Vermelhão: Mais uma...

Estrela Amadora 2 - 3 Benfica


Resultado enganador, com um nível de eficácia 'normal' e sem o erro no minuto 95 que deu o 2.º golo ao Estrela, este teria sido um jogo para terminar 1-4 ou 1-5... sem grandes preocupações!

Nota muito positiva para o 1.º e o 3.º golo do Benfica, duas excelentes combinações coletivas... no caso do 3.º, com jogadores 'diferentes' assistimos a uma jogada já vista, com os 'titulares', razão para percebermos que as movimentações, são mesmo ensaiadas...

O Estrela deu luta, com muita agressividade e permissividade do árbitro, e o Ody em dois momentos do jogo, acabou por fazer 4 defesas importantes (duas em cada ataque!!!), dando justiça ao resultado!

Sem 7 habituais 'titulares', acabámos por fazer um jogo interessante, com alguns jogadores com ritmo baixo, num mau relvado...

A arbitragem, foi mais do mesmo: incrível como na parte final, assinala falta do Brooks numa jogada onde é o americano a ser agarrado, mesmo à frente dele; e logo a seguir, o Draxler é completamente atropelado à entrada da área, e não marca nada...!!! Mas o critério disciplinar torto acabou por ser o erro que mais influenciou o desenrolar da partida!


Chiquinho muito bem a '8'; bem coadjuvado pelo Tino do 'costume'; com um Musa mais confiante; um Rafa com fogachos; Brooks, tal como com o Caldas a mostrar qualidades...; João Vítor demasiado ansioso...; boa entrada do Pinho; Draxler a precisar de minutos, mas a forma como no golo 'engana' o guarda-redes, é de goleador...

Esta fase de Grupo vai-se decidir na 3.ª jornada em Moreira de Cónegos, independentemente dos resultados da 2.ª jornada!!! Pode parecer estranho, mas a matemática não engana! A 17 de Dezembro, até já poderemos até alguns reforços vindos do Catar... mas para a semana, com o Penafiel, além da manutenção da senda vitoriosa, creio ser importante dar minutos, aos jogadores com menos utilização. Gostaria de ver o Ristic a titular...



Regresso às vitórias...

Castêlo da Maia 0 - 3 Benfica
21-25, 18-25, 19-25

Depois do desaire de ontem, jogo no dia seguinte, com vitória clara... mas, os problemas não desapareceram!

Preparados


"A nossa participação na Taça da Liga começa hoje, em Leiria, frente ao Estrela da Amadora (19h00). Este é o tema de abertura da News Benfica, na qual também destacamos duas conquistas.

1
Com a realização do Mundial, jogos de preparação das seleções de Sub-21 e Sub-19, são vários os ausentes para a entrada benfiquista na Taça da Liga, o que não nos desvia do fito da vitória. Roger Schmidt é claro: "Vamos dar o nosso melhor nesta competição."
Segundo o nosso treinador: "Tivemos treinos de muita qualidade e é especial jogar agora uma nova competição, enquanto decorre o Mundial, com muitos jogadores ausentes. Preparámo-nos muito bem. Vemos como algo positivo que outros jogadores possam ter minutos e estamos desejosos de jogar. Teremos de mudar pelo menos seis jogadores, mas queremos jogar um futebol semelhante ao que temos vindo a praticar."
Veja, na íntegra, a antevisão de Roger Schmidt.

2
Pode também ver a entrevista a Roger Schmidt no âmbito do "Thinking Football Summit", na qual o nosso treinador aborda os primeiros meses no Benfica e em Portugal.

3
Na antecâmara da estreia na edição presente da Taça da Liga, veja os principais números dos 25 jogos oficiais disputados desde o início da temporada num artigo do Site Oficial.

4
A nossa equipa feminina de judo é campeã nacional. Mais um feito das nossas judocas a elevar bem alto o nome do Benfica e de Portugal. Saiba mais, aqui.

5
Vencemos a Taça Jesus Correia no hóquei em patins. Na final da primeira edição da prova, organizada pela Associação de Patinagem de Lisboa, na nossa equipa bateu o Murches, por 5-2. Veja o resumo.

6
Ontem houve mais jogos. Embalados pelos triunfos de sexta-feira, em andebol e futsal masculinos, somámos vitórias em andebol feminino, basquetebol masculino e feminino e futsal feminino, mas não fomos felizes no voleibol masculino. Consulte a agenda, a qual contém ligações para artigos sobre as várias partidas e resumos.

7
Além do desafio com o Estrela da Amadora, há outros para apoiarmos o Benfica. A nossa equipa feminina de futebol joga em Moreira de Cónegos para a Taça de Portugal (15h00). No voleibol visitamos o Castêlo da Maia (15h30). E, no voleibol feminino, deslocação ao Boavista (17h00)."

3 possíveis substitutos para Grimaldo


"Luis Enrique preferiu Jordi Alba e Gayá na lista para o Catar. Quando o capitão valenciano ficou indisponivel, surgiu o nome de Alejandro Baldé, wonderkid culé – e Grimaldo, depois dum início de 2022-23 sensacional, ficou em terra junto a Cucurella, Marcos Alonso, Pedrazza ou Angeliño. O lateral benfiquista sabe que a Liga Portuguesa é um entrave ao reconhecimento internacional do seu talento, por muito bem que jogue em contexto de Champions League, e daí que as suas reticências em renovar sejam tantas e a demora numa decisão seja frustrante para a massa adepta, que vê Janeiro ali tão perto – e a oportunidade do lateral espanhol decidir livremente o seu futuro.
Nesse caso, deixará legado no corredor esquerdo da Luz e um enorme vazio, difícil de preencher e por isso pedir-se-á a Rui Costa e Roger Schmidt muito tino na escolha do próximo. Não é escolha que se faça espontaneamente nem de forma atabalhoada, confiando em critérios pré-definidos e pouco vagos – ao futebol do Benfica interessa alguém tão inteligente e tecnicista como o espanhol, ainda que isso seja difícil, além da característica rara de se agigantar nos jogos de maior importância. Ristic não teve ainda oportunidade de mostrar grandes credenciais e o plano para si não parece, até ao momento, de grandes apostas como opção inicial. É obrigatório recorrer ao mercado.
Em forma de sugestão, vão três nomes: três jovens que despontam nessa Europa do futebol com características semelhantes, jovens com experiência em ligas top5 ou Liga dos Campeões, jovens que são já decisivos nas suas equipas e que mostram preparação suficiente para dar o salto.

Borna Sosa

Em urgente processo de rejuvenescimento, a Croácia tem continuado a produzir quantidades industriais de talento geracional e um dos grandes nomes da nova vaga é Borna Sosa, malabarista dum aflito Estugarda que se vê em apuros na Bundesliga – em posição de play-off na chegada à pausa de Mundial – e os problemas financeiros que a isso levaram obrigam a repensar. Uma das boias de salvação poderá ser o Mundial do Catar e uma boa prestação da joia da coroa – concorre pela titularidade com Barisic, do Rangers – poderá dar margem de manobra na exigência por valores mais risonhos.


Sosa vem somando em 2022-23 época estrondosa, com oito assistências em… 13 (!!) jogos disputados pelos da Suábia, o que o coloca no topo de todos os rankings de produção ofensiva – nesse capítulo, nada deixará a dever a Alejandro Grimaldo. No ranking de expected assists por 90’só perde para Messi, De Bruyne, Alba, Cabella ou Neymar – nenhum deles actuando tão recuado – e nas expected threats é este o figurino:


Barcelona, Chelsea e Tottenham perguntaram por ele no início do ano civil e o Estugarda apontou para a placa – 25 milhões ou nada. Mudando-se os tempos, mudam-se as vontades, e agora são o Inter e a Atalanta quem está na pole position para aproveitar as fragilidades financeiras do clube alemão. Simone Inzaghi quer alguém para ocupar a vaga de Gosens – que ainda não impressionou em Milão – e Sosa é a opção número um dum leque com Besenbaini (Monchengladbach), Mazocchi (Salernitana) ou Pedrazza (Villareal).
Tem a palavra o Benfica, que pode oferecer a Sosa a preponderância no onze que no Giuseppe Meazza é dificil alcançar, até pela concorrência de DiMarco, e os títulos, que têm faltado ao Inter.

Viktor Kristiansen


Este golo com que finalizou o 0-2 aplicado ao Aarhus neste fim de semana é um boost motivacional para o jovem dinamarquês de 19 anos, que apesar da idade já é nome consolidado no futebol escandinavo pelo potencial monstruoso que demonstra. Formado no clube da capital, estreou-se em 2020, ainda com 17, e desde aí que ficou à vista dos mais atentos que é um dos grandes nomes para a posição nesta década: muito completo e versátil, é tão desenvolto nas tarefas defensivas – com ele a fazer 90’, o Copenhaga conseguiu clean sheet versus Manchester City e Sevilha nesta Champions – como na chegada à frente, onde faz do sentido prático a base das suas decisões, sendo por isso um perigo constante. Em 2022-23, tem mostrado associação profícua com Daramy, joia do Ajax emprestada de volta na Dinamarca, construindo ala esquerda de grande gabarito.


A campanha do clube dinamarquês em contexto interno foi a mais esperada – título nacional – mas quando se Kristiansen lesionou, em meados de Abril e para um período de dois meses (acabou por falhar 10 jogos, todos os da fase de apuramento de campeão), o Copenhaga ressentiu-se e chegou a dar esperanças aos adversários: perdeu dois jogos nesses dez (mais dois empates), o mesmo número de em toda a fase regular, que contou… 22.
Em Junho deste ano espalharam-se alguns rumores de que Rui Costa e Roger Schmidt estariam de olho em Viktor para suprimir a eventual ausência de Grimaldo – uma boa notícia para os adeptos que, depois da descoberta de Fredrik Aursnes, voltam a olhar para a Escandinávia com outros olhos, os mesmos dos tempos de Stromberg, Thern e Magnusson.
Viktor está avaliado em quatro milhões pelo Transfermakrt, uma pechincha que se justifica pela ausência do Campeonato do Mundo – Viktor concorre para o lugar de Maehle, portanto é compreensível que ainda só tenha conseguido acumular presenças até aos sub21: no total, desde os sub16, Kristiansen conta 23 internacionalizações.

Fabiano Parisi


Em 2019 era jogador do Avellino, na Serie D, recebendo 800 euros por mês. Três anos depois e depois duma subida meteórica, é mais uma flor a desabrochar para Mancini, que o chamou para os jogos de preparação frente a Albânia e Aústria na próxima semana.
Por indisponibilidade de Tóloi e Emerson Palmieiri, aproveita o técnico para renovar uma equipa marcada pelo fracasso da ausência do Mundial – falou-se muito da chamada dum adolescente da Udinese, de seu nome Pafundi, mas Parisi é outro estreante na lista, ainda que já tenha comprovado qualidades suficientes no Calcio ao serviço do Empoli, clube pelo qual vem encarrilando boas exibições.
Com elas obrigou o país da bota a olhar para ele – Sarri e a sua Lazio estão de olho, a Fiorentina é outra pretendente, mas é a Juventus que se assume na dianteira da corrida pelo ala de 22 anos, fruto das boas relações que os de Turim mantêm com o Empoli.


A intenção da Vecchia Signora é imitar o negócio feito por Cambiaso, outro prodígio canhoto contratado na antecipação ao Génova e que foi colocado quase imediatamente a rodar (no Bolonha) de forma a não apressar qualquer etapa de desenvolvimento – e é por aqui quese pode fazer valer o Benfica, oferecendo ao atleta outras condições e certezas quanto ao seu futuro. Valores? Fala-se a rondar os 10 milhões, bem aceitável para alguém prestes a tornar-se internacional italiano em tão tenra idade."

Catarses 4️⃣ Gianni Emirino saindo do armário


"De todas as alarvidades ditas por Gianni Infantino na véspera do pontapé de saída do Mundial, a maior foi ter-se considerado um “trabalhador migrante”, embora tecnicamente seja, até, menos hipócrita do que dizer-se “gay” ou “árabe” ou queixar-se de ter sido discriminado quando era um suissinho de sardas e cabelo ruivo, sujeito a “bullying” num miserável cantão helvético.
Como diz o outro, aquilo foi gozar com quem trabalha. Foi gozar com quem morreu.
Contra-argumentar citando outro evento com supostas semelhanças, o chamado “whataboutismo”, é uma praga dos nossos dias, nascida da intolerância das redes sociais, mas ninguém esperaria que um líder, na posição esmagadora de presidente da FIFA, tivesse de servir-se de tamanha incongruência para justificar o seu soldo multimilionário.
Ou entrou em “burnout” ou está mesmo desesperado, para encenar uma saída do armário tão dramática e desrespeitosa.
Esmagado pela censura dos críticos “ocidentais”, inventou que os europeus têm uma dívida milenar em relação ao Médio Oriente, alinhando ideologicamente no “lobby” dos envergonhados da História. Pela lógica deste manga de alpaca suíço, só daqui a 3.000 anos seria plausível censurar os crimes do Comité Organizador do Mundial de 2022.
Mas, a que “ocidente” pertencem a Índia, o Paquistão, o Nepal, o Bangladesh, onde os negreiros do Catar recrutaram a maioria dos escravos dos estádios, milhares dos quais morreram numa das obras civis mais sangrentas, em proporção, desde a construção da Muralha da China?
Infantino vai, a partir de hoje, mostrar-se nos púlpitos dos coliseus do Catar no seu trono de “Emirino”, adjunto do Sheik al-Thani, com o funcionário de estimação pela trela, distribuindo salamaleques e oxalás, a troco de votos futuros, pela cáfila de dirigentes regionais e nacionais na fila do beija-mão que suporta o mais perverso regime desportivo do Mundo, a dinastia de Havelange, Blatter e toda a camarilha da FIFA.
A partir de hoje, vão os nababos degustar o chazinho nas tribunas enquanto os gladiadores dos tempos modernos tentam respirar e sobreviver no meio do deserto a justas esgotantes que, só por acção do ar condicionado, não terão as consequências dramáticas das pelejas medievais.
Não, Gianni, nestas últimas horas em que é autorizado não falar exclusivamente de futebol, asseguro-lhe: não haverá festa que lave o rasto de sangue e corrupção em que assenta o seu poder de vassalo."

Mistério...!!!


"20/11/2012 - Data do "suicídio" mais estranho de que há memória no Futebol Português.
Só dois dias depois do acontecimento, é que a comunicação social se deu conta de que o dirigente da Porto Comercial (empresa ligada ao FC Porto), Mesquita Alves, havia falecido com vários tiros. A arma do crime nunca foi encontrada e a investigação das autoridades policiais chegou à conclusão que o antigo dirigente, se suicidou. Portanto deu os tiros em si mesmo e depois escondeu a arma.
Apesar de não sermos portista, solidariamente prestamos a nossa homenagem à família e amigos de Mesquita Alves, neste 10° aniversário do seu desaparecimento."

Qatar 2022: o Mundial do desconforto confortável


"Quando o Mundial chegar ao fim e os ciclos noticiosos reorientarem as atenções colectivas, os problemas dos trabalhadores do Qatar continuarão no mesmo sítio.

A história do golfo Pérsico é longa e complexa, mas é possível contá-la com variações mínimas. Uma tribo nómada vai circulando pelo deserto até tropeçar numa coisa valiosa. A coisa valiosa (costumavam ser pérolas) é vendida a pessoas dispostas a pagar muito dinheiro por ela. O líder da tribo descobre de repente que é a terceira pessoa mais próspera de sempre. Alguns poderes europeus (costumava ser Portugal, ou a Holanda) concluem que pagar muito dinheiro por coisas valiosas é menos razoável do que ir lá buscá-las à força. Quando a coisa valiosa deixa de o ser, seguem-se umas décadas de travessia (literal e metafórica) do mesmo deserto, até se tropeçar noutra coisa valiosa (costuma ser petróleo) e recuperar o estatuto. Impérios oficiais (o britânico) e oficiosos (o americano) fazem depois o obséquio de intermediar a integração da tribo em vários sistemas hegemónicos, acolhendo-a como nação do séc. XX.
O Qatar, uma península do tamanho do distrito de Beja, cumpriu à risca este percurso até 1971, quando um terceiro tropeção acidental revelou que as suas águas territoriais ocultavam o maior depósito de gás natural do mundo. Reinventado do dia para a noite como um país inimaginavelmente rico, dedicou-se a transformar 1,1 milhões de hectares de Fontes da Telha em algo com o aspecto de pertencer a um país inimaginavelmente rico.
É possível fazer isto muito depressa desde que se adopte uma versão turbinada dos mesmos processos utilizados nas modernizações do Ocidente. Basta haver um estado forte, uma quantidade imensa de mão-de-obra barata, vontade suficiente para tratar essa mão-de-obra como descartável (tal como houve com as centenas de milhares de mortos deixados pela Revolução Industrial, pela cobertura ferroviária da América, pela construção do Canal do Panamá, etc.), e o empenho político que crie as estruturas necessárias para que algumas desigualdades acidentais se tornem gigantescas e permanentes.
De seguida, especialmente se estiverem entalados entre duas potências regionais com mau feitio, há que criar ligações fortes com o Ocidente de forma a não voltarem a ser tribos nómadas desempregadas. O Qatar tem-se esmerado também nesta área, tornando-se um dos parceiros comerciais predilectos do Reino Unido e cortejando várias benevolentes instituições ocidentais, como as Forças Armadas dos EUA, para as quais construíram simpaticamente uma base militar de mil milhões de dólares, ou a FIFA, o patusco prostíbulo hemisférico de Havelange e Blatter, a quem compraram a organização do Mundial 2022, no mesmo carnaval de corrupção que levou mundiais anteriores aos braços abertos de oligarquias e juntas militares.
Foi com esta promissora pré-história que o pré-Mundial começou, a reboque do escrutínio de uma imprensa inglesa que depressa encontrou (e terá sido outro tropeção acidental) um emblema capaz de agregar toda a indignação dispersa: os “6500 trabalhadores mortos” denunciados por uma manchete do Guardian em Fevereiro de 2021.
O Governo do Qatar rejeitou prontamente a manchete original, garantindo que apenas três pessoas tinham morrido na construção de estádios. Não havendo qualquer motivo para levar a sério esse número absurdo, a surpresa maior é descobrir que o número “6500” ainda tem menos ligação com a realidade. Como o próprio Guardian esclarece a meio do artigo (alvo de sucessivas e discretas correcções nas semanas seguintes), esse é o total de mortes num período de dez anos (2010-2019) confirmadas pelas embaixadas dos cinco países que compõe o grosso da população não nativa (Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka). Alguns deles seriam residentes de longa data e muitos, especialmente do contingente indiano, não trabalhavam sequer na construção: eram médicos, professores, administrativos, lojistas. O total de 6500 mortes, não discriminadas por causa, inclui hipoteticamente várias quedas fatais de andaimes — tal como inclui doenças crónicas, acidentes domésticos, mortes de berço, desastres de viação, enfartes durante o sexo e afogamentos no jacuzzi.
Independentemente da causa, 6500 mortes ao longo de dez anos é um número alto? Baixo? Normal? É difícil saber sem mais contexto e dados comparativos — e parte do problema no Qatar é a dificuldade em obter dados e contexto. Mas será aceitável usar essas lacunas para concluir, como faz o Guardian, que, “embora as mortes não estejam discriminadas, é provável que muitas delas tenham ocorrido em projectos relacionados com o Mundial”? Como se calculou a probabilidade daquele “provável”? Nunca saberemos, mas a título de comparação, segundo dados do Pordata, Portugal registou perto de 3 mil mortos por acidente de trabalho nos dez anos que antecederam o Euro 2004. Seria aceitável enquadrar esse total como o Guardian fez, afirmando ser “provável” que muitas delas tenham ocorrido em obras para o Europeu? Se assim fosse, quão “vergonhosa” seria a nossa competição?
Mesmo que aceitemos a hipótese estatisticamente menos provável, atribuindo todas as 6500 mortes a projectos de construção (presumindo, portanto, que todos os imigrantes qualificados se tornam imortais quando chegam ao Qatar e só morrem os que usam betoneiras), temos os dados adicionais do próprio Governo indiano segundo os quais a taxa de mortalidade não só não foi excessiva, como foi inferior à dos migrantes residentes noutros países do Golfo no período análogo (na Arábia Saudita, foi o dobro), nenhum dos quais andou a preparar um mundial.
Mas o número chocante cumpriu-se na sua reprodução, com a informação recontextualizada e reconvertida para evocar a imagem de arenas desportivas construídas sobre os ossos de 6500 cadáveres. Essa implicação errónea não apaga os (muitos) problemas de condições de trabalho, exploração e opacidade burocrática que existem no país. O que não faltam são relatórios mais sérios e rigorosos do que a notícia do Guardian, feitos por organismos como a Amnistia Internacional, que continua a alertar para a persistência de omissões inexplicáveis na certificação de óbitos, turnos de 12 horas com pouca água e em temperaturas elevadas e miseráveis condições de alojamento.
A mesma Amnistia Internacional também reconhece (num relatório de Outubro) que as reformas implementadas no país desde 2017, em parte por causa do Mundial (incluindo a criação de tribunais laborais, a introdução de um salário mínimo e a abolição do kafala, o antigo sistema de patrocínio coercivo que era, curiosamente, outro legado colonial britânico), resultaram em “melhorias notórias” nas condições gerais dos trabalhadores migrantes e tornaram o regime mais transparente e aberto a avaliações externas. Uma dessas avaliações foi feita por uma equipa da Organização Internacional do Trabalho, agência da ONU que acompanhou dois ministérios do Governo qatari num processo mais metódico de classificação de dados, produzindo em 2020 a mais fiável contagem que temos até agora de vítimas mortais em acidentes de trabalho: foram 66.
Em Portugal, em 2002 (à mesma distância de dois anos do Europeu), houve 357.
A cobertura mediática do Mundial tem sido o que é não por espírito de missão, nem intenção de dissimular, mas pela inércia habitual que faz a generalidade da imprensa flutuar ao sabor das marés, percebendo inconscientemente que a sua mais importante função actual é servir como um mecanismo auxiliar de gestão emocional, permitindo ao público orçamentar o seu desconforto, consolidá-lo em pequenas prestações e reagir com a agência política contemporaneamente possível: uma curadoria individual de opiniões fortes e opções de consumo.
Uma das características partilhadas por esta atenuada ethos tablóide e pela ideologia mundial dominante (que tem muitos nomes: palavras que podemos sussurrar em voz baixa ou escrever em cartazes) é a predilecção por explicações éticas em vez de explicações estruturais. As coisas más acontecem por causa de vilões e nunca porque incentivos sistémicos produzem certos comportamentos. Uma consequência da informação coreografada deste modo é a facilidade com que se descamba para raciocínios morais próprios de crianças: aquele país é mau e faz coisas más e os países bons não deviam deixá-los brincar com a bola. É uma posição que simultaneamente assume uma superioridade tácita (o país não merece ser recompensado com a nossa ilustre presença nem com a minha valiosa ratificação televisiva) e cauciona o tranquilo encerramento do assunto.
Quando o Mundial chegar ao fim e os ciclos noticiosos reorientarem as atenções colectivas, os problemas dos trabalhadores do Qatar continuarão no mesmo sítio, não porque bárbaros de turbante sejam especialmente sádicos, mas porque, no sistema que temos, é isso que costuma acontecer aos migrantes do Sul global quando cumprem o seu destino enquanto mão-de-obra fungível​. Se há quem tenha obrigação de saber isso, é o país onde centenas de timorenses dormem ao relento em Beja, onde autarcas locais e observatórios independentes denunciam regularmente situações de trabalho escravo e tráfico humano no Alentejo, onde militares da GNR são filmados a torturar imigrantes em Odemira.
Não deixa de haver distinções importantes, em género e grau, e o Qatar cai no lado errado de quase todas elas. É uma autocracia hereditária, com as mórbidas especificidades de uma região onde o respectivo monoteísmo nunca se separou do poder político, onde a liberdade de imprensa é quase nula, onde a igualdade de género é uma piada remota, onde a homossexualidade é um crime.
Qualquer uma destas desqualificações deveria ser suficiente, por si só, para não lhe atribuir a organização do Mundial. Mas não foi suficiente agora, tal como não foi suficiente no passado e provavelmente não voltará a ser no futuro. E o foco intenso na questão do Mundial deixa por responder a questão mais intrigante: porque é que as exigências que colocamos ao futebol — que se comporte como um agente moral, como um agente de boicote e como um agente de mudança — são tão mais enfáticas e irredutíveis do que as que colocamos noutros domínios?
Em 2017, uma comitiva liderada pelo primeiro-ministro visitou o Qatar, que nessa altura já tinha uma participação na EDP (entretanto reforçada) e outra na Vinci, que controla a ANA — Aeroportos de Portugal. António Costa declarou chegar “de mente aberta” e com três objectivos assumidos: “reforçar as relações políticas” entre os dois países; captar investimentos nas áreas da construção, energia, saúde e imobiliário; e averiguar se o senhor emir não estaria interessado em comprar alguma da nossa formosa dívida pública. Como deve a linguagem dos boicotes e do “mundial da vergonha” reagir a isto?
O entusiasmo com que se vulgarizou o número dos 6500 mortos, e a consequente proscrição emotiva do Mundial do Qatar, acabam por dar uma forma simples e concreta a um desconforto que se supõe muito mais amplo, complexo e generalizado. A sensação de que há algo errado com tudo isto e que nada devia ser assim; de que o mundo, tal como existe e se organiza — com acumulações arbitrárias de riqueza geracional, lotarias hereditárias, assimetrias geográficas, desigualdades sistémicas e um efectivo sistema de castas no qual direitos fundamentais são uma função do dinheiro que se tem e do sítio onde se nasceu — nos confronta repetidamente com efeitos inaceitáveis e logo a seguir com todos os compromissos e amnésias selectivas a que a cumplicidade artificial gerada pela interdependência obriga os seus principais beneficiários a fazer e a manter. É um desconforto de baixa frequência, demasiado vasto para se imaginarem soluções, demasiado difuso para caber numa emoção tão efémera e descartável como a indignação.
O que sobra, depois do reconhecimento contrariado, mas pragmático dos limites da nossa agência é um vocabulário moral suficientemente flexível para contornar vastas abstracções — a “economia”, o “realismo”, os fluxos de capital —, mas que ganha uma súbita e veemente rigidez assim que encontra um relvado e duas balizas. Laterais-esquerdos e telespectadores devem fazer “boicotes” éticos; políticos eleitos podem fazer o seu trabalho sem dar nas vistas, desde que não regressem depois ao mesmo sítio para celebrar golos.
Saul Bellow escreveu em To Jerusalem and Back (1976) que, “como a Suíça está para as férias de Inverno e a Dalmácia para o turismo de Verão, Israel e a Palestina estão para a necessidade de justiça do Ocidente — são uma espécie de estância moral”. O Médio Oriente sempre forneceu excelentes oportunidades para divulgar posições de princípio e acenar estandartes morais e o Mundial do Qatar vai cumprir uma função muito semelhante. Durante um mês, o nosso desconforto vai ser confortável; vamos saber sempre onde ele está e a forma que tem. Depois, as férias acabam e o desconforto regressará ao seu sítio do costume: em toda a parte e, portanto, em lado nenhum."

Direitos humanos nunca podem ficar fora de jogo


"Muito se tem falado sobre o Mundial de futebol no Qatar. Nas últimas semanas o evento ganhou mediatismo, mas não sobre desporto. Fala-se de como o país não respeita os direitos humanos, da discriminação das pessoas LGBTI+, da ausência de direitos das mulheres, e da forte repressão da sociedade civil. Espanta-nos como, apesar de tantas ONG referirem estes problemas desde 2010, pouco ou nada ter melhorado significamente naquele país. E a FIFA, em vez de o exigir, quis silenciar quem o denunciava e afirma que estas críticas "são apenas hipocrisia".
Há vários anos que a Amnistia Internacional publica relatórios sobre como os milhares de trabalhadores migrantes sofreram diversos abusos, incluindo salários em atraso ou não pagos, taxas de recrutamento ilegais, trabalho em condições extremas e por horários extensos, sem direito a dias de folga. Muitos destes trabalhadores perderam mesmo a vida, e falta ainda uma investigação independente e criteriosa a estas mortes.
Esta matéria ganhou relevo, infelizmente só nas últimas semanas, mas isto era já sabido pelo Comité Executivo da FIFA - ou deveria sê-lo - quando, em 2010, atribuiu a organização do Mundial ao Qatar. Desde aí, muitas organizações de direitos humanos, entre as quais a Amnistia Internacional, têm realizado investigação, mobilizado campanhas e pedido mudanças, nomeadamente que a FIFA exija às autoridades cataris a implementação de reformas para garantir a dignidade, a liberdade e a reparação, e por avanços claros nos direitos humanos. Infelizmente, na prática, muito pouco tem mudado.
Nos últimos anos, o país procedeu a algumas - poucas - reformas legislativas que poderiam fortalecer os direitos de milhares de trabalhadores migrantes, mas as investigações mais recentes indicam que as práticas abusivas por parte das entidades empregadoras se mantêm com total impunidade.
Durante 12 anos, a FIFA desperdiçou a sua janela de oportunidade para exigir mudança. Nunca o fez e nunca assumiu a responsabilidade que tinha enquanto agente máximo na organização do evento. Enviou até vários sinais em sentido contrário, nomeadamente quando, há algumas semanas, Gianni Infantino endereçou uma carta a todas as federações da competição, instando-as a "concentrarem-se no futebol" e a colocarem de lado as preocupações com os direitos humanos. Temos agora um espaço temporal curto, enquanto dura o Mundial.
Temos ainda esperança de que haja um compromisso claro e concreto com um fundo de compensação de 433 milhões de euros para os trabalhadores migrantes que sofreram abusos e para as famílias dos que morreram. É este agora o nosso foco, pelo qual temos e continuamos a fazer ações de sensibilização e ativismo.
Gostaríamos de ver também os agentes desportivos a abraçarem esta grande causa de promoção dos direitos humanos. Esta deveria ser a sua posição, em vez de terem receios de o fazer e de tentarem impedir as iniciativas que são organizadas, como aconteceu com uma ação da Amnistia Internacional no jogo Portugal-Nigéria, quinta-feira nas imediações do estádio de Alvalade. Queremos que as entidades desportivas compreendam o seu papel tão importante neste momento. E esta vontade é partilhada por milhares de adeptos: num inquérito a 17477 adultos em 15 países, 67% afirmaram querer que a suas federações nacionais se manifestem publicamente sobre os direitos humanos no Qatar.
Porque o desporto pode e deve ser agente de mudança e de difusão destes valores e porque só com todas as entidades envolvidas conseguiremos marcar uma posição firme e mostrar à FIFA e às autoridades cataris que é imperativo compensar os milhares de trabalhadores migrantes que tornaram o mundial possível e as suas famílias. É por tudo isto que neste Mundial, é preciso ir além do futebol: não deixemos os direitos humanos fora de campo, para que não fiquem fora de jogo."

Vou "Catar-vos" uma, duas, estórias


"Catar 2022, esse "pronome verbal", menos mal que "Chéquia", lembra-me um particular mal-entendido entre um Embaixador e um funcionário de Embaixada, linguista e muito cioso do que é correcto. Foi esse mesmo funcionário que me informou que já poderia escrever dossiê sem aspas em vez de "dossier", o que registei de imediato. Também registei este "feito-diverso" que me relatou de um seu dia de trabalho em que tinha que dar seguimento a um ofício ou outro documento oficial, com destino ao Qatar, tendo o funcionário-linguista escrito Catar a rematar o destinatário. O Embaixador não ignorou tal facto no exame final ao despacho, chamou o funcionário e diminui-o com um "como é possível confundir um nome com um verbo?" O funcionário insistiu que agora era assim (há 10 anos), que agora haviam regras novas. O Embaixador não quis acreditar, tendo dito que mesmo que seja verdade, não colará em Portugal, porque é um verbo que implica piolhos! Assim se vê a força do futebol, de Chéquia a Catar!
O Irão, que sempre dissemos/ouvimos Irão, do verbo ir, nunca nos fez confusão e até nos sugere o exótico de todos os "kafiristões" que para lá estão! Irão em Portugal, Irã no Brasil. Chamar Irão ao Irã também é motivo de gozo no Brasil, já dizer Irã na Guiné-Bissau é fazer referência a uma religião e não a um país. Das idiossincrasias que desmentem o "todos diferentes, todos iguais"!
Quanto ao Catar 2022, fico contente por perceber que os estrangeiros, que são aqueles que falam estrangeiro, andam a menos de um mês do pontapé de saída a lamentarem-se pelo erro crasso que foi aceitarem organizar este Mundial no Catar. Até parecem portugueses estes estrangeiros! Alavancado nos petrodólares compraram tudo e os comprados não sabiam que quem paga manda? Parecem mesmo portugueses! Em termos de grande política, este Mundial vai-se ficar pelas pequenas polémicas da minissaia a caminho do estádio, do bêbado que começa a acompanhar aos gritos o chamamento para a oração, do mesmo bêbado apanhado a urinar na esquina, do fotógrafo que apontou a câmara para a esposa errada, quando só queria enquadrar o spoiler do aileron da biatura no strander do centro comercial e outros feitos diversos do género cultural. O que tenho visto nas reportagens televisivas tem sido demasia de avisos sobre "o respeito da nossa cultura", quase de dedo em riste para a camera. Ora para o Catar país, para o Médio Oriente e para o Islão em toda a sua extensão planetária, a grande política que poderá sair deste evento, em tudo depende da gestão destes comportamentos "a contracultura", inconsequentes e fruto do culto do individual. Contracultura sem aspas implicaria uma consciência política e politizada. Uma consciência e a malta que lá vai para ver a bola, fá-lo para se embebedar, se exibir e por vezes confrontar. É da gestão deste confronto que se fará a prova dos nove. Esta gestão também inclui o tratamento dado aos detidos. O que se passar à porta fechada, dará sinais sobre o que as autoridades, A Cultura, para ser literal, estará preparada para alavancar a partir de 19 de dezembro e marcar a agenda de um potencial Novo Médio Oriente no esboço da Nova Ordem Mundial.
Quanto à nossa selecção, acho que nem Irão Catar sonhos a Doha, começando pelo patético de equipas que nos calhou no grupo, que nos faz de favoritos, terminando no existencialismo de Cristiano Ronaldo, que de momento só me trás à memória uma cabeçada de Zidane a Materazzi na final do Mundial 2006. Os psicólogos analisaram aquilo na altura como uma forma simbólica do cabeceador, em fim de carreira, destruir tudo o que tinha construído até aí. Um fim de ciclo, obrigaria a um último acto dramático num grande palco. Daquilo que nos conheço, acrescento que ser português é não ser capaz de lidar com a pressão de se ser favorito, ou o(s) melhor(es) do mundo!"

Dentro-de-jogo


"Meio mundo despertou em sobressalto para os Direitos Humanos com o Mundial do Qatar. Já quando decorreram os Jogos Olímpicos de Pequim em 2008 -- ou as recentes competições de inverno -- estava sonâmbulo. Também durante o Mundial de Futebol da Rússia em 2018 cozeria em sono REM. Normal -- nessa altura ser russófobo não era tão trendy, embora Putin fosse o mesmo. De igual forma, grande parte não deve importar-se nada de ir até ao Egipto (não foi lá agora a COP27 prenha de jactos privados?!) ou de férias ao Dubai. Tão pouco se perturbaram com as injecções massivas de dinheiro chinês ou russo nas equipas europeias. Nessas circunstâncias, já não se desassossegam com os estádios empapados em sangue e com os estilhaçar dos crânios das mulheres, pois não? Do mesmo modo, quantos irão prescindir de assistir aos jogos refestelados nos seus seguros sofás? Que raio de indignação selectiva é esta -- quase tão pujante quanto a revolta por proibir-se a venda de cerveja? Ah pois, chama-se hipocrisia. Enfim, resta-lhes lavar a consciência doando um euro.
É evidente que o Qatar é antro de atentados aos direitos humanos, que o o futebol se transformou numa das maiores indústrias mundiais em promiscuidade com os poderes políticos e doses cavalares de corrupção. Tudo isso é condenável e repulsivo. Mas também é tão óbvio que a questão de "porquê, então, só agora se ergue uma opinião pública e publicada denunciante?" advém pergunta crucial. Será que é porque assim se enfatiza o epílogo do monopólio ocidental?
Como explica Abdullah Al-Arian no New York Times, na crítica-acrítica ao Qatar mora uma visão orientalista no palácio da ignorância. Até a observação mais pertinente a este Mundial, relativa aos trabalhadores, tem sido distorcida. As denúncias da exploração da mão de obra através do kafala esquecem convenientemente que esse sistema foi uma invenção britânica herdada por novos estados independentes e que os países do Golfo não são excepcionais no que concerne ao fluxo global de capital/ trabalho. Ou cessaram as contratações a granel no ocidente para os há décadas designados trabalhos 3 D -- dirty, dangerous and difficult?
Também as alegações de que tudo é artificial nesta competição, incluindo o próprio gosto pela bola, é eurocêntrico e redutor. Aliás, a história do futebol árabe é a história da revolta contra os grilhões colonialistas. O caso do movimento de libertação algeriano -- que formou uma equipa em 1958 como parte da luta contra a opressão francesa --é bem ilustrativo. Há figurantes pagos? Lá estão as virgens ofendidas. sempre houve. O futebol é um desporto amado pelos árabes e, para muitos, esta é uma oportunidade única para assistir ao vivo -- não apenas pelos preços proibitivos dos voos transatlânticos como até por restrições nas fronteiras -- o próximo anfitrião, os EUA, tinha até recentemente um "Muslim ban" que impediria os iraquianos de apoiarem presencialmente. Por isso, milhares deles já compraram passagens para a Copa22. Basta recordar o cinema de Abbas Kiarostami ou Jafar Panahi para confirmar a importância da bola naquela região. E agora ainda mais, até porque a primavera árabe levou ao endurecimento dos déspotas da região, tornando o desporto rei num dos poucos sítios respiráveis onde as gentes ainda podem vibrar e sonhar. Um pontapé de saída."

Haverá vida além do Mundial de futebol?


"Então não é que as meninas mimadas que querem acabar com as energias fósseis até 2030 revelaram que tiveram uma formação em desobediência civil? Isto de ser ativista climático não é para todos, é preciso muita organização e ideias revolucionárias que os hoje velhinhos tanto viveram noutros tempos.

Ainda não começou e já é um enjoo insuportável, até mesmo para alguém como eu que gosta muito de futebol. Ontem, sexta-feira, começou o forrobodó no aeroporto às 10h da manhã. No primeiro direto, os pobres repórteres diziam que ainda só havia um adepto à espera da Seleção, mas também ainda faltavam duas horas para os craques chegarem. Pela primeira vez, em muito tempo, desliguei a televisão, apesar de precisar de estar informado sobre o que se passa no mundo enquanto não chego à redação do jornal. Por volta da uma tarde, já com o televisor do meu gabinete ligado, pensei que Lisboa teria servido de local de partida de alguma nave espacial que iria atingir Marte, mas acordei rapidamente para a realidade e percebi que estavam a filmar o avião de seleção portuguesa a caminho do Qatar.
Tirei o som e deixei de olhar, não fossem aparecer alguns especialistas em voos e psicologia da aviação a comentar a trajetória do avião que transportava a Seleção. Durante toda a tarde, praticamente só se falou no raio da Seleção e até iam dando a localização do avião!!! Para alguém mais desatento, era natural pensar que a guerra na Ucrânia tinha acabado há algum tempo, que os hospitais já não estão com problemas, que os impostos não continuam a subir, que os preços dos alimentos e dos combustíveis não dispararam, que as meninas e os meninos não fecharam escolas em defesa do clima e por aí fora. Parece que a manifestação pró e contra Lula da Silva no Palácio de Belém incomodou as emissões especiais sobre o Mundial do Qatar...
Depois desta overdose de informação sobre a Seleção, já estou com saudades dos majores generais Agostinho Costa e Carlos Branco, que muito sofreram nas últimas semanas com a conquista de Kherson por parte da Ucrânia. Penso mesmo que deviam ser considerados património nacional e que nunca os afastassem dos ecrãs. Eles são os responsáveis pelos melhores momentos de humor que vejo na CNN_Portugal – têm um concorrente forte, mas já lá vamos. Os dois majores generais conseguem ser mais russófonos que o novo líder do PCP, que acabou por reconhecer que, a seguir aos EUA, à NATO e à UE, a Rússia também tem responsabilidades na intervenção militar – Paulo Raimundo não consegue, mesmo assim, falar em invasão. Mas os majores generais até podiam aprender alguma coisa com o camarada Arménio Carlos, que já veio dizer que estamos perante uma invasão e que o PCP perde credibilidade em não o assumir – o discurso de despedida de Jerónimo de Sousa foi patético e revela bem a sua visão de democracia.
Mas o que seria verdadeiramente genial era a CNN Portugal criar um programa de stand up comedy com Carlos Branco e Agostinho Costa, indo ‘roubar’ à concorrência Nuno Rogeiro – o homem que diz que os ucranianos vivos ou mortos vão combater nem que seja com pedras, calculo que algumas do além – e José Milhazes. Seria certamente um programa onde não faltaria animação, com os dois campos a defenderem as suas damas. O cenário podia mesmo ser duas trincheiras.
Falando mais a sério, não faria mais sentido estes ‘apaixonados’ pela causa, uns de um lado e outros do outro, serem confrontados com o contraditório?
Quanto ao concorrente dos majores generais, a escolha é óbvia: Anabela Neves, mais costista do que o próprio António Costa. Com tanto futebol nas televisões também fico com saudades de ouvir a jornalista amiga do primeiro-ministro que diz as maiores barbaridades com o ar mais sereno do mundo.

P. S. Então não é que as meninas mimadas que querem acabar com as energias fósseis até 2030 revelaram que tiveram uma formação em desobediência civil? Isto de ser ativista climático não é para todos, é preciso muita organização e ideias revolucionárias que os hoje velhinhos tanto viveram noutros tempos. Sugiro que recuperem o Keffiyeh e as t-shirts com a cara de Che Guevara."