sábado, 9 de dezembro de 2023

Ainda mr. Schmidt


"Não deve o treinador do Benfica tentar compreender o contexto em que está?

Não imagino o que no Benfica disseram a Roger Schmidt sobre os jornalistas portugueses. A verdade é que Schmidt nunca criou verdadeira empatia com os jornalistas e já está há ano e meio em Portugal. Dir-se-á que o mais importante é o treinador criar empatia com os adeptos, com os jogadores que dirige e com a estrutura do clube que representa. É, em grande parte, verdade. Mas conseguir criar empatia com os jornalistas ajuda às relações e, não tenhamos receio de o dizer, protege melhor a imagem.
Ora Schmidt está hoje cada vez mais debaixo de fogo da crítica e não ter criado empatia com os jornalistas não o ajuda em nada. É uma estratégia pouco inteligente. Não me parece, aliás, que Schmidt pague as favas por não conseguir falar ainda português. O treinador alemão paga as favas, sobretudo, pela inesperada e tão incorreta reação que teve a uma pergunta de um jornalista na conferência de imprensa após o dérbi (Benfica, 2-Sporting, 1, a 12 de novembro), quando teve o desplante de questionar, ele próprio, se o jornalista era adepto do FC Porto ou do Sporting por lhe ter perguntado se achava o resultado com os leões melhor do que a exibição.
Ao estalar o verniz ao treinador do Benfica era difícil que os jornalistas não tomassem qualquer posição. Schmidt foi deselegante, intolerante, ofensivo, e sem nunca ter sido (e não tinha de o ser) um poço de simpatia com os jornalistas, também nunca o víramos ser tão incorreto. Quando lhe estalou o verniz, porém, foi suficientemente rude para se esperar que ficasse sem resposta. Não podia ficar.
Confesso que admirei a forma como, na época passada, Schmidt soube ganhar o Benfica e seus adeptos, e exceção feita ao episódio de Vizela - lembram-se?, quando o treinador alemão devolveu para a bancada uma garrafa que lhe fora atirada pelos adeptos da casa, que o massacraram do princípio ao fim do jogo, e acabou com um gesto sobre o resultado quando abandonava o campo -, Schmidt foi, de um modo geral, um treinador afável e teve, também de um modo geral e na grande maioria das circunstâncias, um comportamento correto com toda a gente, fossem jornalistas ou opositores e recebeu elogios em troca.
Na Luz, ou fora de casa, ganhando ou perdendo, nunca deixou, por exemplo, de tentar cumprimentar o treinador adversário sempre que entendeu não haver motivo para não o fazer. Recordo, apenas como exemplo, quando Schmidt confessou ter dado os parabéns ao treinador do FC Porto quando o FC Porto, em abril passado, foi vencer à Luz e deixar em sobressalto os corações encarnados. «O FC Porto mereceu ganhar; foi melhor e aproveitou as oportunidades que teve», esclareceu, então, Roger Schmidt após aquele Benfica, 1-FC Porto, 2 que confirmou o pior momento da águia no campeonato que viria, no entanto, a conquistar, reconhecidamente, com inteira justiça.
Agora, porém, não foi a perder, mas sim a ganhar que surpreendentemente fugiu a Roger Schmidt o pé para o chinelo (como traduz a expressão tão popular sempre que se diz algo que não se devia ter dito), com aquela tão desagradável e pouco ética reação à pergunta de um jornalista após o dérbi jogado no mês passado. Nada, mesmo nada fazia prever que Schmidt pudesse reagir como reagiu, mas talvez o treinador alemão já estivesse a acusar alguma pressão, a esconder algum mal-estar ou a sentir o peso de algumas críticas ao futebol menos entusiasmante e menos consistente que o Benfica tem vindo a jogar praticamente desde o início da época, e aos comentários menos favoráveis que têm sido feitos sobre algumas das decisões (e indecisões) do treinador das águias. O comportamento da equipa e do treinador na Liga dos Campeões serviu apenas para piorar tudo.
Quando, na conferência de antevisão ao jogo da Taça com o Famalicão, os jornalistas destacados para ouvir Schmidt decidiram fazer-lhe todas as perguntas em português podem ter reagido muito mais à atitude de Schmidt após o jogo com o Sporting do que à insistência do treinador benfiquista em usar, apenas, a língua inglesa para se expressar.
É verdade que pouco depois de chegar a Portugal, Roger Schmidt manifestou desejo de aprender a dizer alguma coisa em português, mesmo deixando o aviso de não ser «muito bom» em línguas. Alguns meses depois, Schmidt também admitiu que o português é «uma língua muito difícil» e, por tudo isso, ninguém podia verdadeiramente esperar (nem seria razoável) que o treinador alemão do Benfica se sentisse confortável a falar em português nas conferências de imprensa. Mas Schmidt também não soube, mais uma vez, ser inteligente.
O exemplo do selecionador Roberto Martínez não é, naturalmente, a regra, mas a exceção. Apesar de castelhano, e por isso, de na sua língua materna se poder fazer entender com relativa facilidade, Martínez optou por aprender português (o que é muito mais fácil para um castelhano do que para um alemão) e em português tentar expressar-se sempre que está em Portugal. Fez bem.
Mas o caso de Martínez é diferente do caso de um treinador de clube. Martínez é o selecionador nacional e sentiu necessidade de conquistar o País e os portugueses. Os treinadores de clube começam por apenas precisar de conquistar os adeptos desse clube. E conquistam-nos, sobretudo, ganhando.
Schmidt fala em inglês. Não fala em alemão. E sendo o inglês, como alguém lembrava recentemente, obrigatório nos programas de ensino em Portugal, à partida, a maioria entende o que diz Schmidt e facilmente fala com ele.
Mas teria sido inteligente da parte do treinador alemão dizer, aqui e ali, meia dúzia de palavras em português, nem que fosse de mera circunstância como olá, bom dia, boa noite, desculpem, obrigado, e ir, ao mesmo tempo, confessando a sua dificuldade em aprender a nossa língua e o compreensível desconforto em tentar falar português, quando precisa, nas conferências de imprensa, de expressar ideias do modo mais correto possível.
Não diz o povo que mais vale cair em graça do que ser engraçado?!
Schmidt não se quis dar a esse trabalho. Está no seu direito. Mas fez mal. E, agora, parece um homem muito mais acossado; reage mal à crítica e a dá respostas menos adequadas ou até menos próprias (como a que deu após o dérbi) ou mesmo, de algum modo, sorrateiras, se me é permitida a expressão, como a que deu, na conferência de ontem, quando foi confrontado com o deficiente rendimento de alguns reforços.
Ao afirmar que, no fim, a decisão é sempre do clube, mesmo que não tenha sido essa a intenção, o que pareceu foi vermos um Roger Schmidt a sacudir alguma água do capote. Não lhe fica bem, nem a Schmidt nem a qualquer outro treinador, a quem se exige solidariedade com a entidade que lhes paga, e muitas vezes, como é o caso, principescamente.
O problema, portanto, não é Schmidt não falar português. O problema nasceu na incompreensível reação de Schmidt perante um jornalista a quem não apresentou sequer um pedido de desculpas.
Separemos, então, definitivamente as águas. O mal não está, nem seria sensato que estivesse (apesar de alguns parecerem querer agora dar a entender o contrário) em Roger Schmidt não falar em português. O mal estará, porventura, nas reações de Schmidt, e até de alguns jogadores (Rafa, por exemplo, não deveria ter reagido como reagiu junto dos adeptos, em Moreira de Cónegos) que parecem estar, progressivamente, a conviver cada vez pior com a crítica. Agora que o contexto azedou, cabe ao Benfica encontrar maneira de proteger o treinador (indicando-lhe, também, melhor caminho) e os jogadores (evitando que se repitam cenas como as de Rafa).
Como clube, o Benfica não tem a cultura do FC Porto, por exemplo, e por isso não lhe basta a união interna e o espírito do contra tudo e contra todos. Pelo contrário. Costuma dar-se mal com isso. Sendo o maior clube português é também o mais exposto. Para o bem e para o mal, vive à proporção da grandeza que tem.

