terça-feira, 24 de outubro de 2023

Onde as águas se separam...


"No desporto, energúmenos há-os em todas as latitudes e de todas as cores clubísticas. Existirão, na mesma proporção, nas restantes áreas da sociedade, da qual brotam, e em relação à qual são indissociáveis. O que pode chamar mais a atenção sobre os energúmenos que frequentam os recintos desportivos é a visibilidade de que gozam, em função do fenómeno altamente mediático de que fazem parte, dentro ou fora do campo, com mais ou menos responsabilidades. O que distingue os indivíduos, os clubes ou as sociedades uns dos outros é a forma como lidam com quem não pode, nem deve, passar impune perante as alarvidades que protagoniza.
No último sábado, dia em que o futebol chorou a partida de um dos maiores de sempre, Bobby Charlton, uma minoria do clube rival, o City, ofendeu a memória do campeão do Mundo de 1966 e a reação oficial dos citizens não podia ser mais digna e assertiva:
«O Manchester City FC está extremamente desapontado por ter tido conhecimento de relatos de cânticos ofensivos de um pequeno número de indivíduos sobre Sir Bobby Charlton em alguns espaços do Etihad Stadium durante o intervalo do jogo da Premier League contra o Brighton and Hove Albion. O clube condena veementemente estes cânticos e pede desculpa sem reservas à família e amigos de Sir Bobby, bem como a todos os adeptos do Manchester United (…) A nossa equipa de segurança está a estudar as imagens de CCTV das áreas de acesso ao estádio. Estamos gratos a todos os que já se ofereceram para denunciar este caso. Continuamos a apelar a qualquer informação que nos possa ajudar a identificar os indivíduos envolvidos, de modo a podermos tomar as medidas adequadas para emitir ordens de proibição.»
Em vez de assobiar para o ar, ou de arranjar desculpas esfarrapadas de mau pagador, o Manchester City pediu desculpa, especialmente à família de Bobby Charlton e aos adeptos do Manchester United; e prometeu identificar, através das câmaras vídeo do estádio, quem conspurcou a memória de Charlton e danificou a reputação do clube, para, a seguir, poder expulsá-los do estádio. É assim que fazem as pessoas de bem. Não se solidarizam, por ação ou por omissão, com criaturas que não devem frequentar recintos desportivos. Não lhes servem de escudo na expetativa de que um dia as posições se invertam. Há uns e há outros."

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