quarta-feira, 5 de abril de 2023

A tortura da FIFA


"Na última semana, por entre jogos enfadonhos contra adversários medíocres, falou-se bastante de João Mário e dos assobios de Alvalade. Até a FPF emitiu um comunicado, cosia que não fez quando jogadores da seleção (sim, jogadores da seleção), aos olhos e ouvidos de todos, insultaram o maior clube português.
Das muitas opiniões que li e ouvi sobre o assunto, nenhuma tocou no ponto que me parece essencial: a insensatez de interromper competições de clubes no momento em que estão mais acesas.
O mundo mudou. O futebol também. Mas a FIFA (ou seja lá quem define os calendários), que se adaptou com tanta eficácia aos novos modelos de circulação de dinheiro, parece não entender nada sobre as emoções dos adeptos, esperando apenas que a galinha dos ovos, de ouro se mantenha fértil. Pretender que, de uma semana para outra, se coloquem paixões no congelador, e se mude o chip de forma abrupta, é dar uma machadada naquilo que verdadeiramente nos move, nos faz rir e chorar, nos leva a comprar bilhetes, cativos, jornais e assinaturas de canais televisivos. É torturar quem paga a festa.
Fala-se de clubismo como se este fosse a pior coisa do mundo. Pois, senhores dirigentes, jornalistas e comentadores: não fosse o clubismo, não fosse a paixão clubista, o futebol seria uma coisa totalmente inútil, anódina, e não teriam emprego. Não era com bilhetes de supermercado que faziam a máquina rolar.
Gosto muito do João Mário, a nada do Sporting. Mas os assobios em Alvalade eram expectáveis, estando as competições (e as paixões) ao rubro. Assim como ninguém me obriga, nesta altura, a despir a camisola do meu clube, também não exijo a outros que o façam. Agendem-se os jogos da selecção para o final da época, e então, sim, talvez seja possível vê-los sem ser a cores. Até lá, deixemo-nos de hipocrisias."

Luís Fialho, in O Benfica

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