terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Rui Costa está a dar tudo


"Costuma-se dizer que o voto é secreto, mas não tenho problemas em apresentar o seguinte disclaimer: não votei em Rui Costa nas últimas eleições (votei em branco). Já pouco interessa esmiuçar as razões de tal decisão, mas deveu-se em grande parte à sua longa associação à antiga direção e a minha amargura por nunca ter saído debaixo dessa "saia". Revelo isto para que com a mesma tranquilidade possa dizer: que bom trabalho está a fazer Rui Costa. E posso e devo dizer isto, ainda antes de qualquer fruto ter saído da plantação que ele está a semear...
Rui Costa é um filho do Benfica. É uma história bonita. Como o próprio já tem referido, é o adepto que virou apanha-bolas, o apanha-bolas que virou jogador, o jogador que virou dirigente e o dirigente que virou presidente. Um dia voltará a adepto e terá feito o círculo completo. É verdade que, devido ao seu talento extraordinário, acabou por jogar poucas temporadas de águia ao peito e a já referida ligação de 13 anos ao anterior Presidente, quando este ainda se encontra em investigação sobre o quanto prejudicou o clube, torna a história um pouco menos cor-de-rosa. Mas, ainda assim, cor-de-rosa.
Não foi fácil o primeiro ano de mandato do Maestro. É verdade que teve que assumir o lugar em condições incrivelmente difíceis e extraordinárias. O clube era atacado de todos os lados, inclusive por dentro, e havia uma temporada para preparar. Em poucas semanas, Rui Costa teve de fazer tudo: defender o clube na praça pública, preparar o plantel de futebol para a época 21/22 e para as restantes modalidades. Tudo isto ao mesmo tempo que os sócios lhe exigiam, numa quentíssima assembleia geral, uma auditoria completa ao clube e a alteração dos estatutos. E não se pode dizer que o seu ano zero (tenhamos a bondade de o considerar assim, em vez do ano 1 de Rui Costa) tenha sido bom. Não foi. O clube continuou a ter que apagar fogos por todo o lado e, tirando João Mário, todas as contratações foram falhadas: Gil Dias, Lazaro, Meité, Radonjic e Yaremchuk. Em janeiro, já o Benfica estava afastado da luta do título e Jorge Jesus dispensado. Foi aí que Rui Costa tomou a corajosa decisão de dar um passo atrás, para mais à frente dar dois passos adiante. Fazer o compasso de espera em relação à contratação de novo treinador até ao verão foi uma decisão que se tornou válida pelo acerto na escolha de Roger Schmidt. Um técnico que veio mudar o paradigma derrotista e desorientado que existia no clube nos últimos 3 anos. Com o alemão, veio um futebol vistoso, moderno e organizado. E Rui Costa prometeu e cumpriu: 22/23 seria um ano de forte aposta desportiva. Vendeu-se Darwin e com esse dinheiro desta vez acertou-se e bem na larga maioria das contratações, onde se destaca o fenomenal Enzo Fernández. Com a chegada de Schmidt, o Benfica virou-se também e bem para o mercado nórdico e Bah e Aursnes já são certezas na equipa principal (e entretanto chegaram mais dois jovens "vikings"). A aposta no Seixal continua a ser feita com o surgimento de António Silva, o renascimento de Florentino, a explosão de Gonçalo Ramos e agora até o regresso de Gonçalo Guedes. Esta escola fortíssima do Benfica valeu a conquista da Youth League e da Taça Intercontinental. Também nas modalidades Rui Costa já teve alguns sucessos, com destaque para a jóia da coroa, a conquista da Liga Europeia de andebol.
Apesar dos recentes tropeções pós-mundial, esta temporada do Benfica continua a ser muito boa e as perspetivas são as melhores. E também as são porque, mais uma vez, Rui Costa revelou grande coragem ao romper com o modus operandi do seu antecessor e fez finca-pé na permanência do extraordinário Enzo Fernández. Alguém duvida que com Vieira o argentino tinha sido vendido ao Chelsea? Até a Inglaterra o "negociador implacável" se teria deslocado para concluir o negócio. E depois diria que muitos milhões são irrecusáveis e que não se pode cortar as pernas aos jogadores. Rui Costa não vendeu Enzo, "ganhando" assim o Benfica um jogador extraordinário para a 2ª volta (tendo todos noção que no verão será naturalmente vendido) e, não contente com isso, ainda procurou melhorar o maior defeito que se via nesta equipa: a falta de opções ofensivas de qualidade no banco. Agora, quando Schmidt olhar para o lado, não verá Diogo Gonçalves e Rodrigo Pinho, mas sim Gonçalo Guedes, Schjelderup e Tengsted.
Está então tudo bem no Reinado de Rui Costa? Não, não está. Continua a faltar a auditoria. Continua a faltar a alteração dos estatutos. Continua a faltar a melhoria na comunicação e na defesa do clube, de cada vez que lama é atirada ao bom nome do Glorioso por imprensa e rivais. Continuam a faltar os troféus e títulos (porque vamos a meio da caminhada). Mas os sinais estão todos lá e são positivos. O Benfica de Rui Costa, com cerca de um ano e meio, é um bebé que ainda não anda, mas já gatinha.
Falta referir uma promessa que Rui Costa também já cumpriu: o avanço tecnológico do Estádio da Luz. Passamos a ter leds em todos os anéis, luzes e som melhorados e dois ecrãs gigantes de alta tecnologia. É tudo muito bonito, falta apenas mais bom-senso e benfiquismo dos organizadores e speaker do Estádio. O ambiente não pode ser de discoteca e é preciso dar espaço para os adeptos se poderem manifestar. Chega a doer os tímpanos a música non-stop antes do jogo, no intervalo e no final do jogo. Nenhuma música ou luz cria melhor ambiente num estádio de futebol que os próprios adeptos! Dêem-lhes o foco e com tempo o Inferno da Luz volta. E aí sim, as luzes e os leds serão o complemento perfeito. E já agora, Maestro, já que estás com a mão na massa, com tempo e sem loucuras: renova também o exterior do Estádio.
Rui Costa está no bom caminho. O Benfica está no bom caminho. É nossa função como adeptos continuar a puxar o clube e a equipa rumo ao que todos pretendemos: o regresso às conquistas e aos títulos depois de longos 4 anos de seca. Daqui até ao verão teremos meses duros e difíceis, mas apaixonantes. Vamos a eles. À Benfica!"

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