segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Líderes do futebol português apoiam a criação de uma entidade externa para gerir a arbitragem. E como funciona em Inglaterra?


"Na XI Cimeira de Presidentes promovida na última semana pela Liga Portugal, houve consenso generalizado em relação à necessidade de se criar uma entidade externa para gerir a arbitragem do futebol profissional.
A ideia, lançada há alguns meses pela FPF e que originou desde logo a criação de um grupo de trabalho, surgiu pela necessidade de se “constituir e desenvolver um quadro de árbitros mais adequado”.
Como sabemos, este não é um tema novo por cá. Há vários anos que se fala na possibilidade de importarmos um modelo semelhante ao praticado na Premier League inglesa há mais de duas décadas.
A PGMOL - Professional Game Match Officials Board - nasceu em 2001 quando os árbitros ingleses passaram a profissionais.
Hoje em dia, a empresa faz uma gestão independente do setor, sendo financiada pela PL - Premier League, FA - Football Association e EFL - English Football League (competições onde atuam os seus árbitros), bem como pelos patrocinadores/parceiros que se associam à marca.
Atualmente trabalham diretamente com 117 árbitros (árbitras incluídas) e 177 árbitros assistentes, divididos em grupos distintos. A todos são asseguradas assessorias técnicas e condições de excelência, para que possam estar sempre ao mais alto nível, numa atividade que lhes exige exclusividade total.
Os árbitros da PGMOL reunem-se quinzenalmente para trabalhar em conjunto aspetos de ordem física, técnica e psicológica, além de trabalharem remotamente com muita assiduidade. Cada um tem um mentor (ex-árbitro experiente) que o acompanha, avaliando a sua evolução. Funcionam como uma espécie de treinador individual.
Todos os árbitros dispõem também de ferramentas tecnológicas de ponta, capazes de medir as suas performances em treino e em competição.
Importa sublinhar que, para avaliar a qualidade do processo de decisão, são chamados os delegados ao jogo, cargo geralmente ocupado por ex-jogadores e/ou técnicos credenciados. O seu input é fundamental.
A PGMOL conta ainda com uma vastíssima equipa que garante que nada falhe a este nível: preparadores físicos de topo, fisioterapeutas, corpo médico, psicólogos, analistas técnicos, etc, etc.
Naturalmente que ser árbitro (ou dirigente/gestor) num conceito desta natureza, pressupõe direitos e deveres. É preciso que todos estejam cientes que, em troca do acompanhamento de excelência e da remuneração atrativa, são esperadas arbitragens globalmente competentes. É também preciso que o CEO e restantes elementos do board percebam o conceito empresarial em que estão inseridos: é expetável que quem pague o serviço exija qualidade em troca.
Esta ótica, apesar de ter especificidades que devem ser salvaguardas em nome da independência do setor, tem tudo para acrescentar valor à arbitragem portuguesa. Uma das grandes vantagens é, de uma vez por todas, assumi-la como verdadeiramente profissional. É fundamental que nos afastemos rapidamente deste modelo "semi", que foi importante para assegurar a transição, mas que está já esgotado no tempo. Não faz mais sentido que uns tenham disponibilidade total para treinos e outros não; que uns integrem o projeto profissional e outros não.
O importante é que, quando este passo for dado, seja dado por todos e para todos, sendo que quem escolhe este caminho sabe que enveredará por uma atividade que lhes exigirá 100% de dedicação e compromisso.
Espera-se que a iniciativa traga sobretudo maior tranquilidade e proteção a uma classe demasiado exposta a ameaças, insultos e agressões.
Se for bem pensado, planeado e executado, este é um passo que tem tudo para dar certo.

Nota final - A criação deste organismo não pressupõe corte de cordão umbilical com a arbitragem amadora ou de formação. Pelo contrário. A colaboração deve ser ainda mais estreita, para que os critérios sejam uniformizados da base ao topo e para que exista o acompanhamento devido daqueles que, ao longo do tempo, forem mostrando mais apetência e vocação para a função.
Plantar hoje para colher amanhã."

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