quinta-feira, 29 de junho de 2023

5 boas cenouradas no novo milénio


"O regresso de Ángel Di Maria ao SL Benfica é uma enorme cartada de Rui Costa, talvez só comparável à de Aimar no longínquo Verão de 2008, quando com ele aterrou no aeroporto de Tires à hora de jantar.
O presidente encarnado tem o dom de conseguir convencer os maiores craques do continente, ajudado pela sua lendária reputação enquanto organizador de jogo em Itália, e faz questão de dotar a equipa das maiores qualidades individuais, quando assim tem liberdade. Como presidente, tem a faca e o queijo na mão como já não tinha desde há 15 anos e por isso, tal como esse plantel, o Benfica 2023-24 será dotado de reconhecida qualidade internacional.
Neste exercício, o Bola na Rede foi revirar as gavetas e recordar os grandes nomes que fizeram parte dos Verões encarnados. Tentámos recordar apenas os que ficaram pelo caminho, aqueles que de quem muito se falou, de quem meteu o Estádio da Luz em polvorosa só pela hipótese de aterrarem em Lisboa, daqueles que se tornaram ícones cómicos que são agora lembrados maioritariamente em memes fáceis – Cavani, pela proximidade temporal e, por isso, ser fácil lembrar todos os detalhes da novela, fica de fora.

Christian Wilhelmsson
O extremo sueco não precisou da estilosa crista loira para chamar a atenção do Benfica em 2004. Figura do Anderlecht, destacou-se quando os belgas passaram os portugueses a ferro na pré-eliminatória da Liga dos Campeões: se o 1-0 da Luz, feito por Zahovic, dava boas esperanças para o regresso à fase de grupos seis anos depois, o ambiente frenético no Constant Vanden Stock amedrontou o onze de Giovanni Trapattoni, vergando-o a humilhante 3-0.
Wilhelmsson, escudado por Baseggio, Aruna Dindane ou Mpenza, foi demasiada fruta para a frágil defesa do Benfica e o interesse cresceu, resistindo como novela permanente a cada abertura de mercado nos anos seguintes. O sueco seria, entretanto, contratado pelo Nantes e emprestado consecutivo à Roma, Bolton ou Deportivo – é depois da aventura espanhola, em 2008, que se dá o último gemido de paixão. Noticiava o O Jogo que o Benfica, que à altura já era de Quique Flores, queria o sueco como seu ala direito. Não se concretizou, veio Balboa no seu lugar e Wilhelmsson seguiria para um já apetecível, mas pouco mediático futebol árabe, para o Al Hilal.
Foi um namoro longo, que proporcionou inclusive declarações públicas de interesse mútuo. Em 2007, já dizia Wilhelmsson que «gostava de ter ido (para o Benfica) mas, infelizmente, os clubes não chegaram a acordo» – e tanta proximidade com o Benfica tenha talvez provocado uma intuitiva antipatia por figuras azuis e brancas, como contou no seguimento.
Acontece que Wihelmsson, como craque do Anderlecht, foi contemporâneo de Sérgio Conceição na Jupiler Pro League, à altura o capitão do Standard de Liège. E as coisas azedaram, em determinada altura: «Ele teve uma grande carreira, não precisava de ser tão rude em campo, onde não revelava fair play. O problema começou em campo e depois ele foi dizer disparates sobre mim para os jornais e eu respondi. Mas passou, já não me interessa.»
Jogador de grandes recursos técnicos, o sueco comprovou qualidades sobretudo pelo percurso ao nível da selecção, numa altura que se juntavam nas concentrações de Estocolmo nomes da categoria de Ljunberg, Henrik Larsson, Ibrahimovic, Mellberg ou Isaksson, e vindo do banco aparecia já um novato que tinha Kim Kallstrom nas costas. Participou, integrado nesse grande conjunto, o Euro 2004, o Mundial 2006, o Euro 2008 e o Euro 2012, longo caminho no qual coleccionou 80 internacionalizações e marcou nove golos.

