domingo, 31 de dezembro de 2023

Paris 2024 a um passo.... e Brisbane 2032?


"Estamos a finalizar o ano de 2023, e é normalmente esta a altura do ano para fazer balanços, ajustar estratégias, traçar metas, novos objectivos, novas conquistas, novas ambições....mas será mesmo preciso que a cada ano se faça tudo de novo, ou apenas necessário reafirmar e reajustar algo que faz parte de um caminho pré estabelecido com tempo, preparação, ambição, pofissionalismo, método? Aprendi uma máxima na minha vida corportiva que para atingir os objectivos propostos temos que ter sempre expecativas altas, mas com o necessário sentido da realidade. Acima de tudo, aprendi que se não tentarmos alcançar esses objectivos, se não pusemos em prática a nossa ambição, se não adicionarmos esse importantissímo factor que é o risco, o risco inicial de fazer, o risco de irmos para além do que se julga aceitável, o risco de nos podermos transcender ou não, nunca iremos saber se era possível, se era realistico, demasiado ambicioso ou inatingível. Ficar na ignorância ou não arriscar fazer não é solução. E expõe-nos ao maior dos riscos, porque há sempre quem arrisque para ser primeiro e, então, seremos sempre ultrapassados.
Por isso mesmo planear, perspectivar e fazer aquilo em que os paises mais desenvolvidos são especialistas, criar as bases sólidas para todos os envolvidos no processo avançarem a uma só voz é fundamental. E em cima de todo este movimento colectivo e alinhado, a necessidade de associar um Propósito de natureza social, algo que está acima das nossas próprias circiunstâncias, enquanto pessoas e também enquanto organizações, porque o desporto é e será sempre um meio para aquilo que queremos de uma sociedade....mais culta, mais educada, mais inclusiva, mais solidária, com mais cultura desportiva....porque interessa ganhar mas bem, com ética e com valores!
E isto leva-me, mais uma vez, a pensar no plano estratégico para o desporto nacional.
Recentemente estive na Bélgica, país com 12 milhões de habitantes que desde a sua primeira participação na II Olímpiada da era moderna em Paris, em 1900, já ganharam 172 medalhas, das quais 47 de ouro.
A Bélgica é, actualmente, uma das nações mais desenvolvidas e industrializadas do mundo, com uma economia voltada para o setor terciário e com um PIB de mais de 500 biliões de Euros, mais do dobro de Portugal, e um PIB per capita que a coloca no 20º lugar mundial. Um país da nossa dimensão que, apesar de se lhe reconhecer idiossincrasias do ponto de vista da governação, três regiões, três línguas, com diferentes governanças, apesar disso, tem um sistema desportivo que prima pela racionalização de recursos (45 Milhões de euros para Paris 2024), alocação dos mesmos em função de objectivos bem definidos, e uma infraestrutura desportiva de excelência, vide casos com a Universidade de Lovain-la-Neuve, um local para estudo e prática do desporto de excelência.
Fiz uma visita de 3 dias a convite de uma entidade governamental Belga a ADEPS Admnistration de l’education physique et des sports), na região francófona, onde tive oportunidade de visitar a realidade desportiva do país e alguns casos práticos de sucesso na conciliação de carreiras duais no ensino secundário e superior em Bruxelas, Liége e Lovain-la-Neuve. O que pude verificar durante as visitas feitas em conjunto com a equipa das UAARE ( a centros de alto rendimento escolas e universidades em Bruxelas, Lovain-la-Neuve e Liége, é que o desporto Belga desempenha um papel proeminente na sociedade com cerca de 17.000 clubes desportivos e com aproximadamente 1,35 milhões de desportistas federados, cerca de 13% da população belga, quase 3 vezes mais praticantes que em Portugal. Só na região Francófona a Federação Wallonia Brussels tem 28 centros de alto rendimento para 24 modalidades, construídos em função das necessidades da região, da modalidade praticada e da escolha da mesma. Mas acima de tudo existe coordenação de uma entidade governamental, que alinha todos os players na mesma direcção, Paris 24, Los Angeles 28 e Brisbane 32.
E já que mais uma vez insisto na necessidade do plano estratégico, aponto as razões pelas quais é e deve ser essencial um plano estratégico para o nosso desporto nacional ou, simplesmente, planear com visão, havendo razões fundamentais pelas quais em Portugal se torna necessário adoptar este caminho (vide as boas práticas do Reino Unido, Austrália ou da vizinha Espanha)
