terça-feira, 8 de novembro de 2022

O último tango em Paris de Domingos Soares de Oliveira


"Foi recentemente notícia o facto de DSO ter perdido a compostura e verbalizado o seu descontentamento de forma pública e audível por não ter ficado sentado na fila da frente do camarote no Parque dos Príncipes.
A notícia não deixa de causar surpresa por vários motivos, dos quais sobressai estarmos perante uma manifestação pública de desagrado por parte de DSO, alguém visto como cerebral e avesso a precipitações.
Sem prejuízo do que se dirá em seguida, reconhecer o contributo e capacidade de DSO para a modernização de um Benfica, à data da sua entrada, desorganizado e com tiques de amadorismo, é um exercício simples e objetivo. A entrada de DSO ajudou a profissionalizar o Benfica e auxiliou na recuperação do prestígio abalado.
Creio ser também evidente e reconhecido, dentro e fora no país, o facto de DSO ser um homem bastante inteligente e hábil. Não raras vezes, e na opinião de muitos com quem se foi cruzando, foi (e continuará a ser) "a pessoa mais inteligente da sala".
Dito isto, em meu entender, a situação ocorrida no camarote do Parque dos Príncipes demonstra (ou apenas comprova) que o ciclo de DSO no Benfica está a terminar. Creio que DSO saberá isso e o Benfica (leia-se Rui Costa) também o deverá saber.
Em relação concretamente ao sucedido, DSO, mais do que ver o jogo (ou o Benfica), quereria possivelmente sentar-se junto de Nasser Al-Khelaifi, presidente do PSG e da ECA (a associação de clubes europeus onde DSO tem prestígio). E foi precisamente perante tão badalado anfitrião que DSO se terá sentido "diminuído" pelo Benfica, o que terá levado ao tal descontrolo público pouco expetável da sua parte.
Esta situação indicia que algo estará a mudar (ou pelo menos para mudar) no Benfica e que, aparentemente, DSO não está confortável nem preparado para aceitar tal mudança interna. Na prática, DSO enquanto CEO da SAD, sempre foi tido como a pessoa com mais poder no Benfica e a situação do camarote em Paris, sendo um pormenor, teve o condão de despoletar algo que no Benfica não existia: contrariar a vontade de DSO e, assim, desafiar o poder instalado.
Perante tudo isto, quando li a notícia, veio-me à memória o filme de Bernardo Bertolucci "o último Tango em Paris", que me foi dado a conhecer (como tantas outras coisas) pelo meu avô Fernando, anunciando-me a película como uma verdadeira obra-prima revolucionária.
Não querendo naturalmente fazer um paralelismo entre DSO e Marlon Brando (no filme "Paul"), a verdade é que o filme aborda uma paixão improvável entre desconhecidos, com pouco em comum, a qual se tornou numa relação intensa e quase obsessiva (como o Benfica e DSO em 2004).
E a relação assim se foi mantendo até que a outra parte (Maria Schneider "Jeanne") descobriu facetas até então desconhecidas acerca de Brando, desencantando-se com o que soube e pretendendo, por esse motivo, romper com a relação.
Daí em diante, a relação foi-se deteriorando com Marlon Brando a não aceitar o final da mesma, pretendendo-a manter "a todo o custo" (eternizado numa cena impactante que proibiu o filme em vários países) e que conduziu a uma tragédia no final.
Creio que é apenas natural, como sucede no finar de qualquer relação intensa e profícua para ambas as partes, que a despedida nunca seja fácil, existindo dúvidas ou hesitações perante recordações de um passado conjunto e a inevitável dúvida se irão ficar melhor após o fim da relação.
Somos todos humanos e, nessa condição, teremos já vivenciado algo similar, seja a nível familiar, amoroso, profissional ou de qualquer outra natureza, sendo que conseguimos recordar a dificuldade do "adeus", sobretudo perante uma relação sedimentada no tempo. E, no caso de Benfica e DSO, foram cerca de 18 anos.
Aquilo que espero, enquanto benfiquista, é que o final desta relação não seja trágico, como o de Brando e Schneider; fazendo votos para que Benfica e DSO saibam respeitar o que tiveram em comum e que a ambas as partes aproveitou. Dessa forma, todos saem a ganhar. Com elevação e naturalidade de uma relação desgastada e com ambos os intervenientes a precisarem de algo novo.
E, também relevante, é que essa separação seja uma decisão conjunta e não precipitada por quaisquer eventuais acontecimentos externos à vontade dos intervenientes que venham a suceder ou por quaisquer superstições futebolísticas. É tempo de termos um Benfica preventivo e não reativo em decisões de fundo.
DSO e o Benfica (Rui Costa) já se terão apercebido de que é tempo de terminar a relação. DSO já não apaixona o Benfica e saberá que já não é visto como insubstituível. E, da parte de DSO, este não aceitará deixar de ser o lado dominante da relação…
Dito isto, o episódio do camarote revelou uma faceta exasperada de DSO que não é habitual, quiçá denotando surpresa com aquilo que o Benfica lhe terá querido ou conseguido finalmente demonstrar: que a relação entre ambos não tem futuro, existindo apenas tempo de um último Tango em Paris antes de cada um seguir o seu caminho…
Saibam então os intervenientes constatar o óbvio e, de parte a parte, entendam a expressão inequívoca e apropriada à situação: "The End"!"

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