terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Hipotecas e conjunturas


"1. São assim os ânimos no futebol. Um fim de semana, e tudo muda. Mudam as disposições, os estados de alma, os vaticínios e mudam as gritadas certezas absolutas da véspera.

2. Comentadores profissionais, glórias da comunicação paridas pelas escolas politécnicas da bola, oradores trapalhões do reino das boçalidades, juravam que o Benfica tinha hipotecado em Braga todas as suas ambições. Como se não bastasse, gente das melhores famílias, cientistas licenciados nos melhores estabelecimentos nacionais nacionais e internacionais juravam a pés juntos que até meio do mês o Benfica seria ultrapassado na tabela classificativa pelo seu pelotão de perseguidores. Nesta semana a conversa é diferente.

3. As convicções, as certezas absolutas, os vaticínios manifestam-se agora com entoação mais sofrida. Mas não deixam de ser um espectáculo estas manifestações de dor. Um dirigente veterano dos nossos maiores rivais na cidade de Lisboa considerou, por exemplo, que 'não vale a pena' jogar o dérbi de domingo por causa da 'ladroagem na arbitragem', entidade a quem atribui a responsabilidade pelos 12 pontos de atraso com que a equipa do seu coração vai entrar na Luz.

4. Não é isto, à sua maneira decadente, um espetáculo dentro do grande espectáculo que é o futebol?

5. Na noite da passada terça-feira, na Póvoa de Varzim, o Benfica assinou a qualificação para os quartos de final da Taça de Portugal com um exibição sem grandes floreados. Alejandro Grimaldo, que está na nossa casa há sete temporadas, foi pela primeira vez o capitão de equipa. Respondeu à honra que lhe foi concedida com um golo com assinatura de autor, com uma exibição de qualidade excelente e com uma mensagem que deixou escrita no fim do jogo: 'Grande vitória da equipa e muito feliz pelo golo. Foi um orgulho enorme levar a braçadeira'. Muito bem, Grimaldo.

6. Desembarcou na terça-feira em Lisboa um jogador dinamarquês que o Benfica foi buscar à Noruega, e desembarcou na quarta-feira em Lisboa um jogador norueguês que o Benfica foi buscar à Dinamarca. Ambos são muitos jovens e têm nomes, à primeira vista, impronunciáveis por latinos como nós. Mas é só à primeira vista. Num instante se aprenderá a pronunciar o nome desta dupla nórdica. Tengstedt & Schjelderup, repitam lá. Outra vez, Tengstedt & Schjelderup. Pronto, já está, viram como é fácil?

7. Tal como o Benfica não hipotecou em Braga as suas aspirações, também nenhum dos nossos concorrentes ao título - e são três - deixou de acreditar nas suas potencialidades. Faltam 19 jornadas. É bom ter isto em mente."

Leonor Pinhão, in O Benfica

1 comentário:

  1. Leonor Pinhão, adoro os seus comentários! Ser do BENFICA é ser português!!!!! O meu Portugal é o BENFICA!!!!

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