Estes são alguns dos pressupostos que justificam esta necessidade:
Clareza dos objetivos:
Um plano estratégico ajuda a definir objetivos claros e específicos para o que queremos alcançar e como queremos ganhar. Esta clareza garante que todas as partes interessadas directa ou indirectamente ligados ao fenómeno desportivo, incluindo atletas, treinadores, empresas, parceiros, sociedade civil, compreendam os objetivos, a visão e a missão de uma nação.
Alinhamento das Partes Interessadas:
Ao envolver e alinhar todas as partes interessadas, Federações, treinadores, atletas, administradores, parceiros fâs uma nação, um plano estratégico ajuda a criar uma visão unificada. Quando todos estão a remar na mesma direcção, fica mais fácil trabalhar de forma colaborativa em prol de objetivos comuns.
Alocação de recursos:
Um plano estratégico ajuda na minimização do tão propalado efeito da falta de financiamento, numa lógica economicista que os recursos são sempre escassos para as reais necessidades, ajuda a uma alocação eficaz de recursos, incluindo recursos financeiros, humanos e de tempo. Isto garante que os recursos sejam direcionados para atividades e iniciativas que contribuam para os objetivos globais da visão e missão proposta.
Gestão de riscos:
O Desporto envolve incertezas e riscos, vivemos um cenário de mudança permanente, de convulsões mundiais, de crises económicas que influenciam negativamente o cenário competitivo. Um plano estratégico ajuda a identificar riscos potenciais e traça estratégias para mitigá-los. Esta abordagem proactiva pode melhorar a nossa capacidade, enquanto nação alinhada, de enfrentar estes desafios.
Vantagem competitiva:
Num ambiente desportivo competitivo, ter uma estratégia bem definida proporciona uma vantagem competitiva. Seja no recrutamento, nas metodologias de treino ou nas táticas a aplicar, um plano estratégico ajuda-nos a destacarmo-nos e a destacar a nossa performance nas áreas e foco desse memo plano.
Envolvimento da Sociedade civil e dos fãs:
Para uma organização desportiva, o envolvimento com a sociedade civil com os adeptos é crucial para o sucesso sustentado. Um plano estratégico pode incluir iniciativas para melhorar a experiência dos nossos apoiantes, estratégias de marketing e programas de responsabilidade social, criando uma ligação mais forte com uma nação.
Sustentabilidade a longo prazo:
Um plano estratégico centra-se não apenas nos objectivos de curto prazo, mas também na sustentabilidade a longo prazo. Isso inclui considerações sobre a forma como queremos construir o edificio, as suas bases, os alicerces. Criar as condições para uma sociedade onde, como exemplo na base da pirâmide, a actividade fisica seja um factor cultural e inato, uma forma de educação, onde se inclua um trajecto que passa pelo desporto escolar, pela prática do exercício físico, pelo desporto organizado, que crie naturalmente o desenvolvimento de talentos, a infraestrutura e construção de marca e que culmine com o alto rendimento, onde se possa ganhar pela nação mais e melhor.
Adaptabilidade à mudança:
O cenário desportivo nos nossos dias é dinâmico, com mudanças nas regras, na tecnologia e nas preferências do público. Um plano estratégico permite que as organizações sejam flexíveis e se adaptem às mudanças, mantendo-se fiéis aos seus valores e objetivos fundamentais.
Liderança e Comunicação:
Um plano estratégico fornece uma estrutura para liderança e comunicação. Ajuda os líderes a articular a visão e a missão, promovendo um senso de propósito entre os membros da equipa.
Medição do desempenho:
Um plano estratégico inclui indicadores-chave de desempenho (KPIs) que permitem à organização medir e ajustar se necessário o seu progresso em relação às metas traçadas. Tal e qual como num ambiente corporativo e altamente profissionalizado, um score board baseado em dados e informação, permite a tomada de decisões informadas e a melhoria contínua, não estando dependente de sobressaltos infortúnios ou outras causas exógenas, como por exemplo processos de naturalização de atletas, que têm que ser vistos numa lógica de oportunidade e não de oportunismo.

