quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Ao ritmo de Lisboa


"Perante uma das melhores equipas do mundo, Carlos Lisboa realizou uma exibição memorável

Na temporada 1995/96, calhou ao Benfica defrontar o Partizan de Belgrado, para a 2.ª eliminatória do Campeonato da Europa de Clubes. A imprensa mais pessimista rapidamente traçou um cenário dantesco: 'o basquetebol nacional está ainda a 'quilômetros' de distância do que se pratica em Espanha, Itália, França, Grécia, Croácia ou Jugoslávia'. Os encarnados tinham pela frente 'uma das velhas relíquias do basquetebol mundial', em que quatro dos seus jogadores tinham conquistado o título europeu pela Jugoslávia, nesse verão.
Na 1.ª mão, em Belgrado, registou-se um empate a 64 pontos, que dava boas perspectivas para a 2.ª mão. Ranko Zeravica, treinador do Partizan, justificou o resultado com a má atuação da sua equipa na parte final do encontro e, principalmente, por estarem 'afectados pelas lesões de cinco jogadores'.
Na semana seguinte, em Lisboa, os jugoslavos apresentaram-se na máxima força. Perante isso, os media portuguesa indicavam a fórmula do sucesso: 'O jogo exterior do Benfica tem, forçosamente, de aumentar a sua eficácia, ou seja, Carlos Lisboa e Pedro Miguel sao obrigados a melhores percentagens do que as alcançadas nos últimos tempos'.
Com o pavilhão cheio, e nada supera um pavilhão cheio pela adrenalina que incute nos jogadores, o entusiasmo dos adeptos foi como que uma primeira faísca numa fogueira. Os encarnados entraram de rompante e alcançaram uma vantagem por 23-9. O Partizan reagiu e chegou ao intervalo a vencer por 47-50.
Mas não havia nada a fazer, o processo já estava em ebulição! Na segunda parte do encontro, a cada jogada e a cada reação do público, a faísca que tinha dado lugar à chama repercutia-se por muitas mais. A cada bola encestada, as chamas ganhavam maior dimensão. Da mesma forma que quando deambulam de um lado para o outro, vigorosas, nos fazem esquecer que até então eram apenas pedaços de madeira, remetendo-nos a uma hipnose que nos faz acompanhar o seu bailado. Assim era Carlos Lisboa, de um lado para o outro do campo, conseguindo cesto após cesto, fazendo-nos olvidar de que do outro lado estava o temível Partizan. Os seus movimentos era arte pura, pela forma como a bola insistia em entrar no cesto, consecutivamente. Em 14 tentativas de lançamento triplo, acertou 10!
Numa exibição estupenda, em que somos 45 pontos, contribuindo para a vitória por 112-95, e consequente apuramento para a fase seguinte da competição, resumiu-se desta forma a sua prestação: 'Carlos Lisboa, capitão e número 7 do Benfica, é, sem dúvida, a grande figura da equipa, pois é um jogador que sabe melhor do que ninguém como dar espectáculo. Um verdadeiro jogador de classe!'
Saiba mais sobre um dos melhores basquetebolistas portugueses na área 2 - Joias do Ecletismo, do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

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