domingo, 3 de dezembro de 2023

Um duche gelado de realidade


"Os números dão conta do declínio português no ‘ranking’ da UEFA. Quem faz o quê?

Pedro Proença, presidente da Liga Portugal, foi eleito presidente da Associação de Ligas Europeias, cargo prestigiante que confirma a imagem de competência associada ao ex-árbitro.
E quais são os propósitos da Associação de Ligas Europeias? Consultando o site desta entidade, lê-se: «A Associação de Ligas Europeias reúne 40 Ligas de futebol profissional, que representam mais de 1150 clubes em 34 países da Europa. Enquanto voz comum dos organizadores de competições a nível nacional, e das entidades patronais de clubes de futebol profissional a nível europeu, a Associação de Ligas Europeias procura melhorar e proteger o equilíbrio competitivo das competições de futebol profissional no futebol europeu. A Associação de Ligas Europeias acredita que é do interesse de todas as Ligas nacionais, de todas as associações nacionais e da grande maioria dos clubes europeus defender e fortalecer o equilíbrio competitivo do futebol para o bem do jogo, dos jogadores, dos adeptos e dos clubes.»
Estamos perante princípios orientadores bastante saudáveis, que apontam o equilíbrio como a via certa para o fortalecimento das competições. Ora, equilíbrio é o que falta à Liga portuguesa, onde quatro clubes dispõem de meios muito superiores aos restantes, onde está por fazer (e quando se fizer será tarde demais) a venda centralizada dos direitos televisivos, e onde existe uma competição profissional que não traduz a realidade do País, baseada em clubes a mais e numa fórmula competitiva ultrapassada.
Prova de tudo isto, que tem a ver com a falência completa da classe média do nosso futebol, é o facto de em três edições da Liga Conferência, importante para as contas do ranking da UEFA, Portugal nunca ter conseguido meter uma equipa que fosse na fase de grupos. As consequências, para quem estiver minimamente atento, são desastrosas: na corrente temporada, partimos na sétima posição do ranking (correspondente às últimas cinco épocas) e, apenas levando em conta os jogos disputados em 2023/2024, ocupamos o 14.º lugar, atrás de República Checa, Turquia, Grécia, Dinamarca, Noruega e Polónia, e pouco à frente de Israel, o 15.º.
Se Pedro Proença não convencer, dentro do espírito da organização internacional que passou a presidir, os clubes nacionais da necessidade urgente de mudança, no sentido do equilíbrio, o futebol português não abandonará o plano descendente em que se encontra e que teve como custo mais próximo a perda de pelo menos uma equipa na Liga dos Campeões de 2024/2025, a tal que vai acrescentar milhões aos milhões que a UEFA já paga.
Há clubes a mais na I Liga, o modelo competitivo é retrógrado e a distribuição das receitas televisivas permite diferenças de um para quinze, entre quem recebe menos e quem recebe mais. Depois, estão à espera de quê?"

José Manuel Delgado, in A Bola

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