Ronaldinho
Quando Ronaldinho espeta esta panenkada a Bossio, num jogo em Paris a contar para o Taça da Amizade, já era figura de cartaz da Ligue 1 e da Canarinha.
Por isso, no final daquela 2003-04, o Manchester United encostou a testa à do Barcelona, e tiveram ali no vai-não-vai até os catalães conseguirem lançar a cartada triunfal dos 30 milhões de euros, valor justo pelo então campeão do mundo.
Por isso mesmo, o seguinte relato de José António Camacho, retirado dum apanhado geral à sua passagem pelo Benfica, escrito por Gabriel Alves, toma proporções de delírio. Mas aqui fica, como prova de que o Benfica concorreu pelo passe daquele que seria o melhor jogador do mundo nos dois anos seguintes.
«Já no que diz respeito a Ronaldinho Gaúcho, considero que no ano em que o Benfica estava a festejar o seu centenário deveria ser contratado um grande jogador. Estava absolutamente seguro que se o clube contratasse uma estrela iria criar-se uma dinâmica muito forte, arrastando muito público ao estádio e motivando toda a equipa.
Acredito ainda que, posteriormente, seria muito fácil tirar proveitos económicos com a venda desse jogador, com o Benfica ganhar dinheiro suficiente para construir uma equipa mais forte.
Na altura achei o Benfica a ponte ideal para Ronaldinho – por aquilo que são as características dos jogadores brasileiros – para depois ser transferido para Espanha, Itália ou Inglaterra.
Recordo que nessa época o Ronaldinho jogava no Paris Saint Germain. Quando falámos com ele, estava disponível para vir para o Benfica e o acordo com o PSG bem encaminhado. Para completar a operação, só nos faltou o apoio dos bancos. Como não conseguimos ser suficientemente rápidos, apareceram outros clubes».

Jon Dahl Tomasson
Com um debilitado Mantorras a ser obrigado a assumir as rédeas e a marcar ele os golos que deram o título mais suado do historial benfiquista, facilmente se chegou à conclusão, pelos gabinetes da Luz, de que era mesmo urgente contratar um ponta de lança de eleição.
Nuno Gomes tinha chegado com muita dificuldade à dezena de golos, Sokota passava imenso tempo na enfermaria, Karadas era para vender; e por isso naquele Verão de 2005, já com Ronald Koeman a planear tudo, alguém mandou José Veiga ir à procura desse 9.
O empresário português soube que o Milan se queria desfazer daquele que permitia o descanso de Inzaghi ou Shevchenko – o luxo era tanto que o suplente eterno daquele Milão era Jon Dahl Tomasson, atirador furtivo que três anos antes tinha ganho a UEFA com o Feyenoord e que desde aí, em Itália, tinha feito 35 golos, sempre com utilização reduzida.
Tomasson sentia que podia almejar mais que o banco do gigante, ele que era a principal figura da selecção dinamarquesa e que com ela já tinha disputado Euro2000, Mundial de 2002 (onde fez quatro golos em quatro jogos) e Euro2004, onde jogou tão bem que foi eleito para o onze do torneio. Era um atleta cotado no mercado internacional e por isso nunca seria uma transferência fácil para o Benfica.
Mas tudo se processou numa semana: a 15 de Julho, o Record dizia que estava por horas, que Veiga já tinha acordado tudo com Galliani – presidente italiano – e Ariedo Braida, o empresário; mas no dia a seguir, o sonho virou pesadelo, que o Estugarda de Giovanni Trapattoni – que tinha acabado de ser campeão em Lisboa… – meteu 7,5 milhões de euros em cima da mesa e convenceu imediatamente o dinamarquês, que esclareceu prontamente a escolha. «Não interessa apenas em que competições o clube vai jogar. Se decidimos mudar, temos de ponderar vários aspectos. Se apenas me interessasse a Liga dos Campeões podia ter ficado no Milan. Mas eu queria algo de novo. Nunca joguei na Bundesliga, que é para mim um dos melhores campeonatos. Quero conseguir triunfos com o Estugarda na Liga e na Taça UEFA».
Na Luz, ficou tudo a puxar cabelos – José Veiga, que queria apresentar dois internacionais num jogo com o Chelsea e já tinha Léo, o lateral do Santos, era o mais irritado com a traição. Em conferência de imprensa, meteu os pontos nos Is ao afirmar que tinha conseguido «o mais difícil, que foi ter chegado a acordo com o Milan e ter assinado um contrato com o seu presidente», mas algo continuava a falhar. «Falta sempre o quase e esse quase foi mais o representante que o próprio jogador. Houve exigências a praticamente todas as horas e chegou a um ponto em que o Benfica não podia continuar porque não podia dar resposta a essas exigências».
Tomasson seguiria para a Alemanha, onde se estreava com 37 jogos e onze golos na primeira temporada, ainda que apenas com direito a 9.º lugar na tabela final. Menos mal, sabendo o que se sabe agora – o Estugarda trocaria Trapattoni por Armin Veh e, com Fernando Meira a capitão, sagrar-se-ia campeão alemão em 2006-07, época que Tomasson terminou na La Liga, por ter sido emprestado ao Villareal em Janeiro.

