"Com um golo do dinamarquês logo aos 3’, os campeões nacionais venceram (1-0) na pedreira e subiram, à condição, para a liderança da I Liga, à espera do que suceda no Sporting-FC Porto
É como se a época do Benfica quisesse mostrar que, no futebol, nenhuma condição é eterna, que as bestas logo passam a bestiais e os ídolos a alvos de crítica, que a bola bater no poste e entrar ou esbarrar no ferro e sair é a verdadeira sentença que consagra uns e pune outros. É neste sobe e desce, qual etapa acidentada de uma corrida de ciclismo, que os pontas-de-lança das águias vivem a sua temporada.
Casper Tengstedt chegou a meio da época passada, meio desconhecido, vindo do Rosenborg, um dinamarquês chegado da Noruega sem argumentos para superar a concorrência de Gonçalo Ramos. Quando o algarvio foi vendido ao PSG, o nórdico viu Arthur Cabral chegar, uma contratação cara que, à partida, lhe taparia espaço, até porque também há Musa.
Só que Tengstedt, o pouco mediático e algo trapalhão Casper, resolveu especializar-se em golos decisivos. Abriu caminho à vitória contra o Estrela da Amadora, na jornada dois do campeonato, deu o triunfo frente ao Sporting, na frenética goleada do dérbi e, agora, decidiu o duelo contra o Sporting de Braga (1-0).
Se o dinamarquês, que parecia destinado a personagem secundária na época do Benfica, foi titular, foi porque Schmidt resolveu deixar Arthur Cabral no banco, mesmo depois da proeza em Salzburgo. O brasileiro, que passou de besta a bestial depois do golo que manteve o Benfica na Europa, voltou a desaparecer das opções em Braga. Nelas esteve Tengstedt, o herói improvável que começa a ser provável, o artista que não se esperava convidado neste concerto, mais um mal-amado a entrar na montanha-russa dos pontas-de-lança do Benfica.
Para ganhar na pedreira e ficar, à condição, em primeiro — o Benfica tem mais dois pontos que Sporting e Benfica, à espera do que suceda no clássico de Alvalade, e mais quatro que o SC Braga —, Tengstedt aproveitou um erro dos locais logo aos 3'. Zalazar perdeu a bola em zona proibida e Kökçü serviu o dianteiro, que não falhou. Nova subida nas ascensões constantes dos profissionais do golo nas águias, desta feita com Casper a sorrir e Arthur sentado no banco. Qual a próxima viagem? Aguardemos pelas cenas dos próximos capítulos.
Se numa ponta do campo há rotação de heróis, na outra há um ucraniano que se vai afirmando como as mãos — e os pés — firmes do Benfica. Trubin, o guardião da I Liga que, estatisticamente, é mais difícil de bater, voltou a corresponder. Fez seis defesas, a última delas crucial, negando o 1-1 de Banza, já em tempo de compensação. O clima de pré-crise parece ter saído da Luz e isso deve-se, em parte, à segurança do guarda-redes do Benfica.
O duelo deu sequência ao golo madrugador, mantendo a vertigem que o 1-0 aos 3’ indiciava e partindo para minutos de parada e resposta, de ataque e contra-ataque, de jogo vivo e elétrico, de futebol quente, contrastando com a fria noite minhota. Houve momentos na primeira parte em que parecia jogar-se em Braga uma homenagem ao futebol de rua, sem portagens ou barreiras criadas a meio-campo.
Artur Jorge quis manifestar a ambição do Sporting de Braga em forma de onze inicial. Abordou o encontro com quatro atacantes, juntando Ricardo Horta, Álvaro Djaló, Bruma e Banza, apostando na força do melhor ataque da I Liga. No entanto, a escolha abriu crateras que poderiam ter levado a que o resultado cedo ficasse decidido.
Surfando o caos proposto pelos locais, os visitantes aproveitaram para, a cada recuperação, explorar a ausência de policiamento do meio-campo minhoto para chegar com perigo à frente. Nos primeiros 30’, foram vários os lances de perigo do Benfica: António Silva e Otamendi estiveram quase a dar a melhor sequência a bolas paradas executadas por Di María, que acertou, ele próprio, na barra, num remate em arco só ao alcance dos eleitos.
Mas, perante a ausência de meio-campo arsenalista, quem mais se divertiu foi Rafa. No reencontro com a ex-equipa, o supersónico agitador conduziu e conduziu a bola, levando o Benfica para a frente, rasgando pelo campo como se fosse uma navalha a ferir o corpo do adversário.
Rafa marcou o 2-0, que seria anulado por fora-de-jogo — num fantástico chapéu, que nos faz julgar que,para que melhore o nível das suas finalizações, seria sempre melhor pensar que estava em posição irregular —, rematou às malhas laterais e serviu João Mário, já no segundo tempo, para um disparo frouxo em excelente posição.
Se a coroa do plano de Artur Jorge eram os muitos espaços para o Benfica aproveitar, a cara era a concentração de futebolistas elétricos, cheios de talento. Um dos mais em forma, Álvaro Djaló, rematou aos 14’ para enorme defesa de Trubin. Mas o Sporting de Braga foi errático e a troca, aos 32’, de Zalazar por André Horta parecia confirmar que havia insatisfação local com o rumo do desafio.
Artur Jorge foi mexendo na sua equipa. Colocou Niakaté para o lugar de Saatci, procurando evitar a expulsão do turco. Meter um jogador que já viu o vermelho cinco vezes em 51 partidas pelo SC Braga para evitar uma expulsão não deixa de ser irónico.
No segundo tempo não se assistiu à mesma vertigem da etapa inicial. O Benfica foi recuando, aproximando-se de Trubin como quem defende o seu castelo com base na segurança do seu guardião.
Sempre que o Sporting de Braga superou a defesa rival, o ucraniano disse presente. Aos 57', uma grande combinação entre Djaló e Banza deu uma excelente oportunidade ao melhor marcador do campeonato, mas a finalização saiu frouxa. Os minhotos só colocariam a bola no fundo das redes aos 68', mas Ricardo Horta, assistido por João Moutinho, estava em fora-de-jogo.
Os locais acumularam homens no último terço, mas foram perdendo critério. No final, a montanha-russa dos heróis dita que, no plano interno, o Benfica venceu todos os jogos de maior exigência da temporada: a Supertaça e a receção ao FC Porto para a I Liga, o dérbi contra o Sporting, este duelo em Braga. Schmidt saiu do último encontro da Luz em clima de divórcio com os adeptos. Quando lá voltar, respirar-se-á um ar mais puro entre o Benfica."
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