domingo, 8 de outubro de 2023

Vermelhão: 3 pontos...

Estoril 0 - 1 Benfica


Esta é uma daquelas vitórias, fundamentais nas caminhadas para os títulos: jogando pouco, mas vencendo, conquistando os 3 pontos!!! Com outros intervenientes, é a estrelinha, é a raça, é o acreditar... com o Benfica, é na maior parte das ocasiões, oportunidade, para criticar tudo e todos!!!

As jornadas pós-Champions, são sempre perigosas, ainda por cima quando se joga fora de casa... Neste caso a deslocação até foi curta, mas o cansaço das duas últimas partidas, muito intensas, o mau relvado, a ilusão que o jogo poderia ser 'fácil'... torna tudo muito complicado! E neste pós-Champions, ainda ficámos sem 3 titulares por lesão!!!

Quando vi o onze, também fiquei surpreendido, sendo que não sabia dos problemas físicos do Kokçu! Mas fazendo as 'contas', a rotação do Roger, foi basicamente 2 jogadores: Neves e Musa (sendo que o Croata, ainda não tem o estatuto de titular indiscutível)! Sendo que entre o Bernat e o Jurásek, também não se sabe que será o titular... Portanto, o Roger arriscou? Sim, mas na verdade o único titular indiscutível que ficou no banco, por opção, foi o Neves!!!

Em relação ao jogo, muita preocupação como permitimos o Estoril sair em transições rápidas, quase sempre da mesma forma, quase sempre pelo mesmo jogador! Com uma pressão alta do Benfica, muito soft... e com um enorme buraco entre a nossa linha defensiva e o meio-campo!!! Por exemplo, erros destes, com uma Real Sociedad, serão fatais!!!

Mas a partir do meio da primeira parte, começamos a criar perigo, e só a falta de pontaria do Tengstedt e as boas defesas do 'goleiro' do Estoril, evitaram os golos do Benfica... Ao intervalo, apesar de algumas boas saídas em contra-ataque do Estoril, quase sempre mal decididas quando se aproximavam da área do Benfica, o empate era injusto... o Benfica merecia estar na frente!

Na 2.ª parte, notou-se uma maior preocupação na marcação ao Guitane, mas o Amarelo do Chiquinho relativamente cedo, voltou a criar problemas... Mas na melhor oportunidade, dos canarinhos, o 'erro inicial' foi do Otamendi, que subiu desnecessariamente, e depois não foi capaz de 'matar' o contra-ataque... e a bola parou no poste!

O Benfica a partir daqui, o Benfica construiu várias oportunidades, não foi uma avalanche, mas fomos sempre nós a criar perigo, com mais ou menos jeito, com menor ou maior velocidade... E depois de alguns falhanços escandalosos, e com o guarda-redes adversário a 'engatar', admito que já tinha perdido a esperança, mas o Toni 'acreditou' e voltou a marcar na Amoreira!!! Vencer nos descontos, também conta...!!! Não é só para os outros!!!


Com nova assistência do Musa: começa a ser uma imagem de marca do Croata, este tipo de assistências de cabeça, para golos importantes do Benfica... E com o 'amuleto' Guedes em campo: a última vez que tinha jogado, também entrou na parte final, e poucos minutos depois, numa jogada 'parecida', com uma assistência do Musa, o Benfica marcou!!!!