Maxi López
O malogrado Maxi Lopez, que é por estes dias mais conhecido pela rivalidade com Mauro Icardi, foi em tempos um avançado de créditos reconhecidos, com formação no River e trajecto digno na Europa.
O Benfica entra na sua história em 2005, quando ainda jogava na Argentina, mas era já um dos alvos mais apetecido dos tubarões, pelo duplo passaporte; A 9 de Janeiro era noticiada a intensificação do namorico benfiquista e, pelos vistos, a 12 já Maxi “desesperava” pelo desbloquear da situação.
Os jornais portugueses já lhe falavam do Benfica como “futura equipa” e testavam o seu conhecimento futebolístico, com Maxi a sair-se bem na fotografia. «O Benfica é uma formação que luta sempre pelo título e possui jogadores importantes como o Nuno Gomes, o Geovanni e o Simão. A equipa tem um peso muito importante na história devido aos diversos títulos que já conquistou.» Parecia que ia tudo dar certo, felizmente para ele e para o clube. A equipa exasperava por um matador, além dum ‘10’ – que seria Nuno Assis.
Mas uma semana depois, tudo ruía. A 24 de Janeiro, já era manchete o afastamento do Benfica e a aproximação do Barcelona, que era quem acabaria por ficar com ele. Segundo as notícias, os Culés tinham oferecido 5,5 milhões – mais 500 mil euros que o Benfica… – e a Media Sports Investment, ou só MSI, fundo detentor do passe do jogador, pedia agora seis milhões. Sim, porque Maxi entretanto já não pertencia ao River, mas ao mesmo fundo que colocou Tevez e Mascherano no Corinthians, depois no West Ham e a seguir no Manchester United e Liverpool, respectivamente.
Como muitos se lembrarão, a cara da operação era Kim Joorabchian, um super-agente de origem iraniana e, presumivelmente, grande amigo de Roman Abramovich. E aí, em 2005, ainda nada tinha corrido mal.
O Barcelona assegurou Maxi – que não teria grande sucesso na Catalunha – e o Benfica foi obrigado a contentar-se com Delibasic, um sérvio formado no Partizan que naquela segunda volta participaria num único jogo.

Robinho
Duplo campeão brasileiro e vice na Libertadores, Robinho marcou uma era na Vila Belmiro e foi o destaque da melhor equipa pós-Pélé.
O Benfica, à altura do interesse, não era campeão há 11 anos e não ia à Liga dos Campeões há seis. Mesmo assim, quando viram os Benfiquistas que o FC Porto campeão europeu tinha substituído Deco por Diego, o ‘10’ escudeiro do fantasista Robinho no Santos, acharam que seria possível recrutar a estrela maior.
Durante umas semanas, essa foi uma possibilidade real, mas com Robinho a estacionar apenas uma época na Luz antes de rumar ao Chelsea. Em 2020, o brasileiro contava tudo ao Record:
«O Benfica foi um dos primeiros clubes a fazer-me uma proposta, quando eu tinha 20 anos e jogava no Santos. Antes de chegar ao Real Madrid, quase fui jogador do Benfica (… )Eu esperei um pouco. Depois apareceu o Real Madrid. Com todo o respeito pelo Benfica, mas o Real Madrid naquele momento era um clube com maior visibilidade. Eu cheguei até a estudar o Benfica, a olhar o número de adeptos, de benfiquistas. O Benfica tem uma ‘torcida’ muito grande em Portugal. Mas acabou por não dar certo».
A 27 de Outubro de 2004, o Correio da Manhã explicava as opções: ou se fazia com recurso a esse trânsito em Lisboa antes de rumar a Londres, ou se cumpria negócio nos mesmos moldes de Luisão, com o Benfica a comprar apenas uma percentagem do passe, com o restante a ser assegurado por uma empresa como a já citada MSI.
Claro que nenhuma das duas e Robinho assinaria uns meses depois pelo Real a troco de 24 milhões, herdando de Figo a camisa 10."

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