domingo, 13 de agosto de 2023

Em busca do tetra inédito


"É o novo desafio para a história de Pep Guardiola no Manchester City. Conquistada a ansiada Champions, num ano de exceção que incluiu também Liga e Taça de Inglaterra, o City tem a oportunidade de fazer o que ainda não foi feito: arrecadar quatro títulos de campeão em linha. Já houve equipas altamente dominadoras bem perto disso, a começar pelo Manchester United que ganhou oito dos 11 primeiros títulos da Premier, iniciada em 1992/93. E voltou ao trono por mais três anos seguidos, entre 2007 e 2009, e podemos até falar de cinco campeonatos em sete se estendermos essa conta até 2013, o ano do último título de campeão celebrado em Old Trafford, ainda Alex Ferguson treinava e Giggs ou Scholes jogavam.
Passaram 11 anos e 12 campeonatos. O grande dominador da principal liga de futebol do mundo mudou de endereço mas não de cidade. Outrora na sombra do vizinho, o City cresceu e multiplicou-os, aos títulos, mesmo falando só dos de campeão: vai em três seguidos, cinco em seis épocas (todos já com Guardiola), sete se contarmos as últimas 12 (desde o tal derradeiro festejo do United), que Mancini e Pellegrini também abriram magnuns de champagne no Emirates. Acontece que nem na secular sequência anterior, da então Primeira Divisão Inglesa, alguém logrou, uma vez que fosse, um tetracampeonato. É o tal novo desafio para a nova lenda que se constrói em Manchester por estes anos.
Vai ser dura a tarefa, a começar pelo que os rivais prometem, e particularmente Arsenal, United e Liverpool estão a apostar mais forte ainda, em busca do tempo perdido. O Arsenal contratou um jogador de dimensão indiscutível para cada setor: foram 45 milhões por Timber para a defesa, 70 para ter Kai Havertz no ataque e 116 para que Declan Rice possa encher o meio-campo. É um alargar das opções de qualidade, na vingança da manta curta que pode ter custado o título anterior, ainda mais necessário no ano em que os jogos de futebol vão deixar de ter 90 minutos, que a compensação já está a levá-los todos para 100 ou mais. O Liverpool, a confirmar-se a chegada de Caicedo, depositou quase 200 milhões (mesmo isso, quase 200: 65 por Mac Allister e mais 128 pelo equatoriano) só na conta do Brighton, além de um outro cheque de 70 que seguiu para Leipzig, o preço do húngaro Szoboszlai. É todo um meio-campo que se renova, no ano das partidas de Fabinho, Milner e Henderson. Já o United mudou o rosto da baliza e pagou 52 milhões para lá colocar Onana, mais 64 para resgatar do Chelsea Mason Mount e chegou aos 83 para trazer de Bérgamo o prodígio Rasmus Hojlund, o Haaland dinamarquês.
Pode haver grandes nomes a viajar diariamente para Riade ou Jeddah, mas a consequência não é, seguramente, menor investimento na Premier, pelo contrário. E não referi ainda mais uma série de apostas dispendiosas de Chelsea e Newcastle e do que gastam igualmente Tottenham (que receberá mais de 100 milhões por Kane), Aston Villa ou West Ham, entre outros. As dificuldades crescem, não duvido, para o City este ano, mesmo se encontrou estabilidade tática, construída sobre os quatro gigantes da retaguarda (em que Gvardiol passa a ser opção de primeira linha) e tendo já assimilado – para o melhor e para o pior – o impacto brutal da chegada de Haaland. Mas saíram Gundogan e Mahrez, muito difíceis de substituir, sobretudo o alemão, que inicia e finaliza jogadas, muitas vezes as mesmas jogadas, como mais nenhum futebolista no mundo consegue fazer. É o médio organizador que invade a área como um silent killer (a expressão fica melhor em inglês e até vem a propósito se a liga é a deles). Também é por não haver Gundogan que o City faz tudo o que pode para ter Bernardo Silva por mais tempo. Perder os dois de uma vez deixaria os campeões de Guardiola mais longe do tetra. Logo agora que está mais perto do que nunca."

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