O MVP foi para o Toni, pelo golo... mas também pela cabeçada, já depois da hora (os 8 minutos, foram estendidos mais 2, após o Benfica ter marcado!), 'marcou' outro golo, afastando uma bola de cabeça, que parecia ter o fundo das redes como destino!!!
O Neres para mim, foi o melhor jogador. Aquele que a espaços, conseguiu 'inventar' oportunidades... mesmo jogando fora da sua posição preferida! Não compreendo esta 'troca' de flanco com o João Mário, ambos rendem melhor, nas posições inversas!!!
Posso ser controverso, mas gostei do Tino, recuperou muitas bolas, e até fez bastantes passes para a 'frente'! Também falhou alguns passes, mas as opções também eram poucas... Fiquei também surpreendido na substituição, pois o Chiquinho com o Amarelo, era o candidato óbvio a sair...
Várias erros incomuns na 1.ª fase de construção, com o Toni e o Nico a tomarem algumas decisões estranhas... não foi só o Tino e o Chiquinho a falharem passes!
O Rafa, depois dum início de época, muito forte, parece-me estar a entrar em sub-rendimento... Mesmo assim, 'sacou' vários Amarelos, e com um critério mais acertado do árbitro, tinha 'sacado' ainda mais!!!
O Jurásek contra estas equipas mais defensivas, com linhas baixas, terá ganho a titularidade!!!
Aursnes, forçado, mas falta-lhe a velocidade para explorar o flanco...
O Tengstedt ficou marcado pelos falhanços, mas até esteve bem no aproveitamento da profundidade... Creio que a titularidade deveu-se exatamente a isso, o Roger queria um ponta-de-lança que atacasse as costas dos Centrais...
João Mário, mau jogo, num local errado!!!
Trubin, sem fazer uma grande defesa, viu a bola perto da área e da baliza, em várias ocasiões, e transmitiu sempre tranquilidade e segurança!

Decisão inacreditável, a não marcação do penalty sobre o Casper! Mais vergonhoso, só mesmo as diversas explicações que os avençados expert's já se apressaram a transmitir!!!
O Tengstedt é atropelado pelas costas, no momento que está a saltar à bola! Não interessa se o contacto maior é depois do cabeceamento, não interessa se o Tengstedt 'trava' ou muda de direção! O contato existe, é provocado pelo defesa, que nem sequer tenta cabecear a bola, e assim evitou o cabeceamento do Casper para a baliza! Penalty indiscutível...

Agora, paragem de 3 semanas do Campeonato!!! Antes vamos ter Taça de Portugal e Liga dos Campeões, antes da próxima jornada! Vamos ver se os lesionados recuperam a tempo para a Champions... e em forma! Para já, espero que o Bah e o Kokçu não sejam obrigados a fazer as viagens para as Seleções (o Di Maria já está confirmado), pois com a Real Sociedad vão fazer muita falta...!!!

5.ª Supertaça


A nossa equipa de Polo Aquático feminino, voltou a conquistar a Supertaça... com um claro 29-7 sobre o Cascais WP.

Incrível a 'limpeza' com que o Benfica tem conquistado Supertaças, em praticamente todas as modalidades em que participámos!

Sempre a pontuar...!!!

Benfica 110 - 70 Esgueira
29-15, 13-25, 38-10, 30-20

Mais uma vitória confortável, mesmo com um 2.º período muito mau...
Na ausência do Betinho, destaque para o Xico Mingas, que foi titular e voltou a jogar muito bem...

Vitória em Matosinhos...

Leixões 1 - 3 Benfica
25-18, 18-25, 23-25, 20-25

Depois da Supertaça, início do Campeonato, com uma vitória, com rotação, algo que irá acontecer durante toda a época...

Vitória, no campeonato...

Ouriense 0 - 3 Benfica


Nova partida, com a Ouriense, nova vitória, desta vez, com as 'mais' titulares!
Destaque para o regresso do Jéssica, após lesão...

Agora, temos a 1.ª mão do playoff de acesso à Champions, em Chipre, na Quarta-feira, às 14h.

Infelizmente, esperado...

Corruptos 37 - 33 Benfica
18-17

Resultado mais ou menos esperado... Com o regresso de alguns dos lesionados, ficámos com mais opções, e a 5 minutos do fim, o marcador estava num 32-21! Com todos os problemas que esta secção tem passado, e com as recentes exibições, até demos 'luta', vamos esperar que durante a época, as coisas melhorem... Continua a notar-se muito, a falta de um Pivot e do Hedberg...

Derrota...

Benfica 3 - 4 Estoril


Mais uma derrota, desta contra o líder, numa partida onde tivemos sempre a correr atrás do prejuízo... A perder por 0-2, nos descontos antes do intervalo, empatámos em duas bolas paradas! O Estoril adiantou-se novamente no início da 2.ª parte... O guarda-redes canarinho foi expulso, pouco depois voltámos a empatar, mas mesmo a jogar com mais um, acabámos por permitir o 3-4, em mais um contra-ataque!

