quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Gonçalo Ramos | Jogador influente ou elo mais fraco do SL Benfica?


"Nas últimas épocas, o SL Benfica vinha a tornar-se num autêntico cemitério de avançados/pontas-de-lança. Nos últimos anos, vimos avançados como Luka Jovic, Nicolas Castillo, Facundo Ferreyra, Raul de Tomás e Luca Waldschmidt a chegaram ao Benfica rotulados de craques. Mas por uma ou por outra razão, estes jogadores estiveram longe de corresponder às expectativas.
Em 2020, o Sport Lisboa e Benfica viria a pagar 24 milhões de euros pela contratação de Darwin Nuñez. O internacional uruguaio marcou 48 golos em duas épocas de águia ao peito. No entanto, devido às suas limitações a nível técnico e da tomada de decisão, também nunca foi um jogador consensual no seio dos adeptos encarnados.
Já com Gonçalo Ramos, a história foi um pouco diferente. A época passada seria a primeira época em que jogou com regularidade na equipa principal, marcando oito golos em todas as competições. Números que deixaram alguns adeptos encarnados com dúvidas acerca do seu potencial.
Nesta época, Gonçalo Ramos tem sido um dos indiscutíveis nas opções de Roger Schmidt, participando em 20 dos 22 jogos já disputados pelo Benfica na época, todos como titular. Neste momento, leva 12 golos e cinco assistências, números que ainda não fazem dele um jogador consensual entre os adeptos benfiquistas.
Há benfiquistas que acham (e com razão) que o seu rendimento não deve ser avaliado apenas em função dos números, mas também em fundão daquilo que acrescenta à equipa. Na formação, Gonçalo Ramos era um médio que gostava de aparecer em zonas de finalização, apresentando bons números para a posição. Ao transitar para os Júniores/equipa B, Gonçalo Ramos viria a começar a ser aposta no ataque, começando a mostrar que podia vir a fazer uma carreira de sucesso na posição.
Neste momento, Gonçalo Ramos é um ponta-de-lança que, para além da sua qualidade na finalização, destaca-se pelas soluções colectivas que oferece sem bola, quer seja na pressão na saída de bola da equipa adversária, quer seja a jogar em apoio, a atacar a profundidade, ou a criar espaços na defesa adversárias para os seus colegas aproveitarem. É um avançado que corresponde ao perfil que Roger Schmidt privilegia na posição para as suas equipas.
Porém, o avançado algarvio ainda revela algumas lacunas no seu jogo que o impedem de ter um desempenho mais consistente, nomeadamente a nível da recepção de bola e da definição do timing de finalização. No entanto, Gonçalo Ramos trata-se de um jogador de 21 anos, que tem margem de progressão, sendo que estas lacunas não são nada que não se resolva com mais experiência a um nível competitivo e com trabalho específico em treino que aprimore esses aspectos do seu jogo.
Por outro lado, existem também alguns adeptos que dizem que os números que apresenta nesta época ainda são insuficientes para um avançado que esteja realmente a altura da dimensão do Benfica. Neste artigo, irei fazer aqui uma análise ao desempenho dos avançados das equipas que Roger Schmidt treinou profissionalmente, bem como de outras equipas europeias que se têm destacado nesta época pela sua produtividade ofensiva.
Passando aos números, o Benfica tem neste momento 58 golos marcados em 22 jogos, o que dá uma média de 2,64 golos por jogo. Gonçalo Ramos é o melhor marcador da equipa encarnada, tendo facturado por 12 vezes em 20 jogos. Sendo assim, tem média de 0,6 golos por jogo, marcando 20,7% dos golos marcados pelo Benfica.
Agora, vamos analisar o rendimento dos avançados titulares de outras equipas com grande produtividade ofensiva:
- SSC Napoli (50 golos marcados em 18 jogos; média de 2,8 golos por jogo)
- Victor Osimhen => 8 golos em 11 jogos; média de 0,73 golos por jogo; 16% dos golos da equipa

- FC Bayern Munique (71 golos marcados em 21 jogos; média de 3,4 golos por jogo)
- Sadio Mané => 11 golos em 21 jogos; média de 0,53 golos por jogo; 15,5 % dos golos da equipa

- Real Madrid (46 golos marcados em 19 jogos; média de 2,4 golos por jogo)
- Karim Benzema => 6 golos em 12 jogos; média de 0,5 golos por jogo; 13% dos golos da equipa

- Paris SG (56 golos marcados em 20 jogos; média de 2,8 golos por jogo)
- Kylian Mbappé => 18 golos em 18 jogos; média de 1 golos por jogo; 32% dos golos da equipa

- Manchester City (52 golos marcados em 19 jogos; média de 2,74 golos por jogo)
- Erling Haaland => 22 golos em 16 jogos; média de 1,34 golos por jogo; 42% dos golos da equipa

