terça-feira, 28 de novembro de 2023

Schmidt não é Guardiola


"Catalão foi contratado pelo Bayern, arranjou professora e falou alemão na apresentação

No fim de abril de 2012, Pep Guardiola comunicou que não seria mais o treinador do Barcelona, depois de ter conquistado duas Ligas dos Campeões, duas Supertaças Europeias e dois Mundiais de Clubes. Em meados de janeiro do ano seguinte chegou a acordo para treinar o Bayern de Munique e, em junho, na conferência de Imprensa de apresentação no novo clube, perante uma multidão de jornalistas, falou em alemão.
Quando deixou o Barcelona Guardiola disse que não tinha nenhuma proposta de outro emblema e que iria tirar um ano sabático para refletir sobre o passado de sucesso e preparar-se para desafios futuros igualmente exigentes. A partir da altura em que chegou a acordo com o Bayern a sua principal preocupação foi aprender a língua alemã, da qual não conhecia uma palavra, como confessou. Foi viver para Nova Iorque, contratou uma professora e a 24 de junho de 2013, na cerimónia de apresentação, perante uma plateia de quase três centenas de representantes de órgãos de comunicação, falou em alemão durante parte da conferência.
Como Pep não é Schmidt, nem Roger é Guardiola, cada qual vê as coisas à sua maneira. O catalão respeitou a identidade do clube bávaro, em que a língua materna é única entre dirigentes e funcionários. O alemão prometeu fazer um esforço quando chegou, mas ano e meio depois chegou-se a uma situação desagradável e que colide com a grandeza do Benfica. A chamada estrutura devia ter-se protegido, de modo a evitar cenários pouco profissionais, e o próprio Roger Schmidt, podendo recusar expressar-se em português, tem a obrigação de, pelo menos, dizer o básico e entender muito mais do que isso. De certeza que ganha o suficiente para contratar uma professora sem afetar o seu orçamento familiar…

Champions a zero
O jornalista Nuno Paralvas assinou a crónica do jogo Benfica-Famalicão, em BOLA, e criou um título que, em cinco palavras, resume de forma feliz a história do jogo e o desempenho da equipa encarnada. «Contas feitas: cinco minutos à Benfica», entre o autogolo de Riccieli e o golo de Rafa com a expulsão de Otávio de permeio.
Tudo espremido, de significativo é o que se destaca do trabalho coletivo de quem lidera a classificação da Liga sem ter ainda a casa arrumada, como este jogo mostrou.
A equipa continua mal arrumada e João Pedro Sousa, um treinador com quem nunca falei mas que muito aprecio, foi bom conselheiro ao suscitar problemas e identificar ruídos na organização encarnada que precisam ser eliminados antes de um jogo de muita responsabilidade, amanhã, frente ao Inter, do Grupo D da Liga dos Campeões, em que o Benfica ocupa o último lugar, sem pontos e um mísero golo marcado, continuando a atormentar os adeptos com a eventual repetição da vergonha de 2017/2018.
Pagar o que se paga a Schmidt só para consumo interno parece-me excessivo, nem acredito que tivesse sido contratado só para isso, porque, em entrevista ao canal do clube, em setembro último, Rui Costa afirmou que este plantel é melhor e não custa mais um euro. Disse também que, na época passada, ficou «o amargo de boca de não termos ultrapassado os quartos de final da Liga dos Campeões». O mesmo Rui Costa que há uma semana, na gala Quinas de Ouro da FPF, teve o cuidado de endereçar a Roger Schmidt muito do mérito pela conquista do título 38. O presidente acredita no seu treinador e este, certamente, sente-se com saber e competência para lhe retribuir essa prova de confiança com mais títulos importantes, intramuros e, principalmente, no espaço da UEFA. São realidades incomparáveis, sem dúvida, mas parece-me que Schmidt, embora conhecendo a história da águia, ainda não foi capaz de avaliar a sua real dimensão.

Moura/Jurásek
Em novembro de 2020, na sétima jornada do campeonato, o SC Braga, treinado por Carlos Carvalhal, venceu o Benfica, por 3-2, com dois dos golos bracarenses apontados por Francisco Moura, um jovem que surpreendeu e deixou a sua marca. Pouco depois, uma lesão grave obrigou-o a prolongada paragem.
Este sábado, na Luz, voltou a destacar-se, por querer ser feliz outra vez no palco em que se projetou. Não deixa de ser intrigante o descuido dos clubes mais abastados em relação às nossas camadas jovens. Neste caso, sendo António Salvador um presidente que vê mais depressa e mais longe do que a maioria, leva-me a acreditar que algum motivo haverá para ter cedido metade do passe de Moura ao Famalicão, a preço de amigos.
Grimaldo saiu e na Luz alguém decidiu gastar catorze milhões em Jurásek, um lateral que ainda não justificou a loucura que se pagou por ele, embora tenha dado sinais de não ser tão mau quanto dizem. Por outro lado, nem sei se Francisco Moura terá estrutura mental para suportar a pressão de um grande clube, como o Benfica. Bizarra é esta discrepância na avaliação de jovens futebolistas, em nítido prejuízo do mercado interno. Porquê ir lá fora quando temos cá dentro igual ou melhor e mais barato? David Carmo foi uma estranha exceção. São os mistérios do futebol…"

1 comentário:

  1. Portugal e' um pais acolhedor, que tem flexibilidade suficiente para muitos de nos falarmos ingles. Essa e' uma das razoes que faz de Portugal um pais atrativo. Esta xenofobia idiota de se querer exigir que Schmidt fale portugues vem de onde? Do manual de boas maneiras da Paula Bobone? Da cartilha do Bobby e do Tareco?

    Se sao tao nacionalistas, respeitem a identidade de um pais que foi 'a descoberta do mundo desconhecido, que comunicou e se fez entender em todos os continentes, que chegou a ser realmente cosmopolita. Deixem de ter um cerebro pequenino, formatado pelo orgulhosamente sos do Salazar, em que se exige aos estrangeiros que estao em Portugal que falem portugues. Exijam-lhes que paguem impostos e cumpram as leis, isso sim.

    Haja pachorra.

    ResponderEliminar

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!