A equipa continua ser muita ingênua, contra este tipo de adversários, que jogam no nosso erro....

Foco nas vitórias e conquistas


"A intensa atividade desportiva do Benfica hoje, em particular o desafio de futebol no Estoril, e o 10.º troféu nacional ganho na presente temporada (Supertaça de voleibol) são os destaques nesta edição da BNews.

1. Deslocação em busca dos três pontos
Relativamente à visita ao Estoril (hoje às 20h30), Roger Schmidt lembra: "É um jogo muito importante para nós, antes da paragem para os compromissos das seleções nacionais." E deixa uma garantia: "Estamos a olhar em frente e estamos prontos para o jogo."

2. Convocatórias internacionais
António Silva e João Neves (Portugal), Samuel Soares e Tomás Araújo (Portugal Sub-21) e Kökcü (Turquia) são os mais recentes elementos do plantel às ordens de Roger Schmidt chamados pelas seleções dos seus países. Já haviam sido chamados os seguintes jogadores: Trubin (Ucrânia), Otamendi e Di María (Argentina), Aursnes (Noruega), Bah (Dinamarca), Jurásek (Chéquia), Musa (Croácia) e Neres (Brasil).

3. 50 jogos de águia ao peito
Musa, em entrevista exclusiva às plataformas do Benfica, fala do seu percurso no Clube após completar meia centena de jogos oficiais.

4. 10.º troféu da temporada
O Benfica ganhou a Supertaça de voleibol pela 11.ª vez, ao bater a Fonte do Bastardo por 3-0. Trata-se do 10.º troféu (8.ª Supertaça), de âmbito nacional, conquistado pelo Benfica em 2023/24, vencendo todos os disputados no futebol e modalidades de pavilhão (masculinos e femininos).

5. Ganhar é a palavra de ordem
Neste fim de semana o Benfica tem a possibilidade de acrescentar mais troféus a um começo de época extraordinário neste domínio. Às 15h00, Benfica e Cascais WP disputam, em Felgueiras, a Supertaça de polo aquático no feminino. E, à mesma hora, a equipa feminina de hóquei em patins do Benfica enfrenta o CA Feira, em Tomar, nas meias-finais da Elite Cup.

6. Agenda muito preenchida
São vários os jogos do Benfica, além dos já mencionados, neste fim de semana, e destacamos os seguintes marcados para hoje: receção ao Esgueira em basquetebol (15h00); em futebol no feminino, deslocação ao Ouriense (15h00); estreia no Campeonato de voleibol no pavilhão do Leixões (17h00); clássico de andebol no Dragão (18h00); no futsal feminino, embate na Luz com o Santa Luzia (19h00).

7. Chão Sagrado: 20 anos do Estádio da Luz
Em mês do 20.º aniversário do Estádio da Luz, colaboradores, adeptos e antigos/atuais atletas do Clube partilham as suas memórias especiais. Ana Paula Godinho, responsável do departamento de protocolo e que há 34 anos serve o Clube, é a primeira entrevistada. Não perca!

8. Protagonista
Nuno Resende, treinador campeão nacional de hóquei em patins e que, na presente temporada, já ajudou à conquista da Supertaça e Elite Cup, é o protagonista da semana. Uma entrevista para ler no jornal O Benfica ou ver na BTV.

9. Sport Lisboa e Saudade
São já 80 anos ao serviço do Sport Lisboa e Benfica.

10. Parabéns à Casa Benfica Trancoso
A BTV esteve presente nas comemorações do 20.º aniversário desta embaixada do benfiquismo."

