quinta-feira, 8 de junho de 2023

Economia do desporto


"Economia do desporto: será que estas duas noções (economia e desporto) apresentam associações incongruentes? Ou será que é uma particularidade dos economistas? Contemporâneo do aparecimento dos primeiros desportos e do consumo de artigos desportivos, o barão Pierre de Coubertin não terá sido, provavelmente, ingénuo ao ponto de se pronunciar sobre isso. Hoje, em dia, o desporto, como prática e como espetáculo, é financiado e sujeito a uma gestão.
A atividade desportiva implica o consumo de bens e de serviços, que têm de ser produzidos e que têm um custo que determina o seu preço. Numa economia de mercado capitalista, a prática do desporto dá origem a uma procura de bens e de serviços, abrindo, assim, um mercado para a indústria e o comércio, e, claro, criando emprego. A finalidade da economia do desporto expande-se com a redução do tempo médio de trabalho, permitindo um estilo de vida, em que a parte do tempo livre aumenta. Sendo, em certas condições, uma esfera de investimento rentável e um vasto mercado nacional e internacional, o desporto atrai capitais e publicidade. Desta forma, o resultado é uma interpenetração crescente do desporto e da economia.
Nos países ditos desenvolvidos, o peso económico do desporto situa-se entre 0,5 e 2% da economia nacional. Os montantes financeiros tendem a concentrar-se no desporto profissional, de alto nível e de lazer, que ocupa um lugar importante na economia do desporto. No entanto, a economia do desporto não pode negligenciar a participação das populações, exigindo infraestruturas, equipamentos, deslocações e custos de organização.
A economia do desporto moderno nasceu no final do século XVIII. As relações entre a economia e o desporto estreitaram-se no início do século XX: os órgãos de imprensa organizam corridas de bicicletas, surgem os primeiros desportos profissionais nos Estados Unidos da América e, nos anos 1930, o futebol profissional estende-se pela Europa. Os Jogos Olímpicos de 1936 foram o primeiro grande acontecimento desportivo a ser transmitido pela televisão a nível internacional e os primeiros patrocinadores, que substituíram os antigos mecenas desinteressados, apareceram nos desportos americanos e ingleses.
A investigação sobre a economia do desporto enfrenta ainda muitos problemas metodológicos. O primeiro, é a definição do próprio desporto. Em seguida, a insuficiente transparência sobre o financiamento e a gestão do dinheiro que circula no desporto. A ausência de informações estatísticas sistemáticas e publicadas persiste, obrigando o investigador a cruzar dados fragmentários provenientes de fontes diversas e, muitas vezes, incoerentes. Os recenseamentos efetuados pelas organizações profissionais interessadas no desporto são tão parciais, como os seus próprios interesses (comerciais ou financeiros). Os benefícios e os custos do desporto não podem, portanto, ser medidos com exatidão, sendo necessário fazer suposições restritivas; por exemplo, na avaliação monetária do trabalho desportivo voluntário ou dos benefícios sociais e de saúde do desporto. Ou ainda, que proporção do calçado desportivo vendido é, efetivamente, utilizada para a prática desportiva?
A economia do desporto conheceu igualmente um alargamento do seu domínio na última década. O campo de análise abrangido inclui agora elementos da economia pública (orçamentos desportivos dos Estados e das autarquias, fiscalidade), o estudo do comportamento das famílias (práticas desportivas e consumo), incursões na economia industrial (a indústria e os mercados de artigos desportivos e as estratégias das empresas envolvidas no desporto) e o estudo do impacto do desporto no meio ambiente.
Existe uma “mercantilização” do desporto, submetendo-se a uma lógica económica. E isso, por vezes, vai para além do que é compatível com a ética desportiva."

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