terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Pintos carecas


"Lá na minha terra, os mais antigos faziam-se professores pela sabedoria dos ditados populares que partilhavam e, não raras vezes, tinham na ponta língua soluções afiadas para cortar as percipitações pela raiz. 'Galinha apressada tem pintos carecas', sempre os ouvi dizer, sobretudo nas descomposturas dirigidas aos mais destravados ou promotores de sentenças trapalhonas. Vem esta memória a propósito da exagerada depreciação colada a diversas conclusões tecidas a partir da exibição e de resultado negativo do Benfica no último jogo de 2022. No que diz respeito ao rendimento, todos concordaremos que a equipa ficou a léguas do que sabe e do que foi capaz de apresentar ao longo dos quase 30 desafios oficiais disputados nesta temporada até ao penúltimo dia do findo ano civil. Porém, pegar nesse despiste - que, para o líder Benfica, teve 'apenas' como custo direto a perda de 3 pontos - e especulá-lo como um acidente de incontroláveis e nefastas consequências... só mesmo com segundas, terceiras ou quartas intenções, muito para lá do domínio dos juízos da razão.
A reação ao percalço foi rápida, objetivada pelo triunfo frente ao Portimonense na jornada subsequente à ronda do desfecho insuficiente no Minho, e, acredito, foi também muito mais profunda do que o que podem sugerir diagnósticos decorrentes de um olhar rápido e superficial sobre a vitória. O 1-0 é sempre magro, sejam quais forem as circunstâncias, mas este, o que determinou sair por cima no duelo com os algarvios, foi particularmente escanzelado em face do produzido, tantas foram as vezes que a equipa visou a baliza adversárias e em que criou oportunidades claríssimas de golo (contabilize-se nesse rol um pontapé de penálti desperdiçado).
Há um lado positivo nisto, porque o coletivo anda, mas também um alerta para um 'detalhe' que pede correção com a maior brevidade possível. Recuperar os níveis de eficácia na conclusão dos ataques tem de ser um propósito, até para ficar a salvo do que não se controla. Na recente vitória na Póvoa de Varzim, onde o conjunto liderado por Roger Schmidt validou o apuramento para os quartos de final da Taça de Portugal, o aproveitamento na zona de finalização não foi brilhante, mas anotaram-se melhorias neste capítulo. E, lançando os próximos tempos, o treinador assumiu a necessidade: 'Podíamos ter finalizado de forma mais inteligente, com menos força e mais precisão, é algo que temos a melhorar'. O mercado também pode ser um bom auxiliar."

João Sanches, in O Benfica

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