sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Lobos, Lobos, Lobos, Lobos


"Pode uma simples vitória numa partida de um campeonato do mundo mudar, transfigurar, revolucionar uma modalidade em Portugal? Não só pode, como deve.

Lobos, Lobos, Lobos, Lobos O campeonato do mundo é de râguebi, a modalidade é o râguebi e a seleção nacional é de râguebi.
Na segunda presença num Mundial, depois de 2007, em França, os lobos, assim são conhecidos quem representa a seleção portuguesa, voltaram ao palco da maior competição internacional da modalidade. 16 anos depois. De novo em França.
Recuando a 2007, os lobos de então mostraram (não só, registe-se) que sabem cantar o Hino de Portugal. Foram verdadeiros heróis que abriram as portas àquilo que ontem, dia 8 de outubro, todo um país testemunhou. A primeira vitória de sempre na competição, e logo frente a uma seleção que está no top 10 mundial, em oitavo, oito lugares acima de Portugal, depois de 4 derrotas em 2007 e dois desaires e um empate, em 2023.
Um feito sem paralelo neste desporto, mais que em qualquer outro, que apesar de ser o mais inclusivo é aquele que mais cria e promove clubes fechados de poderosos (leia-se, nações), onde Mundiais e grandes competições internacionais (Torneio das Seis Nações) têm muito de “Old Clubs” e pouco de meritocracia. Mas isso, é conversa para outro dia.
Os lobos de 2007 foram os heróis de uma geração que hoje se transformou nos novos heróis do râguebi português e, atrevo-me a dizer, da bola oval a nível internacional.
Ao lado dos portugueses nascidos em França, de primeira e segunda geração, os lobos de 2023 fizeram algo único, sem precedente no râguebi mundial. O mundo rendeu-se a uma equipa cuja base é ainda amadora. Sim, amadora. Miúdos e homens que estudam e exercem as suas profissões durante o dia e dedicam-se de alma e coração ao desporto, em treinos individuais e matinais de ginásio, treinos de conjunto à noite e jogos ao fim de semana.
Se no pós-2007, a população de jogadores duplicou, hoje, nos dias que se seguem, espera-se que a revolução vá muito para além das inscrições.
Aos jogadores que ainda são amadores abre-se uma porta gigantesca do mundo profissional, oportunidade para se juntarem a outros que desbravaram caminho em Espanha, Inglaterra e França.
Os clubes franceses, em especial, vão começar a ter olheiros por cá e, quem sabe, vão instalar academias nos clubes nacionais, uma parceria onde todos saem a ganhar. Atletas, clubes, seleção e o país.
À seleção nacional e à Federação Portuguesa de Râguebi, que em boa hora começou por construir uma seleção “B”, os Lusitanos, que deu rodagem a muitos que hoje compõe os selecionados, apostou numa “profissionalização” temporária da seleção, montou esta equipa, o caminho não poderá ser outro que não a profissionalização total. Os jogadores merecem, a modalidade necessita e o desporto nacional agradece.
Os Heróis estão criados, os resultados começaram a aparecer, mas ainda falta mais um passo.
Se há atletas, há vontade e disponibilidade dos mesmos, há clubes, há uma federação capaz de fazer uma aposta séria, no fim da linha há uma chave capaz de aproveitar o que está a jusante para levar a modalidade a montante.
Falo das empresas (onde incluo os Jogos Santa Casa). Apostem neste desporto a quem muitas vezes pedem emprestados os valores que representa nas vossas apresentações e exercícios de motivação. Aos salários emocionais que apregoam juntem um patrocínio real. Estes miúdos, miúdas, homens e mulheres merecem e agradecem.
Nota final que não é uma mera bajulação, mas sim um elogio sincero a todos os envolvidos numa caminhada de 4 anos vindos da 3.ª divisão à primeira vitória num mundial: Federação Portuguesa de Râguebi, clubes, jogadores, equipa técnica, a todos.
Hoje e amanhã somos todos lobos. Lobos, lobos, lobos, lobos!

PS – Recado aos pais e mães: peguem nos vossos filhos e filhas e procurem um clube de râguebi nas proximidades. De Loulé, a Arcos de Valdevez, passando pela Lousã, Moita, Alcochete, Évora, Montemor, Coimbra, Lisboa, Setúbal, Porto, Braga, Guimarães ou Tondela, procurem e façam a inscrição. A todos, mergulhem no maravilhoso mundo do râguebi, seja pela componente competitiva, na famosa “terceira parte”, seja por via de projetos de cariz social que mudam a vida de outros, como é o caso do trabalho no Oh Gui, Escolhinha de Rugby da Galiza, Escola de São João da Talha e Rugby Com Partilha (declaração de interesses: sou voluntário neste projeto que leva o râguebi às prisões)."

1 comentário:

  1. e depois começam logo por faltar ao respeito a todos os clubes de rugby ou que tem equipas de rugby em homenageando os lobos num sitio de um clube que nada mas "NADA" fez pelo rugby.

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