sexta-feira, 21 de julho de 2023

O Benfica na TV: frente ao Al Nassr, o hino da alegria europeia encarnada


"Em jogo de preparação, o Benfica, representante do decadente futebol da Europa, bateu por 4-1 o Al Nassr de Cristiano Ronaldo. Ángel Di María foi, de novo, o motor da felicidade encarnada, do jogo bonito, da alegria de tocar na bola. Na 2.ª parte, Schmidt tentou um onze mais pausado, da inteligência tática. Algures na mistura dos dois estará o onze base do Benfica 2023/24

O QUE SE VIU DE NOVO
Não será bem o que se viu de novo, mas Roger Schmidt parece ter chegado a este encontro com o Al Nassr com uma ideia bem definida: experimentar o ying e o yang deste Benfica. Entrou com Neres, Di María, Rafa e Gonçalo Ramos no ataque, gente da vertigem, das combinações rápidas, das triangulações que nos trocam as voltas, para no 2.º tempo chamar, por exemplo, Florentino, João Mário e Fredrik Aursnes, homens da calma, da pausa, da inteligência tática, num intervalo em que mudou os onze jogadores.
Algures numa mistura dos dois estará o possível onze-tipo do Benfica para esta temporada. Para o adepto que se sujeitou aos acessos terríveis do Estádio do Algarve, foi naturalmente muito mais divertido assistir à 1.ª parte, frenética, com Rafa e Di María a combinarem como se jogassem juntos há uma catrefada de anos, com golos bonitos nascidos de combinações de gente feliz a jogar à bola. O primeiro golo, do argentino, nasce de uma triangulação de ambos, com Di María a acabar um pouquinho mais com a carreira de Marcelo Brozovic com uma finta de corpo de fideo, antes de picar a bola por cima do guarda-redes dos sauditas. O segundo, de Gonçalo Ramos, acontece após novo negócio bem sucedido entre os pés de algodão de ambos. Tudo esteticamente belo, intenso, rápido, feliz, um hino à alegria europeia.
Porém, também foi na 1.ª parte que os encarnados sofreram o único golo da equipa agora orientada por Luís Castro. Com o Benfica totalmente balançado para a frente, uma bola perdida a meio campo precipitou uma avenida de infinitas faixas de rodagem para Ghanam receber um grande passe de Talisca e seguir sozinho para a baliza de Vlachodimos. Com Aursnes e João Mário em campo, talvez o Benfica não tivesse sofrido aquele golo.

OS REFORÇOS
Parece fino que nem fio de prumo o mercado do Benfica até agora. Ángel Di María voltou a brilhar, tal como já tinha feito na estreia. Sem problemas físicos, vem para somar muito: deu pólvora (não seca) e linhas de crédito infindáveis ao ataque, sempre em trocas de posicionamento com Rafa, abrindo espaços, cheirando a baliza.
Para a bola chegar ao quarteto ofensivo, passou tantas vezes por Orkun Kokçu, discreto distribuidor, a ir buscar a bola atrás, a procurar diagonais, a abrir o campo, enchendo-o de possibilidades. E essas diagonais quem as recebeu tantas vezes foi David Jurácek, o lateral esquerdo checo, a mostrar novamente bom feeling para o cruzamentos e poder de fogo na meia distância. Parece, de facto, reforço. No lance do golo do Al Nassr talvez pudesse ter feito melhor, mas a forma como recuperou no campo e ainda atrapalhou Ghanam é de sublinhar. Ristic, porém, será boa concorrência - mostrou-se a sério na 2.ª parte.
De resto, se considerarmos o jovem Samuel Soares reforço, aquela defesa a um remate à queima-roupa de Ronaldo momentos antes do português sair de campo, na 2.ª parte, já vale umas quantas estrelas.

COMO COMEÇOU
Vlachodimos; Bah, António Silva, Morato, Jurasek; Kokçu, João Neves; Di Maria, Rafa, Neres e Gonçalo Ramos

COMO ACABOU
Samuel Soares; João Vítor, Tomás Araújo, Lucas Veríssimo, Mihalo Ristic; Florentino, Chiquinho; João Mário, Aursnes, Andreas Schjelderup e Petar Musa.

O MELHOR
Impossível não referir Ángel Di María. Toque de bola, a fineza, a capacidade de fazer jogar. Parece continuar tudo intacto, conservado em salmoura de paixão pela bola. Decisivo mais uma vez, como já tinha sido frente ao Basileia. Roger Schmidt terá necessariamente de fazer gestão do plantel, mas por esta altura parece improvável que o argentino venha só para mexer no jogo: é para entrar a titular. Aquele lance aos 44’, em que recebe a bola no ar antes de proceder a inventar um chapéu a Cristiano Ronaldo devia ser emoldurado - está velho, El Fideo.
Em termos coletivos, as fragilidades do Al Nassr são evidentes, claro, apesar de não jogar nos enfraquecidos campeonatos da Europa, mas o Benfica parece já muito preparado para enfrentar a época. Há entrosamento entre os jogadores e soluções interessantes para todas as posições do onze, ao ponto de, por esta altura, ser impossível perceber se Florentino, Neres ou Aursnes serão titulares nesta equipa. Talvez sim, em vários jogos. Para outros, Schmidt tem outras hipóteses. Se o mercado for benévolo para o Benfica, as possibilidades não acabam.

A BANDA SONORA
O futebol europeu, diz Cristiano Ronaldo, está a perder qualidade e fulgor, pobrezito. Para se dizer bem da Arábia Saudita talvez não seja preciso apequenar o Velho Continente, casa de equipas que acabaram de ganhar 5-0 (Celta) e 4-1 ao Al Nassr, mas cada um vive na realidade que escolheu viver. Que, por acaso, é uma realidade muito bem paga.
Mas numa coisa Cristiano tem razão: a Europa de facto perdeu qualidade. Há uns anos tínhamos os Jogos sem Fronteiras e agora não. Isso é chato, tira-nos aquela panache. Aqui, não vai o Hino da Alegria de Beethoven, mas vai o hino da EBU, também mítico, e aquela cançãozinha que antecedia a aparição de Eládio Clímaco. Enfim, nem quero estar cá no dia em que acabar o Festival da Eurovisão."

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