terça-feira, 6 de dezembro de 2022

O mundo que vemos


"O Campeonato do Mundo do Catar vai prosseguindo dentro do campo, mas a polémica fora dele permanece.
É difícil ver os jogos, admirar aqueles estádios belos e sumptuosos, e não nos lembrarmos de que foram construídos a preço de sangue. È difícil ver os jogos, e esquecermos que o Campeonato decorre nesta altura e naquele local porque alguém enriqueceu com isso. É difícil ver os jogos e ignorar o que é, e como funciona a FIFA.
Dir-me-ão que já houve outras competições atribuídas a países de ética duvidosa sem o mesmo clamor. E que a FIFA, desde 1974, desde Havelange, se tornou uma multinacional obscura, que utiliza o futebol como fonte de receita para si própria, e muitas vezes para os seus dirigentes.
Acontecer que o mundo hoje está mais desporto do que há uns anos. As gerações mais novas já não se acomodam tão facilmente a injustiças, iniquidades e tiranias. Veja-se o que se passa no Irão. Veja-se o que se passa na China.
Estão soube a mesa temas que outrora eram mais ou menos ignorados, mais ou menos tolerados, como as questões ambientais ou os direitos das minorias. Hoje somos diferentes, vemos o mundo com outros olhos, e quem pensar o contrário não está alinhado com o futuro.
Já não é aceitável, pois, que se atribua um Mundial daquele modo, a um país cuja única coisa que tem para oferecer é dinheiro fácil. Também já não é aceitável que as mais altas figuras do Estado se desloquem em fila para presenciar os jogos, enquanto milhares de portugueses trabalham, e nem sequer os podem ver na TV.
Infelizmente há coisas que permanecem iguais. Felizmente temos consciência para as condenar."

Luís Fialho, in O Benfica

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