sábado, 28 de outubro de 2023

Este Benfica precisa de treino


"Bom e agora é oficial. O júri chegou a uma conclusão e o juiz decidiu, está decidido: este Benfica 23/24 não está bem.
O jogo com a Real Sociedad foi o teste do algodão. Se a derrota com o Boavista se podia justificar com a expulsão do Bah, se a derrota com o Salzburgo se podia justificar com a expulsão de António Silva, se a derrota com o Inter se podia justificar com a valia do adversário, se as más exibições se podiam justificar com as vitórias alcançadas, na derrota com a equipa espanhola não dá para pôr panos quentes. As evidências entraram-nos pelos olhos adentro. No jogo todo o Benfica foi colocado na roda pela equipa basca e levamos uma lição de futebol. Daquelas que no ano passado éramos nós que dávamos, nacional e internacionalmente. O Benfica chega à 3ª jornada da Liga dos Campeões com 0 pontos e 0 golos marcados. Um zero autêntico esta participação e o fantasma dos zero pontos vai crescendo. O que se fez em 2017/2018 foi uma vergonha imensa e este ano está a parecer uma reedição. Sobram 2 jogos fora e o Inter em casa para pelo menos somar um ponto. Já nem falo de apuramentos...
O que se passa, Benfica? Temos o mesmo presidente, o mesmo treinador e quase os mesmos jogadores. Perderam-se peças importantes, sem dúvida. Enzo Fernández era um motor, Grimaldo um super lateral e Gonçalo Ramos um guerreiro goleador. Eram 3 jogadores de alto rendimento que não foram bem substituídos. Bernat não está bem fisicamente e Jurásek não tem nível para o Benfica. Basta ver o seu toque de bola. Gastou-se 14 milhões por outro Gilberto (muito esforçado e pouco mais). É evidente que Kokcü tem muita qualidade, mas parece ainda um peixe fora de água. E que dizer de Arthur Cabral? Arrisca tornar-se numa figura de culto, mas pelas piores razões. O que se está a ver é muito mau. Assim até custa acreditar que marcou vários golos na Liga Italiana. E dói reparar que o nosso rival gastou os mesmos 20 milhões em Gyokeres e o nível dos dois é da noite para o dia.
Roger Schmidt o ano passado acertou no onze e na tática. Recordam-se que a crítica que se fazia era que repetia sempre o mesmo onze e jogava sempre com os mesmos jogadores? Pois este ano, em todos os jogos apresenta uma equipa diferente. E porquê? Porque está desorientado. Vai testando novas fórmulas à procura de uma que acerte. No meio-campo ainda não percebeu se deve jogar Florentino, João Neves ou Kokcü. Até Aursnes e Chiquinho vai testando na equação. Roda os médios ofensivos e hesita no avançado porque nenhum dos três (Musa, Arthur e Tengsted) é de qualidade indiscutível. O alemão terá o argumento das lesões e jogadores que procuram a melhor forma física, mas isso não explica tudo. O Benfica este ano tem ganho pela qualidade individual dos jogadores, não pelo seu jogo coletivo. O ano passado éramos uma equipa asfixiante na pressão ainda no meio-campo adversário, que reduzia o campo quando não tínhamos a bola e que o expandíamos na posse. Via-se os jogadores sem bola em constante movimento, em busca de desmarcações, um carrossel oleado que chegou a ter momentos de brilhantismo. Este ano vemos pouco disso. A nossa pressão não é eficaz, os jogadores parece que estão sempre em esforço e a chegar tarde ao corte. E quando temos a posse de bola, há pouca movimentação, há pouca solidariedade coletiva. Muito elogiamos a disponibilidade de João Neves, um "maria-vai-a-todas", mas isso é sintomático de que a equipa não está bem estruturada. Porque se tivesse, ele não tinha que correr tanto. Numa grande equipa é a bola que corre muitos quilómetros, não os jogadores por estarem regularmente a ter que compensar os maus posicionamentos dos colegas.
Penso que acima de tudo o problema do Benfica este ano está no futebol. No treino. No jogo tático. E parece-me que falar em coração, ganas, raiva e intensidade seja conversa simplista e que não explica o problema. Mas é claro que também tem que haver mais disso. Um problema que o Benfica moderno (dos últimos 30 anos) tem é que lhe falta muitas vezes um pouco de orgulho próprio. Baixamos muito os braços e cedemos à tentação da noite e do escuro, sem dar grande luta. Pelo menos dentro do campo. Os adeptos muitas vezes também engolem a derrota, a má exibição, com mais facilidade do que deviam, mas felizmente o que não perdoam é sentir que a equipa não deu tudo. Caramba. Se não vai com flores, tem que ir à bomba. Se não há talento, tem que haver paixão. Mas neste jogo com a Real Sociedad vimos uma equipa amorfa, impotente, que esvaziou o ambiente nas bancadas. E assim em alguns momentos só se ouvia os 3.000 bascos e a noite acabou com assobios e lenços brancos.
Esta crítica é importante. Que se danem os adeptos do "apoia, garotão", do "quando estiveres no Marquês já elogias". Já não tenho pachorra para essas pessoas que confundem crítica construtiva com o mandar abaixo. Que não percebem que quando quem ama o Benfica o critica é porque fala de um espaço de carinho e que apenas quer o melhor para o clube. E que não é com gosto que o fazemos. Bem queria eu poder estar aqui a dizer maravilhas de tudo e de todos. O que não quer dizer que ache que o caminho agora é o da terra queimada. Não concordo com os (poucos) lenços brancos de ontem. A solução não é despedir Roger Schmidt nem desistir já desta temporada. Lá está, o Benfica tem que resistir a essa tentação de se deixar levar fácil pelo canto da sereia da derrota. É nisso que digo que não podemos ser amorfos e baixar a cabeça. O que é preciso é que Roger e sus muchachos parem com os dias de férias constantes e vão para o campo treinar. Treinar muito. Tem que ser como nos filmes do Rocky Balboa, o Eye of the Tiger a tocar e a equipa a suar. Roger tem que regressar aos fundamentos, repensar a tática, o modelo e fixar um onze em campo que volte a dar equilíbrio e dinâmica.
Quem avisa, amigo é. Da maneira que está, o Benfica até é capaz de ganhar a Casa Pia, Arouca e Chaves. Mas não ganha a Real Sociedad e Sporting. Por isso...treina Benfica, treina! Que o teu mal é treino."

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