terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

O delírio do futebol moderno está matando o nosso sonho


"1. Incapacidade de reter talento
A novela Enzo me fez refletir sobre algo que venho pensando há anos. No futebol de hoje, nós temos que torcer para os nossos jogadores estarem entre o “bom” e o “fora de série”. Se forem inferiores não teremos o domínio interno e muito menos o Benfica europeu, mas se forem foras de série, nós não vamos poder aproveitá-los, e uma campanha histórica na Liga dos Campeões se torna um sonho inacessível.
Nos últimos anos o Benfica teve no seu plantel ao menos três jovens com característica acima da média: Renato Sanches, João Felix e Enzo Fernández. O que eles têm em comum? O trio não completou um ano inteiro sendo destaque de águia ao peito. Renato começou a ganhar espaço no time ao final de novembro/início de dezembro (2015) e antes mesmo da temporada acabar já estava vendido ao Bayern de Munique. O atacante João Felix fez pouco mais que meia dúzia de aparições no time principal do Benfica entre agosto e dezembro de 2018 e somente em janeiro, já com Bruno Lage como treinador, o jovem passou a ser titular e protagonista da Reconquista. No início de julho já estava vendido por incríveis 126 milhões de euros. A história de Enzo Fernández é semelhante e recente, logo não vale a pena ser detalhada como as anteriores. Perante esse cenário só nos resta a lamentação e um sentimento de impotência, afinal não temos tido o direito de contar com os melhores por um ano inteiro sequer.

2. Enzo: O ingrato?
O esporte é imprevisível, mas o meio campista argentino tem tudo para ser uma estrela do futebol mundial durante a próxima década. Dito isso já adianto que não concordo com aqueles que acusam o jogador de ingrato. Ingratidão é um termo muito forte. Nós não fomos busca-lo à Argentina enquanto passava fome e nem lhe fizemos qualquer tipo de favor. Enzo já era destaque no futebol sul americano enquanto atuava por um dos maiores clubes da região, dessa forma a porta do futebol europeu já estava aberta para o ex River Plate, e se não fosse o Benfica ele chegaria ao velho continente por outro clube qualquer, como tem acontecido nos últimos anos.
Por outro lado, temos todo o direito de não atribuir profissionalismo ao atleta em questão. Nesse quesito, Enzo deixou muito a desejar e é essa a acusação que podemos fazer a ele. Que vá pela sombra e receba um estrondoso coro de vaias quando regressar ao Estádio da Luz.

3. Fair play financeiro
O fair play financeiro foi introduzido no futebol europeu para evitar o endividamento dos clubes e também proteger o futebol dos aventureiros que volta e meia apareciam no continente europeu despejando um caminhão de dinheiro em algum clube. Quando se cansavam de brincar, essas pessoas desapareciam na mesma velocidade que surgiam, deixando para trás um legado de destruição para alguma comunidade resolver, mas nem todos tiveram a sorte do Portsmouth ou do Sunderland que sobreviveram graças aos seus torcedores. Nos últimos anos foram frequentes as histórias de falência como a do outrora milionário Anzhi Makhachkala e do Metalist. Mas as regras impostas pela UEFA não valem para todos...

4. Clubes Estado e milionários excêntricos
Os clubes Estados como Paris Saint German e Manchester City driblam o já citado fair play financeiro com frequência. O mesmo vale para agremiações que possuem muita influência, como a Juventus, ou aquelas que pertencem a alguns milionários como é o caso do Chelsea. Inter e Milan já foram punidos, mas bem de leve.
Esses clubes inflacionam os números dos seus acordos comerciais, fazem manobras fiscais, assediam atletas de clubes menores ou menos endinheirados e gastam valores absurdos no mercado de transferências. Eles se acham donos de tudo e até queriam criar um clubinho dos ricos onde só jogassem entre si. Dizem não precisar de nós, mas buscam os nossos jogadores. Espero que se decidam rápido porque eu já não faço questão nenhuma de competir contra um milionário aleatório que busca massagear o seu ego por meio do futebol ou contra um país autoritário que utiliza o campo e bola para o chamado sportswashing.
Eu só quero aproveitar mais os craques que o meu time revela/compra e que toda essa gente do futebol moderno se f...!"

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