sábado, 11 de fevereiro de 2023

O SC Braga-Benfica e um homem chamado Al Musrati


"Foi o médio de cara fechada, poucos sorrisos e que só disse duas palavras públicas em três anos no Minho que marcou o golo de empate e bateu o penálti decisivo (5-4, após o 1-1 no final do prolongamento). Só o líbio Al Musrati desatou um jogo em que o Benfica contou quase 90 minutos em inferioridade numérica e confirmou Braga como lugar maldito na sua época: à segunda visita, teve a segunda derrota e está fora da Taça de Portugal

O passe é no espaço em vez de para o pé, obriga-o a esforços e a um ligeiro arranque, mas alcança a bola. É um contra-ataque, uma jogada rápida do SC Braga que lhe pede rapidez e ele rasga de primeira um passe para a pradaria à esquerda. No resvés da pressa, esperançoso de se antecipar, Alexander Bah levanta a chuteira e o atraso é doloroso: a sola pisa o tornozelo do adversário e os pitons são cravados na carne. A jogada segue, mas, de imediato, o corpo de Luís Miguel Afonso Fernandes tomba enquanto ele levanta um braço, depois cai, depois contorce-se, depois fica mirrado no relvado.
O caído futebolista chegou ao Minho em janeiro. Teve singelos oito minutos no primeiro jogo pelo Braga, engordou o tempo para os trinta e um na segunda aparição e tem o privilégio da titularidade nesta terceira. Caído e com a cara encostada à relva, protagoniza uma coincidência: é também aos 31’ que o pequeno pique para alcançar a tal bola que o fez sentir a planta da bota de Bah provoca a expulsão direta do adversário. E, nem quatro minutos volvidos, estaria de pé, regressado a si mesmo, à beira da área a ver Tormena desviar um canto de André Horta ao primeiro poste para Al-Musrati, atrás de toda a gente, empatar o jogo.
A curta estada deste homem em Braga dá ares de escadaria e corresponde à ascensão de um futebolista aterrado na cidade na aura descendente da carreira. Já são 33 anos, onze e meio desde a sua saída da cidade em estado gaiato, ele fez-se a vida e a vida deu-lhe títulos, internacionalizações e tropelias como o diz-que-disse da sua saída do Benfica com rumores de contestatário. O primeiro toque que dá na bola é uma receção que a deixa mansa à sua frente, à mercê de tudo, vinda de um chutão do guarda-redes. Este é um homem chamado Pizzi, estreante a titular contra o Benfica que abandonou pelas arábias.
Tê-lo no campo leva até o treinador, Artur Jorge, a mexer no hábito de quatro defesas, quatro médios e dois avançados que tem na equipa. Querendo ter Pizzi, fica com um híbrido que necessita de bola como pão de água para crescer e a mudada equipa sofre, durante meia hora, com a pressão a campo inteiro do Benfica, que força o Braga a bater bolas e jogar longo da sua própria área. Sofre mais ainda com os rápidos cercos que os encarnados montam imediatamente após cada bola perdida, sem surpresa porque é um hábito. Os visitantes dominam a bola, controlam o território, em Chiquinho tem um novo médio-passador e com o tempo tentam ligar as jogadas de pequenos passes, tabelas e jogadores próximos a magicarem coisas.
Mesmo sem um avançado verdadeiro e com Aursnes, João Mário, Neres e Guedes na frente, é a cabeça do tipo mais parecido com um avançado que marca, aos 15’ e na área, a bola vinda de um cruzamento exitoso devido a uma simples tabela feita num canto curto. Até à meia hora, a fluidez do Benfica em posse aprisionou os bracarenses e pô-los a perseguir a bola, noutras encavalitados num bloco baixo, raramente a terem os seus a manipularem jogadas de ataque na outra área, resumindo-se a lançarem o solitário Abel Ruiz, que se dava em corridas entre centrais e laterais.
A expulsão tudo mudou, o golo quase imediato ajudou os minhotos e aí a pressão fez-se boomerang, a primeira parte acabou com o SC Braga a mordiscar todas as receções dos adversários e a segunda começou da mesma forma. Já sem os bons toques de Pizzi, mas pausados, para terem os rápidos e mais auto-suficientes de Armindo Tué Na Bangna.
A entrada do homem apelidado de Bruma foram as pazes definitivas dos anfitriões com a assunção do risco, as circunstâncias exigiam-no. Com o extremo colado à linha, na esquerda, a equipa colocou mais gente à frente da bola, tentou filtrar mais jogadas pelos pés criativos de André Horta e acrescentaria a tudo isto Simon Banza. Pela hora de jogo, o SC Braga montava-se como de costume, com dois avançados para tentar mais do que os remates frouxos de Uros Racic e o menos goleador dos Hortas, ambos direitinhos às mãos de Vlachodimos. Pareciam ter íman.
Com o tempo, naturalmente, as vantagens do jogador a mais em campo acentuaram-se. A astúcia de Roger Schmidt ao intervalo, sentando Florentino para alinhar Morato a Otamendi e António Silva, revelou o seu dedo que adivinhou o algo previsível: havendo Bruma e ainda Álvaro Djaló no banco, o adversário usaria ambos além de se render ao hábito do par de avançados, logo, assentar a equipa numa linha de três a que os dois laterais se juntariam a defender serviria-lhe para controlar a largura e garantir um defesa a mais do que os atacantes. A estrutura manteve as tentativas bracarenses à margem, ajudada pela ausência de ideias no centro do campo - pouca gente a pedir entrelinhas e a atacar o espaço nas costas da última linha.
Mas, cansadas as pernas e fatigados os pulmões, ter mais gente atrás foi minguando a capacidade de gente se chegar à frente e o Benfica limitou-se a um remate rasteiro de Aursnes, aos 69’. Mesmo sem entrar na área contrária, as mãos de Vlachodimos já não seriam íman nos remates de André e Ricardo (73’ e 77’), quando cada mano teve a sua bujarda fora da área. Tão pouco nos descontos, ao ficarem em baixo, ao lado dos joelhos na relva do guarda-redes que viu o calcanhar de Banza desviar a bola ao poste na única vez que Bruma ultrapassou Gilberto com os seus dribles à queima-roupa.
O empate prolongou inofensivamente o jogo durante mais 30 minutos, o homem a menos no Benfica a ser apenas um atestado de sofrimento, de ter de arcar com o esforço. O modo de correr à pugilista de braços fletidos pelo hipertrofia de Chiquinho, uma invenção de Schmidt no miolo do campo, poço de simplicidade no bem-fazer, aguentava os encarnados com as corridas de Aursnes para se oferecer em linhas de passe e o algodão que não engana nas chuteiras de João Mário, o mais capaz para segurar a bola e dar tempo aos outros. No SC Braga que prosseguiu sem soluções por dentro - apesar das tentativas de Al-Musrati em atrair gente a si para soltar um passe sem artifícios no momento certo - a redundância furtava-lhes a vantagem do 11 contra 10. As tantas bolas depositadas em Bruma ou Djaló para serem eles a acelerar prova como a previsibilidade é uma erva-daninha no futebol.
Só nas derradeiras espreguiçadelas a partida se agitou, de novo mais do mesmo. O frenético se bem que errático Djaló deslocou-se à esquerda para agitar em conjunto com Bruma, soltando o extremo para ele picar a bola que o pontapé-moinho de Victor Goméz enroscou para fora. Foi uma quase-oportunidade antes da segunda expulsão por inteiro, quando o hispano-guineense nascido em Bilbau encarou Morato junto à linha, cravou-lhe uma falta, o central satisfez-lhe a vontade e o Benfica soube que teria só nove jogadores para bater penáltis.
O inaugural foi de João Mário, com um festejo de punhos cerrados, a quem Ricardo Horta ripostou com uma bola perto da barra; outra mão fechada se seguiria o argentino Otamendi, que de penáltis estará farto, para Álvaro Djaló responder em força; a frieza dos 19 anos marcaram o de António Silva para os 34 de André Castro o imitarem; e foi o homem chamado Fredrik Ausrnes, o de mais complicada pronunciação em bocas habituadas ao português, a falhar, para logo a seguir o mais fácil Paulo Oliveira dar vantagem aos bracarenses. O fã de uma bola quieta na relva que é Grimaldo ainda fez o seu, mas foi uma das caras mais fechadas, compenetradas e talvez passante por taciturna a selar o vencedor.
O último penálti veio do pé de Almoatasembellah Ali Mohamed Al Musrati, o simpaticamente abreviado em duas palavras que há três épocas vira páginas do seu almanaque de como jogar futebol de forma prática e simples, decidindo bem e sem complicar muito, de quem se ouviu tão-só um “thank you and goodbye” com um microfone por diante em Portugal. Parco em palavras e em sorrisos, finalmente se viu manifestação exterior de emoção no médio líbio, um futebolista de nome Al Musrati que pode ser largamente comparado ao ‘Homem Chamado Otto’ que tem um protagonista trombudo, mas que só quer o bem dos que o rodeiam. Este jogador sorriu duas vezes esta quinta-feira e fez de Braga uma dupla tristeza para os visitantes: é o lugar das duas derrotas na época do Benfica."

