terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Encontros com a história


"Fala-se da Arábia Saudita e é Ronaldo, os golos de Ronaldo, o efeito Ronaldo, a família de Ronaldo, e todavia há Jesus, Jorge Jesus outra vez, também ele imune ao desgaste do tempo e a fazer mais um trabalho de autor. Lidera destacado o novo campeonato dos milhões e fez do Al Hilal, até agora e mesmo sem Neymar, a melhor equipa do país.
Após o grande duelo do fim de semana, Cristiano Ronaldo e o treinador Luís Castro só falavam de árbitro e VAR. E não se justificava. O Hilal foi melhor que o Nassr e bem poderia até ter ganho por mais. Ainda há muito por jogar, mas à beira dos 70 anos, o que é notável, Jesus luta por fazer história outra vez.
Luís Castro chegou à Arábia depois de ter construído a equipa-milagre no Brasil, transformando um modesto Botafogo em líder surpreendente e até provável campeão. Não era equipa para tanto, mas o português coloco-a no trilho da história com um onze composto de qualidade tática e espírito de grupo. Quando Castro se tentou pela Arábia, o avanço era enorme. Chegou Bruno Lage, lesionou-se Tiquinho e o cenário alterou-se.
Ainda assim, Lage ia amealhando em casa, no Engenhão, os pontos que mantinham os rivais a uma longa distância. Após seis jogos sem derrotas, no entanto, teve outros três sem vitórias (no campeonato) e saiu. A equipa vai agora em dez jogos seguidos sem ganhar e despencou para o quinto lugar, com mais uma mudança de treinador pelo caminho. Lage não teria feito tão mal, de certeza. E assim Abel Ferreira, que já tinha atirado a tolha ao chão, bem pode reforçar a geleira com champagne, na hora de juntar o segundo Brasileiro às duas Libertadores. Na história do Palmeiras já não há melhor.
E não há melhor campeonato que o inglês. No último domingo houve golos e emoção à solta em vários estádios, quase ao mesmo tempo. Foi o 4-3 no Liverpool-Fulham, nos golos fabulosos dos reds e na audácia permanente dos homens de Marco Silva (e do próprio, sempre que mexeu), o 3-3 do Manchester City-Tottenham, no domínio inevitável que é marca de Guardiola mas também na competente exploração de espaço que Postecoglu preparou, mesmo o 3-2 do Chelsea-Brighton, com os de Pochettino desde cedo na frente sem que os de De Zerbi alguma vez desistissem. Na Premier, a história escreve-se todas as semanas.
João Félix decidiu dois jogos importantes em poucos dias e o golo ao Atlético de Madrid tem qualquer coisa de justiça poética, obtido com a classe dos predestinados e a jogar como gosta, mais perto da baliza, e frente ao treinador que, por regra, o mantinha longe dela. Félix é por estes dias “João Feliz”, como bem titulou El Mundo Deportivo, mas no futebol a glória é momentânea e o sucesso verdadeiro é sempre consequência de acumulação, de exibições, golos, resultados. O encontro de Félix com a história depende disso."

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