sexta-feira, 16 de junho de 2023

O paradigma Kökçü

"Vamos colocar as coisas numa perspectiva que, sabemos, é pouco perspetivável por estes dias: 25 milhões de euros é bem menos do que os quase €30 milhões que o Nottingham Forest, recém-subido à Premier League, pagou ao Wolverhampton no último verão por Morgan Gibbs-White, um médio ofensivo genérico no grande esquema das coisas do futebol. Mas €25 milhões de euros pagos pelo campeão nacional português por um qualquer jogador, é muita massa, uma enormidade.
E com isto, para lá da conversa dos milhões, chega um novo paradigma ao futebol português, que talvez nunca tenha sido tão ambicioso.
Os €25 milhões (que se podem transformar em 30, dependendo de objetivos) que o Benfica pagou ao Feyenoord por Orkun Kökçü são um novo recorde da liga portuguesa. Repare-se: não é muito mais que aquilo que os encarnados pagaram por Julian Weigl, Raúl de Tomás, Everton Cebolinha ou Darwin Núñez ou que o FC Porto tenha dado por David Carmo ou Óliver Torres, mas, ao contrário destes, Kökçü não é uma juveníssima esperança, um jogador a tentar relançar a carreira ou numa primeira experiência europeia: aos 22 anos, Kökçü é capitão da equipa campeã dos Países Baixos, campeonato acima do nosso no ranking, com quase uma mão cheia de temporadas a ser ali titular e com portas abertas nas melhores ligas da Europa depois de uma época de consagração.
E isto atesta bem o golpe mental do Benfica: Kökçü, que, diz-se, irá ganhar três vezes mais do que no Feyenoord, é contratado para contribuir muito e no imediato. Para ganhar o campeonato e, principalmente, para subir o nível dos encarnados na Champions, depois dos quartos de final da última época. O objetivo primeiro é desportivo, algo a que estamos tão pouco habituados por cá, no nosso futebol de porta giratória para outras paragens. E, aos 22 anos, o médio de origem turca poderá muito bem
ainda dar o salto para Inglaterra, Espanha ou Alemanha - o Benfica colou-lhe uma cláusula de 150 milhões de euros, se alguma vez for acionada, é porque o investimento correu bem a nível financeiro e desportivo.
Enquanto isso, em vez de estar numa equipa de meio de tabela da Premier League, Kökçü pode estar a lutar por títulos em Portugal - e isto só é bom para o nosso campeonato, porque eleva a exigência não só no Benfica, mas também nos rivais.
Uma semana depois de terminar a temporada, o Benfica dá o primeiro gancho nos queixos dos adversários. Ninguém pode garantir que Kökçü terá sucesso por cá (olhe-se para Raúl de Tomás, que não se adaptou), mas seria difícil contratar um jogador com tantas condições para tal. É um médio mandão de bola, que a trata e a entrega com uma qualidade que não se vê nos encarnados desde que Enzo Fernández preferiu abalar para um Chelsea em chamas. A sua contratação, por si só, assusta cá dentro e surpreende todos aqueles que lá fora o viam noutras latitudes e criticam o campeonato português.
Cá dentro, restará ao FC Porto e Sporting, neste momento provavelmente muito longe de poderem dar-se ao luxo financeiro de tamanha operação, contratarem bem e desenvolverem os melhores jogadores das academias - não esquecer que os leões foram campeões na época em que o Benfica gastou €100 milhões em contratações e o FC Porto venceu há um ano às costas do talento de Vitinha, Diogo Costa e Fábio Vieira. O desafio não é impossível. E vai exigir criatividade e coragem, substantivos que ficam tão bem de mãos dadas com o futebol.
Posto isto, eu que até me achava cansada do nosso futebol, dou por mim ansiosa para ver as ondas de choque desta inesperada contratação, porque não há ação sem reação - e quem não reage, com mais ou menos meios, está morto. Kökçü tem de ser oportunidade, e não para abrir um fosso. Nunca mais é agosto.

O QUE SE PASSOU
Era Arábia, depois o pródigo regresso ao Barcelona e no final não foi nada disso: Lionel Messi vai ser jogador do Inter Miami, equipa da MLS que tem David Beckham entre os proprietários. A Adidas e a Apple deram uma ajudinha, mas o argentino diz que o bem-estar da família foi essencial para a algo inusitada escolha.
Bateu no fundo, mas voltou à tona: o Estrela da Amadora está de regresso a uma I Liga que abandonou há 14 anos, depois de bater o Marítimo no playoff de permanência/subida. E em muitas e muitas décadas, não haverá uma equipa insular na I Liga.
Por falar em muitas e muitas décadas, a Ferrari, que vai sofrendo na F1, voltou de forma triunfal a um dos santuários do automobilismo, vencendo a edição centenária das 24 Horas de Le Mans 58 anos depois do último triunfo."

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