- Arsenal FC (38 golos marcados em 18 jogos; média de 2,11 golos por jogo)
- Gabriel Jesus => 5 golos em 17 jogos; média de 0,29 golos por jogo; 13% dos golos marcados da equipa

- Ajax (52 golos marcados em 18 jogos; média de 2,89 golos por jogo)
- Steven Bergwijn => 10 golos em 18 jogos; média de 0,56 golos por jogo; 19% dos golos da equipa

Como se pode verificar, a maioria dos avançados titulares destas equipas possui uma percentagem dos golos da equipa inferior à que Gonçalo Ramos tem no Benfica, com excepção de Mbappé e Haland. No entanto, comparar os desempenhos de avançados de diferentes equipas também tem um lado falacioso, visto que independentemente da sua produtividade ofensiva, as equipas possuem ideias e estilos de jogo diferentes e com isso, os papéis dos avançados nas respectivas equipas também podem diferir.
Por exemplo, equipas como o Bayern Munique, o PSG e o Ajax têm jogado com um ataque móvel, com constantes trocas posicionais entre os atacantes e sem uma referência fixa na posição mais adiantada. Para além disso, com o decorrer da temporada, estes os números destes jogadores alteram de jogo para jogo.
Como tal, creio que a forma mais justa de avaliar os números de Gonçalo Ramos, é comparando-os com os números dos pontas-de-lança das equipas de Roger Schmidt ao longo da sua carreira.

- SC Paderborn 07 11/12 (61 golos em 36 jogos; média de 1,69 golos por jogo)
- Nick Proschwitz => 19 golos em 35 jogos; média de 0,54 golos por jogo; 31% dos golos da equipa

- Red Bull Salzburg 12/13 (107 golos em 43 jogos; média de 2,49 golos por jogo)
- Jonathan Soriano => 29 golos em 38 jogos; média de 0,76 golos por jogo; 27% dos golos da equipa

- Red Bull Salzburg 13/14 (175 golos em 56 jogos; média de 3,13 golos por jogo)
- Jonathan Soriano => 48 golos em 43 jogos; média 1,12 golos por jogo; 27% dos golos da equipa

- Bayer Leverkusen 14/15 (87 golos em 48 jogos; média de 1,81 golos por jogo) 
- Stefan Kiessling => 19 golos em 48 jogos; média de 0,4 golos por jogo; 22% dos golos da equipa

- Bayer Leverkusen 15/16 (89 golos em 50 jogos; média de 1,78 golos por jogo)
- Javier Hernández => 26 golos em 40 jogos; média de 0,65 golos por jogo; 29% dos golos da equipa

- Bayer Leverkusen 16/17 (67 golos em 44 jogos; média de 1,52 golos por jogo)
- Javier Hernández => 13 golos em 36 jogos; média de 0,36 golos por jogo; 19% dos golos da equipa

- Beijing Guoan 2018 (80 golos em 38 jogos; média de 2,05 golos por jogo)
- Cédric Bakambu => 23 golos em 28 jogos; média de 0,82 golos por jogo; 29% dos golos da equipa

- Beijing Guoan 2019 (71 golos em 40 jogos; média de 1,78 golos por jogo)
- Cédric Bakambu => 14 golos em 24 jogos; média de 0,58 golos por jogo; 20% dos golos da equipa

- PSV 20/21 (102 golos em 47 jogos; média de 2,17 golos por jogo)
- Donyell Malen => 27 golos em 45 jogos; média de 0,6 golos por jogo; 27% dos golos da equipa

- PSV 21/22 (134 golos em 58 jogos; média de 2,31 golos por jogo)
- Eran Zahavi => 20 golos em 46 jogos; média de 0,45 golos por jogo; 15% dos golos da equipa

O que se pode ver através desta comparação é que, apesar de alguns dos avançados mencionados terem médias de golos superiores à que Gonçalo Ramos tem actualmente, a percentagem de golos não diferem tanto entre si, com apenas um jogador a ter mais de 30% dos golos da sua equipa.
No entanto, as percentagens de golos relativamente baixas dos avançados das suas equipas demonstram duas coisas: primeiro, que Roger Schmidt sempre privilegiou equipas com um coletivo forte e um ponta-de-lança que trabalhe para a equipa em detrimento de um ponta-de-lança que seja um goleador nato, mas que tenha pouco sentido de jogo colectivo.
Segundo, ver um ponta-de-lança com uma baixa percentagem de golos numa equipa com uma elevada produtividade ofensiva indica que a equipa tem vários jogadores com boa capacidade de finalização em vez desse papel de resumir ao ponta-de-lança. E pessoalmente, eu prefiro que seja assim.
O meu veredicto é que Gonçalo Ramos está longe de ser o elo mais fraco, mas também ainda é um ponta-de-lança em desenvolvimento. Gonçalo Ramos corresponde aos padrões que Roger Schmidt exige para a posição, que tem tido um bom rendimento, mas com a sua juventude e alguns aspectos a aprimorar, tem tudo para crescer e se tornar num jogador bastante referenciado no futebol mundial."

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