"Um golo do médio aos 73’ abriu caminho para o triunfo (2-0) dos líderes da I Liga contra o Gil Vicente, resultado selado por um penálti de Grimaldo. A equipa de Schmidt mantém a distância para o SC Braga antes do duelo da próxima jornada e pressiona o FC Porto, após um jogo em que o banco fez a diferença
O desconforto do Benfica é evidente. Já não se trata de uma crise pontual, de uma semana de dúvidas depois de uma derrota contra o FC Porto. É algo mais profundo: trata-se da sensação de ir à frente da corrida e ter ali alguém a respirar-lhe na nuca, de olhar para o retrovisor e ver o adversário bem perto, de estar há tanto tempo a liderar a maratona que essa solidão pesa nas pernas.
Este complexo do líder perseguido, esta sensação de predador que está a ser caçado, voltou a entrar em campo em Barcelos. Viu-se na apatia dos primeiros 30 minutos, quando a equipa não rematou à baliza rival; na ansiedade na finalização no final da etapa inicial; nos receios nas faces de João Mário e Gonçalo Ramos, que subitamente passaram de certezas goleadoras para fontes de interrogações perto da baliza adversária.
Quanto o tempo apertava e o Gil até estava atrevido, Roger Schmidt fez quatro alterações entre os 62' e os 73'. Tantas vezes criticado por não mexer na equipa, o alemão lançou Gilberto e Gonçalo Guedes, primeiro, e Chiquinho e Musa, depois. E, desta feita, os suplentes fizeram a diferença.
Nas primeiras vezes em que tocaram na bola, Chiquinho e Musa deram continuidade a um lance no corredor central. Oxigenaram a ação para a direita, onde Aursnes, que começara a lateral mas já atuava mais à frente, recebeu. O norueguês olhou e cruzou com precisão.
O passe do todo-campista pedia uma finalização, uma entrada de cabeça, um rematador que transformasse aquele convite em plano concreto. Com os dois melhores marcadores do campeonato já no banco, com Rafa novamente ausente do golo, foi o homem cujo nome, a dado momento da temporada, gerou trocadilhos com certo Bola de Ouro francês a ir aos céus de Barcelos buscar aquela gola.
Agressivo e contundente, autoritário e oportunista, Chiquinho usou a cabeça para limpar a cabeça do Benfica do complexo do líder perseguido. Ainda não tinha marcado na I Liga mas ali, aos 73' da deslocação ao terreno do Gil Vicente, fez um dos golos mais importantes da época do Benfica. Aos 86', Grimaldo, de penálti, selou o 2-0 final. O festejo de Roger Schmidt foi um profundo grito de alívio. O perigo de Barcelos está salvo. Faltam quatro jornadas para o final.
Perante um estádio cheio e em ambiente de jogo grande, sentindo-se que passava por aqui o cozinhar da decisão da I Liga, o Benfica começou a dominar, mas os primeiros avisos de perigo foram do Gil Vicente. Primeiro num remate forte de Adrián Marín, depois num cruzamento de Carraça desviado por Grimaldo e de seguida num tiro de Boselli defendido com aperto por Vlachodimos, os locais arrancaram mostrando argumentos para terminar com a série de cinco jogos sem marcar. Não o conseguiram, agravando o péssimo momento, com apenas dois pontos somados nos últimos sete encontros.
A equipa de Daniel Sousa apresentou uma linha defensiva muito subida, que apanhou Gonçalo Ramos por duas vezes em fora de jogo em lances que acabaram dentro da baliza do Gil. Andrew, o jovem guardião da casa, começou por se destacar por cortar, fora da área, bolas colocadas nas costas da sua defesa, mas terminou o primeiro tempo evitando o 1-0 entre os postes.
Aos 37’, o primeiro remate do Benfica à baliza adversária foi, simultaneamente, uma soberana oportunidade de golo. Rafa serviu Neres, mas o brasileiro, sozinho perante Andrew, viu o compatriota negar-lhe o golo.
Em cima do descanso, um cruzamento atrasado de Aursnes, novamente lateral, encontrou um remate enrolado de Florentino, daqueles que saem mordidos e em que fica evidente que o médio não é um finalizador. Andrew fez uma defesa incompleta, mas evitou a recarga de Neres, voltando a demonstrar a sua invulgar agilidade. O descanso chegou com 0-0.
O segundo tempo começou, novamente, com o Gil mais perigoso. Fran Navarro, que secou nos 17 golos na época, atirou ao lado, Boselli, após atrapalhação entre António Silva e Vlachodimos, falhou o alvo com o grego fora da baliza e Tiba, de longe, forçou o dono da baliza do Benfica a defesa apertada.
Depois vieram as substituições e a tentativa de agitar por parte de Roger Schmidt. O Benfica não acumulava oportunidades e o alemão, desta vez, não ficou parado, tirando os 34 golos só no campeonato que João Mário e Gonçalo Ramos somam entre si.
Aos 73', quando os nervos poderiam começar a toldar o discernimento, veio 1-0. A partir daí, Barcelos tornou-se num pequeno Estádio da Luz. Grimaldo, de penálti, fez o 2-0 final e Musa, o outro suplente com impacto, acertou na barra.
A partida terminou com um momento de união entre adeptos e equipa, um sinal importante depois das grandes dúvidas recentes. As decisões da I Liga estão aí, o momento em que tudo parece custar mais. Faltam quatro jornadas e o Benfica vai para a próxima ronda, em que recebe o Sporting de Braga, com seis pontos de vantagem para os minhotos e pressionando o FC Porto. O líder pode sentir-se perseguido, mas ter esse desconforto significa que é líder. Como diz Schmidt, está tudo nas mãos do Benfica."
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