sexta-feira, 4 de novembro de 2022

O lema do Seixal


"Cresci junto de uma taberna onde os burros paravam automaticamente ao fim do dia para “reabastecimento” no regresso dos cavadores de mais uma jornada no campo e onde havia um letreiro que dizia: “Hoje não se fia, amanhã sim”. Imagino que semelhante cartaz esteja afixado no balneário do Seixal, fora da visão dos inteligentes que escrevem crónicas e análises sobre o dia a dia dos jogadores de Roger Schmidt a trabalhar no campo de jogo: “Hoje não se poupa, amanhã talvez”.
É com este lema simples que o revolucionário treinador alemão do Benfica vem escrevendo uma história de dimensão épica. Mentalizando os jogadores de que haverá tempo para repousar depois de darem o máximo frente a quem quer que seja o opositor, a equipa do Benfica supera com distinção as fragilidades e ameaças que se adivinham, transformando-as positivamente através de uma ética de trabalho insuperável, que não distingue adversários nem dispensa contributos. O calendário é apenas uma estrada cujas retas e curvas são percorridas a velocidade constante, independentemente dos perigos que oferecem. É a qualidade da oposição que dita os resultados do Benfica.
General, coronéis, capitães, sargentos, soldados, recrutas: quando cada um sabe o que fazer e dá o seu máximo, o desequilíbrio do exército transforma-se em potencial ameaçador pela soma de todas as forças. Em Israel, as patentes mais baixas marcaram golos importantes, mas foi o major-general João Mário quem puxou dos galões para dar o golpe de misericórdia.
E, se eu fosse um guru do marketing, anunciaria cada dia de trabalho do Benfica pelos campos da bola com este slogan honesto: “Hoje não se perde. E amanhã também não”."

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