sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Benfica: a festa não acaba (a crónica da goleada que permitiu às águias passarem em primeiro aos oitavos da Champions)


"Um remate de João Mário aos 92' selou nova goleada (6-1) do Benfica, desta feita contra o Maccabi Haifa, e permitiu que às águias terminassem o grupo H em primeiro, feito obtido por ter apontado mais golos fora de casa do que o milionário PSG. A equipa de Schmidt chegou aos 14 pontos, fixando um novo recorde histórico do clube e continuando uma temporada em que as alegrias não terminam

A dimensão das alegrias e das tristezas depende, muitas vezes, das fasquias que colocamos, dos contextos que as rodeiam. A felicidade não é coisa objetiva, sempre igual, mas assume contornos particulares e subjetivos, atados às especificidades do momento.
Quando o minuto 90 chegou em Haifa, o Benfica goleava o Maccabi por 5-1 e estava em segundo lugar no grupo H da Champions. Se, em setembro, dissessem que as águia estavam a obter a quarta vitória em seis partidas nesta fase, já tendo assegurado a passagem aos oitavos num grupo com PSG e Juventus, a festa seria enorme.
Se, por exemplo, essa transição para as 16 melhores equipas do continente se tivesse dado só com este triunfo, e não com meritória antecipação, os festejos seriam intensos. Mas, como essa passagem já tinha sido assegurada, com brilhantismo, contra a Juventus, ficava um suave amargo de boca da noite do Benfica em Israel. Nova vitória contundente estava a caminho mas, em Turim, um golo de Nuno Mendes permitia ao PSG seguir em primeiro. O que antes seria encarado como um feito (passar em segundo) parecia, ali, um pouco imperfeito, dada a sensação que a liderança do grupo tinha ficado perto.
Mas tudo se tornou perfeito aos 92'. Um remate de fora da área de João Mário fez o 6-1 final e colocou Benfica e PSG empatados na diferença de golos: ambos com 16 marcados e sete sofridos. Os portugueses marcaram mais fora de casa e, por isso, seguem em primeiro para os oitavos. Que o golo tenha surgido num remate de longe de João Mário, o delicado médio que não faz do tiro de longa distância uma das suas armas, testemunha também a metamorfose liderada por Roger Schmidt, capaz de, em poucos meses, virar ao contrário um clube, uma equipa, um grupo de jogadores.
Vencendo por 6-1 o Maccabi Haifa, o Benfica não só segue em frente em primeiro, como chegou aos 14 pontos, fixando um novo máximo para o clube nesta fase da Champions — o anterior era de 12 pontos, estabelecido por Jorge Jesus em 2011/12. Com 18 vitórias e quatro empates na temporada, na liderança da I Liga e conseguindo ficar à frente da galáxia distante de Messi, Neymar e Mbappé na Champions, a temporada continua a ser uma festa permanente para o Benfica 2022/23.
O ambiente em Haifa é dos que costuma gerar vídeos e fotografias que invadem as redes sociais, palco preferencial para a partilha das coreografias e cânticos de um dos mais fervorosos públicos das competições europeias. E foi depois de uma entrada em campo digna dessa fama que os locais dispuseram da primeira oportunidade de perigo, com Dean David, dentro da área, a disparar cruzado, mas sem direção.
O Maccabi entrou cheio de energia, mas rapidamente o Benfica tomou conta das operações. Liderados pelo critério de Aursnes, que parece ser vários jogadores num só — médio recuperador, distribuidor com critério, unidade móvel entre a zona central e as alas, até mesmo condutor da bola com veneno nas botas —, os homens de Schmidt criaram situações que justificaram o 1-0. Gonçalo Ramos, servido pelo norueguês, atirou ao poste, com Grimaldo e Rafa, de fora da área, a também roçarem o golo.
O Benfica chegaria mesmo à vantagem aos 20'. Após canto da direita, Bah insistiu na jogada lançando na área, onde Otamendi assistiu Gonçalo Ramos de cabeça e este, também nas alturas, atirou para o seu 12.º golo em 2022/23.
Durou pouco a vantagem visitante, dado que, seis minutos depois do 1-0, veio o empate dos israelitas. O árbitro entendeu que Bah, dentro da área que defendia, interceptou um cruzamento com o braço e, na transformação do penálti, Chery refez a igualdade.
A muitos quilómetros de distância, em Turim, Mbappé já tinha colocado o PSG a ganhar contra a Juventus, o que deixava o Benfica em segundo no grupo e o Maccabi em terceiro, atirando os italianos para fora das competições europeias. No entanto, aos 39', Bonucci fez o 1-1, deixando tudo como no começo da jornada.
Aos 32', Roger Schmidt fez uma invulgar dupla substituição no primeiro tempo. Gonçalo Ramos, que já tinha sido visto a coxear, e Aursnes foram trocados por Musa e Chiquinho.
No final do primeiro tempo, Grimaldo e Musa levaram algum perigo à baliza do Maccabi, mas o descanso chegaria mesmo com 1-1 no marcador e as contas do grupo H por decidir.
Nas 15 anteriores partidas realizadas nas provas europeias, o Benfica só havia perdido uma, e o reatamento encaminhou definitivamente as águias para manterem esse registo. Ainda não tinham sido disputados 25 minutos da segunda parte e já os visitantes venciam por 3-1.
Aos 59', o Maccabi deu muito espaço para que Bah, na direita, olhasse para a área e cruzasse. O lateral colocou a bola na área, onde surgiu Musa, muito agressivo, a adiantar-se ao seu rival direto e, de cabeça, fazer o 2-1.
O Maccabi, que em boa parte desta fase de grupos competiu dignamente contra equipas com argumentos bem superiores baseando-se muito no entusiasmo e agressividade, perdeu esse vigor no segundo tempo, deixando, também, de lado alguma organização. O Benfica, que está num momento em que tudo sai bem, sentiu essa debilidade e selou o desfecho do duelo.
Aos 69', de livre direto, Grimaldo fez o 3-1. Foi o segundo encontro seguido em que o espanhol marcou desta forma, fazendo a bola sobrevoar a barreira e depois descer rumo à baliza rival. Quatro minutos depois, Neres assistiu Rafa para o 4-1 — o supersónico português tem já 11 golos na temporada, ele que nas últimas três campanhas nunca marcou por mais do que 12 vezes.
Entretanto, más notícias chegavam de Itália. Nuno Mendes fazia o 2-1 para o PSG, voltando a colocar os franceses na liderança do grupo. Com a Juventus sem reagir e com Schmidt a fazer alguma gestão do grupo — saíram Rafa ou David Neres, entrando Henrique Araújo e Diogo Gonçalves —, parecia que o primeiro lugar ficaria a escassa distância para os portugueses.
Mas as chamadas segundas linhas, essas que nem têm sido muito chamadas à titularidade pela repetição constante da equipa inicial feita por Schmidt, deram uma resposta perfeita. Diogo Gonçalves agitou e atirou ao poste. Henrique Araújo, após grande assistência de Bah, fez o 5-1.
Faltava um golo. João Mário encheu-se de fé e rematou para o 6-1. O apito final soou em Israel antes que em Itália. Um golo do PSG recolocaria os franceses no topo do grupo H. O golo não surgiu. O Benfica, por ter marcado mais fora de casa, é primeiro, à frente de um projeto vindo de outra galáxia desportiva e de um clube que pensa em Superligas enquanto, na Champions, sofre cinco derrotas em seis jogos. A festa continua."

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