O árbitro não pode, a cada lance mais delicado, colocar o dedo no auricular, como que dizendo: “Calma, o VAR já me diz se acertei ou não”


"Independentemente do ruído constante, da histeria irracional, das cortinas de fumo atirados ao vento e da intolerância crescente que tantas vezes segue caminhos perigosos, a verdade é que a qualidade global das nossas arbitragens está longe, muito longe, de estar ao nível que se exige numa competição profissional de futebol.
Essa é a minha opinião e gostava muito de pensar que ela pode ajudar a uma reflexão profunda nesta matéria.
O argumento de que a arbitragem é um agente desportivo relevante não serve apenas para defendê-la de ataques maliciosos, nem para condenar aqueles que insistem em ser desonestos nas suas apreciações. Também serve para responsabilizá-la, para exigir dela mais e maior empenho, atenção e qualidade.
Não é fácil ser árbitro, sei bem disso. Arbitrar é porventura a função mais difícil de exercer em qualquer atividade desportiva.
Árbitros não têm adeptos, elogios ou aplausos. Não têm reconhecimento dos outros. Têm apenas dedos acusadores apontados na sua direção, à espera do erro (ou da perceção de erro) que prejudica uns ou beneficia outros.
E quando esse erro realmente acontece, quando ele é factual e óbvio, a forma como o seu autor é atacado é quase desumana.
Entramos aí noutro nível. No da impunidade grosseira que tem como grandes responsáveis não os terroristas de algibeira que atiram as granadas, mas aqueles que, tendo poder para os impedir, nada fazem.
Não é uma história nova. É assim desde sempre e não parece mudar nos tempos que aí vêm.
Mas os árbitros sabem que este é o futebol que temos. Os árbitros escolheram esta carreira, trabalharam muito para chegar ao mais alto nível e sabem que, com esse privilégio fantástico, vem um conjunto de exigências difíceis de gerir.
Num jogo que infelizmente tem tanto de emocional como de irracional, é importante que todos eles tenham arcaboiço mental e intelectual para lidar com momentos, atitudes e circunstâncias que dificilmente seriam toleradas em qualquer outra atividade.
E sem prejuízo de tudo o que podem (e devem) fazer contra quem atente contra a sua honra e bom-nome, a melhor resposta que darão sempre é em campo, oferecendo arbitragens empenhadas, focadas e competentes.
E voltamos ao início: os nossos árbitros estão a falhar aí.
Seja pela natural inexperiência dos mais novos ou pela visível acomodação de alguns dos mais velhos (notória em alguns casos), tem havido uma sucessão de erros nas duas ligas profissionais que só se justificam por desleixo, falta de concentração ou de estofo para lidar com a pressão.
Não há outro motivo.
Em sala, a ‘linha de intervenção’ dos vídeo árbitros está cada vez mais incoerente: enquanto uns mantêm a máxima de só atuarem perante erros claros e óbvios, outros intervêm em situações demasiado interpretativas, cuja essência do protocolo jamais pediria recomendação. Isso tem que ser melhorado com urgência.
Em campo, nota-se cada vez mais um certo encosto a esse paraquedas chamado VAR. Não se devia. A tecnologia complementa, não substitui.
O árbitro continua a ser dono e senhor da decisão, que deve assumir com personalidade e de cabeça bem levantada. O árbitro não pode ser alguém que, a cada lance mais delicado, coloca o dedo no auricular, como que dizendo a quem protesta: “ Calma, calma... o vídeo árbitro já me diz se acertei ou não... calma.”
De novo, mal.
Mas além dessa muleta, parece haver também menos presença em campo. Alguns árbitros parecem reféns da pressão e permitem que isso afete o seu foco. Outros simplesmente parecem estar a cumprir um horário de trabalho, sem aparecerem, sem se mostrarem, sem se afirmarem como donos do jogo.
É importante que percebam a enormíssima responsabilidade que carregam nos ombros: hoje em dia (e cada vez mais) um golo, um penálti ou um vermelho não são apenas decisões mecânicas para o histórico. São momentos fundamentais que podem definir promoções, carreiras e milhões.
É preciso que entendam bem que, com estatuto, retorno financeiro e projeção de carreira, vem a exigência. E acho sinceramente que, a espaços, aqui e ali, tem faltado isso a alguns agentes de arbitragem. Nestas coisas, a culpa nunca é de um nem de dois, obviamente: é de todos.
A ‘equipa da arbitragem’ é vasta, tem agentes dentro e fora do relvado e, tal como acontece com qualquer outra, também eles são co-responsáveis pelo que de bom e menos acontece, em termos de resultados e objetivos. É preciso que o percebam também.
O segredo é que não tem segredo nenhum: trabalhar muito melhor. Exigir muito mais. Ambicionar o impossível."

