terça-feira, 16 de maio de 2023

O mais genial dos jogadores normais


"Está de partida um daqueles que nos explica que o futebol é muito mais do que o óbvio. Em rigor, não partirá de vez, mas deixa o Barcelona, o que é a mesma coisa. Lembro que Iniesta ainda joga, vai na sexta época no Japão, mas nem damos por isso.
Os grandes palcos são na Europa e na Europa ele não jogará mais. Ele, Busquets, o Sergio da camisola 5, eterno Busi, o homem a quem Guardiola atribuiu uma função para que a alterasse e ele fê-lo. Passou 15 anos consecutivos a ensinar-nos, a cada semana, que um grande jogador não tem de ser ao mesmo tempo robusto, rápido, agressivo, driblador, forte a assistir e eficaz a rematar.
Pelo contrário, pode nem ser nada disso e revelar-se, todavia, o melhor de todos na função.
Busquets foi mesmo o melhor de todos ali, onde as equipas precisam do ponto de apoio, da bússola que orienta o rumo como da rede que suporta a queda, da boia mesmo, se em desespero. Para o ano vai parecer que há um espaço por preencher no centro do terreno em Camp Nou. E sempre que se falar do Barça lendário, da melhor equipa que o mundo viu neste arranque de milénio, ele lá estará, incontornável, merecendo muito surgir a par de cada um dos baixinhos predestinados.
Será sempre o Barcelona de Messi, o melhor de todos, mas também do triângulo de ouro que o suportou, com Iniesta, Xavi e Busquets. E se o verbo é suportar, então o mais decisivo foi mesmo Busquets, o melhor exemplo que encontro de um jogador que faz melhores os que o rodeiam.
Xavi, Iniesta e até Messi é que lhe devem muita da unanimidade a que chegaram. Busquets nunca será unânime, até porque são cada vez menos os que veem jogos inteiros e só valorizam os acrobatas dos resumos ou dos jogos de consola.
O Barça procura o herdeiro no basco Zubimendi mas já há um sucessor natural, em Espanha e nas mãos de Guardiola. Chama-se Rodrigo, Rodri para os amigos, e a atual versão conquistadora do City também resulta da sua afirmação plena, mesmo se, também neste caso, será sempre mais fácil atentar nos golos de Haaland, nas arrancadas de KDB, na invenção mágica de espaço que Bernardo e Gundogan protagonizam à vez.
Rodri tem de lá estar como suporte, no entanto, disponível sem bola e clarividente com ela, sendo em momentos consecutivos o último defesa e o primeiro atacante. É a cola da melhor equipa mundial deste tempo como Busquets foi da outra.
Há, ainda assim, uma diferença fácil de assinalar: Rodri remata espantosamente, especialidade em que Busquets não foi sequer sofrível. Mas, inteligente como poucos, também não tentou ser. Quantos remataram mal a vida toda, mas não deixaram de tentar, na busca efémera de um sublinhado na ficha de jogo.
Busi nunca quis ser quem não era e quase só marcou golos por engano, provocando nesses momentos mais sorrisos do que festejos. Verdadeiramente separando, só nesses momentos, aquilo que mais ajudou a juntar, sorrisos e festejos, no melhor tempo de futebol que há memória em Barcelona e por toda a Espanha.
Campeão do Mundo e da Europa, 3 Ligas dos Campeões, 3 Mundiais de clubes, mais 7 Taças do Rei e outras tantas Supertaças. Ninguém como ele esteve lá sempre, todo este tempo. E vai sair campeão, pela nona vez, como merece.
Curvemo-nos perante o mais genial dos jogadores normais."

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