O FC Porto, por exemplo, investiu 20 milhões de euros num central (o infeliz e cada vez mais mal-amado David Carmo) que continua, um ano e meio depois, sem conseguir afirmar-se na equipa e nunca isso foi discutido como é discutido Jurásek, que custou, no último verão, 14 milhões ao Benfica. E não custa nada admitir que se fosse o treinador do Benfica a afirmar, após uma derrota, que o melhor seria recorrer a jogadores da equipa B ou dos sub-19, talvez não escapasse a duras críticas.
Schmidt tem, pois, todo o direito de preferir não se expressar em português, quer seja pelo desconforto, quer seja pela insegurança de não se fazer entender corretamente. O que não deve é querer mostrar-se infalível, acima da crítica e imune ao erro. O futebol que o Benfica tem jogado não é o que se esperava e muito menos o que os adeptos desejam. O que parece uma evidência, porém, Schmidt continua a negar, seja por querer defender a equipa, o que se compreende, seja por estar a ignorar todos os sinais exteriores, o que é preocupante."

1 comentário:

  1. O que esse traidor do Bonzinho queria era que lhe pagassem almoçaradas no Coelho da Rocha como fazia o Jorge Judas com essa tropa toda da merda de comunicação social que temos. Que nojo de gente que coloca o amiguismo e a oportunidade para comer uns croquetes grátis à frente do código deontológico.
    O resultado desta campanha infame esteve bem à vista ontem no estádio. Que vergonha…
    Nunca vi o Sérgio Conceição ser tratado na Luz com o ódio que se despejou sobre o Roger Schmidt naquele momento da saída do Neves. Tive vergonha dos meus consócios e da imagem de marionetas manipuláveis que mostrámos ontem.
    É possível que a mostra de fragilidade que oferecemos publicamente nos venha a custar o campeonato. E talvez mais do que isso.

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