domingo, 25 de dezembro de 2022

Os mistérios pós-Catar


"Praticamente duas semanas após o regresso da seleção, ninguém parece conseguir dar os nós às duas pontas desatadas no Catar, dois misteriosos casos envolvendo os maiores protagonistas nacionais, subitamente relegados para o esquecimento: a substituição da FEMACOSA na Federação e o futuro desportivo de Cristiano Ronaldo.
Mas o desconhecimento em que os meios de comunicação insistem em manter-nos diz mais sobre o nível de incompetência ou, pelo menos, negligência a que chegou a imprensa desportiva, dos jornais às televisões, passando pelos rádios e pela informação digital, do que sobre esses protagonistas em concreto, cujo prestígio e experiência lhes garante o respeito e paciência de uma opinião pública sem grau de exigência.
Tudo o que se sabe, que é, em rigor, nada, vem de especulações piedosas da imprensa de Madrid que diz uma coisa e o seu contrário a cada dia, para gáudio de pivôs, comentadores e vozes do dono nos caricatos programas de "encher chouriços" que se fazem por cá.
Que balanço da participação no Mundial faz a Federação?
Como foi o acordo entre a Federação e a FEMACOSA para a rescisão do contrato hipermilionário do selecionador nacional?
Quem vai pagar os impostos colaterais que ninguém entende nos negócios da Federação com os seus prestadores de serviços técnicos?
Se José Mourinho é uma hipótese para suceder à FEMACOSA que tipo de contrato lhe está a ser proposto?
Quem são, de facto, as alternativas, para lá do catálogo de emergência de Jorge Mendes?
Quanto a Cristiano Ronaldo, podemos saber se está em Madrid, se está no Dubai, se está na Arábia Saudita?
Que fundo de veracidade existe nesta hipótese de ele se tornar embaixador desportivo da Arábia Saudita, assumindo antagonismo à candidatura de Portugal à organização do Mundial de 2030, uma traição à Federação e ao país?
Ninguém nas instâncias futebolísticas e governamentais envolvidas na candidatura tem algo a dizer sobre esta alegada escolha bizarra do seu jogador-bandeira e dos respectivos agentes e conselheiros?
A que clubes da Champions League ele foi efectivamente oferecido?
Despediu-se ou não de Fernando Santos após o Mundial?
Todas estas questões seriam relativamente fáceis de responder por jornalistas com fontes de informação, editores com liberdade de acção e sentido profissional e empresas com ética.
Isso não acontece porque o jornalismo à margem da agenda e da espuma dos dias deixou de ser possível e sobrevive dos “releases” e da pauta das agências de comunicação, dos eventos de marketing e das viagens de reportagem pagas pelos patrocinadores."

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