A chaga do futebol português


"O problema vai muito para além das derrotas, esta semana, de Benfica, FC Porto e Sporting

O brilhante triunfo do SC Braga em Berlim não foi suficiente para evitar que Portugal ficasse mais longe da França e dos Países Baixos no ranking da UEFA e que, pior ainda, visse a Bélgica ganhar-nos terreno. Continuamos em plano inclinado descendente, como acontece com um navio no momento do naufrágio, mas por cá a orquestra do Titanic continua a tocar como se nada se passasse de preocupante. Já se percebeu que ter três clubes na Champions é fantástico, mas também é na liga milionária que se torna mais difícil pontuar; um clube apenas na Liga Europa, é curto para as necessidades da paróquia; e a ausência de representantes na Liga Conferência leva a que os pontos de quatro sejam divididos por seis, o que nesta semana significou o retrocesso atrás descrito.
Há um ressurgimento dos clubes belgas (que agora já vemos como ameaça) na UEFA? Sem dúvida. E porquê? Porque na Bélgica reformularam os quadros competitivos, revitalizaram o campeonato e devolveram importância à classe média. Será assim tão difícil perceber que estamos a caminhar para o precipício e que a venda centralizada dos direitos televisivos, prevista para 2028, já virá demasiado tarde?
Será assim tão difícil perceber que sem classe média não há futuro, e a UEFA, quando decidiu fundar a Liga Conferência, passou à prática uma mensagem que há muito andava a repetir? Será assim tão difícil perceber que esta I Liga com 18 clubes, com um fosso sem fundo entre o quarto e o quinto, está ultrapassada, é anacrónica e tem o efeito de uns sapatos de cimento calçados em quem tenta nadar contra a maré?
É paradoxal que o mesmo País que tem uma das melhores seleções do mundo, que deu um salto gigantesco no futebol feminino, que mostra uma capacidade de pôr de pé grandes eventos que levou a FIFA a atribuir-lhe a co-organização do Mundial de 2030, que criou um modelo de formação tão eficaz que tem sido copiado em todo o lado, que montou uma escola de treinadores respeitada e requisitada nas quatro partidas da Terra, que esteve na primeira linha na inovação do VAR, bloqueie quando chega a altura de mexer com interesses instalados, de reformar para além da cosmética, de encarar de frente os problemas, identificá-los e tomar decisões. Esta não é a saga do futebol português, mas sim a chaga do futebol português."

