sábado, 18 de fevereiro de 2023

Crónica de um away a Bruges


"O processo é sempre o mesmo. Assim que sai o sorteio inicia-se a pesquisa por voos, comboios e bilhetes. O líder desta preparação é o nosso guru das viagens que já conta com mais de 30 aways europeus a jogos do Benfica. E o plano que apresenta tem sempre tanto de barato, como de louco. É aquela pessoa que faz escala no Pólo Norte para uma deslocação Lisboa-Almada. E porquê, perguntarão as pessoas sãs. Ora, porque fica mais barato e que piada tem se for de outra maneira?
O percurso ficou definido e com a concordância de todos: em três dias iríamos fazer Lisboa-Paris-Bruxelas-Bruges-Lille-Porto-Lisboa! Entre aviões, comboios e autocarros iríamos fazer mais de quatro mil kms. Mas essa foi a parte fácil do planeamento! O difícil? Arranjar bilhete para o jogo. A primeira tentativa falhou: os bilhetes colocados à venda pelo Benfica esgotaram e só três dos nossos se safaram.
A segunda tentativa também falhou: a já conhecida 'esperteza' de nos criarmos sócios do Brugge e comprar assim bilhetes. Fomos felizes durante 24 horas, até aos belgas cancelarem e reembolsarem todas estas compras. Chegamos a assumir a derrota e a perspetiva de termos uma televisão num bar em Bruges à nossa espera, mas felizmente pouco a pouco todos nos safamos e conseguimos bilhetes. Desistências, conhecimentos e emigrantes que nos assistiram, por Benfiquismo.
Dia 14: o encontro é feito às 9h da manhã no terminal 2 do Aeroporto de Lisboa. Somos dez pessoas, às quais se juntarão mais em Paris, Bruxelas e Bruges. A companheira extra de todas estas viagens é a cerveja. Muita cerveja! E o arranque foi feito mesmo ali no terminal, com várias cervejas que até pareceram baratas, tendo em conta o que se ia pagar nos próximos dias.
Chegada a Paris e a surpresa de ver Roberto Martinez, o nosso selecionador, no parque de estacionamento do aeroporto. Mas não havia tempo a perder com selfies e conversas. Precisávamos de três ubers para nos levar até à estação de autocarros (a ideia original era de ir de TGV, mas foi cancelado devido a greve). Almoço nas redondezas e o que seria uma viagem de duas horas e meia de TGV saltou para 4 horas num autocarro. Passadas a beber mais cervejas de lata e a Benficar. Às 19h04 fizemos questão de cantar o hino do Benfica, para surpresa dos restantes passageiros.
Chegados a Bruxelas era tempo de ir deixar as mochilas nos apartamentos alugados e procurar um restaurante ainda aberto. Finalmente encontrámos, embora o dono do estabelecimento tenha deixado claro que só nos iria servir tostas mistas... e cerveja. O plano convenceu-nos tanto que passamos a noite a cantar-lhe Big Boss allez. Quando o Big Boss nos expulsou era quase UMA da manhã, mas a noite era ainda uma criança. Novos ubers para passar pela lindíssima praça central de Bruxelas e terminar no famoso bar Delirium. Que, como previsível, estava cheio de Benfiquistas. Muito se cantou sobre o Glorioso até às 4h da manhã.
Dia 15: Depois de três ou quatro horas de sono, era tempo de apanhar o comboio para Bruges. E à chegada à cidade, o espanto de ver Benfiquistas por todo o lado. Para além do espanto repetido (já lá tinha estado) de ver uma cidade tão bonita. A tarde foi passada, imagine-se, a cantar e a beber cerveja na praça principal até ao momento em que autocarros destacados começaram a levar os Benfiquistas para o estádio. E aí o lado mais feio, com abusos de adeptos 'entusiasmados' que chegaram a partir janelas e portas. Há coisas difíceis de entender.
O estádio do Club Brugge é aparentemente no meio do nada e a escuridão até lá chegar impera. A transição para o interior confirma que é de facto um estádio pequeno e sem aquele ambiente de clube grande e histórico. Os Benfiquistas eram aos milhares e extravasavam a sua caixa. Rapidamente percebemos que iríamos conseguir abafar o apoio dos belgas e assistiu-se a um autêntico festival dado pelos nossos. A equipa lá no relvado até começou tímida, mas foi crescendo com o passar dos minutos e confirmou a sua superioridade na segunda parte.
Enorme alegria em todos com o final do jogo e o reforço da confiança que este ano temos mesmo equipa, seja em que palco for. O regresso ao centro de Bruges foi feito com mais autocarros e desta vez já não houve forças para mais uma noitada. Diretos ao hostel para recuperar algumas (poucas) energias.
Dia 16: alvorada às 8h para que às 9h40 estivéssemos em novo autocarro rumo a Lille. Aí chegados, ida a pé até ao centro da cidade para almoçar e novos ubers para nos levarem ao aeroporto, onde arrancaríamos para o Porto. Na cidade Invicta não deu lamentavelmente tempo para comer uma francesinha, apenas umas bifanas, antes de mais três horas de viagem de autocarro rumo à Capital. A chegada a casa foi à uma da manhã para desfrutar do luxo de algumas horas de sono, até ao regresso ao trabalho.
Foram três dias a fazer mais de 4.000 kms, com passagem por cinco cidades europeias, de avião, comboio e autocarro.
Se valeu a pena? Claro que sim. Isto não é distância, é Benfica. E amigos."

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