"Com o campeonato na reta final, o título em aberto para três equipas e os quatro maiores emblemas bem distantes dos demais, vamos ao exercício de reparar na qualidade que a restante tabela oferece, que há ouro para lá das vitrinas mais vistosas e talento que, mesmo que discretamente, se afirma a cada semana nas restantes equipas, ainda que pouco se vá falar disso nas próximas semanas. Sigo, assim, por posições, numa espécie de equipa ideal, necessariamente subjetiva porque resultante de apreciação pessoal, abaixo do quarto lugar, entre eleitos e menções honrosas:
Guarda-redes - escolho Luiz Júnior, o promissor defensor das redes do Famalicão, poderoso e ágil, seguro de mãos e forte com os pés, um mini-Ederson que pode crescer muito ainda. A justiça obriga a referir também como Paulo Vítor marca a boa época do Chaves, Buntic a do Vizela, Arruabarrena a do Arouca e o avô Bracali a do Boavista;
Laterais direitos - Escolho Tiago Santos, um antigo extremo que agarrou o lugar no Estoril, tecnicamente forte, rápido também, melhor ainda com bola do que sem ela, pelo que pode crescer. Expectativa quanto à evolução Costinha, promissor mas irregular no Rio Ave, à retoma de Zé Carlos (o do Gil, embora o homónimo adaptado em Guimarães também tenha prometido) e à continuidade de um João Correia que desequilibra mas é atreito a lesões;
Centrais - os meus titulares seriam Tomás Araújo e João Basso, que provaram ser jogadores para emblemas com ambição superior a Gil e Arouca, já que ambos aportam o indispensável para isso: segurança com bola para construir, contundência inteligente para desarmar e uma velocidade de pernas que sustenta o controlo da profundidade defensiva. Gostei igualmente de Penetra (também competente como lateral), vejo sinais para confirmar em André Amaro e Bernardo Vital, e fico com a sensação de um Pedrão prejudicado pela época frouxa do Portimonense;
Laterais esquerdos - Escolho Bruno Onyemaechi, o excelente lateral do Boavista que também pode fazer de central pela esquerda. É robusto, mas ágil e rápido, eficaz de cabeça, com bom pé esquerdo e critério nos vários momentos do jogo. Também promete muito Leonardo Lelo, do Casa Pia, pela competência nos recém-completados 23 anos. Mateus Quarema é outros dos melhores no campeonato, tal como Bruno Langa, que cumpriu bem mais do que prometia. Kiki Afonso não promete mais, mas também nunca vacila, e é justo dizê-lo.
Médios defensivos - apesar das dúvidas, vou por Vítor Carvalho, do Gil Vicente, pela clarividência com que simplifica o jogo, seja no desarme ou no passe. A anunciada ida para Braga será a sequência certa num percurso ascensional. Gostei muito do que vi também em Dani Silva, apesar da irregularidade da utilização no Vitória, de Colombatto, que pode dar mais ainda, não duvido, e de como Raphael Guzzo foi capaz de fazer competentemente funções diversas no meio-campo do Vizela.
Médios centro - Fico com Guga, no ano da afirmação definitiva no Rio Ave: defende e ataca com idêntica qualidade e nunca se esconde em momentos difíceis. Vai subir para um nível acima, seja onde for, e bem merece. Na segunda metade de época explodiu Holsgrove no Paços de Ferreira, um esquerdino de técnica rara, visão de jogo assinalável e uma chegada a zonas de finalização para que não parecia talhado. Menção obrigatória para João Teixeira, o líder tático do Chaves, e para a importância de Tiago Silva no Vitória, de Samu no Vizela e Makouta no Boavista.
Médios ofensivos: na zona onde o jogo é perfumado há destaques obrigatórios, mas o maior talento deve mesmo ser Ivan Jaime, ainda que surja a partir da esquerda. Tem o toque de classe dos que podem chegar ao nível mais alto, no passe, no drible e na finalização. Depende dele, agora, e do contexto que encontrar, mas o próximo grande negócio em Famalicão está anunciado. Depois há Alan Ruiz, também claramente acima da média no Arouca, Fujimoto, mesmo se numa época menos exuberante em Barcelos, e as pinceladas geniais de João Mendes, que sempre melhoram o jogo do Chaves.
Avançados móveis/Extremos: Gaitán é ainda o maior talento, e garantiu até uma continuidade física que já não lhe parecia possível. Se o Paços ainda luta pela salvação, ter o mago da camisola 10 ajudou muito. Igualmente a nível muito alto têm estado Kiko Bondoso, do Vizela, que é claramente jogador para mais, Antony, a arma ofensiva mais forte do Arouca, Ivo Rodrigues, que carrega o jogo do Famalicão vezes sem conta e ainda Tiago Gouveia, apesar de prejudicado pelo escasso rendimento coletivo do Estoril após o Natal.
Pontas de lança – Fran Navarro é o mais talentoso e avança para o onze, pela criatividade em espaços curtos que define os melhores avançados, associada a uma perceção do espaço indispensável aos goleadores. Yusupha tem sido outro destaque, felino e potente, aprendeu finalmente que pode valer mais jogando perto da baliza, o que lhe multiplicou os golos de xadrez. André Silva é o melhor avançado de um Vitória com pouco poder de fogo, Butzke tem qualidade óbvia e só as lesões o impedem de ajudar mais o Paços, Osmajic seria jogador de equipa grande se fizesse golos com mais facilidade e Gabriel Silva é mesmo a única boa notícia do Santa Clara este ano."