sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Foram três pintxos mas podia ter sido um banquete inteiro e o Benfica está fora da Champions


"Noite terrível para o Benfica frente à Real Sociedad, numa derrota por 3-1 que podia ter sido uma goleada histórica, depois de uma entrada completamente falhada, com o novo sistema de três centrais a explodir na cara de Schmidt. A quarta derrota em quatros jogos significa que os encarnados já estão fora da próxima fase da Liga dos Campeões

Talvez tenha sido da hora. O Real Sociedad - Benfica arrancou eram 17h45 de Lisboa, e não às 20h costumeiras, será que foi isso que enganou os encarnados? Porque o Benfica não chegou ao jogo a horas. Verdade seja dita, quando chegou também não ficou por muito tempo e o 3-1 do marcador não conta nem de perto nem de longe o descalabro que foi este final de tarde funesto em San Sebastián, o colapso incompreensível de uma equipa coxa de soluções, a viver agora de uma invenção tática que vai servindo para consumo interno mas nunca para jogar em casa de uma das equipas mais dinâmicas e bem treinadas de Espanha.
Aos 21 minutos de jogo, o Benfica já perdia por 3-0, podiam ser mais até, bastantes mais, a Real Sociedad ainda colocou a bola mais duas vezes na baliza e à meia-hora de jogo ainda se deu ao luxo de falhar um penálti. Durante esses 30 minutos, os encarnados foram meros espectadores da facilidade com que os jogadores da Real tocavam a bola, variavam flancos, superavam linhas, do talento de Take Kubo e da batuta de Zubimendi. Da forma como Mikel Merino e Oyarzabal chegavam a zonas de finalização. É, de facto, um privilégio assistir à qualidade destes artistas; se o Benfica foi ao País Basco competir, não pareceu, talvez tenha ido apenas em viagem gastronómica em busca dos melhores pintxos. Houve vibes de Vigo, às tantas.
Só na 2.ª parte se viu algum Benfica, pouco. Rafa marcou aos 49’ depois de um bom entendimento entre Arthur Cabral e Otamendi, o mesmo Otamendi que minutos depois ia surpreendendo Remiro com um remate do meio da rua. Mas a reação durou menos que a chama das malditas e inopinadas tochas que adeptos encarnados atiraram aos congéneres bascos e às autoridades, delinquência e falta de inteligência num só, haja pachorra para tamanha falta de noção, porque a partir daí o Benfica voltou à névoa exibicional, a uma ausência imperdoável que não se coaduna com este nível, logo o Benfica que há um ano andava a bater o pé a PSG e Juventus nesta mesma competição. E, perante oposição tão acanhada, a Real limitou-se a geriu até ao final, nunca abdicando da sua cultura.
O Benfica está fora da Liga dos Campeões, resta-lhe lutar pelo fraco consolo da Liga Europa com o Salzburgo, depois de quatro derrotas em quatro jogos e apenas um golo marcado. Não menos animador é perceber que o sistema de três centrais que Roger Schmidt tem experimentado não serve, principalmente porque o Benfica não tem jogadores para o executar em níveis minimamente aceitáveis em jogos internacionais. No Estádio Anoeta, o principal prejudicado foi João Neves, duplamente danado: foi absolutamente devorado por Barrenetxea no lado direito da defesa - porque, vamos lá ver, João Neves não é um ala direito - e desguarneceu um meio-campo em que Florentino e João Mário estiveram, à falta de melhores palavras, aos papéis.
A defesa encarnada não esteve muito melhor. Aos 6’, incapaz de ganhar as segundas, terceiras e quartas bolas, o Benfica sofreu num lance de insistência da Real Sociedad, com Mikel Merino a aparecer no momento certo para emendar um remate enrolado de Muñoz. Aos 11’, o atraso de Florentino saiu torto, Otamendi não teve capacidade de reagir e quando tentou o corte já Oyarzabal seguia que nem flecha para a baliza de Turbin, para fazer o 2-0. Quatro minutos depois, o guarda-redes ucraniano voltou a ir buscar a bola ao fundo da sua baliza, mas o lance seria anulado. Só que cheirava a golo basco, sempre, a cada minuto. E ele apareceu aos 21’, num lance estonteante de Barrenetxea, a dar um nó a João Neves e a rematar ao ângulo, forte, colocado, animalesco.
Só estabilizou o Benfica depois do pontapé de penálti falhado por Brais Méndez, falhado com a bazófia de quem já está a muito por cima - aquele golo nem seria preciso para nada, tal era a superioridade dos espanhóis. Foi então que Schmidt tirou Florentino (exibição desastrada e desastrosa) para lançar Jurasek, colocando João Neves na sua posição natural, de onde nunca deveria sair. Só que este plantel do Benfica nasceu torto e as lesões vieram destapar fragilidades em posições essenciais. O checo pouca dimensão deu ao jogo do Benfica, mas pelo menos ajudou a estancar o caos.
Poderia ter sido uma noite histórica para o Benfica, no pior sentido possível. Salvou-se de um resultado pesadíssimo, é certo, mas não do peso de uma exibição desonrosa."

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