A estrela que deu lugar à constelação

"Com a saída de Livramento, Torcato Ferreira potenciou o colectivo

Apesar de o hóquei em patins ser um desporto colectivo, quando há um elemento que se destacava claramente dos outros, os colegas veem nele uma opção válida sempre que se encontram em apuros ou para resolver os jogos, e o treinador opta por criar uma estratégia à sua volta para estimulá-lo ao máximo.

Na década de 1960, o hóquei em patins do Benfica soube aproveitar o talento de Livramento para conquistar 5 Campeonatos Nacionais, 2 Campeonatos Metropolitanos e 1 Taça de Portugal. No entanto, a época 1968/69 não correu de feição, com os encarnados a não conquistarem qualquer título. Para agudizar a situação, em maio de 1970, Livramento transferiu-se para os italianos do HC Monza.

Quando muitos perspectivavam uma enorme quebra de rendimento, Torcato Ferreira, há 12 anos a comandar os benfiquistas, vislumbrou uma oportunidade. 'Com a saída desse extraordinário jogador, deu-se a oportunidade de serem conhecidos outros valores, até então suplantados por ele'. O técnico alterou as dinâmicas de uma equipa dependente de um só jogador para um conjunto unido e mais imprevisível. Para lugar de Livramento, promoveu António Rodrigues, jovem de 21 anos, que jogava de águia ao peito dede os infantis. O seu estilo de jogo encaixou de forma perfeita na nova dinâmica dos benfiquistas: 'jogador de muita garra, lutando de princípio ao fim e um excelente goleador'.

A fórmula resultou de forma exímia. O conjunto encarnado exibia-se de forma imperial, e os títulos apareceram naturalmente. Com uma campanha quase perfeita, venceu todas as competições oficiais e torneios particulares em que participou, escapando apenas o Torneio de Abertura.

No Campeonato Nacional, o Benfica demonstrou equilíbrio e competência. Na última jornada, pressionado pelo FC Porto, só a vitória interessava no confronto com o Luanda e Benfica. Os encarnados entraram de forma avassaladora no encontro e garantiram um triunfo por 10-0. António Rodrigues foi um dos marcadores, ao bisar na partida. Os Benfiquistas celebraram o título, numa prova em que foram o melhor ataque, com 30 golos marcados, e a melhor defesa, com apenas 8 sofridos. De uma equipa em que durante muito tempo brilhava uma só estrela, nasceu uma constelação!

Saiba mais sobre as conquistas do hóquei em patins na área 3 - Orgulho Eclético do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica