria para 2024/25.
Além disso, voltou-se a falar dos comportamentos de técnicos e jogadores, sobretudo em relação às palavras, gestos e atitudes antidesportivas, que aumentaram exponencialmente um pouco por todo o lado.
O painel chegou à conclusão que é necessário travar a onda crescente de manifestações de intolerância em campo (que influenciam negativamente o ambiente cá fora), dando ao árbitro mais poder para intervir e agir, em modo "tolerância zero".
Em alguns casos, poderá por exemplo ser incrementada a medida de que apenas os capitães de equipa se poderão dirigir ao juiz do encontro, sendo os únicos interlocutores da equipa. É também expetável que surjam outras opções capazes de diminuir/combater esse fenómeno.
Mas a medida que mais suscitou interesse e que foi amplamente discutida foi a criação de uma comissão para analisar o atual "Protocolo VAR" e perceber para onde deve (ou não) evoluir.
Este é um tema que o mundo do futebol discute há algum tempo, sobretudo devido aos erros de análise que continuam a ser cometidos na era pós-tecnologia e à incoerência de algumas intervenções, ora mais assíduas, ora demasiado ligeiras.
Não me parece que seja fácil criar o equilíbrio perfeito entre o apoio que a ferramenta pode dar e a manutenção da dinâmica e emoção do jogo, mas pode ser possível evoluir para um patamar em que essa ajuda possa aumentar para cada um de nós a perceção de que a verdade desportiva está efetivamente a acontecer dentro das quatro linhas.
Por esta altura, há uma coisa que me parece evidente: a intervenção do VAR em lances de pura interpretação (os chamados lances subjetivos) dará sempre mais controvérsia do que paz ao jogo.
As entradas no limite (amarelo/vermelho) ou os lances cinzentos na área (penálti/não penálti) jamais terão decisões inatacáveis que agradem a gregos e troianos. Fará sentido o recurso à tecnologia quando ela não garante, para todos, o acerto inequívoco da decisão?
Já se cingida a lances puramente factuais e indiscutíveis, o número de paragens na partida seria inferior e a discussão sobre a justiça da decisão final deixaria de existir, face à sensação de justiça que seria reposta no imediato.
Não seria interessante pensarmos nisso?
Compreendo que seja frustrante haver um instrumento de qualidade que possa corrigir outros erros menores em campo, mas se o seu uso acarretar mais paragens e ruído do que entusiasmo e aceitação... valerá mesmo a pena?
Mas nestas coisas não há verdades absolutas e o melhor mesmo é esperarmos pelos próximos capítulos.
Certo, certo é que o futebol é um espectáculo fascinante e que merece ser tratado com muito cuidado por parte de todos os que têm a responsabilidade de o tornar num espetáculo verdadeiro, apelativo e excitante."