1 comentário:

  1. E mais uma vez a mesma narrativa.... parece um complot da porcaria da comunicação social que temos....

    Um jogo de futebol tem 3 intervenientes ... duas equipes de 11 e mais uma de 3/5/7 árbitros....

    Quando se faz uma crónica de jogo e não se comenta o trabalho das três equipes .... algo está mal. Branqueamento?
    Se para um lado a expulsão tudo mudou.... então as más/dúbias/não criteriosas decisões do arbitro que mantiveram no campo a superioridade numérica não são para comentar?

    Para quando uma revolta do publico afeto ao SLB e se marca uma manifestação contra o estado do futebol luso?

    Para quando um dirigente e uma comunicação do clube com "bolas de aço" para vir dizer o que tem de ser dito!!!!!

    Para quando é que se vai pedir a demissão destes dirigentes do "ca" ????

    Para quando é que se vai pedir ao publico afeto ao SLB para não comparecer aos estádios quando jogamos fora?

    Para quando é que se boicota a CS em Portugal.... pois se não são idóneos não nos merecem o respeito. Vete-se a entrada deles no nosso estádio e não lhe permitam conversas nem entrevistas....

    Estou farto disto e não se vê um vislumbre de estratégia do nosso clube em como se vai lutar ou mudar esta porcaria a curto/médio ou a longo prazo....

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