segunda-feira, 27 de novembro de 2023

A justa vénia aos fracassados


"Diego deixou-nos há três anos e continuamos a recordá-lo como aquele familiar querido cuja dolorosa perda não conseguimos ultrapassar. Lembramo-lo todos os dias e, quando as datas se tornam redondas, ainda mais tempo ficamos a folhear os nossos álbuns fotográficos mentais, decalcados em vídeos de rede social: Maradó, ele mesmo, a recordar, a chorar pelos erros, a recuperar o fôlego num campo de trigo, de olhos fechados contra a brisa. Maradó a dançar no balneário, a aquecer de atacadores desapertados, a descobrir espaços que ninguém vê, a provar que um anão gordinho pode, exatamente como os demais, aspirar à grandeza. E a dar a vez a outros anões, menos gordinhos, que sem ele muito provavelmente não existiriam. Não tenham dúvidas: não haveria Messi sem Maradona.
Um anão cantado pelas ruas de Nápoles, pelas Pampas, por todo o lado. Um génio da cancha, dos campos de barrio, que se tornou símbolo para os que o adoravam, para a sua gente, a gente que preenchia as bancadas dos estádios onde jogava. Foi símbolo da luta contra o poder instituído, fosse esse o expansionismo inglês ou o poderio do norte italiano. Diego inspirava novos e velhos a lutar pelo que acreditavam. Era único.
O Papa Francisco, que sempre achei que conseguia ultrapassar a superficialidade das coisas, reconheceu há tempos que Maradona tinha sido um grande jogador, porém fracassara como homem, ao não conseguir ser um bom exemplo para as pessoas. Não consigo dissociar o atleta da sua humanidade, das suas certezas e fragilidades, e tenho a certeza de que o nível de entrega de Diego às causas, dentro e fora de campo, o tornaram mais próximo dos adeptos, mais completo e um objeto de paixão de todos os que o seguiram.
Claro que as dependências foram erros, mas se se fracassar como homem é chegar-se a nível de adoração quase religioso e ser-se bem-sucedido não ser polémico e não ter opinião, continuarei a ser pelos fracassados. E a ter saudades do maior de todos."

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