Em resumo, um plano estratégico no desporto como em tantas outras áreas é crucial para fornecer orientação, alinhar as partes interessadas, gerir recursos, mitigar riscos e garantir o sucesso a longo prazo e a sustentabilidade, visão, missão de um povo e de uma nação num ambiente altamente competitivo e dinâmico como é o desportivo.
Interessa no entanto e pela positiva afirmar o seguinte: nos ultimos anos estamos nitidamente a melhorar o nosso rendimento desportivo, a nossa capacidade organizativa, os resultados dos nossos atletas quer em Portugal quer além fronteiras, em campeonatos da Europa do Mundo e grandes competições internacionais. Os vários agentes desportivos, federações e clubes estão cada vez a trabalhar mais e melhor, na aplicação de boas práticas, ou na criação de casos de sucesso com relevo nacional e internacional. Já é possível assistir-se com consistência e em muitas modalidades a resultados que não só dignificam o País, mas que também nos enchem de orgulho porque ombreamos de igual para igual, como na canoagem, no judo, na natação, na vela, na esgrima, na ginástica, no atletismo, no ciclismo no futebol, no tiro ou em modalidades colectivas como o andebol. Tudo isto alicerçado num grande trabalho dos clubes, com projectos bem estruturados na componente olímpica, bom exemplo disso o Sporting e o Benfica com a boa prática, o projeto Benfica Olímpico. Uma palavra para as autarquias que por esse país fora entendem a importância do desporto e a sua dimensão social, e que a nível local têm desempenhado um papel fundamental no apoio aos atletas e aos clubes na criação das infaestruturas necessárias para a prática e desenvolvimento das diversas modalidades.
O que falta então fazer? Em primeiro lugar vontade politica, mas também vontade das partes, para que se possa alinhar todos estes elementos debaixo de um designio nacional, de uma visão para o País onde a sociedade civil intervenha com um papel determinante, e a criação de um modelo com uma entidade que verdadeiramente superintenda e reafirme o nosso desígnio nacional, não apenas a curto prazo, mas essencialmente a longo prazo. Dir-me-ão, dá muito trabalho. Dá de facto, obedece a escolhas, sim. Passaremos provavelmente um iato sem resultados palpáveis fruto da implementação desta estratégia, é provável. Mas se não o fizermos já, continuaremos no velho paradigma egoísta e anti reformista de um país adiado e cada vez mais atrasado. Não posso deixar de recordar que nos Jogos Olímpicos de 1984, ganhámos 3 medalhas e passados quase 40 anos o nosso contrato programa de Preparação Olímpica (PPO) 2022-25, entre outros objectivos, prevê, no mínimo, 4 medalhas.
Paris 2024 a um passo... e Brisbane 2032?
A estratégia desportiva de alto rendimento para os JO de Brrisbane em 2032 a realizar na Austrália foi lançada em dezembro de 2022. Co-projetada pelo sistema desportivo de alto rendimento da Austrália, a estratégia visa construir um sucesso contínuo e sustentável para o desporto australiano de alto rendimento, antes e após Brisbane 2032.
O CEO da Comissão desportiva Australiana, Kieren Perkins OAM, disse: "Todos concordamos que há muito trabalho a ser feito, mas ao aproveitar os nossos pontos fortes, talentos e recursos coletivos, podemos oferecer os melhores resultados para os nossos atletas, modalidades e toda a Austrália".
"Ver o interesse e o compromisso de todo o País em ver esta estratégia ganhar vida é encorajador e agradeço a todos pelo seu compromisso contínuo com esta estratégia e com o desporto australiano."
Para finalizar, uma palavra especial de apreço e amizade para todos nós, os atletas olímpicos, um desejo especial em nome da Associação dos Atletas Olímpicos de Portugal para que todos os atletas participantes nos próximos JO de Paris tenham o maior sucesso e consigam os seus objectivos, que ganhem, ganhem bem individualmente, em equipa e pelo País. Que cada passo em direção a um mundo melhor seja guiado pela ética e respeito. Que no desporto, a competição floresça com fair play e camaradagem. Juntos, construímos um futuro onde a esperança é a força que nos impulsiona para os atletas, pelos atletas para a sociedade.

P.S. Resta-me agradecer a todos os que tiveram o tempo e a paciência de ler os meus artigos da série "Por águas nunca dantes navegadas" em 2023, e acima de tudo áqueles que o fizeram com espirito critico. Para todos votos de um excelente Ano Novo e esperem por novidades em 2024.

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
Mas não esqueço de que minha vida É a maior empresa do mundo…
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
Apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
Se tornar um autor da própria história…
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
Um oásis no recôndito da sua alma…
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "Não"!!!
É ter segurança para receber uma crítica,
Mesmo que injusta…
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo…"

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