domingo, 15 de janeiro de 2023

Normalizar ao pontapé


"A bem-sucedida operação de marketing global em que se transformou o Mundial de Futebol no Catar parece ser apenas a confirmação de uma estratégia de normalização cultural das monarquias absolutistas árabes, que estão a usar o mais popular desporto do planeta como arma de sedução. Os ingleses deram-lhe o pomposo nome de "sportswashing". Ou seja, lavar a imagem do regime à conta do desporto. As acusações de corrupção, gastos faraónicos e flagrante desrespeito pelos direitos humanos e laborais marcaram a prova, mas não a definirão no futuro. Nos livros de História ficarão fundamentalmente as imagens de Messi a levantar o troféu ao lado do emir do Catar, envergando um traje árabe. De resto, a badalada mudança de Cristiano Ronaldo para o futebol da Arábia Saudita por valores obscenos é mais um capítulo desse bem urdido expediente que mascara a realidade com golos. Agora, ao que parece, soam as campainhas por Messi, a quem estarão a ser prometidos ainda mais camiões de dinheiro para aterrar num futebol a que, na verdade, ninguém liga nenhuma.
Os fundos estatais ou empresários árabes detêm hoje participações significativas ou maioritárias em grandes clubes europeus, como o Manchester City, o PSG e o Newcastle United, já para não falar do Málaga e do Sheffield United. E correm rumores em Inglaterra de que interesses árabes estarão a preparar uma oferta monumental para comprar o Manchester United. Não nos admiremos, por isso, que o plano saudita para organizar o Mundial de Futebol de 2030, em conjunto com a Grécia e o Egito (naquela que seria a primeira prova em três continentes), se materialize por força deste movimento. É na Arábia Saudita, país onde se promovem execuções em público, que vai realizar-se, já em 2027, a Taça das Nações Asiáticas. Senão por outra via, será ao pontapé que o mundo árabe tentará impor o seu modo de organização social, religioso e político. No final, se houver golos e espetáculo, ninguém vai atrás do dinheiro."

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