quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

O jogo de basquetebol que ia arruinando o futebol


"A poucos dias de disputar a Final da Taça de Portugal, Simões esteve perto de ficar de fora

A estratégias para a preparação de um jogo decisivo são múltiplas e variam consoante o treinador. Há técnicos que ao longo da semana exigem a máxima concentração por parte dos jogadores, com exercícios específicos para travar o conjunto adversário. No polo oposto, há quem, sabendo de toda a pressão que antecede um encontro desta natureza, procure distrair os seus atletas com exercícios lúdicos, por forma a aliviar a tensão.
No decorrer da época 1969/70, José Augusto 'pendurou as botas' e assumiu as funções de treinador de forma interina, após a saída de Otto Glória do comando técnico dos encarnados. Com um passado tão recente como atleta, o antigo extremo tinha a percepção exata de como um jogador se sentia nos dias anteriores a um jogo decisivo. Assim, em Junho, a poucos dias dos benfiquistas disputarem a final da Taça de Portugal frente ao Sporting, José Augusto optou por promover um jogo de basquetebol durante o treino.
No que seria uma sessão de desconcentração, e quando tudo corria bem, 'Simões foi atingido numa vista por (...) Adolfo que, sem querer, enfiou-me um dedo pela vista quando jogávamos basquetebol e a unha arranhou-me a córnea'. Gerou-se um momento de enorme tensão, com o jogador a ter 'urgente necessidade de consultar um médico especialista'. Procurou-se um oftalmologista, até que 'um adepto dos encarnados, que assistia à sessão de diversão das benfiquistas, sugeriu um bom médico oftalmologista, o dr. Melch Gouveia'. Por sua indicação, o extremo teve de ficar com o olho tapado durante 48 horas. Equipa técnica e dirigentes do Benfica ficaram ansiosos devido ao risco de Simões se juntar a Eusébio na lista de indisponíveis.
Na antevéspera da partida, Simões deslocou-se com José Augusto à clínica de oftalmologia, onde o médico acabaria por dar permissão para que o jogador 'regressasse à actividade, sem limitações'. Na final o jogador começou a titular, mas, talvez ainda condicionado pela lesão, esteve muito discreto, 'não esteve igual a si mesmo. Tanto no passe como no drible teve alguns falhanços'. Numa exibição em crescendo, 'com energia a vontade, encheu o campo'. Adicionou o seu nome à lista de marcadores, ao apontar o terceiro golo dos encarnados e, no final do encontro, como capitão de equipa, recebeu o troféu das mãos do Presidente da República.
Saiba mais sobre este triunfo na área 5 - A Taça do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

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