O diferente que é o râguebi


"A comparação de modalidades desportivas é um beco onde gostamos de nos engalfinhar, louvamos a qualidade daquele, em desprimor da faceta que desprezamos daqueloutro, o exercício é frequente se bem que inconsequente por não haver saída conclusiva, mas colocamos a touca e mergulhamos de cabeça nessa encruzilhada da qual nos condenamos a não sair pois não há conclusão possível além de constatar que tanto são as pessoas que fazem a dita modalidade, como o que praticam também as faz a elas, até um certo ponto. Ninguém sabe ao certo por onde andará o meio que guarda a virtude, mas, por estes dias, colocar o futebol diante do râguebi tem sido uma prática repetida.
No domingo, um cidadão francês viu um português a exaltar-se com gestos bruscos e impropérios audíveis e saiu do seu lugar no estádio Geoffroy-Guichard para lhe perguntar, em jeito de lembrete, se ele era adepto de futebol ou de râguebi. O jogo em Saint-Étienne, terceiro de Portugal no Mundial da modalidade comummente tida como cavalheiresca nos praticantes apesar de criada para vândalos, teve Portugal a superar a Austrália em vários períodos, apesar de ter perdido e a interpelação do incógnito indivíduo a quem fervia um pouco para lá do que é torcer no controlo das suas estribeiras veio, precisamente, do lugar clichezado onde contrapomos distintas formas de praticar desporto.
É engraçado constatar que o mais usual é apropriarmo-nos de cada modalidade como sendo ‘o’ desporto. Não dizemos “a minha modalidade preferida”, ouvimos muito mais “o meu desporto favorito”. É sintomático do nosso tribalismo enquanto humanos e do quão sedutora é a sensação de pertença a algo de que gostamos e de que muita gente gosta de mesma ou parecida forma. Depois é que vem a teima em comparar, porque do outro lado da analogia aos gentlemen está a segunda parte da lenga-lenga que cita o futebol como algo criado senhorialmente e jogado por feios, porcos e maus. Depois, para lá desse nevoeiro dos lugares-comuns, é possível constatar que não são necessariamente pessoas diferentes a praticar modalidades diferentes, mas as mesmas pessoas a mudarem consoante o meio onde estão.
Se assim o é, então por que o fazem?
Os árbitros no râguebi não são alquimistas de uma qualquer poção bebida pelos jogadores que os impeça de gritar, insultar ou barafustar contra decisões tomadas pelo dono do apito. Ninguém aponta uma arma para eles, matulões apetrechados de tanto músculo, cordialmente se cumprimentarem no final e os vencedores aplaudirem os vencidos. Tão pouco alguém terá obrigado os vários jogadores portugueses que junto ao relvado varreram as bancadas do estádio após o jogo a cumprimentarem adeptos e tirarem fotografias. Muito menos há uma diretiva decretada para adeptos de países ou equipas contrárias se misturarem amigavelmente, como as dezenas de portugueses nos arrabaldes do Geoffroy-Guichard que tocavam trombone, cantavam e se divertiam em comunhão com australianos depois de serem derrotados no campo.
Cada prática tem os seus hábitos e a sua maneira de esculpir pessoas mediante os valores que apregoa, no râguebi impera uma cultura de respeito na qual a autoridade é acatada apesar de desacordos ou erros, o que é diferente de uma decisão ser aceite consoante o lado para onde a virmos soprar. O que o árbitro diz e explica é ouvido por toda a gente num estádio do Mundial de râguebi (ou da ‘Champions’ da modalidade, do torneio das Seis Nações ou do Super Rugby, por exemplo) porque essa cultura existe de dentro para fora e de cima até baixo, até eu, que mal o joguei e joguei-o mal na adolescência sem mordomias tecnológicas em Portugal, que faz maravilhas com o seu contexto amador, vivi como isso está entranhado na oval.
E em Saint-Étienne vi como o que seria belo em qualquer modalidade é embelezado ainda mais pelo râguebi, onde a seleção com metade do seu 15 feito de jogadores amadores, vinda de um país nem com cinco mil federados, marcou dois ensaios (e outros dois anulados) à nação com dois Campeonatos do Mundo ganhos, entre as quais se vaticinavam diferenças maiores do que o 34-14 sugere. O que distinguiu Portugal da Austrália foram mais erros em tomadas de decisões em momentos estratégicos do que a carência de meios e o, por vezes, êxtase nas bancadas onde diferentes cores de camisolas se misturam sem celeumas aperaltou ainda mais o evento.
O râguebi não é imune a defeitos, tem bastantes, todas as modalidades os têm, mas conviver tão bem com a diferença no que toca às suas formas mais basais - a cordialidade entre jogadores e árbitros, o poder escutar-se as razões atrás de uma decisão, o facto de ‘armários’ humanos tanto se respeitarem no campo onde reside tanta força bruta - distingue a modalidade nos pontos que muitas outras chocam. Não imagino, em Portugal, adeptos de um clube grande derrotado na casa do rival a divertirem-se à porta do recinto, muito menos que os adeptos da equipa vitoriosa levassem a festa a bem, nem que algo tão basilar com vender álcool no estádio e deixá-lo ser bebido nas bancadas fosse permitido, mas, ups, eis a tentação de comparar.
Mas, de entre todas as pessoas que vão a França apoiar a seleção nacional e outras equipas de países onde o râguebi não é a modalidade mais popular, será que se comportam no futebol com o mesmo respeito e contrição saudáveis que evidenciam durante um jogo de râguebi? Se assim não for, então quais são as razões? Onde está a diferença?"