"O lance do segundo golo do Benfica no domingo é um momento para a história, daqueles que são recordados para sempre. À luz das leis do futebol e suas incontáveis interpretações, recomendações e excepções, eleger-se-ia como exemplo para memória exemplar se os dirigentes da arbitragem não fossem tão cobardes na defesa do seu ofício, preferindo alimentar a dúvida por omissão e continuar a viver à sombra do tabu da “verdade desportiva”.
Em dois dias, ouvi e li as mais rebuscadas explicações a sustentar o protesto leonino, in dúbio pro queixoso.
Que Florentino estava em fora de jogo.
Que Florentino obstaculizou (!) - como revisão semântica do radical “Florentino obstruiu”, demasiado explícito para o desmaio de Coates.
Que Florentino tirou proveito.
Tudo certo, mas também tudo legal.
Porque não teve interferência na disputa da bola.
Porque se limitou a manter a posição enquanto o trôpego Coates sucumbia à electricidade estática da camisola vermelha.
Porque se soube posicionar corretamente para concluir uma jogada que, noutras circunstâncias, seria elogiada como das melhores do produtivo laboratório de Roger Schmidt e Javi Garcia.
Vi o jogo numa televisão inglesa e a única crítica que ouvi foi ao colapso ridículo do gigante uruguaio e à sua preguiça em levantar-se para ajudar os companheiros sufocados pela avalancha de remates contrários no coração da área.
Há muitos anos, os narradores brasileiros entenderam chamar a este tipo de jogada, que consiste em o defesa se deixar contactar e cair à frente do avançado, como “perigo de golo”, uma forma expedita de os maus árbitros se isentarem de responsabilidade em lances confusos na área, protegendo quem defende em contraciclo à essência do jogo.
E não pensava dar uma linha para este peditório até me chegar à vista a leitura de Markus Merk, sem discussão um dos três melhores árbitros mundiais de sempre, que, abreviando, fez a mesma leitura do lance: fora de jogo posicional, bola fora do alcance dos jogadores em luta legítima pela melhor posição e triunfo natural da pressão do ataque sobre o mau posicionamento da defesa.
“No lance aos 90’+4, no choque entre ambos os futebolistas - diz Merk - há um contacto de Coates com Florentino, mas é provocado pelo defesa do Sporting. Não há razão para anular o golo, o fora-de-jogo também não existe, pois a bola encontra-se numa zona fora do raio de ação”.
Apenas futebol, portanto.
Mas demos de barato que o Merk não percebe do assunto no cotejo com os Pinas e Leirós desta vida. E que, realmente, existe um fundamento para o choro dos perdedores.
Este lance é tão importante e ao mesmo tempo tão memorável que não se entende como os “defensores” e “responsáveis” da Arbitragem não o aproveitam para esclarecer, de forma oficial, taxativa e definitiva, em simultâneo, a intoxicante opinião publicada e a opinião pública intoxicada. Tal intervenção seria tão marcante e histórica como o próprio golo - ou mais. Seria didáctica e profilática.
Assim, é apenas mais um desperdício, mais uma anedota, mais de cem anos disto, o chamado “futebol português”, cujos derrotados insistem em nunca aceitar que a realidade estrague uma boa desculpa."
Fala quem sabe.
ResponderEliminarPobres calimeros lagartos e outros aziados anti-Benfica.
Carrega Benfica!!!
Excelente comentário do João. De facto com um Conselho de Arbitragem a sério, este lance serviria para fazer escola, junto dos árbitros portugueses, sobre o modo como dever ser ajuizadas estas situações. Contudo quando a corrupção e a incompetência estão em cargos de topo é impossível evoluir.
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